Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 46
Elementar


Notas iniciais do capítulo

Depois de milênios desaparecida, aqui estou eu trazendo um capítulo fresquinho.
Espero que vocês gostem, e booooa leitura.



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Demorei um pouco até vencer o frio e conseguir trocar de roupa. Vesti rapidamente uma calça jeans, e uma camisa de manga comprida branca. Vesti ainda por cima um suéter verde e meias para impedir meu corpo de congelar.

Nós provavelmente almoçaríamos fora para comemorar o aniversário do Will. E como eu bem sabia, almoços de família nunca se resumem a uma refeição. Passaríamos o dia inteiro fora, emendando a sobremesa até o lanche da tarde ou o jantar.

Abri a porta do meu quarto, respirando fundo e me preparando psicologicamente para as longas horas que passaria com meus parentes. Desci os degraus até o corredor e me deparei com Apolo.

Ele não me viu de primeira. Estava saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. Eu fiquei observando-o de longe, cogitando a possibilidade de sair correndo de volta para o meu quarto e esperar ele ir na frente para o primeiro andar.

Para que isso tudo? Você é uma adulta, Alice Kelly. Haja com mais maturidade e enfrente as coisas.

Então eu continuei andando, mesmo que em um passo mais devagar e silencioso, torcendo para que Apolo não notasse minha presença. Tudo bem, eu admito. Sou uma adulta muito ruim e maturidade não é comigo. Tudo o que eu mais queria era que Apolo se ferrasse por causa de Heather, ou que pelo menos pedisse desculpas e aceitasse que eu estava certa. Por mais que uma grande parte minha admitisse que eu estava sendo cabeça dura e uma baita de uma idiota, eu nunca diria isso em voz alta.

Acho que esse sempre foi o meu problema.

Meu orgulho era sempre maior do que a minha vontade de consertar as coisas.

Mas Apolo não desapareceu, nem virou as costas e desceu as escadas sem notar a minha presença. Ele virou o rosto distraído e acabou encontrando-me com seus olhos azuis. Por mais que eu estivesse com raiva dele, o Deus do Sol sorriu para mim e encostou-se contra a parede, esperando eu passar. Parei de andar e olhei-o por alguns instantes.

Deuses, por que ele é tão charmoso?

– E nos vemos de novo. – Disse ainda me mostrando um sorriso – E o coração?

– Batendo. – Respondi encolhendo os ombros. Apolo prendeu o riso.

– Eu me referi ao seu maravilhoso e saudável coração amarelo. – Corrigiu devagar. Tenho quase certeza que meu rosto corou, e só de pensar nisso já sinto vontade de me arrastar até um canto escuro e fingir que não existo.

– Ah. – Foi tudo que consegui dizer, para piorar as coisas.

– Bem, talvez não tenha sido tão mal. Devia estar escuro, e Will nem deve ter visto a cor anormal do seu coração. – Comentou ele calmamente.

– Para a sua informação, Tyler, Will adorou o coração amarelo. – Disse finalmente juntando palavras – Ele leu, ficou emocionado, me abraçou, e nós nos divertimos muito com a nossa tradição de aniversário. Muito obrigada pela preocupação.

– Bem, sempre que quiser ajuda com um coração... – Eu o interrompi antes que pudesse terminar a cantada.

– Para. – Estendi a mão no ar com irritação – Se tem uma pessoa que deveria passar o dia ouvindo as suas cantadas de galã, essa não sou eu.

– Poderia ser se quisesse. – Replicou.

– É, mas eu não quero. – Respondi – Estou com raiva de você, não entendeu?

– Isso é bem imaturo da sua parte. – Comentou ele.

– É bem imaturo da minha parte? – Repeti – O imaturo é você que está saindo com a Heather só para me deixar com ciúmes!

– E você está com ciúmes? – Apolo sorriu torto. Revirei os olhos.

– Não. – Reclamei – Estou só falando do seu plano, não estou com ciúmes.

– Se não estivesse, não ligaria para eu estar saindo com ela. – Respondeu ele calmamente. Coloquei as mãos na cintura.

– Você quer mesmo que eu explique todo o lance do ódio e da rivalidade eternos entre nós duas? Achei que já estava claro para todo mundo. – Apolo riu ao ouvir aquilo.

– Não estou fazendo isso para te deixar com ciúmes. – Falou se aproximando de mim – Mas se por um acaso você realmente estiver com ciúmes, me avise, ok?

– Vai para o inferno. – Respondi virando as costas saindo de perto dele em passos largos.

