— Sasuke-kun? Sasuke? — a menina de cabelo vermelho corria atrás do pequeno Uchiha na floresta.

Ele a havia chamado para aquele local e desaparecido como o vento, bem a sua frente. Se fosse qualquer tipo de brincadeira, Sayuri ficaria muito brava. Já bastava o quanto ela vinha se preocupando com o menino desde a terrível tragédia de seu clã. Então, tudo aconteceu muito rápido. Um vento forte cercou a Hoshino, que caiu no chão de joelhos. Um barulho agudo que mais parecia um grito horrorizado a obrigou a tampar os ouvidos com força, enquanto lágrimas descontroladas escorriam de seus olhos. E assim como começou, de repente, tudo parou. O tempo congelou e Sayuri estava completamente sozinha no espaço. Nada mais havia alí. Nem Sasuke, nem árvores e nem chão. Mas ela não conseguiu ver o que aconteceu a seguir, pois os sentidos abandonaram seu corpo.

Quando acordou, todo o cenário era diferente, mas ela conhecia muito bem cada detalhe do lugar em que estava. Sayuri estava no quarto de Sasuke. Ele, sentado ao seu lado na cama, a encarava com uma expressão dividida pelo susto e pela ansiedade.

— SAYURI! — ele gritou extasiado, assim que ela abriu os olhos.

— O que aconteceu? — Sayuri parecia confusa.

— Eu... É... Desculpa... Fui eu... — ele estava tão preocupado com a reação que ela teve, que esqueceu de pensar como explicaria aquilo para ela. Com certeza ouviria uns bons berros. — Eu descobri como fazer um genjutsu com meu sharingan e eu queria te fazer uma surpresa. — falou diminuindo cada vez mais o tom de voz e encarando as próprias mãos.

Sasuke não teve a resposta que esperava. Olhou para ela para confirmar que a menina não tinha apagado mais uma vez. E ela não tinha. Apenas o encarava de volta, pálida. Ele ousou chamar seu nome mais uma vez. Tinha quase certeza de que preferiria ela gritando.

— MALDITO! — ela finalmente gritou, fazendo com que ele respirasse aliviado, por mais estranho que aquilo parecesse.

Sayuri se jogou em cima do menino e o derrubou no chão, chutando e socando toda parte do corpo de Sasuke que tinha acesso.

— Desculpa, desculpa! — ele disse meio nervoso, tentando se esquivar dos golpes. Subestimar a força de Sayuri apenas por ela ser uma menina não era o que ele recomendaria.

— DESCULPA?! Eu achei que tinha acontecido alguma coisa com você de novo. Achei que estava em apuros. Fiquei preocupada de verdade. E aí aconteceu todas aquelas coisas horríveis. E agora você vem me dizer que foi você quem fez tudo aquilo? — gritou mais um pouco sentada em cima de Sasuke, ainda batendo no menino.

E continuou gritando depois. Até que ele quase nem sentisse mais nada e já tivesse desistido de relutar. Até que ela cansou. Então, Sayuri simplesmente deixou seu corpo cair para frente, em cima do dele, e o abraçou. Pior do que tudo que ela tinha feito até agora, começou a chorar. O Uchiha odiava quando isso acontecia. Preferia mil socos e pontapés a isso.

— Desculpa... — ele pediu de novo, baixinho, tentando acalmá-la.

— Não faz mais isso, por favor. — seu pedido abafado na camisa dele, que já estava bem molhada, soou mais como uma súplica.

— Eu não vou fazer. Já passou. Prometo que não vou fazer. Nunca mais.

Fim do flashback

O que fazer? Essa pergunta rodou pelos pensamentos de Sayuri por um tempo que parecia não ter fim, com ela ainda congelada no mesmo lugar em que o Uchiha havia a deixado. Ela observava o vazio aparentemente infinito por entre as árvores úmidas da floresta escura, mas sem de fato enxergar. Sua mente viajava para longe daquele local, confusa. Estava convencida de que tudo não passara de um genjutsu. Sasuke, sempre muito esperto, sabia que ela não o deixaria partir e decidiu acabar com aquilo de uma maneira rápida, lançando um genjutsu na menina e quebrando sua promessa de infância. Ela ainda tentava decidir se deveria sentir ódio, tristeza ou saudade da época em que eles eram muito mais do que colegas. Ou talvez deveria se sentir apenas estúpida, já que, claramente, era a única que se recordava do que os dois viveram juntos. Foram tantos sentimentos misturados, que o resultado foi apenas uma incontrolável vontade de chorar. E ela o fez, por muitas horas, até que não tivesse mais como. Então, simplesmente largou seu corpo ao pé de uma das árvores e tentou fingir, por um bom tempo, que nada e nem ninguém mais existia, que estava completamente sozinha no mundo e que não tinha qualquer motivo para se preocupar ou qualquer coisa para fazer. Apenas ela e sua confusão de sentimentos.

