♪ Kill-Kon, Kan-Kon ♪

Estávamos nós quatro, rindo e conversando e andando até a sala: a segunda aula iria começar agora.

– ESPEREEEEEEEEEM!

Olhamos para trás. Tinha uma menina de cabelos castanhos escuros e bagunçados, que iam até o ombro. Suas roupas eram pretas, uma camiseta comum, com os dizeres “The GazettE”, e um short preto. Tinha uma pequena corrente em um dos shorts do bolso (o que me fez pensar na falta de simetria que ela tinha).

Também havia um menino muito bonito atrás dela: seus cabelos eram escuros e lisos, que iam até os ombros, tinha olhos azuis bem claros, apesar de serem puxados e inclinados e um nariz pequeno e arrebitado (pelo jeito tinha descendência coreana). Usava uma blusa preta e um jeans escuro, com um tênis de cano longo azul e preto. Ele era realmente MUITO bonito.

– Oi… – disse a menina – Meu nome é Ingrid, prazer. Sou uma shokunin.

– Meu nome é Wook – falou o menino. Depois eu tive certeza que ele era coreano – Sou uma arma. Mas precisamente uma kama.

– Cama? – perguntou Lih – Você ataca com uma cama, Ingrid?

– Não – respondeu ela rindo – Wook é uma kama, é tipo uma mini foice, que os agricultores japoneses usavam, mas é usada nas artes marciais coreanas e chinesas também.

– Ah – disse Lih, corando – Entendi.

– Vamos, gente – falou Tsubaki com sua voz doce – A segunda aula vai começar agora.

Corremos até a sala de aula, onde o Dr. Stein apresentou as novas alunas (e o novo aluno), do mesmo modo que me apresentara antes, e até falando "quero dissecar vocês". Talvez ele falasse isso para todos os alunos novos.

Era mais uma aula de dissecação. Não, eu não prestei atenção. Eu fiquei olhando para o Kid de novo. Eu não sabia o que me fazia querer olhar tanto para ele: eu mal o conhecia! A coisa que me fez “acordar” foi quando a Lih (que agora sentava a minha esquerda) me passou um bilhetinho escrito:

“Hey, porque você olha tanto para esse menino de cabelos listrados? Você gosta dele?”

Eu fiquei tão vermelha, que ela deu risada (mas baixinha, para o Dr. Stein não ouvir), e rabiscou outro bilhete escrito:

“Já vi que você gosta dele mesmo”

Agora uma coincidência entre mim e o Dr. Stein: nós dois queremos dissecar a Lih, mas por dois motivos diferentes.

…

♪ Kill-Kon, Kan-Kon ♪

Esperei algumas pessoas saírem de seus lugares (inclusive as pessoas ao meu lado, menos a Lih) e levantei depressa do lugar onde estava. Puxei Lih pelo pulso do mesmo modo que Maka havia feito comigo alguns minutos atrás e a levei para o banheiro feminino mais próximo.

– Eu… Não… Gosto… Dele! – falei, arfando.

– Não… Parece – respondeu ela em troca. Então ela se recompôs – Você fica olhando pra ele o tempo inteiro, não sei como ele não nota.

– Certo, eu fico olhando pra ele – resmunguei – Eu o achei bem bonito também…

– Eu também o achei bem bonito! – exclamou ela.

Olhei para ela. Tentei sorrir e achar isso engraçado, mas não consegui. Acho que o máximo que fiz foi fazer uma careta.

– Está com ciúm..? – começou Lih, o tom de voz e o sorriso cheios de veneno.

– Não estou com ciúmes! – interrompi – Porque eu teria ciúmes dele? Ele não é meu namorado nem na…

– Você gosta dele! – exclamou ela, se apoiando nos calcanhares.

– Não gosto não! – e agora eu senti minha pele inteira ficar vermelha e queimar.

– Admite pra mim, que eu sou sua parceira – reclamou Lih, com um tom de voz mais como uma ordem – Não vou contar pra ninguém.

– Tá bom eu estou meio que afim dele. Feliz?

Não sei de onde aquelas palavras surgiram da minha boca. Acho que estava nervosa por ela ficar falando aquilo, então falei, mas da boca pra fora. Ou não era?

“Não” dizia uma voz dentro da minha cabeça “Você nem o conhece direito…”

“Seria amor à primeira vista?” dizia outra “Vamos, você sabe que gosta muito dele…”

Quando me toquei, a segunda voz era a de Lih, ainda brincando nos calcanhares.