– Eu já disse que você fica linda quando está revoltada? – Perguntou com animação, mas eu o ignorei.

Quando cheguei a sala de estar, todos já estavam lá. Eles colocavam seus casacos, conversavam entre si e pegavam as chaves dos carros. Will estava falando com o pai de Thomas, enquanto minha mãe estava sendo perturbada por sua sogra.

– Finalmente você chegou. – Disse tia Kat se aproximando de mim – Mas você vai assim? Vai morrer lá fora. – Ela pegou um cachecol empoeirado e cinza e enrolou em meu pescoço. Meus pulmões protestaram – Pronto.

– ObrigadaVouEsperarLáFora. – Falei tão rápido que as palavras se fundiram. Saí correndo porta a fora e fechei a porta atrás de mim. Estava sozinha na varanda, o que por um lado era bom (eu podia ter um pequeno ataque de pânico sem ninguém notar).

Tirei o cachecol do meu pescoço, ergui-o por cima da minha cabeça e joguei-o longe, quase como se estivesse lutando contra uma cobra gigante. Comecei espirrar sem parar. Depois veio o acesso de tosse, e por fim eu fiquei longos minutos tentando voltar a respirar normalmente.

Passei meu punho pelo nariz, tentando tirar qualquer poeira microscópica que ainda pudesse estar ali.

– Ah... – Gemi cansada, como se tivesse acabado de correr uma maratona. Encostei-me contra a parede e olhei para aquele cachecol no chão. Parecia até venenoso.

– Eu acho que ele está morto, mas cuidado. Nunca se sabe se ele vai morder seu tornozelo. - Falou Ares fechando a porta atrás de si. Olhei para ele e notei que estava rindo – Estou achando que o Natal chegou mais cedo esse ano.

– Por quê? – Perguntei, pois era tudo que eu conseguia falar.

– Bem... Neve, neve, neve, e... – Ele tinha apontado para tudo em volta – Suéteres cafonas, família reunida, e, é claro, Rudolf. – Ele apontou para mim.

Revirei os olhos.

– Há. Porque meu nariz... Está vermelho? – Fingi rir, mas meus pulmões só me permitiram isso por 2 segundos – Nossa, essa piada... Está bem velha.

– Verdade. – Ele assentiu e olhou para o quintal com uma cobertura fina de neve por alguns minutos, até que... – Ah! Já ouviu aquela sobre o fumante que correu uma maratona?

– Ares... – Revirei os olhos. Ele prendeu o riso colocando as mãos nos bolsos do casaco grosso de frio. Eu me abracei. Estava mais frio do que esperava, e eu realmente ia precisar daquele cachecol – Ares...

Dessa vez minha voz não soou irritada, o que chamou a atenção dele.

– O que foi? – Perguntou olhando para mim com um sorriso torto.

– Tá frio... E... – Eu apontei para o cachecol com o meu queixo, enquanto ainda respirava fundo – Você pode... ?

– Pegar e sacudir para você? – Completou a frase para mim. Eu sorri aliviada por não ter que gastar mais fôlego falando. Ares segurou meu queixo com a ponta dos dedos, e eu torci para ele não me dar um beijo e tirar de mim o pouco ar dos meus pulmões – Own, benzinho. É a poeira, não é?

Assenti com a cabeça, um sim silencioso.

– Eu vou ser legal com você, ok? – Ele sorriu para mim – Eu tiro toda poeira do cachecol para você... – Eu sorri – Se você entregar a aposta. – Meu sorriso sumiu – Não é como se você fosse ganhar mesmo, porque você me quer aqui do seu ladinho. Então é só desistir logo que eu te dou uma ajuda.

Meu queixo caiu.

– É claro que aí eu escolho as suas roupas, e tudo mais, mas eu juro que espero até de noite para começar, tudo bem? – Falou sorrindo torto para mim - Então? Temos um acordo?

– Enfia o seu acordo no... – A sorte dele é que eu não tive ar para completar a frase. Comecei a ofegar novamente e olhei para o cachecol no chão. Abracei-me com mais força.

– Já te disseram que você fica linda quando está revoltada? – Riu ele.

– Já. – Respondi irritada.

– Tem certeza que não quer aceitar minha ajuda?

– Tenho. – Respondi.

– Então boa sorte com sua asma. – Respondeu encolhendo os ombros e sorrindo para mim. Dava para notar que ele esperava que eu desistisse a qualquer momento. Eu queria protestar dizendo que aquilo era jogo sujo, que estava dando golpes baixos para vencer a aposta porque estava com medo de perder para mim, mas eu não ia conseguir e ia parecer patética interrompendo as frases pela metade.

