Todos os dias nos encontrávamos. Não pessoalmente, ligávamos nossos microfones e passávamos horas e horas a conversar. Éramos algo como amigos distantes a nos reencontrar depois do que parecera uma eternidade, mas não passava de uma única noite.

Eu sabia de todos os seus dados. Suas namoradas, suas bebedeiras. Ele sabia de todos os meus dados. Minhas notas, minhas tristezas...

Num simples dias tudo mudou. Passamos de amigos a algo mais. Algo mais profundo, mais sentimental. Passamos de amigos a enamorados. E foi quando piorei. Fiquei carente, e ele não. Qualquer besteira me magoava intensamente. Qualquer palavra me estraçalhava o coração.

Nossas aulas voltavam e, por falta de comunicação, nos afastávamos. Eu sempre louca de saudades e solidão, ele sempre ocupado.

Ele parou de dizer “Eu te amo”. Ele parou de me escrever sempre que podia. Eu achava que era apenas uma fase, algo difícil na faculdade, trabalhos em excesso. Eu estava enganada.

Por último, houve a gota d’água. Ele deixou uma mensagem à outra em uma simples rede social. Indago a ele, “Por quê?”, e ele diz simplesmente. “É para alguém real. Não da internet.”. Ao pequeno gesto de digitar, com palavras que nem faladas foram, destruiu meu mundo.

Descobri que não passava de algo em sua tela de computador. Algo que raramente incomodava, um pequeno fardo em sua vida. Descobri que não nutria por mim o mesmo que eu nutria por ele.

Depois de tanto descobrir, tomei a pequena decisão, que mudaria tudo, de ali para frente. Juntei todas as pílulas e remédios que encontrei e dissolvi uma de cada num incrível coquetel mortífero entupido de toxinas. Deitei–me, tomei aquilo e fechei os olhos, ciente de que nunca os abriria novamente.