Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 48
Rockin Robin


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo atrasado, mas fiquem tranquilos. Eu já escrevi o próximo e programei para quarta que vem, então não vai ter mais atraso!
Pelo menos por uma semana, he he.
Enfim, aqui vai!
Boa leitura, e obrigada pela paciência!



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Houve um longo momento de silêncio, só não completo por causa da música do velho rádio tocando. Foi meu primo, é claro, que resolveu quebrá-lo com suas sábias palavras.

– O quê? – Joe soltou mais confuso do que nunca.

– O que o quê? – Hades franziu o cenho.

– Hades. – Eu disse tentando manter a calma. O Deus dos mortos olhou para mim, e eu respirei fundo antes de falar – Eles estão mortos.

– Querida, acho que só de olhar para eles dá para ver que estão mortos. – Falou como se eu fosse burra.

– O que você fez? – Perguntei chocada.

– Eu chamei seus parentes para uma reunião de família. – Respondeu com simplicidade. Neguei com a cabeça – Eles vão ficar aqui, conhecer vocês melhor, enquanto eu e os outros vamos para um almoço com seus pais.

Meu queixo caiu.

– Bem, acho que vocês têm muito o que conversar. – Disse por fim – Eu vou deixar vocês...

– Não. – Deixei escapar, negando com a cabeça – Não, não, não! Hades, eles estão mortos! Eu não quero conhecer eles, quero que voltem de volta para debaixo da terra!

– Oh! – Todos eles exclamaram chocados ao me ouvirem falar.

– Isso não foi muito gentil. – Falou Hades um pouco incomodado.

– Você...! – Joe apontou para ele, ainda extremamente confuso, e tentou entender o que estava acontecendo – Você... Foi você que fez isso? – Hades assentiu – Você encheu nossa sala de zumbis e quer falar de gentileza?! O que você é? Um feiticeiro vodoo?

– Creio que não gostei da sua insinuação, meu jovem. – Hades pareceu irritado de verdade. Eu dei uma cotovelada em Joe.

– Hades, ele não entende, ok? É só... Isso tudo é demais. Você tem que leva-los de volta. – Pedi olhando-o nervosa – Se Will voltar para casa e ver isso, ou se algum dos meus parentes mortais ver isso...!

– Bem que Ares disse que você tem um problema com a sua família. Creio que seja uma ótima hora para vocês se ajeitarem. – Disse com uma expressão séria – Vou deixá-los a sós, e volto mais tarde.

– O quê? Não...! – Mas Hades já tinha desaparecido. Levei minhas mãos a cabeça, chocada demais para acreditar que aquilo estava acontecendo. Joe começou a me fazer milhões de perguntas, mas de repente eu não ouvia mais nada. Parecia que estava debaixo d’água.

Eu ouvia os passos de todos aqueles mortos se movimentando pela casa, e Joe falando alguma coisa perto de mim, mas nada fazia sentido. Temia que fosse desmaiar, mas antes que meu corpo se desligasse, meu primo me sacudiu com força.

– Alice! – Gritou – O que vamos fazer?!

Pisquei os olhos. Foquei no rosto dele e pude perceber o quanto estava assustado e nervoso.

– Quem era ele?! – Perguntou – Dá para você responder...?!

– Dá. – Assenti devagar – Ele...

Joe acertou meu rosto com um forte tapa, e eu soltei um grito de dor. De boca aberta, passei a mão pela bochecha e olhei-o incrédula.

– Você ficou louco?! – Gritei.

– Achei que precisasse disso para acordar. – Respondeu.

– Eu estava falando com você! Estava acordada, imbecil! – Exclamei com raiva.

– Nunca se sabe. Só achei que precisasse. – Ele tentou esconder um sorriso cínico.

– É, aposto que achou. – Assenti com raiva ainda.

O rádio da sala começou a tocar uma música famosa do Elivs, e os zumbis pareceram se animar. Estava tão ocupada falando com Joe que não notei que em pé na nossa frente estava o homem com a cabeça cortada.