Estava pronta para pegar o cachecol, quando porta se abriu. Era Dwayne.

Eu olhei para ele diretamente nos olhos, mas ele não disse nada. Só respondeu com um movimento de cabeça e depois virou-se para fechar a porta. Eu continuei ofegante, o que chamou sua atenção.

Seus olhos fitaram a mim e depois notaram o cachecol no chão. Ele assentiu devagar e foi até a peça de lã. Esticou seus braços para longe e começou a bater tirando o excesso de poeira.

Ares estreitou os olhos para ele com raiva por ele estar me ajudando. Meu primo demorou alguns minutos naquilo, mas finalmente veio para perto de mim. Ele colocou o cachecol em volta do meu pescoço, e eu prendi a respiração com medo. Mas logo percebi que não estava mais tão ruim assim.

– Melhor? – Perguntou. Sorri para ele, sem graça.

– Obrigada. – Disse depois de alguns instantes. Dwayne deu um curto sorriso, colocou as mãos nos bolsos e foi em direção aos carros. Ares o acompanhou fuzilando suas costas com um olhar de raiva.

– Intrometido. Imbecil... – Resmungou. Seus olhos se voltaram a mim e sua raiva aumentou – Eu achei que Rudolf só tivesse o nariz vermelho. Você poder me explicar o que está acontecendo com as suas bochechas?

Prendi o riso por alguns instantes, ajeitei o cachecol aninhando-o contra meu pescoço, e virei para Ares fazendo uma careta. Ele começou a reclamar, mas eu não estava dando muita atenção.

Logo, todos saíram de casa e nós fomos para o centro da cidade. Todos nós paramos na Casa da Picanha, o que fez Ares abrir um enorme sorriso. Nos sentamos em uma mesa longa reservada para Will.

Tio Ed começou a conversar com o dono do restaurante, que era tão velho quanto ele, o que chamou a atenção de Heather. Ela virou para trás na cadeira, ergueu uma sobrancelha e depois ajeitou-se novamente.

– Meu Deus, essa gente nunca morre? – Perguntou incomodada. Olhei para ela, que infelizmente estava na minha frente. Mostrei um pouco de espanto por alguns segundos, até revirar os olhos e resolver ignorar – É sério. O que tem na água desse lugar para as pessoas viverem tanto tempo?

– Provavelmente não arsênio. – Comentei batucando suavemente os meus dedos na mesa – Nem cicuta, nem veneno de cobra.

– Ainda. – Murmurou Dwayne olhando para Heather de soslaio. Ela fez uma careta para ele, que voltou a ignorar todos nós.

– Você é realmente muito genial. – Comentou Joe em sarcasmo para mim – Como foi que percebeu? Foi por eles ainda estarem vivos?

– Elementar, meu caro Joey. – Rebati sorrindo forçadamente. Heather bufou.

– Não vejo a hora disso tudo acabar e eu poder voltar para casa. – Resmungou.

– Não se iluda, ninguém está se divertindo. Principalmente eu. – Respondi para ela. Heather pensou por alguns instantes e depois sorriu para mim. Ela chegou um pouco para seu lado e tocou o braço de Apolo, que estava distraído. Aninhou-se contra ele, mas não de um modo que deixasse óbvio que eles estavam juntos. Provavelmente não queria a família enchendo o saco.

– Eu estou me divertindo. – Disse olhando para mim – Não me leve a mal. Eu adoro essas reuniões, mas elas são cansativas. Não sou do tipo que gosta de gente velha.

Prendi o riso. Olhei para Apolo, e depois para ela.

– Nunca suspeitaria disso. – Falei voltando a focar minha atenção nos meus dedos batucando contra a madeira.

Ares estava do meu lado, mas ele estava ocupado sendo interrogado por tia Kat. Suspirei notando que ia ter que esperar a sopa de galinha com tomate em silêncio.

Demorou um tempo a mais para que nossos pratos chegassem. Fomos servidos, por fim, e parecia que tudo estava nos eixos de mais uma refeição entediante de família.

Até ele abrir a boca...

– Joe... – Morgana, a mãe do Joe, inclinou-se para frente – Onde está a mochila com os presentes?

Joe terminou de mastigar e franziu o cenho tentando lembrar.

– Os presentes do Will estão lá dentro. Onde você deixou? – Perguntou. Joe olhou em volta de sua cadeira, e se tocou que não estava com ele.

– Ahm... – Seu pai o cortou.

