Uma Nova Chance escrita por Aislyn


Capítulo 4
Traições e Injustiças


Notas iniciais do capítulo

Me inspirei com esta música para a história do Kouga e sua esposa...
http://www.vagalume.com.br/vania-bastos/por-um-beijo.html



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Alguns dias depois que meu pai pediu-nos um neto, eu acordei enjoada, sentindo um mal estar terrível. Logo, recebi a visita do médico da família a pedido de meu pai e tive a confirmação: eu estava esperando um filho. Não sei descrever o que senti, era uma benção e nenhuma palavra seria capaz de exprimir a minha felicidade. Mal podia esperar a hora de ver meu esposo entrando pela porta da nossa casa. Eu esperei... O manto da noite já se estendia pelo céu estrelado, as horas se passavam e ele não aparecia. Quando eu já estava disposta a ir até o escritório do Rokubantai atrás de Kouga, meu pai chegou. Estava envolto numa aura de tristeza. Conversamos diante do altar em que ele fazia suas orações, eu não consegui acreditar no que ouvi. Achei que desmaiaria, mas me mantive firme.

– Otou-sama... Ele jamais machucaria alguém inocente. Está claro que foi uma conspiração... Kouga sempre falava sobre homens que debochavam dele, tiravam seus méritos achando que ele só era seu Sanseki por conta do casamento depois que ele foi nomeado. E não foi somente uma vez que ele lamentou a este respeito. – Eu fiz uma pausa e continuei. – Kouga de fato estava um pouco estranho nos últimos dias, calado. Eu achava que estes homens continuavam incomodando-o, tanto que eu queria falar com o senhor a este respeito.

– Também penso que foi uma conspiração, amada filha. Pedi que Kouga tivesse paciência... Expliquei a responsabilidade que ele possuía por ter um poder tão grande, que ele precisava fortalecer seu coração para saber controlar ainda mais a sua zanpakutou. Ele também é meu filho, Yuki... E terá a chance de se explicar no julgamento, tudo será esclarecido por ele e por mim também. Espero que Kouga seja forte. Não vou deixar com que perca seu poder, confie em mim também, filha.

– Eu nunca lhe faço pedidos, otou-sama... Mas por favor, me deixe ver meu marido.

Meu pai fez o que pedi, por mais que não tivesse concordado no primeiro momento. Eu não era capaz de assimilar, pelo que entendi, alguns oficiais de alto escalão da Facção Republicana tramaram contra Kouga. Fizeram parecer que ele matou seus subordinados... Tudo por inveja, já que meu marido havia garantido o respeito do Soutaichou e sido convocado para estar no comando de uma força especial para derrotar os opositores que ainda restavam. Aquele anjo jamais derramaria sangue inocente, eu confiava nele.
Chegando à prisão, precisei me ajoelhar diante das grades, minhas pernas não tinham mais forças para manter-me em pé. Ele estava acorrentado e com uma máscara no rosto. Como ser forte naquela situação? Eu chorei muito. Kouga mantinha-se calado, com a cabeça baixa.

– Amor... – Chamei em tom de súplica. – Fale comigo, por favor.

– Vá embora, Yuki – sussurrou ele. – Não quero que me veja assim.

– Eu não me importo.

– Mas eu me importo – disse ele quase aos gritos me assustando. – Vá embora!

– Kouga... – Eu coloquei a mão por entre a grade, tentando alcançá-lo. – Acredito em você! Sei que você jamais mataria alguém que não merecesse, ou seja, um inimigo da Soul Society. Isto não vai ficar impune, você só precisa ficar calmo.

– O Ginrei-dono não parecia acreditar em mim – falou Kouga um pouco mais calmo, agora olhando em meus olhos.

– Ele acredita, meu amor. Você vai ficar livre, vão inocentá-lo e sei que o Yamamoto-sama vai lhe pedir desculpas. Por favor, fique firme e não aja de forma precipitada.

– Eu serei condenado, Yuki – lamentou ele, eu podia sentir que estava chorando. – Minha palavra não vai valer mais que a daqueles tiranos... A visita de seu pai hoje provou isto.

– Você é um Kuchiki – falei com firmeza. – Nossa palavra tem um grande peso e valor. Não perca a esperança, Kouga. Eu preciso contar algo para você...

– Antes, eu quero que você saiba que eu a amei mais do que tudo na minha vida. Se eu for condenado, levarei você comigo no meu coração aonde quer que eu vá. Você é a minha felicidade. Eu amo você, minha bela esposa. Não existe sentido na minha vida sem tê-la ao meu lado.

– Kouga, eu te amo... Agora, me ouça... Eu...

– Você precisa sair, Kuchiki-sama.

Um guarda entrou e interrompeu a nossa conversa. Eu precisava falar para ele a respeito do nosso filho. Tentei negociar com o guarda e não obtive êxito. Tudo o que consegui falar foi:

– Amor... Tenha esperança.

