Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 47
Surpresa!


Notas iniciais do capítulo

E aqui estou eu de volta dos mortos junto com esse capítulo.
Sinto muito pela demora, mas esse período foi de encerramento de semestres na faculdade. Ou seja: uma Mandy-Jam zumbi vivendo a base de chá preto e livros de biologia.
Mas sem mais delongas, aqui está o novo capítulo!
O próximo saí quarta feira (o meu primeiro dia de férias)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214827/chapter/47

Joe estava com medo até mesmo de respirar alto demais.

– O que...? – Ele me cortou.

– Sh! – Fez Joe nervosamente – Tem alguém lá.

– Não tinha percebido antes. Obrigada pelo esclarecimento. – Respondi.

Ele correu até a arma pendurada na parede e a segurou com determinação. Franzi o cenho achando aquilo um tanto quanto exagerado.

– Pode ser um animal. – Tentei ao vê-lo lutando para engatilhar a arma – Um guaxinim, sei lá...

– Por mais que um guaxinim seja mais inteligente que você, ele não abre portas. – Respondeu ele em um murmuro irritado – Agora cala essa boca.

– E você vai fazer o que com essa arma, panacão? – Perguntei me aproximando – “Saí daqui senão eu vou molhar minhas calças” ?

– O que acha que eu vou fazer? – Perguntou ele segurando a arma ainda com mais pose – O que qualquer cidadão americano tem o direito de fazer quando invadem a sua propriedade.

Joe andou devagar até a porta, e por mais que eu achasse aquilo desnecessário, o segui. Nós olhamos para o corredor vazio, e respiramos fundo antes de avançar. Eu estava logo atrás dele, tão perto que podia ouvir seu coração bater. Ele podia estar com toda aquela pose de forte, mas eu tinha certeza que ia tremer de medo se estivesse na frente de um bandido de verdade.

– Talvez fosse melhor chamar a polícia... – Sussurrei.

Você quer pedir ajuda a polícia? – Ele prendeu o riso com maldade – Se eu chamar, eles levam você presa.

Revirei os olhos. A verdade era que eu só gostava da polícia quando eu estava certa e algo de muito urgente estava acontecendo. Fora isso, preferia resolver os problemas sozinha, mesmo que significasse partir para uma agressão.

– Se bem que não seria nada mal... – Sussurrou ele novamente – Levarem você presa, digo.

– Vai avançar mais ou já tá com medinho? – Perguntei irritada ao perceber que ainda estávamos no começo do corredor.

Joe engoliu em seco, e finalmente estava mostrando o seu lado medroso.

– Deixa que eu seguro a arma. – Sugeri, mas ele respondeu com uma cotovelada.

– Eu sou o homem, eu levo a arma. – Respondeu lançando-me um rápido olhar de raiva. Ele avançou mais uns passos.

A porta do final do corredor estava entreaberta. Aquilo afirmava de uma vez por todas que não era um guaxinim o invasor.

Ouvimos o barulho de um livro pesado caindo no chão. Paramos por um instante. Olhamos um para o outro. Joe respirou fundo tentando trazer sua coragem de volta e avançou cautelosamente.

Encostou o cano longo da arma na porta e a empurrou para o lado devagar. Nós entramos no cômodo aos poucos e ouvimos mais barulhos. Não eram sons que faziam algum sentido, somente uma série de gemidos abafados e distorcidos.

– Quem está aí? – Perguntou Joe com a voz desafinada ao ver um homem de costas para nós. Ele mexia em alguma coisa na mesa no fim do quarto.

Balancei a cabeça. Aquilo não era jeito de falar com um invasor.

– Vira devagar ou a gente explode a sua cabeça. – Falei com mais firmeza do que Joe. O homem finalmente notou que tinha gente no quarto, e se virou com o corpo duro.

Rumahum... – Nenhum som que ele fazia tinha sentido, mas aquilo não era importante. Quando ele ficou de frente para nós, eu e Joe sentimos nossos sangues gelarem.

Era o mesmo homem que tinha nos assustado na floresta aquela noite. Sua cabeça, no entanto, parecia firme em seu pescoço. Suas roupas eram velhas, como de alguém da década de 20. Usava uma calça preta rasgada e suja, uma camisa que um dia fora branca e suspensórios. Tinha um cabelo comprido e ensebado que ia até os ombros, e barba.

Olhei para Joe rapidamente, pois tinha medo de tirar os olhos daquele homem estranho. Meu primo estava com o queixo no chão. Morreríamos se dependesse dele.

Foi aí que eu tive um surto de adrenalina.

– Não se mexe. – Disse tentando parecer séria, mas minha voz saiu com desespero e nervosismo – Quem é você?

Ele respondeu com sons estranhos e apontou para nós dois. Ele avançou um passo.

– Joe, atira nele. – Falei rapidamente.

– Ahm... ?! – Foi tudo que ele soube dizer.

