Um Segredo Revelado escrita por Srta Snape


Capítulo 9
A verdade atrás das palavras


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, quero agradecer os reviews e dizer que estou muito feliz por estarem gostando da história.... infelizmente temos apenas mais o capítulo 10 pela frente..... quero seus reviews hein!!! beijos



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Capítulo 9 - A verdade atrás das palavras

Quando Snape acordou a primeira coisa que fez foi olhar para a cama. Vazia e arrumada.

- Lyni!

- Sim mestre – Respondeu a elfa aparecendo em sua frente.

- Onde está o Potter?

- O mestrezinho está tomando café na sala senhor – Informou entregando um robe para Snape – Está frio senhor.

- Obrigado.

- Quer que prepare seu banho senhor?

- Sim, mas primeiro vou ver como está o menino.

Apesar de cansado Snape andava rápido, queria muito ver o menino, ter garantia de que ele realmente estava bem, ver com seus próprios olhos. Passou pela sala de estar e caminhava-se para a cozinha quando um pequenino detalhe lhe chamou a atenção. Ele voltou alguns passos e foi até a lareira onde parou alguns segundos admirando a terceira meia vermelha recém pendurada. Seus dedos contornaram a caligrafia feia que escrevia o nome Harry de dourado. Um pequeno sorriso apareceu no canto de seus lábios e um bem estar instalou-se em seu coração, um bem estar a muito não vivido e há muito esquecido.

- Senhor Potter? – Chamou entrando na sala de estar e encostando-se no batente da porta.

- Sim? – Respondeu Harry que estava sentado admirando sua mini Hogwarts.

- Vejo que já melhorou.

- Sim, um pouco – Disse com a cabeça baixa empurrando o prato com cereal para o lado – Obrigado pelo presente, deve ter sido caro.

- Não se preocupe com isso, se quer saber Lyni custa mais caro que você.

- Mas, se der presentes a um elfo, ele não vai querer, pode pensar que será libertado.

- Não esse presente. Venha ver.

Snape deu alguns passos e empurrou uma porta no final da sala que dava direto para a cozinha. Lyni que já arrumara o banho de seu mestre estava diante de um fogão grande e lustroso.

- Liny, o fogão nem foi usado ainda, não tem o que limpar.

- Claro que tem mestre, tem que estar muito bem limpo para o senhor e o mestrezinho, o fogão de Liny tem que estar perfeito, se não a comida não sai boa e Liny queimara seus dedos no forno por isso.

- Sabe que te proibi de se machucar

- Eu sei, mas ainda assim, eu iria querer.

- Hermione vai gostar de saber que pode dar fogões para os elfos – Comentou Harry e por um momento os dois riram até ficarem constrangidos, pois aquele era o primeiro contato que faziam depois de tanto tempo.

- Certo – Disse Snape achando aquele momento muito estranho, era diferente cuidar dele enquanto estava acordado. Sentia-se mais confortável quando o menino estava inconsciente - Preciso ver seus ferimentos. Deite-se no sofá e tire a camisa.

Harry foi até o sofá e retirou a camisa. Snape sentou-se ao seu lado e o ajudou a se deitar sem que fizesse muito esforço. Seu peito estava vermelho ainda como se alguém o tivesse golpeado, mas não havia mais o ferimento. Snape tocou de leve a região procurando algum sinal de infecção, continuou passando sua mão pelo tórax dele verificando cada centímetro daquele corpo em busca de um único local que pudesse causar dor ou ainda não estar curado. Harry não olhou para ele. O toque dele era leve e sua expressão concentrada, chegava a ser incômodo o modo como ele parecia estar mexendo em uma de suas poções, uma poção muito rara que precisava de muita atenção. Não estava acostumado a isso, esse carinho e cuidado eram estranhos e desconhecidos para ele, pareciam algo proibido, algo que ele não deveria ter. Enquanto pensava nos anos que passara com os Dursley e nas diversas vezes em que se machucara e nem mesmo uma fração de preocupação passava pelos olhos de seus tios, seu corpo endureceu como se aquele pensamento fosse dolorido, o que não deixava de ser.

- Está doendo? – Perguntou Snape sentindo o corpo rígido de Harry.

- Não - Respondeu após alguns segundos soltando o ar que havia prendido e afastando seus tios de sua cabeça enquanto tentava disfarçar os olhos lacrimejantes.

