Eu gostaria de dizer que fui uma boa aluna e prestei atenção na aula, mas eu fiquei olhando discretamente para o Kid, que estava do meu lado direito. Eu não sei por que eu tinha tanto interesse nele, eu nem o havia conhecido direito, só nos falamos na entrada, e muito pouco.

♪ Kill-Kon, Kan-Kon ♪

Era o sinal da aula. Todos os alunos se levantaram de onde estavam e saiam da sala, aos poucos.

Eu não sabia se ficava ou se eu saía: eu ainda não tinha amigos lá, apenas me apresentara a algumas pessoas. Então eu senti alguém dando tapinhas nas minhas costas. Era Soul.

– Hey, você não vem? – perguntou-me dando um daqueles sorrisos sinistros, mas amigáveis e legais.

– Ah… Claro – respondi me levantando.

Descemos as escadarias, até pararmos de frente a mesa do professor Stein, que agora estava saindo da sala em uma cadeira de rodinhas.

Aquela menina ao lado do Soul ainda lia o mesmo livro que lera antes da aula começar. Eu a achei um pouco diferente, por ser tão quieta…

Acho que Soul me viu olhando pra ela, porque deu um suspiro irritado e disse:

– Essa aqui é Maka, minha parceira – colocou as duas mãos em seus ombros e a virou, me colocando frente a frente com ela.

Ela pareceu estranhamente lisonjeada, então deu um sorrisinho e seus olhos verdes fixaram nos meus.

– Sou Maka, shokunin de foice – e me estendeu a mão – Qual seu nome?

– Dani… – eu me senti estranhamente constrangida nessa parte – Uma… Arma…

Peguei sua mão e a balancei, igual eu fiz com a Tsubaki.

– Acho que podemos ser boas amigas – e deu outro sorriso, só que maior do que o outro. Não podia ver sua alma, mas sabia que ela era muito alegre – Você não tem um parceiro?

Eu congelei.

– Não… – respondi baixinho.

Mas ela apenas deu outro sorriso.

– Então vamos achar um pra você! – pegou na minha mão e saímos.

Olhei para trás. Eu havia deixado lá o Kid e o Soul. Liz, Patty, Black Star e Tsubaki estavam se reunindo naquele momento. “Ufa” pensei “Pelo jeito todos são amigos”.

Fiz um sinal pra Tsubaki nos seguir. Ela entendeu e nos alcançou bem rápido.

– Oi Tsubaki! – falou Maka, parando de repente – Conhece a nova aluna?

– Sim – e abriu um sorriso meigo – Falei com ela antes da aula começar. Dani não é?

– Sim – e acenei com a cabeça.

– Estamos indo procurar um parceiro ou uma parceira para ela – continuou Maka.

– Ah… – disse Tsubaki – Não é mais fácil chamar o Shinigami?

– Eu a estava levando para lá agora… Quer dizer… – ela deu um tapa em sua própria cara, como se lembrasse de algo – Podemos falar com ele pelo espelho… Venha aqui.

Ela me levou até em frente a uma janela, com Tsubaki seguindo a gente. Embaçou a janela com o sopro e escreveu alguns números.

– 42… 42… 564… – então algo como ondas vibraram no vidro e o Shinigami apareceu.

– Bom dia, bom dia! – saudou ele alegre – Como estão?

– Estamos bem Shinigami-sama! – falamos todas ao mesmo tempo.

– MAKAAAAAA! – disse alguém por trás do Shinigami.

Então um homem de cabelos muito vermelhos e com as bochechas rosadas apareceu. Usava um terno preto aberto, revelando uma camisa cinza, com uma gravata em forma de cruz. Seus olhos eram verdes, e iguais aos da Maka, mas tinham um olhar sonhador, e não determinado como os dela. Achei a semelhança um pouco estranha e assustadora. Reconheci o homem como o Deathscythe do Shinigami-sama.

– Oi papa – disse ela com amargura e desviando o olhar, e falando com acho que uma mistura de raiva e nojo o “papa”. Mas agora eu sabia o porquê da semelhança.

– Quem é ela? – falou olhando pra mim.

– Sou a nova estudante, Sr. Deathscythe– respondi – Sou Dani…

– A nova arma?! – e seus olhos brilharam de entusiasmo – Maka, você largou o Soul e agora usa ela como arma?

“SHINIGAMI CHOP!”

TOF.

O Shinigami-sama havia dado um dos seus clássicos “shinigami’s chop’s” no Deathscythe.

– Então… – continuou ele – O que vieram fazer aqui?

– Ah, Shinigami-sama – falou Maka – Dani não tem um parceiro.

– Sem problemas, sem problemas! – disse o Shinigami-sama – Está vindo uma nova aluna hoje também, achei que vocês tinham se encontrado…

– Como ela é? – falei rápido.

– Ela tem a cor do seu cabelo e olhos castanhos, Dani-chan.

– Isso basta – respondeu Maka – Muito obrigada Shinigami-sama!

– Tentem se encontrar! Bye-Bye!

Todas demos tchau para ele, enquanto a “ligação” era finalizada. E sem soltar do meu pulso, Maka me levou até a frente da entrada da escola.

A menina que o Shinigami descrevera estava parada ali, olhando a escola, do mesmo jeito que eu havia olhado pra ela antes. Pensei até por um segundo que ela gostasse de simetria também.

Ela nos olhou por alguns segundos e então disse:

– Quem são vocês?

– Eu sou Maka. Essa é Tsubaki. E essa é Dani – falou balançando meu pulso no ar. Lembrei por um segundo que a achara quieta alguns minutos atrás e achei graça – Quem é você?

– Sou Lih – disse ela simplesmente – Sou uma  shokunin… Mas sabe, ainda não tenho parceiro nenhum…

Senti meu queixo cair, era muita coincidência. Tirei a mão de Maka do meu pulso e caminhei até ela: era um pouco maior que eu, mas uns cinco, três centímetros. Usava uma jaqueta preta, com uma blusa branca por baixo, um jeans surrado claro, e tênis pretos.

– Eu também – falei.

Seu rosto se tornou surpreso de repente. Olhou pra mim de cima a baixo e depois perguntou:

– Que parte?

– Quase tudo – respondi – Eu sou arma. E não tenho parceiro.

– Que tipo de arma você é?

– Uma espada das sombras.

Nos olhamos incrédulas. Então começamos a rir.

– Quer ser minha parceira? – perguntei dando risada.

– Pode ser. – respondeu-me ainda rindo.

Apertei sua mão e a balancei. Ali havia começado com certeza uma nova amizade.