– Legalmente, não vamos presos. Atira nele! – Exclamei recuando junto com Joe.

– M-Mas... Ele... Ah, meu Deus... – Joe parecia prestes a chorar – Ele está morto? Digo... Ele estava morto! Ele... Ele é um zumbi?

– Como eu vou saber?! – Exclamei de volta, nervosa – Atira na cabeça então.

– O quê?! Ficou louca?! – Exclamou ele de volta. Nós estávamos recuando a medida que o homem se aproximava em passos lentos e duros.

– Só assim se mata um zumbi! Atira na cabeça! – Exclamei.

– E quem te disse isso, o seu ex namorado nerd?! – Exclamou ele de volta em sarcasmo – Sempre soube que aquele idiota ia salvar o mundo dos zumbis!

– Cala a boca e atira! – Gritei.

– No pé! – Respondeu ele mirando.

– No pé não, retardado! Na cabeça! Todo mundo sabe que tem que ser na cabeça! – Gritei com raiva.

– Não! No pé! – Rebateu Joe.

– Se não ia atirar, por que pegou essa porcaria?! Me dá a arma! – Estendi minhas mãos segurando-a, e Joe lutou contra mim. Apontei para a cabeça do homem, mas Joe tentava mirar no pé. Lutamos um contra o outro, enquanto ele se aproximava cada vez mais de nós.

Joe, então, puxou o gatilho acidentalmente, e o homem caiu no chão. Nós dois largamos a arma e olhamos o que tinha acontecido. O cadáver estava agora jogando no chão, de lado, com a cabeça destruída. Prendi o vomito, e Joe se apoiou a estante para não desmaiar.

– Ele... Morreu. – Falou Joe chocado – Matamos um homem. Você matou um homem.

– Ele já estava morto antes. – Respondi respirando fundo e torcendo para aquilo ser verdade. Joe balançou a cabeça, desnorteado com tudo que estava acontecendo.

– Vamos ser presos. Você vai ser presa. – Joe passou a mão pelos cabelos, nervoso – Aí vamos ter que morar com marginais e assassinos que brigam por cigarros e fazem facas com escovas de dentes.

– Vou vomitar em você, cala essa boca. – Falei com irritação e náuseas. Uma coisa era atirar em uma hidra, outra completamente diferente era atirar em um homem zumbi.

– Como pode ficar tão calma?! Nós matamos um homem! – Gritou ele.

O fato era que eu não estava calma. Eu estava em pânico, só que internamente. Externamente eu parecia uma boneca sentada no chão encarando o nada. Engoli em seco e me levantei com minhas pernas bambas.

– Acabou, tá bom? Acabou. Ele ia nos matar e nós nos defendemos. Não era isso que você queria quando trouxe pegou a arma? – Falei olhando para Joe. Ele me encarou por alguns instantes com o cenho franzido.

– Você já matou alguma coisa antes, Sedex? – Perguntou. Desviei o olhar.

– Só uns monstros. – Murmurei.

– O quê?

– Nada. Nunca matei nada. – Respondi – Agora temos que pensar no que fazer com um homem morto jogado no chão da...

Ele se mexeu. Não achei que seria possível sem a cabeça, mas seus músculos sincronizaram movimentos fazendo com que ele ficasse sentado. Entretanto, sua cabeça caiu enquanto ele tentava se levantar, o que tirou de mim e de Joe alguns gritos de pavor.

– Ele tá vivo! – Gritou Joe – Atira de novo!

Mas a arma estava no chão perto do homem. Nenhum de nós dessa vez teve coragem o suficiente para pegar a arma. Segurei o braço de Joe e o puxei para trás.

Corre! – Berrei para que ele entendesse.

Nós saímos em alta velocidade, tropeçando em nossos próprios pés. Atravessamos o corredor, eu na frente e Joe correndo logo atrás de mim. Paramos na sala e olhamos em volta sem saber o que fazer.

– A porta! – Exclamou ele tomando a maçaneta em suas mãos com ansiedade. Ele girou algumas vezes, e depois socou a madeira – Merda! Está trancada!

– A porta dos fundos. A dos fundos, Joe! Na cozinha! – Exclamei balançando seu ombro e tentando leva-lo até lá.

Detivemo-nos por alguns instantes ao ver que o homem sem cabeça não era o único zumbi do lugar. Duas mulheres desciam as escadas com dificuldade, enquanto outros homens as acompanhavam atrás.

Nossos queixos caíram.

– É uma invasão. – Disse Joe com dificuldade – Eles vão comer nossos cérebros.

– Só o meu. Você não tem um. – Respondi, mesmo estando tão chocada quanto ele – Vamos logo!

Nós saímos correndo para a porta dos fundos. Podíamos ouvir os passos deles se tornando mais próximos. Não chegaram a cozinha naquele momento, mas era uma questão de tempo.