– Minha carteira com dinheiro também estava lá dentro. – Completou Marcel. Obviamente ele tinha esquecido em casa, mas ao invés de admitir isso como uma pessoa normal, ele olhou para mim.

– Você não trouxe? – Jogou para cima de mim em um tom acusador.

– A bolsa dos seus pais? Não. – Neguei com a cabeça.

– Eu falei para você trazer. – Mentiu.

– Falou nada. – Neguei com a cabeça.

– Falei sim! Você é inacreditável. – Bufou fingindo estar incomodado.

– Você não falou nada! Para de tentar jogar a culpa para cima de mim! – Reclamei.

– Alice, era para você trazer a mochila? – Perguntou minha mãe se inclinando para frente para me ver.

– Não! – Reclamei.

– Você nunca faz nada certo, não é? – Reclamou Joe – Agora volta e pega.

– Se você acha que eu vou voltar para pegar a mochila que você esqueceu, vê se acorda. Nem nos seus sonhos. – Respondi irritada.

– Por que você nunca admite quando está errada? Era uma coisa simples! Eu falei para você trazer e disse que era importante. – Falou.

– Você não me disse nada, para de inventar! – Reclamei.

– Tudo bem, já chega! – Tia Kat nos interrompeu – Vocês dois vão voltar para pegar a mochila.

– O que?! – Falamos juntos.

– Os dois! Agora! – Ela exclamou apontando para a porta – Por fazerem toda essa baderna no meio do almoço de aniversário, esse vai ser o castigo.

– Mas eu não...! – Ela me interrompeu.

Agora! – Repetiu em tom autoritário.

Marcel tirou a chave do carro do bolso e jogou para Joe, que pegou resmungando. Eu me levantei ao mesmo momento que ele.

– Satisfeito, seu imbecil? – Perguntei com raiva.

– Alice, já chega. – Disse minha mãe com um olhar sério.

– A culpa é minha que você é uma inútil? – Retribuiu ele.

– Quieto, Joe. – Disse Morgana, tomando um gole de sua bebida.

– A culpa é sua de ser uma babaca! – Respondi.

Alice! – Exclamou minha mãe.

– Vindo de você, isso não é nada, sua...! – Morgana o cortou.

Joe! – Exclamou – Estamos no meio de um almoço! Chega.

Nós dois bufamos e marchamos até a porta em silêncio. Joe me empurrou para o lado só para passar na frente, e eu pisei no seu calcanhar de propósito. Ele virou para trás e começou a me xingar, e eu retribuí.

– Por que você teve que inventar isso?! – Reclamei – Eu nem terminei a minha sopa, e agora tenho que sair com você no meio da porcaria da neve!

– Vai fazer o quê? Chorar? – Perguntou irritado – Você sempre estraga tudo, Ally, você é ridícula.

– Só dirige a porcaria do carro, tá bom?! – Reclamei entrando e batendo a porta com força.

Passamos longos minutos em silêncio quase que mortal. Até a respiração dele aumentava minha raiva, e eu podia apostar que ele sentia a mesma coisa. Quando finalmente paramos na frente de casa e as portas se destrancaram, eu saltei para fora e bati com força.

Joe saiu e fez a mesma coisa. Nós voltamos a reclamar sobre de quem era a culpa sobre a porcaria da mochila, e quando nos demos por nós já estávamos no meio da sala.

– Sobe logo e pega a mochila, idiota! – Exclamei enquanto ele subia os primeiros degraus.

– Não adianta você ficar reclamando agora! Você devia era ter vindo e... – Ele se interrompeu. Joe parou no meio da escada e olhou para cima com o cenho franzido.

– O que você... ?! – Ele me interrompeu.

– Cala a boca! – Falou, mas não muito alto. Ele olhou para mim, ainda com o cenho franzido – Foi você que abriu a porta, SEDEX? – Ele apontou para a porta da frente – Quando a gente entrou, foi você que abriu, não foi?

Eu cerrei os punhos e olhei para a porta.

– Sei lá, não lembro. Acho que não. – Respondi sem ligar.

Joe desceu os degraus ao invés de subir, o que me deixou confusa.

– O que deu em você? – Perguntei. Joe ia responder, mas foi interrompido pelo barulho de algo sendo derrubado no chão. Veio do escritório.

Tinha alguém ali.


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Notas finais do capítulo

TAM TAM TAAAM!
Agora, senhoras e senhores, começamos realmente a parte de ação da história.
Espero que vocês gostem, e espero pelos reviews.
Beijos e até o próximo capítulo!