Eu ouvi o choro dele, partiu meu coração sair dali sem poder abraçá-lo. Se eu pudesse, lutaria contra a guarda para libertá-lo e fugiria com ele para o outro mundo.
No dia seguinte, a notícia que tive me deixou sem chão. Meu esposo havia fugido da prisão, mas não da forma que eu fantasiei. Ele matou sem piedade os traídores e matava todos que tentassem uma aproximação. Definitivamente, não podia ser verdade, eu não quis acreditar.
Meu pai foi até meu quarto e trazia em mãos algo que reconheci no mesmo instante, era uma parte do cabelo de Kouga junto às presilhas que ele usava. Fiquei imaginando o que havia acontecido, como ele podia ter feito aquilo? Não pude segurar o choro, papai entregou-me aquilo que entendi como um sinal de que meu marido havia renunciado ao nome Kuchiki. Eu tinha que pensar no meu filho e encontrar uma forma de amenizar aquele caos que havia se formado ao nosso redor. Por mais que meu coração estivesse doendo, precisei me levantar e abracei meu pai. Ele correspondeu ao abraço e beijou a minha testa antes de ir embora... Estava tão triste quanto eu.
Fugi da casa Kuchiki para procurá-lo, depois de correr muito, encontrei uma cabana abandonada longe da nossa casa. Meu coração me levou até lá e eu entrei, estava com medo do que encontraria. O que vi ultrapassou a minha expectativa, Kouga estava com as vestes rasgadas, seu olhar era o de um louco. Eu podia jurar que alguma coisa havia tomado posse de seu corpo, aquele olhar não pertencia a ele.


– Ora, ora... Agradou você a idéia de viver no meu mundo, adorava esposa? Também recebi a visita do Ginrei há pouco...

O que era aquela voz irônica? O ar de insanidade? Meu peito doía e eu não consegui expressar emoção alguma, só o encarava.

– Não nega que é filha daquele velho... É o mesmo olhar. Vocês dois querem que eu seja executado, sei que seria muito melhor para o nome da família me apagar da história, do que continuarem a conviver com alguém que a Soul Society não aceita mais!

– Kouga! – Eu desferi um tapa em seu rosto. – Não me ofenda. Se um dia eu tivesse que trocar o meu nome, pelo seu nome, faria com prazer. Sou sua esposa, jamais teria coragem de deixá-lo. Eu não me importo com o que você fez, renuncio ao meu nome e a tudo o que possuo para fugir e ficar ao seu lado. Eu amo você, Kouga... Como pôde duvidar disso?

– Fugir? Está fora de questão – disse ele com um sorriso sombrio estampado na face. – Eu vou derrubar todos os opositores, farei com que se ajoelhem perante mim! Este mundo nunca mais me dar as costas. E você não passa de um fardo que eu não pretendo carregar, mulher.

– Você está louco! Sei que ainda existe o homem que eu amo em algum lugar dentro de você... Eu suplico, deixe-o tomar o controle novamente. Por favor, liberte o meu esposo... O meu Kouga.

Minha vida acabou no momento em que ele ergueu a espada para mim. Eu me ajoelhei diante dele e baixei a cabeça. Preferia morrer a ver Kouga daquela forma, mas fui forçada a elevar a cabeça para ver o que apareceu entre ele e eu. Era a imagem de um homem exótico, vestido com finos trajes brancos. O rosto de uma brancura imaculada expressava uma dor sem fim.

– Kouga – chamou o estranho com a sua voz musical. – Você não pode seguir com isso... Ela é a sua esposa.

– Muramasa, pela última vez! Eu sou o seu mestre, nunca mais me diga o que posso ou não fazer... E se por um acaso ficar no meu caminho novamente, eu o destruirei!

– Você é Muramasa? – Perguntei perplexa.

– Yuki-sama...

Muramasa estendeu sua mão para mim, contudo, Kouga o empurrou fazendo-o quebrar a parede de madeira, tamanha era a força que ele empregou. Eu me levantei e fui até ele, jamais entendi a relação da zanpakutou e seu senhor, mas sabia que Kouga estava passando dos limites.

– Sem ele você não é nada, Kouga! Diga a verdade... Esta é a sua verdadeira face? Será que eu fui apenas o meio que você usou para chegar ao lugar em que queria? Eu teria preferido a morte no dia do nosso casamento, ao menos, não teria vivido para vê-lo dessa forma. Se meu amor não é o suficiente para ter você novamente... Eu peço que acabe o que começou. Mate-me com a lâmina da sua zanpakutou...

– Não me faça rir, Yuki.

– Vamos! Um golpe certeiro... Sem dor. – Eu disse em tom de súplica. – Por favor.

– Yuki-sama – falou Muramasa. – Diga para ele a verdade... É a única forma de acalmar o coração de Kouga.

Kouga olhou enfurecido para Muramasa, então, ordenou para que ele voltasse para o seu lugar. Ele abaixou a cabeça e desapareceu, seu espírito havia voltado para a zanpakutou empunhada por seu senhor.

– O que você tem para me dizer? – Perguntou Kouga impaciente.

