Acordo com Kiara jogando um balde de gelo na minha cara.

-Mas o quê?  - Eu me levanto e olho no relógio. São exatamente 4 horas da manha. Não é um bom horário para se acordar sendo que mais tarde irá começar o jogo que pode definir o final da minha vida. – o quê você quer?

- Eu preciso... Falar com você. –Seus olhos estão cheios de lágrimas. Então me sento.

- Aconteceu alguma coisa?

- Eu sei que você não vai ficar comigo na arena. – Ela começa – E não sei se irá haver alguma oportunidade de a gente conversar antes de... bem, algum de nós dois morrermos. – Fico quieto, isso é uma verdade. Por mais absurda que pareça é uma verdade. Vendo que não falo nada, ela simplesmente continua.  – Porque a gente tinha brigado mesmo?

- Pela tatuagem. – E eu rio. É a conversa mais normal que eu tenho desde que meu nome foi sorteado – Desculpe por ter ficado bravo.

- E desculpe ter debochado dela. Mas tinha ficado muito ridículo. – Ela olha para mim, esperado que eu brigue com ela.

- Não tanto quanto eu estava no desfile. – E começamos a rir.

-Verdade... Estamos bem então, agora?

- Sim. Eu acho que sim. – Volto a me deitar – Era só isso?

- Não... Preciso conversar com você sobre a entrevista.

- Gale...? – Só pode ter sido ele quem mandou falar sobre aquele ocorrido.

-Não, não foi Gale. Mas o incrível que pareça, eu acredito que ele esteja sofrendo algum tipo de conflito interno. Uma parte dele deseja que os jogos ocorram e outra...

- Deseja que nós não participemos. – Completo. Eu nunca pensei que começaria a ser amigo de Gale. – Mas o que você quer falar da entrevista?

- Os rebeldes te adoraram. – Nem tenho tempo de absorver a ideia e ela fala: - E te odiaram.

- Ah sim. Naturalmente. – Falo irônico.

- O que eu quero dizer é... - Ela continua falando, me ignorando. – Eles gostaram de você ter a atitude de falar o que pensa o que significa que será forte nos Jogos. Mas, obviamente, não gostaram porque você falou mal deles.

- Isso não faz muito sentido.

-Não precisa fazer. – E um silêncio domina a sala,

- E o que eu faço em relação há isso?

-Continue fazendo o que você fez na entrevista. E faça o que você faz de melhor, irrite os rebeldes.

- Você faria isso comigo? – Pergunto.

- Talvez... Ou em continue sendo louca.

- Isso seria engraçado .

- Mas eu poderia fazer isso com você. – E ela segurou minha mão. - Mas não vai dar muito certo se não ficarmos juntos na arena.

-Eles podem te aceitar no grupo. Evolet até comentou comigo sobre isso. – Kiara se levantou e ficou a meu lado na cama.

- A questão, Dax, é que eu não quero ficar nesse grupo. – Ela deu um sorriso fraco- Mas foi bom falar com você. Sem problemas entre a gente então?

Eu afirmo com a cabeça. – Com toda a certeza – E ela me da um abraço.

- Boa sorte lá. – Eu olho para ela e respondo.

- Você também. – E ela sai do quarto.

Demorei um pouco para dormir. E tenho um sonho que eu ainda estava tendo a minha velha vida na Capital, agora com Gale junto comigo, como se fosse meu irmão. Ele namorava a Kiara no sonho.

O café da manha foi o mais silencioso. Ronnie chegou quando tínhamos terminado. Seus cabelos azuis estavam presos no rabo de cavalo como sempre. Ela me deu um longo abraço.

- Boa sorte lá Dax. – Seus olhos pareciam estar segurando lágrimas.

- Você não precisa se preocupar comigo. – Falei tentando mostrar coragem – Eu sei me virar.

Ela riu – Não você não sabe. – E depois se dirigiu a Kiara dando um abraço nela também. Jim me cumprimentou. Eu não sou muito de conversar com ele, mas acredito que ele tenha virado amigo de Kiara o tanto quanto eu virei amigo de Ronnie.

E então chegou a vez de Gale.

- Você não é tão insuportável como eu achava.

- E você não é idiota, como eu achava que os rebeldes eram. – Ele sorriu.

- Empatamos então. Boa sorte lá Dax. E cuidado com o que você fala na arena. Tem sorte de Coin estar morta.

- Pode deixar. Eu vou tentar fazer com que até você tenha raiva de mim.

- Pode acreditar, eu já tenho raiva o suficiente de você. – e rindo nos despedimos. Ele da um grande abraço em Kiara que não para de falar sobre patrocinadores.

- O pai de certo alguém já entrou em contato comigo – Respondeu a ela olhando para mim.

- Não desista de Katniss – Falo sem pensar para ele. O rosto de Gale fica sério.

- Não dá mais, eu já falei para informarem a ela que estou trabalhando em algo no Distrito 2.

- Porque no dois? – Era uma pergunta besta, mas ele parecia querer me dizer algo. Mas ele simplesmente dá as costas e vai embora. Aquela poderia ser a última vez que eu o via.  

Antes de descermos dou um abraço em Kiara. E ela me dá um soco de leve no meu estomago.

- Não esqueça de que estamos prestes a matarmos um ao outro. – Ela disse séria. Eu queria responder alguma coisa, mas era impossível. Simplesmente concordei com a cabeça e sai, descendo em silencio com Ronnie ao meu lado.

Entro em aerodeslizador com todos os tributos ao meu lado. Eles injetam em meu braço um aparelho para me localizarem durante os jogos. Ou para saberem se estou vivo. Depois de um tempo de viajem eles me levam a uma pequena sala. Ronnie está lá comigo.

Ela havia me dado um grande casaco branco com couro de animal revestido por dentro. Um casaco para temperaturas muito baixas.

- Até depois Dax. – É a última coisa que ela me fala quando entro no pequeno elevador de vidro para subir na arena.

Inicia a contagem. A única coisa que consigo enxergar é a Cornucópia iluminada por uma pequena luz. Lá há facas e várias outras armas e comidas. Está muito escuro. Olho em volta, mas não vejo nenhum tributo nem mesmo ao meu lado. Eu devo estar dentro de algo ou de alguma sala. Nos 40 segundos alguma menina começa a gritar e sair correndo. E ouço uma pequena explosão e após isso um barulho de canhão. A primeira morte. Antes mesmo dos Jogos começarem. O chão está coberto de minas igual aos outros Jogos, e só irão desativar quando a contagem chegar ao zero.

30, 29, 28, 27... A contagem é lenta e ao mesmo tempo rápida demais. Eu não tenho a mínima ideia do que fazer quando ela acabar. 17, 16, 15,14... Meus olhos enfim estão se acostumando a escuridão, 10,9... Está absurdamente frio lá dentro. 5. 4. 3. 2. 1.

Zero.