Eu e Joe notamos ao mesmo tempo, mas nenhum de nós conseguiu soltar um grito de terror. O homem ajeitou a cabeça sobre o pescoço cortado e tentou falar algo.

– Kenny! – Gritou uma voz conhecida. E lá estava ela, Sharon, a noiva cadáver daquela noite estranha. Eu e Joe arregalamos os olhos ao vê-la se aproximando – Seu imbecil!

Ela acertou o rosto dele em cheio com um soco, e seu cabeça caiu mais uma vez. Eu e Joe soltamos um grito de horror, mas ela não pareceu chocada enquanto seu marido zumbi tentava catar seu rosto no chão.

– Eu disse para você que era uma surpresa! Quase estragou tudo! – Reclamou incomodada – Será que você não consegue fazer nada certo?!

Eu e Joe ficamos congelados vendo aquela cena.

– Isso tá acontecendo mesmo? – Perguntou Joe.

– Acho que sim. – Confirmei.

– Eu... – Ele respirou fundo – Eu acho que molhei minhas calças.

Olhei para a calça jeans de Joe e notei a enorme mancha escura bem no meio dela. Fiz uma cara de nojo e ergui o rosto para o casal zumbi novamente.

– É, você molhou. – Assenti enquanto Sharon terminava de discutir com seu marido. Quando ela finalmente parou, olhou para nós e abriu um sorriso tentando ser simpático.

– Perdoe esse idiota por quase estragar a surpresa de vocês. – Disse ela ajeitando seu vestido – É que Kenny tem um pequeno problema com bebidas. E isso vem causando certos problemas a ele, desde... Bem – Ela bufou repentinamente incomodada – Desde o dia em que ele foi degolado em uma briga de rua por uma garrafa de vodca.

– E quando foi isso? – Foi o melhor que Joe conseguiu dizer.

– Dezembro de 1902. – Respondeu sorrindo – De tarde, um pouco antes do que devia ser o nosso casamento.

– Ahm... – Eu não consegui falar nada.

– Ah, mas olhe só para vocês! – Ela parecia um tanto orgulhosa agora – Não reconheci vocês direito naquela noite, mas são meus bisnetos. – Eu e Joe nos entreolhamos.

– Er... Eu sou adotada. – Respondi escapando dessa.

– Não é não. – Cortou Joe.

– Agora eu não sou? – Rebati com um riso nervoso.

– A não ser que queira morrer como eles, não, você não é adotada. – Sussurrou em resposta.

– Disse o cara que molhou as calças. – Respondi de implicância. Sharon sorriu para nós.

– Vocês são netos do Edgar? – Ela disse sorridente – Ele estava ótimo da última vez que eu vi. Se eu soubesse que a família ia ficar tão linda, eu teria... Bem, eu teria... – Ela deu um risinho para descontrair e mostrou os pulsos puxando a manga do vestido. Eles estavam cortados profundamente – Teria me prevenido do meu pequeno acidente.

Pisquei os olhos. Estava começando ver bolinhas coloridas e manchas pretas.

– Vamos embora. – Joe me puxou e saiu correndo para a sala de estar. Eu tentei seguí-lo, mas estava começando a ficar tonta. Encostei-me contra a parede, enquanto via os zumbis andando de um lado para outro. Uns desengonçados tentando dançar Rockin Robin, outros conversando outros tentando chegar perto de mim e de Joe.

– Ah... – Passei a mão pelo rosto.

– Vamos! – Gritou Joe em desespero – Nós temos que nos trancar em algum lugar antes que...!

– Eles não vão nos matar. – Murmurei, zonza.

– Eles são zumbis! – Exclamou ele.

– Isso! São zumbis! Parentes que vieram dos mortos para uma reunião surpresa! – Gritei de volta – Não são hidras, não são ciclopes, não são cães infernais e não são semideuses vingativos! Estamos salvos.