– Eu vim para falar com o meu marido. Infelizmente, descobri que você o matou.

– Não o matei... Eu o libertei! – Ele riu de uma forma insana. – Agora vá embora, Kuchiki Yuki e diga ao Ginrei que eu não vejo a hora de ter um combate de verdade com ele.

– Se você fizer algo contra o meu pai... Eu...

– Você o quê? – Ele se abaixou e pegou em meu queixo, apertando com força. Eu o encarei, tentava não chorar. Procurei buscar no lago verde de seus olhos alguma coisa que me dissesse que ainda restava a essência de meu amado ali dentro. Se eu pudesse, tentaria chegar até a alma dele. – Yuki...

Kouga chamou pelo meu nome com a voz angelical de outrora. Uma fagulha de esperança se acendeu dentro de mim.

– Amor...

Ele não fazia mais pressão em meu queixo e começou a acariciar meu rosto, quase sorriu. Eu não entendia se era apenas uma tentativa do verdadeiro Kouga tomar o controle, porém, resolvi assumir qualquer risco. Num impulso, eu encostei os lábios nos dele, temia uma rejeição. Mas não foi o que aconteceu. Ele retribuiu o meu beijo com carinho e devoção. Eu não me incomodava com aquela máscara no rosto dele, só queria sentir mais uma vez o calor de seus lábios e seu toque em meu corpo. Contrariando tudo, até mesmo a razão, deixei com que ele fizesse o que quisesse comigo. Ele me amou com dedicação, senti que o homem que eu amava ainda estava ali. Ficamos abraçados em silêncio, curtindo a respiração um do outro. Se ninguém mais o perdoasse, eu o perdoaria.

– Yuki, estou fadado a seguir por um caminho sem volta. Preciso sobreviver, pois se eu voltar, terei a morte como condenação... Agi por um impulso matando aqueles que me traíram, achei que naquele momento era a coisa certa a ser feita – explicou ele chorando. – Também achei que meu coração ficaria mais calmo, mas não foi o que aconteceu. E mesmo que eu me ajoelhe e peça perdão pelos meus erros, ninguém acreditará em mim... Assim como não acreditaram quando eu era inocente. Infelizmente, não há mais chance alguma de ficarmos juntos. Você tem que se resignar, aceitar tudo isto e me esquecer.

Eu sei que Kouga sentiu uma dor profunda ao dizer aquelas palavras. Como esquecê-lo?

– Se eu conseguir contar todas as estrelas... Se eu conseguir chegar até o sol e em seguida roubar o brilho da lua. Se eu conseguir domar a mais furiosa tempestade e chegar ao infinito... Talvez eu consiga esquecê-lo. Mas, enquanto eu não conseguir fazer o impossível, será impossível fazer o que você me pede. – Aquelas palavras saíram do meu coração. Eu não tinha noção do que era ficar ao lado de um fugitivo, entretanto, por todo o amor que eu sentia, pelos votos que fizemos um ao outro no dia do nosso casamento, aquele era o meu lugar. Ao lado do homem a quem meu pai me entregou.

– Minha esposa... Não há retorno. – Lamentou tentando evitar meus olhos. – Vá embora, não quero que você se machuque. Eu sempre vou amá-la. Eternamente...

– Kouga, vamos para o Mundo Real... Eu sei como abrir o portal. Lá poderemos...

– Shhh... – Ele selou meus lábios com um beijo. – Eu já disse que não vou fugir.

– Se não for por mim, que seja pelo nosso filho.

Era tudo o que me restava, a única maneira de fazer com que ele fosse embora comigo. Kouga me olhou assustado, havia perdido a fala. Pude notar a emoção em seus olhos quando tocou o meu ventre e sorriu. Assim que nos recompomos e ficamos em pé, ele inclinou-se e desta vez, beijou meu ventre. Aquela sensação era única... Eu ainda conseguia sentir um pouco de felicidade.

– Por favor, Yuki... Chame-o de Kai. Tenho certeza que será um menino.

– Não, Kouga. Você estará ao meu lado, não fale como se nunca mais fosse me ver.

– Nunca diga ao meu filho quem eu fui. Só gostaria que ele soubesse que eu o amei antes mesmo de o ver. Não o deixe cometer os mesmos erros que eu cometi!

– Amor, eu sinto muito...

Não pude beijá-lo pela última vez. Vários shinigamis invadiram a casa, Kouga liberou Muramasa e este me tirou dali. Em um lugar seguro, eu olhei para ele e o fiz prometer:

– Nunca abandone o meu esposo, Muramasa. Se não há como ele voltar a ser quem era, ao menos, ajude-o a escapar e ser alguém melhor. Tente guiá-lo para o bom caminho novamente... Eu suplico!

– Me perdoe, Yuki-sama. Eu ceguei Kouga com o meu poder... Está fora de controle.

– Nunca desista dele. Agora, vá ajudá-lo... Eu nunca vou julgar Kouga.

– Adeus, senhora.

Foi a última vez que vi Muramasa, todavia, nunca mais esqueceria o seu olhar de dor.


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