Coral é uma menina de cabelos e olhos castanhos, tinha oito anos quando esses fatos aconteceram.

Seus pais, Esmeralda e Carlos eram donos de uma grande empresa de seguros, e não tinham tempo para ela. Ela vivia em contato apenas com os empregados de sua mansão.

Ela tinha tudo: um quarto azul claro, cheio de espelhos. Uma cama com dossel dourado. Brinquedos caros, mas para ela, sem valor nenhum. Uma varanda que dava para o jardim de rosas. Um closet maior do que o quarto inteiro, feito exclusivamente pelos maiores estilistas de Paris.

Mas ela não era feliz.Era como se algo faltasse em sua vida, além dos pais.

Na escola, ela era excluída.As pessoas tinham inveja dela, e diziam que ela era muito ingrata, por ter tudo aquilo, e não ser feliz.

As meninas populares da escola, viviam fazendo brincadeira sem graça com ela.

Um dia passou dos limites:

-Olhe lá, a riquinha do papai! – gritou Shirley, a menina mais popular. – vamos ver essas roupas de marca dela!

-Olha Shirley!Loui Vuiton essa bolsa! – disse uma outra menina!

-Vamos riscar ela toda de vermelho!

-Pare Shirley! – gritou Coral. Mas foi tarde demais.A menina odiosa havia riscado sua bolsa branca de vermelho.

-Que isso Coral! – ela continuou – Não tem senso de humor? Vamos fazer um corte de cabelo nela!

-Isso! – disse outra amiga-interesseira, entregando uma tesoura para Shirley .

-Chega Shirley!Para com  isso!- Coral começou a chorar.

-Coitado do bebê chorão!

Não aguentando mais a humilhação, Coral apertou o olho e gritou:

-Cheeegaaaaaa!

A tesoura saiu da mão da menina que queria cortar seu cabelo e começou a cortar o cabelo desta.

-Aaa!!Socorro meninas! – berrava Shirley, não mais tão cabeluda quanto antes.

E o cabelo das amigas dela também começou a pegar fogo, causando um incêndio na escola.

Os bombeiros chegaram e interromperam o caos.

A diretora perguntou quem havia feito aquilo, e a culpada, foi Coral.

Com apenas oito anos a garota foi expulsa da escola.

Os empregados ficaram preocupados com a menina.Mas os pais estavam se lixando.Puseram-na em outra escola, sem mesmo saber o motivo da ezpulsão, sem ao menos falar com a menina.

-Pobre Coral – disse Nancy, a cozinheira – nunca vi criança mais tristonha!

-Eu acho que ela devia estar alegre, por ter tudo isso! – falou Roberta, uma faxineira.

-As melhores coisas, Roberta, não se compram com dinheiro.

No dias seguintes, mais acidentes aconteceram: uma professora que puniu Coral sem necessidade ficou louca e foi hospedada num hospício, garotinhas implicantes ficaram carecas e mais, a professora de ginástica jurou que viu a menina, com língua de cobra.

                                          *

-Como ela pode atrair tantos desastres Carlos?- falou Esmeralda, andando de um lado para o outro em frente à lareira de seu quarto, - desde os oito anos, ela trocou de escola dezessete vezes!Ela já tem quase onze anos, e não consegue se estabilizar num ambiente normal!

Carlos estava escrevendo em seu notebook, e nem tirou os olhos do objeto para responder a esposa:

-O que me sugere Esmeralda?Mandar Coral para um reformatório?Colégio interno?Forjar nossa morte para ela ir ao orfanato?Matá-la?

-Você está louco homem?Matar a menina?Você já quer mais problemas com a polícia?Eles estão atrás de nós, pela sonegação das contas e estelionato!Quer passar a usar preto-e-branco pelo resto da vida?

-Até que você ficaria uma gracinha com o uniforme do presídio...

-Para Carlos!A situação é séria!Se ela fosse um cachorro podíamos dá-la para alguém... – o rosto da mulher se ilumina. – já sei!Felicty, minha prima de terceiro grau está se mudando para uma cidade vizinha!Com certeza aceitará a criança.

-Tanto faz querida, desde que livremo-nos de nossos problemas.

Atrás da porta, havia uma pessoa assustada, pela crueldade do casal.

Roberta, a empregada e a melhor amiga da menina.