Bufei. Joe franziu o cenho para mim.

– O que foi isso? – Perguntou confuso.

Olhei para as escadas.

– Eu tenho que pensar. – Falei mais para mim, do que para ele. Joe, no entanto, não estava com muita paciência. Ele, incrivelmente, me segurou no colo e saiu correndo para a escada – O que...?!

– Nossa, como você é gorda! – Bufou não aguentando meu peso.

– Cala a boca! Quem mandou você me carregar?! – Reclamei.

– Você é um peso morto mesmo. – Respondeu soltando-me no chão quando chegamos ao segundo andar. Para nossa felicidade, não tinha mais nenhum zumbi ali.

Joe abriu a primeira porta que viu, e me arrastou para lá puxando-me pelos braços.

– Joe! Para com isso, ficou louco?! – Reclamei. Ele bateu a porta e a trancou com a chave. Virou-se para mim nervoso, inquieto e irritado.

Sim! – Gritou em resposta – Eu acho que todo mundo ficou louco! Ou você não percebeu isso ainda?! Porque você parece absurdamente bem aceitando tudo isso!

– Eu...! – Ele me interrompeu.

– O que está acontecendo? – Perguntou com raiva – Eu quero saber. Eu tenho o direito de saber.

– Eu preciso do meu celular. – Respondi depois de alguns segundos de silêncio.

Joe assentiu, mas não estava respondendo sim ao meu pedido. Ele me deu um chute na perna e eu gritei de dor.

– Ah! Filho da...! – Bufei abraçando minha própria perna – Por que você isso?!

– Vai me contar agora? – Perguntou ainda com raiva.

– Vai me chutar de novo? – Rebati e ele chutou a lateral do meu tronco. Faltou ar para gritar, mas eu me encolhi com dor – Para com isso, seu animal!

– Quem era aquele homem?! – Gritou ele apontando para a porta. Eu endireitei-me e olhei para Joe sem acreditar na reação dele. Seus olhos pareciam estar marejados. Ele passou a mão pelo cabelo, que agora já estava uma bagunça – Eles estão mortos. Tem gente morta na nossa sala de estar, Alice. Dançando Bob Day e Elvis Presley. Falando de como morreram, do que faziam antes de morrerem... Deus, o que é isso?! Por que você não me responde?!

– Você vai chorar? – Perguntei sem entender. Joe olhou para o espelho pendurado na parede e negou com a cabeça voltando o olhar para mim.

– Eu não sei! – Gritou – Eu estou em choque! Eu não sei o que eu vou fazer!

Respirei fundo. Tentei não sentir raiva pelos chutes que ele me deu.

– Olha, eu vou responder tudo para você. Mas para resolver esse problema, eu preciso chamar o Ares ou o Apolo. Eu preciso do meu celular. – Disse devagar – Não dá para entrar em pânico agora.

– Tarde demais. – Ele negou com a cabeça – Tarde demais para isso!

Joe estava andando em círculos pelo quarto. Neguei com a cabeça, e vi que teria mais trabalho do que imaginei. Além dos zumbis, teria que tomar conta dele. Coloquei-me de pé com dificuldade, e abri a porta do armário.

Mesmo sendo o quarto da Lauren, eu sabia que acharia o que eu queria. No meio das malas delas, estava a bolsa que Hermes me dera. Eu a abri com rapidez e tirei de lá meu celular.

Digitei os números, mas vi que estava sem sinal. Xinguei baixinho e olhei para Joe.

– Eu tenho que ir para o meu quarto. Lá é mais alto, deve ter sinal. – Disse destrancando a porta – Fique aqui, eu já volto.

– Não! Não, eu vou com você! – Olhei para o meu primo e assenti. Ele achava que era um sim, mas na verdade...

– Você não vai. – Saí e tranquei a porta com rapidez. Joe começou a mexer na fechadura inquieto.