– Talvez eu goste. Talvez seja amor à primeira vista. – balancei os ombros – Não sei.

Ela deu um sorriso de orelha a orelha, e colocou os dedos entre os lábios.

– Não vou contar pra ninguém dessa sua quedinha ouviu? – e deu risadinhas.

Transformei minha mão na ponta de uma espada e coloquei na garganta dela.

– Melhor mesm…

Uma menina havia saído de um dos boxes. Estava feliz da vida. Reconheci as marias chiquinhas e os cabelos louros beges.

– Maka… – foi o que eu consegui falar.

– Você gosta do Kid! Heh. – exclamou ela – Não vou dizer pra ninguém, calma – falou ela olhando para minha cara, provavelmente chocada.

– Ah… Nem sei se eu gosto del… – comecei.

Levei um tapa na cara da Lih.

– Se você falar que não gosta dele, vou te dar mais tapas ouviu? – disse brava.

– Certo… – e me virei pra Maka – Mas porque você estava aqui antes Maka?

– Eu fui arrumar uma das minhas maria chiquinhas – apontou para uma dos seus cabelos que eu não havia percebido, mas estava muito mais frouxa que a outra (o que me irritou profundamente) – Senão não consigo estudar direito, o cabelo fica atrapalhando… Ouvi vocês duas entrando e me escondi em um dos boxes… Heh.

– Maka… – choraminguei.

Saí de fora do banheiro com um peso enorme no estômago. Aquilo não era verdade… Eu não gostava do Kid…

– Hey.

Pisquei duas vezes. O tal menino Kid estava lá na minha frente. Senti meu coração disparando, e meu rosto ficando vermelho por completo.

– Fale – tentei agir com naturalidade.

– Meu pai… O Shinigami quer falar com vocês duas.

Eu e Lih nos entreolhamos.

– Nós duas? – ela disse por fim.

– Sim, vocês duas. Daniella e Lílian não são?

Eu olhei para Lih. Percebi que ela não tinha se apresentado como “Lílian” antes, e eu abafei uma risada com uma tossida.

– Sim, somos – respondi. “Ele sabe meu nome” pensei feliz. Espera… Porque eu havia ficado feliz com aquilo?

– Enfim, meu pai está chamando vocês.

…

Chegamos aos corredores de guilhotina, caladas. Porque o Shinigami-sama queria nos ver? Em frente ao espelho, Ingrid e Wook estavam nos esperando.

– Seeeeeeejam bem vindos à Shibusen! – cumprimentou o Shinigami-sama – Vocês sabem qual é o nosso objetivo?

– Claro. É fazer os alunos juntarem 99 almas de kishins e 1 de bruxa, e transformar a arma dos shokunins na arma do Shinigami: a DeathScythe. – disse Wook, com precisão.

– Exato! – o Shinigami-sama fez o símbolo de paz e amor com os dedos. – Eu ainda não sei quem é arma e shokunin aqui, e preciso que vocês se tranformem, para que eu possa vê-los.

Wook acenou positivamente com a cabeça. Depois de um brilho percorrer seu corpo, se transformou em uma foice minúscula, e Ingrid o pegou, girando nos dedos. Lih olhou pra mim com uma cara de "sua vez".

Agora, eu comecei a brilhar. Dava uma sensação estranha virar uma arma. Dava cócegas, e parece que você vai dimuindo... Até ter um flash preto e você começar a ver tudo da vista de arma mesmo, e sua alma aparece no reflexo da arma. Lih girou-me nos dedos, e eu percebi na hora que ela era a shokunin perfeita pra mim. O Shinigami-sama bateu palmas.

– Perfeeeeeito! – esperei que ele fosse dar um daqueles longos discuros de boas-vindas, que os diretores normalmente davam aos alunos novos, mas... – Podem voltar pra sala agora. As missões estarão no quadro de avisos, no corredor em frente à sua sala. Gaaaaaaanabatte!

Depois disso, eu e Wook viramos voltamos às nossas formas humanas novamente, e nós quatro nos despedimos do Shinigami-sama e fomos indo de volta para a classe. Wook e Ingrid saíram correndo na frente, com Wook puxando o braço de Ingrid. Pelo jeito ele era um aluno aplicado. Lih segurou na minha mão, e me fez andar um pouco mais devagar.

– Vamos pegar uma missão hoje? – perguntou ela pra mim de repente – Estou animada agora.

– Pode ser – respondi – Vamos procurar o quadro de avisos então certo?

– O.K! – disse ela, com um sorriso no rosto, e agora puxando meu braço com força para segui-la