- Isso é um bom sinal. Quer dizer que está cicatrizando. Não é fácil curar um ferimento como o do senhor. Precisará ser cauteloso e não fazer esforço. - Disse Snape sem tocar no assunto, mas desejando em seu intimo saber exatamente o que o menino estava pensando.

- Está bem.

- Tem uma poção na escrivaninha do quarto onde estava, tome-a.

- Tudo bem. Eu... o que houve comigo? – Perguntou encabulado.

- Parece que seu querido primo estava fora de si e atirou contra o senhor. Mas para sorte da raça humana ele se liquidou depois.

- Não fale assim - Reclamou sem saber o porque de uma raiva incomum aparecer em seu peito.

- Como quer que eu fale?

- Você não sabe de nada da minha vida, nem de meus parentes. Não sabe o que eles passavam.

Harry levantou-se e colocou a camiseta de qualquer forma. Por algum motivo queria brigar com Snape, queria causar dor a ele, talvez por não o ter tido durante sua infância, talvez por ele não ter dado essa atenção antes, por jamais ter podido abraçá-lo depois de apanhar de seu primo, talvez porque se ele estivesse com Snape desde que nasceu ele não teria apanhado do primo, nem morado com seus tios. Queria culpá-lo por não ter estado com ele mesmo sabendo que não era possível, a verdade veio aos dois ao mesmo tempo, muitos anos depois, ainda assim a raiva o fez culpá-lo.

- Eu sei pelo que eu estou passando desde que chegou aqui.

- Se sou um estorvo então me leve embora.

Snape não piscava enquanto olhava incrédulo para o menino. Era incrível como a cabeça de Potter era idiota o bastante para não reparar na forma como Snape pronunciara cada palavra. Ele não entendera o significado da frase de Snape, não conseguiu ver que Snape sofreu todos esses dias em que ele estava inconsciente, que ele chorou por não poder evitar aquilo, que desejou poder matar quem fez isso a ele. Snape abriu a boca algumas vezes, mas a fechou percebendo que não havia o que falar, tudo que sentia estivera guardado em seu interior e ali permaneceria durante anos se possível. Ele jamais iria contra a vontade dele e a vontade dele era ir embora, não poderia contestar ou obrigá-lo a ficar, ainda que fosse sua maior vontade.

- Se assim deseja. Arrume-se. - Disse surpreendendo-se ao perceber quando dizer aquelas palavras doeu.

Harry achou por um segundo que ele faria algo. Gritaria, brigaria, o mandaria ficar em seu quarto, exigiria que ele ficasse, pois era seu por direito, mas ele não fez. Ele subiu em silêncio para seu quarto e deixou Harry na sala sozinho com seus pensamentos confusos. Não podia fazer mais nada, era assim que deveria ser. Balançou-se no mesmo lugar mexendo compulsivamente as mãos até que foi trocar de roupa. Quando voltou para a sala Snape já estava vestido com um terno negro e o esperava na frente da porta. Ele não se virou quando falou com ele.

- Vamos.

O dia estava claro e um rastro de sol brilhava entre as nuvens carregadas no céu. Harry seguiu Snape até o carro que ele mantinha em sua propriedade. Perguntou-se por que usar um carro se eram bruxos, mas era óbvio que Snape teria que passar em lugares em que haviam muitos trouxas e ele deveria manter o sigilo sobre sua identidade bruxa. O carro era bonito e Harry o admiraria em qualquer outro dia, mas nesse dia ele queria arranhá-lo, pois ele o levaria para casa de seus tios, para seu inferno pessoal. Abriu a porta do passageiro e antes de entrar olhou para a bela mansão sentindo uma sensação igual à de quando terminava o ano letivo em Hogwarts.

A sensação era de abandonar seu lar.

A viagem era longa, mas parecia que Snape queria que demorasse mais. Passava por ruas e ruas que davam muitas voltas. Suas mãos agarravam o volante com tanta força que os nós dos dedos ficavam brancos e pareciam que iam rasgar a pele. Teve que abaixar o vidro e deixar o vento gelado da futura tempestade cortar seu rosto, talvez assim ele tivesse uma amenizada em sua dor interna. Era cruel estar sentado ao lado dele e saber que o estava levando para um lugar que não teria acesso depois, não se ele negasse. Era tudo Harry, se ele pedisse Snape daria meia volta e voltaria para sua mansão, mas ele não pedia, ele não abria sua boca para dirigir-se a ele. Aquela havia sido a primeira vez que Snape começara a ver um sentido em sua vida, a ligação com Harry o fez amá-lo e amor era um sentimento que há muito tempo ele desistira de tentar sentir, de procurar nos outros. Seus pensamentos eram conflitantes, ele sonhava com uma vida inteira ao lado no menino vendo-o se tornar um adulto e ter sua família, mas ao mesmo tempo se condenava por sonhar que um dia pudesse ter esses momentos. Ele era Snape, deveria sofrer, deveria ficar sozinho por todos os pecados que teve. Deveria morrer solitário sem a misericórdia de uma alma viva, nada.