– Certo, certo, certo... – Disse em nervoso ao fechar a porta atrás de mim – A gente saí por aquela porta e corre para o carro. E... E depois... – Passei a mão pelo cabelo.

– O que fazemos depois? Hein? – Perguntou Joe nervoso.

– Eu estou pensando! – Gritei de volta.

– Acho que você é que não tem um cérebro! Pensa mais rápido! – Gritou ele de volta. Bufei e dei a resposta que não queria dar.

– Vamos ter que chamar Ares ou Apolo. – Falei.

– Quem?! – Perguntou Joe confuso. Olhei para ele rapidamente.

– Vamos andando. Depois eu explico. – Disse sem querer dar muitos detalhes.

Joe abriu a porta dos fundos rapidamente.

– Então vamos embora...! Ah! – Gritou ele.

Três outros zumbis entraram pela porta assim que Joe a abriu. Arregalei meus olhos e pensei em voltar para a sala na tentativa de escapar pela janela de lá, mas assim que abri a porta que dava para lá, mais zumbis vieram.

Joe e eu recuamos, encostando-nos contra o balcão da cozinha.

– Ah meu Deus! Ah meu Deus! – Gritava Joe descontrolado – Nós vamos morrer! Estamos cercados, Ally!

– Tenta pegar uma faca na gaveta! – Berrei tateando nervosamente as gavetas, mas a maioria estava vazia. Joe foi fazer a mesma coisa.

Colheres!Exclamou ele – Só tem essas malditas colheres!

A única coisa que eu vi perto de mim que poderia ser usada como arma foi uma frigideira, enquanto Joe teve que se contentar com as colheres. Ele se colocou atrás de mim para que os zumbis o matassem por último.

Como eu estava com medo e tendo um ataque de pânico, não tive tempo para protestar ou brigar com meu primo. Por isso, fiquei ali, esperando para ver qual deles atacaria primeiro.

Segurei a frigideira com tanta força que meus dedos doíam.

Então era assim que eu ia morrer? Depois de enfrentar o Deus da guerra, cães infernais, hidras, ciclopes, eu ia ser devorada viva por zumbis naquela casa velha cheirando a mofo no meio do inferno do Alabama?

Era um destino tão irônico e deprimente que me deu vontade de chorar.

Fechei os olhos por um segundo e respirei fundo. Imaginei Scott no meu enterro, vestido de preto e desapontado por eu não conseguir sobreviver a um apocalipse zumbi, mesmo depois de todas as aulas de “como sobreviver a um apocalipse zumbi” que ele me dera.

“Como pôde, Cooper? Como você pôde? Você me envergonhou”. Seria mais ou menos isso que ele falaria para a minha lápide.

Não.

Eu não morreria daquele jeito. Pelo menos não encolhida no canto da cozinha com o meu primo odiável segurando uma frigideira na mão e prendendo o choro. Eu ia morrer lutando contra zumbis assassinos. Até porque, essa seria uma história melhor para contar caso eu fizesse alguma amizade no Mundo Inferior.

Ei, como você morreu, colega? Ah, você sabe, espancando uns zumbis.

Eu estava pronta para partir para cima dos zumbis, quando eles pararam de andar. Cheguei a avançar um passo, mas me detive ao ver que todos eles levantaram os braços.

Primeiro, achei que se tratava de uma rendição. Mas se rendendo por quê, se estavam em maior quantidade? Se rendendo com medo de uma frigideira?

Depois foi que eu percebi. Todos eles pareciam estar sorrindo. “Pareciam”, porque era difícil ter certeza se aquilo eram sorrisos ou espasmos involuntários dos seus músculos podres e endurecidos.

E foi aí que tudo ficou estranho.

– Surpresa! – Exclamaram em um coro desuniforme. Algumas vozes eram murmurantes e graves, outras pareciam mais vivas.

Joe saiu de trás de mim devagar e piscou os olhos.

– Isso foi uma brincadeira? – Perguntou confuso.

– Não sei. – Respondi confusa.

Um deles ligou o rádio velho da sala, e uma música de jazz começou a tocar. Eu e Joe continuamos congelados, olhando para eles com medo e tensos.

Alguns deles começaram a rir, e foram chegando para o lado, abrindo espaço para que alguém passasse. Nossos olhos acompanharam tudo, aguardando para ver o que mais viria.

Um homem de calça preta e sobretudo cinza apareceu. Seu cabelo ia até os ombros, tão pretos quanto sua calça. Ele olhou para nós dois, primeiramente sério, e depois sorriu sem mostrar os dentes.

– Hades? – Consegui falar por fim.

– Surpresa! – Disse olhando para mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, acho que vocês já devem saber mais ou menos o que Hades fez, não é?
Mesmo assim, eu espero por comentários, como sempre.
Espero que tenham gostado, e espero que não descubram onde eu moro para me espancar por acabar esse capítulo desse jeito. He he.
Enfim, vejo vocês nos reviews!
Beijos beijos.