x.x

Shikamaru acordou naquela manhã com os berros de sua mãe, que estava muito mais entusiasmada para sua primeira missão chunnin do que ele mesmo. Qual era a necessidade de acordar tão cedo para receber a primeira missão? Aliás, qual era a necessidade de receber uma? E de ser um chunnin? Ele se perguntou várias e várias vezes enquanto se arrumava. A vida seria tão melhor se ele pudesse simplesmente se deitar na grama e assistir as nuvens mudando de formatos para sempre.

— SHIKAMARU! Se apresse! Não vai chegar atrasado para receber sua primeira missão — sua mãe chamou-lhe a atenção para o café da manhã intocado, acordando-o de mais um de seus devaneios.

Ela estava tão irritantemente feliz, que aquilo ainda a deixava mais exigente que o normal e o menino não pode deixar de questionar o pai, assim que os dois ficaram sozinhos à mesa.

— Otou-san, porque você se casou com uma mulher tão rígida? — perguntou baixo, com medo que ela escutasse. Poderia ser fatal.

— Ela tem um sorriso encantador — Shikaku respondeu com o mesmo cuidado que seu filho, dando de ombros.

Problemático. Esta foi a única palavra que surgiu na mente do menino, até que seus pensamentos - e café da manhã - fossem interrompidos por mais uma presença feminina excessivamente entusiasmada.

— SHIKAMARU!! — Sarutobi Kami, que também tinha recebido o título de chunnin, vinha gritando seu nome logo atrás da mãe dele — Vem logo! Não podemos nos atrasar!

Ela mal lhe deu chances de responder ou contrariar. A barriga de Shikamaru roncou, mas nem ao mesmo sua mãe ousou intervir na cena em que ele era arrastado para fora de casa pela pequena Sarutobi. Ele iria perguntar qual era o problema dela, mas se esqueceu de fazer a pergunta ao notar o sorriso que se destacava em seus lábios conforme ela tagarelava sem parar sobre o quão ansiosa e preparada se sentia para liderar a primeira missão. É, até que ela não era tão mal assim.

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Já era de manhã quando Sayuri voltou à realidade. Ela ainda estava aflita e sem saber ao certo o que fazer, pela primeira vez em tanto tempo. Logo ela, que era muito elogiada por sempre saber exatamente como agir em cada momento. Por mais que não quisesse encarar a realidade, porém, lá no fundo ela sabia que precisava fazê-lo. Mais do que isso, ela sabia que precisava agir com a frieza e razão que lhe eram tão comuns com qualquer assunto que não envolvesse o Uchiha. Pensando em uma solução, ela decidiu ir atrás da única pessoa que poderia ser insistente o bastante para talvez conseguir ir atrás de Sasuke e fazê-lo voltar, Naruto.

Sayuri se surpreendeu, porém, ao encontrar o loiro na porta da casa em que ele morava e perceber que não foi a primeira a ter essa ideia. É claro. A companheira de time do Uzumaki e do Uchiha, Sakura, já falava chorosa com o menino.

— Sakura! Você contou... ?

— Hai. Você também encontrou o Sasuke-kun? Sabe para onde ele foi? — a menina parecia desesperada. Olhou para Sayuri cheia de esperança, imaginando que talvez ela pudesse ter parado o menino.

— Naruto, você precisa ir atrás dele. Por favor... — a ruiva respondeu ignorando a explosão de perguntas de Sakura.

O Uzumaki, como era de se esperar, não hesitou em aceitar ao pedido das duas meninas em nenhum momento. Eles decidiram ir os três juntos até a hokage. Elas, contando que Naruto pudesse convencer Tsunade e quem mais fosse necessário para trazer Sasuke de volta.

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Os dois novos chunnins chegaram à sala da Hokage bem a tempo de ver Kotetsu e Izumo deixando o local. Tsunade parecia ter acabado de receber uma notícia não muito animadora, mas sorriu como se acabasse de ter uma brilhante ideia com a chegada de Kami e Shikamaru.

— Que bom que chegaram! Shikamaru, tenho uma importante missão para você. — a kunoichi se ajeitou na cadeira, atrás de diversas pilhas de papeis que estavam sob sua mesa — Preciso que reúna cinco genins de sua escolha e vá atrás de Sasuke.