  Harry por sua vez passava e repassava a frase de Hermione em sua cabeça. “Ele sente necessidade de ficar perto de você, protegê-lo. É uma ligação que ele não controla. Ele sentirá o que está sentindo e poderá doer. Talvez fisicamente" Mentira, era tudo mentira com certeza. Como Snape poderia sentir o que estava sentindo se o tratava daquela forma? Não olhou para ele uma única vez, não falou com ele e Harry queria que ele fizesse. Talvez a demora de se chegar ao destino fosse que Snape procurava ficar o máximo de tempo com ele, mas deveria ser por que ele não sabia o caminho e estava perdido.

  Apesar de realmente desejar ficar o máximo de tempo que podia com ele, sabia que não poderia rodar mais pela cidade, deveria ir ao encontro do seu destino insólito, entregar o menino para outras pessoas que não o amariam, que o maltratariam. O carro começou a parar quando entrou na rua dos Alfeneiros até que finalmente parou na casa número quatro. Todas as casas eram irritantemente iguais aos olhos de Snape, mas era ali que Harry queria ficar.

  Snape desligou o carro e a temperatura parecia ter caído bruscamente antes de Harry sair dele. Eles não se moveram e Harry não saiu imediatamente para pavor de Snape que desejava que ele fosse logo e terminasse logo com essa dor em seu peito, temia que se ele ficasse mais algum minuto ali poderia ligar o carro e voltar para sua mansão, o menino querendo ou não. Mas não foi preciso um minuto, antes disso Harry já estava fora do carro. Assim que a porta foi fechada o carro disparou deixando Harry diante da casa que queria jamais voltar e a qual quase implorou para ser trazido de volta.

  Ele caminhou devagar até a soleira da porta e tocou a maçaneta, mas não a abriu. Não conseguiu, a princípio pensou que a fechadura estava trancada, mas depois percebeu que sua mão nem ao menos havia virado, ele estava parado como uma estatua ouvindo o barulho que vinha de longe. Era um grande barulho como se uma coisa muito grande batesse em algo menor. Muitas pessoas que Harry reconhecia por estarem sempre nas janelas vendo a vida dos outros estavam agora indo atrás do estrondo. O peito de Harry apertou quando eles viraram na rua seguinte, ele sabia o que havia acontecido, sabia sem que tivessem lhe contado, sabia, pois sentia em seu corpo a dor do acontecido.

Sua mente havia parado de raciocinar enquanto corria rua acima. Todos se perguntavam o que era ou quem era, mas Harry só tinha um nome em sua mente, um único rosto que ocupara seus olhos, uma pessoa que ele pôde avistar quando virou a esquina.

  Tudo parou.

  Ele estava ali, a fonte de sua dor, a fonte de sua tristeza e angustia, de seu coração apertado.

  Seus pés começaram a andar bem devagar enquanto passava por ferragens lançadas no ar, pneus que rodavam pela rua, vidros quebrados, sangue escorrido. No caminhão tombado ao lado estava o corpo de um homem careca de meia idade, provavelmente um pai de família que tinha que trabalhar dobrado para sustentar esposa e filhos. Ele estava dirigindo quando o sono e o cansaço foram demais, ele dormiu, só dormiu, como todos fazem a noite, como todo mundo deve fazer. Ele não era um monstro por isso, ele apenas dormiu na hora e lugar errado e não viu o outro carro parado na rua com um homem dentro. As garrafas que estavam atrás do caminhão estavam agora no chão, quebradas ou prestes a quebrar, algumas ainda rodavam pela rua enquanto Harry chegava cada vez mais perto do outro carro. Sua lataria estava destruída, estava prensada. Não dava para ver muita coisa, de longe parecia ser apenas uma bola preta amassada. Mas de perto era possível ver um único ponto vermelho, um detalhe que provavelmente só Harry viu.

  Um chapéu de papai Noel com uma letra horrível escrito Harry segurado pelas mãos longas e brancas de Snape.


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