Alice! – Gritou – Alice, não me deixa aqui! Ei!

Corri desajeitada até o meu quarto, e liguei para Ares assim que fechei a porta. Finalmente começou a chamar. Esperei até que ele atendesse.

Kelly? – Perguntou ele.

– Saí de perto dos meus parentes, eu preciso falar com você. – Pedi nervosa. Eu ouvi um barulho, provavelmente ele levantando da cadeira e saindo do restaurante.

O que houve? – Parecia um tanto preocupado.

– Hades passou aqui. Eu preciso da sua ajuda, de verdade. – Pedi.

O que aconteceu aí? – Quis saber, confuso.

– Ares, a casa está cheia de... Eu nem sei o que eles são. Hades trouxe os parentes do Will de volta a vida. E agora a casa está cheia deles, andando de um lado para outro, achando que vão encontrar o resto da família. – Disse isso um pouco rápido demais – Você precisa vir aqui para me ajudar. Eles tem que ir embora, antes que o resto volte e... E tem o Joe que viu tudo e...!

Ei, ei, ei! Calma! – Disse ele. Um segundo de silêncio – Parece que você está realmente precisando de ajuda aí.

Sim! – Exclamei sorrindo nervosa.

Certo. – Respondeu ele.

Então você vem? – Perguntei.

Claro, meu bem. Só preciso de uma coisa antes... –

– O quê? – Perguntei. Eu ouvi a sua risada.

Que você desista da aposta. – Falou por fim. Meu queixo caiu.

– Ares... Não é hora para você pensar nessa aposta! Eu estou cercada de parentes mortos. Se Will voltar para casa e vir isso, eu... Eu não sei o que eu faço. – Respondi.

Ouvi sua risada baixa mais uma vez.

Ah, querida. Não parece que você tem muita escolha. – Respondeu.

– Ares! Eu preciso de você! – Exclamei preocupada.

Eu sei que precisa, benzinho. – Respondeu tranquilamente – Vou esperar a sua ligação. Você sabe o que falar.

E ele desligou. Respirei fundo tentando entender o que tinha acabado de acontecer.

Na verdade, isso era basicamente o que eu estava fazendo desde que tudo começou. Cara morto na floresta: respira fundo. Zumbis em casa: respira fundo. Hades: respira fundo. Joe dá um ataque de pânico: respira fundo.

Passei a mão pela cabeça sentindo ela latejar.

O que eu ia fazer? Sem um Deus para manda-las de volta, eu estaria ferrada.

Minha última opção seria o meu pai.

Peguei o celular novamente pronta para ligar para ele, quando alguém tocou meu ombro. Eu soltei um grito achando que era mais um zumbi, e virei para trás tentando bater nele. Joguei meu celular contra a pessoa, e tentei me afastar.

Só que foi tudo muito rápido. Eu tropecei nos meus próprios pés, bati com a nuca na escrivaninha, e logo eu já estava jogada no chão.

Senti a pessoa me segurar, e puxar contra si.

Soltei gemido de dor.

– Alice? Ei, não desmaie. – Pediu Apolo mexendo-me um pouco. Pisquei os olhos e minha visão foi melhorando aos poucos. Senti certo alívio ao ver seu sorriso branco tão perto de mim – Você sempre foi meio desajeitada, mas se superou agora.

– Uhm... Eu... – Tentei falar, mas ele me interrompeu.

– Está com problemas? – Sorriu torto. Franzi o cenho.

– O que você... Tá fazendo aqui? – Perguntei.

– Ajudando a minha musa. – Respondeu encolhendo os ombros – Você... – Ele franziu o cenho de leve, e, meus Deuses, como ele era lindo – Você ainda é a minha musa, não é?


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Agora, como se livrar de centenas de zumbis? Espero para ver a teoria de vocês sobre como eles vão resolver esse problema.
Beijos e muito obrigada por lerem a minha fic, seu leitores divos.



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