— Sasuke? — foi Kami quem perguntou. Ela havia notado que Sayuri andava mais preocupada que o normal com o menino e se perguntava o que ele teria aprontado, mais uma vez.

— Fomos informados de que ele deixou a vila com inimigos. Preciso que vá atrás dele, Shikamaru. E tenha cuidado! Pode ser que encontre adversários poderosos no caminho.

O Nara franziu a testa, imaginando o quão problemático seria aquilo. Ele sempre admirara o Uchiha e suas incríveis habilidades, mas de repente o menino parecia saber apenas se meter em confusões. Agora, tinha sobrado para o próprio Shikamaru, que nada tinha a ver com o assunto.

— Tsunade-sama, tenho certeza que poderia ficar encarregada dessa missão e... — Kami tentou intervir na decisão da Hokage. Se algo tinha acontecido com Sasuke, ela tinha certeza que Sayuri iria querer se envolver e era sua obrigação como amiga, ajudá-la.

— Isso não será possível, Kami. Já tenho outra tarefa para você. Ouvi muitos elogios a respeito de suas habilidades e sua competência, preciso que lidere a reconstrução da vila. — Tsunade disse despreocupada, voltando sua atenção para a pilha de papeis, que deveriam ser documentos, imaginou a Sarutobi.

— Mas, hokage-sama...

— É só isso, crianças! Estou contando com vocês! E, Shikamaru, recomendo que você leve Naruto nesta missão — ela voltou seu olhar aos dois e sorriu, antes de preparar-se para ignorá-los completamente.

— Hai... - os dois responderam juntos, nenhum deles muito animados.

Assim que fecharam a porta, Kami transformou-se da menina boazinha e calma para a parente próximo ao monstro do lago negro que Shikamaru jamais conhecera.

— SEU IDIOTA! POR QUE FICOU CALADO? ESSA MISSÃO TINHA QUE SER MINHA! O SASUKE ESTÁ EM PERIGO E EU PRECISO AVISAR A SAYURI E NÓS PRECISAMOS FAZER ALGUMA COISA E... — gritou, enfurecida, e o menino teve medo que faíscas saíssem de seus olhos a qualquer momento e o queimassem. — PRECISAMOS IR COM VOCÊ!

Ele teve medo de lhe responder que não poderia leva-la naquela missão, mas encontrou sua deixa assim que Naruto, Sayuri e Sakura apareceram no local.

— Me desculpe, Kami. Naruto, venha comigo! Precisamos reunir mais quatro pessoas. Te explico no caminho! — Shikamaru tentou ser breve. Sem sucesso. É claro que nada seria tão simples com Naruto...

— Espera! — o loiro gritou — Vocês sabem algo do Sasuke? Eu preciso contar para a Tsunade baa-chan...

— Então vocês já sabem também? — Kami perguntou, olhando para Sayuri.

— Vocês já sabem? O que sabem? A Tsunade-sama disse algo? — a ruiva disparou mais perguntas para a amiga, que também parecia confusa.

— Shikamaru sairá em uma missão com Naruto e mais quatro genins para buscá-lo...

— Desculpe, Sayuri, não posso levar vocês — o menino tentou se explicar.

Kami podia dizer que uma das coisas que mais gostava na amiga, era que ela entendia rápido. Assim como também surgia com soluções, na maioria das vezes, instantâneas. Por esse motivo, a Sarutobi não se importou quando foi puxada pelo pulso, por Sayuri, para fora daquele local. Com certeza ela já estava pensando em alguma coisa.

Shikamaru deu de ombros com a cena, apesar de desconfiar que as duas tramavam algo. Enquanto isso, Sakura chorava para ele e para o Naruto, pedindo para que eles dessem um jeito de trazer o Uchiha de volta.

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Sayuri e Kami estavam preparadas para deixarem a vila atrás do time de Shikamaru, atrás de Sasuke. O plano secreto das duas estava correndo perfeitamente bem, até o momento. Ninguém havia desconfiado ainda e agora faltava muito pouco para escaparem. As amigas andavam lado a lado, atentas a qualquer barulho, se aproximando do portão de saída. O plano era simplesmente agir com naturalidade ao passarem por ali. Se tivessem sorte, Kotetsu e Izumo estariam vigiando a saída. Os dois costumavam ser tão distraídos que nem notariam que as duas não deveriam estar deixando a vila. Algo totalmente inusitado, porém, fez com que as duas pulassem para trás e quase caíssem no chão. Yuki surgiu na frente das duas, e por mais esquisito que parecesse, até para a Kurama, ela havia caído das árvores.

— Yuki?! — Sayuri perguntou surpresa, se sentindo um fracasso por não ter notado um chakra tão conhecido como o da amiga. Seu nervosismo mais uma vez a traíra.

— Say-chan! Kami-chan! — os olhos da menina brilharam ao ver as amigas. Sua boca e mãos estavam cheias de cerejas. — Querem cerejas?

— Yuki-chan! Que bom que te encontramos! — Kami disse baixo, tentando não chamar atenção — Olha, não temos muito tempo para te explicar tudo. Estamos indo atrás do Sasuke. Ele deixou a vila e o Shikamaru-kun e o Naruto-kun foram atrás dele. Estamos indo ajudá-los! Venha com a gente!

— Como é? O cara de gohan mofado foi embora? Ah, bem que eu vi o cabeça de abacaxi passando por aqui com o Naruto-kun... Então era isso...

— Vamos logo! Já deveríamos ter saído da vila. — Sayuri interrompeu as duas, rolando os olhos impaciente.

Yuki, que nunca precisava de muito incentivo para sair em uma missão, levantou apressada e até abandonou suas cerejas no lugar. Acabava de encontrar algo mais interessante.

As três continuaram juntas até a saída, mas antes que Sayuri pudesse dizer qualquer coisa a Kotetsu e Izumo, a atenção de todos eles se voltou para quem chegava em Konoha. Genma e Raido estavam sendo carregados por Shizune e seu ajudante. Ao ver seu antigo sensei daquela maneira, as três meninas ficaram completamente sem reação.

— O que aconteceu? — Sayuri foi a primeira a perguntar, diretamente para sua senpai, Shizune. A respiração falhada denunciava o quão aflita a menina estava por ver o Shiranui ferido.

Antes que a mednin respondesse, porém, o próprio Genma deu sua explicação.

— Uchiha... — ele disse com certa dificuldade, mas Sayuri não teve dificuldade alguma para entender. Seu coração, que já estava inquieto, ficou tão confuso e histérico quanto sua mente. Apesar de pequena, aquela explicação era mais que o suficiente para que ela desistisse de ir atrás de Sasuke.

Kami nem parecia lembrar mais do que estava fazendo ali. No momento em que os shinobis cruzaram a porta de entrada, a Sarutobi se colocou ao lado do antigo sensei, livrando parte do peso antes apoiado apenas em Shizune e ajudando Genma a se equilibrar melhor. Ela, Sayuri e Kotetsu ajudaram a levar os dois feridos ao hospital, enquanto Yuki apenas assistia a cena. A Kurama pediu que as amigas cuidassem do Shiranui e fez mil recomendações, mas preferiu voltar a ocupação anterior.

— Cuidem do Genma-sensei! — pediu mais uma vez, assim que eles começaram a se afastar — Eu estarei aqui, esperando que o Kakashi passe para sair em missão... — completou, com um ar de quem estava tramando como dominar o mundo.

x.x

Já tinha passado da hora de Sayuri deixar o hospital. Nas atuais circunstâncias, porém, a genin havia implorado para que Shizune a deixasse ficar e ajudar até que Genma estivesse um pouco melhor. Era madrugada e a ruiva estava cuidando, mais uma vez, dos ferimentos de seu antigo sensei. Pela primeira vez no dia, os dois estavam completamente sozinhos no quarto do hospital.

— Isso dói... — Genma reclamou baixo, sentado à cama, enquanto observava-a limpar os ferimentos em seu tronco desnudo.

Os olhos azuis da menina brilhavam como duas safiras, da mesma maneira que 12 anos atrás, quando ele a conhecera como uma frágil bebê. Agora, porém, ela não era mais tão frágil e nem tão pequena. Também não tinha mais aquela felicidade boba e inocente em seu rosto. Ela parecia até, de certa maneira, infeliz. Ele ansiava e quase implorava pela atenção de seu olhar.

— Sayuri — chamou, quase que em um sussurro. Seria bom que evitasse qualquer esforço desnecessário em seu atual estado. — Sobre o que aconteceu...

— Não quero saber. — ela deu de ombros, ainda evitando encará-lo.

— Não... — Genma deixou de resistir à vontade de enxergar dentro dos hipnotizantes olhos azuis e tirou a mexa do cabelo de Sayuri que cobria parcialmente seu rosto, prendendo-a atrás da orelha da menina. Aquilo fez com que ela finalmente o encarasse e com que ele desejasse que aquele momento se estendesse por horas mais. — Desculpe, eu falei aquilo de propósito. Sabia que iria atrás do Uchiha, mas não queria que fosse.

Continua...