Repasso toda a minha conversa com Gale, antes de começar a me arrumar. Era para eu ser divertido e fazer algo marcante. Uma piada talvez. “Não, sem piadas”, defini.

Eu, mesmo na sala de espera, que continha uma grande tela, que iria mostrar ao vivo todas as entrevistas, conseguia ouvir os gritos. Eram gritos de vitoria. Os rebeldes tinham acabado com a capital, e queriam pisar em cima. É como bater em um gato morto. O gato já está lá, morto. Mas os outros gatos, ao verem a cena, vão aumentar o pensamento sobre como quem matou o gato é superior. É mais ou menos isso que eu penso.  Eles venceram e querem esfregar na nossa cara com esses jogos.

Caesar entrar. O publico levanta batendo palmas entusiasmadas. Compreendo  na hora que ele também ganhou, ao longo dos anos, a simpatia de toda a Panem. Não havia nenhum machucado exposto e ele parecia com a mesma alegria contagiante de todos os anos. Seus cabelos vermelhos presos em um pequeno rabo de cavalo combinavam com seu terno preto com detalhes em vermelho também.

Ele entrou sorrindo e sentou na cadeira. Contou uma piada, mas eu nem a entendi.  Conforme Caesar explicava os Jogos (como se ninguém conhece), eu fui acalmando. Na realidade eu queria que chegasse logo a minha vez.  Não para que acabasse logo, não. Eu queria estar ali.

Evolet estava bonita. Seus cabelos ruivos prendidos em uma trança e seus olhos de cobra estavam destacados. O vestido que combinava  com os olhos, parecia ser feitos de escamas. E era, bem, um pouco curto. Se eles queriam que ela impressionasse, fizeram o melhor trabalho do mundo. Estava usando um salto alto preto.

Kiara estava ao meu lado também. Jim parecia à reencarnação de Cinna, o antigo estilista de Katniss Everdeen. Seu vestido, a principio, parecia um branco claro com um tecido transparente por cima. Mas conforme ela ia se movendo, o vestido parecia ganhar cores. De um jeito ele ficava em um tom de verde bem claro e de repente, há um simples levantar de mãos um vermelho sangue. Era incrível. Kiara também estava linda. Seus cabelos loiros escuros estavam em um coque, com alguns fios caindo. Seus olhos estavam com uma lente roxa.

-Estou me sentindo ridícula. – Ela começou a reclamar – Colocar lentes, tudo bem. Mas, escolhe uma cor decente. Ou que chame menos atenção.

-Você está linda – É a única coisa que respondo.

- Obrigada – Ela fica pouco segundos corada – Você também. E esses pés descalços ficam um charme. – E começo a rir com ela.

- Posso até ver: Daxton, o menino descalço. – Kier aparece na nossa frente. Ele está de terno preto, calça jeans e uma blusa por braço azul escura. E suas lentes vermelhas ainda no rosto. – Boa sorte hoje Dax. E pra você também Kiara – Ele diz para ela piscando o olho e indo para o seu lugar ao lado de Evolet. Kiara faz uma careta e chama a minha atenção para a televisão de novo. Os tributos iriam começar a ser chamados.

Começou com Magda, uma tributo 1. Ela iniciou contando que sempre pensou em como a Capital judiava dos distritos e que nunca concordou com os jogos. Justo ela que adorava colecionar fotos deles e possuía um armário com as principais roupas usadas pelos tributos nos últimos quatro anos.

Caesar suavizava o ambiente. E como se fosse mágica, de repente já estava no final da entrevista Vectis, o menino do 3.

-Espero que todos torçam por mim então.

-Assim como você queria defender os rebeldes. –Falou Caesar. Estava ficando óbvio. Todos os tributos – ou a maioria - Iria encher o saco dos rebeldes. 

- E agora vamos chamar, Kiara, a doce garota do distrito 4! – Kiara se levanta e ela para mim, como dizendo “veja e aprenda”, logo ela aparece na tela da nossa sala. Ela possui um sorriso contagiante no rosto. Chega e da um abraço em Caesar. Seu vestido vestido troca 5 vezes de cor nesse processo. E então ela senta.

- Então, então... Kiara. Como você está indo?

-De verdade? – Ela muda de posição ( seu vestido agora rosa bebe) – Bom, eu estou na frente de uma plateia incrível, conversando com a pessoa mais famosa de Panem e vestindo o vestido mais indeciso com sua cor do século. – Ela da um grande sorriso e fala- Nunca estive melhor. E você Caesar, como se sente?

-Muito bem, obrigado. Um pouco enciumado talvez, seu vestido muda mais de cor do que meu cabelo – Isso arranca uma risada da multidão e Kiara ri como e estivesse ouvindo a piada mais engraçada do mundo – E o que você está achando dos Jogos?

-Sinceramente? Não deu tempo para pensar – Ela falou com uma voz irônica e as pessoas voltaram a rir. Era isso, não sei o que Gale falou para ela, mas ela não era a Kiara que eu conhecia.

- E algum recado em especial? – Caesar falou. – Romântico, talvez?

-Sim. – Ela suspirou fundo e disse – Nunca acreditem em seu tributo parceiro. Ele pode entrar em um grupo e te deixar de fora. – E ela deu outro sorriso. As pessoas param e fica um silencio para se decidirem se era uma piada ou não. Outra onda de risadas vem quando ela dá de ombros como se fosse brincadeira. Olho para Evolet, ela está pálida. “Você contou pra ela?” leio as palavras do lábio dela. Balanço a cabeça negativamente.

-E quais são os seus pontos fortes Kiara?

- Tocar violão. – Reviro os olhos, já ouvi aquela conversa antes.

- Me parece muito bom. – Ele ri.

- Pois é.

Paro de prestar atenção a partir daí. Kiara parecia louca ali. Como se fosse a mais inocente, onde um simples bater de asas de uma borboleta pudesse a machucar. O sinal dos três minutos bate.

-Tributo 4, Daxton!

Entro acenando. Comprimento Caesar e me sento.

- Então, Dax, posso te chamar assim?

- Certamente.

-Qual foi seu sentimento quando descobriu sobre esse último Jogo. – Foi quando eu descobri o que eu iria fazer, e o que iria irritar completamente os rebeldes.

- Eu achei a coisa mais absurda do mundo. – Falo levantando as sobrancelhas – Está claro que para vocês a vingança é uma coisa tão digna que deveria ser feita.

Caesar não se deixa abalar pela resposta, mesmo que os rostos dos espectadores estejam mudando de expressão.

- Como você se define Dax?

-Basicamente? Um riquinho mimado da Capital – Eu começava a ignorar toda a plateia. Era como se fosse só eu e Caesar – E eu assistia aos Jogos sim. E para mim era a diversão da família. Foi desse jeito que eu fui criado. E não, NUNCA passou na minha cabeça que os distritos pudessem sofrer e que eu queria ajudar eles. Isso não existe na Capital.

- Você acha que os tributos anteriores estavam mentindo? – Certamente, com o rumo que a conversa estava levando, uma pergunta dessa só traria mais raiva, o que eles precisam.

- Com todo respeito Caesar, não sou eles para saber. – Caesar concorda. Só então olho para o publico. Seus rostos estão sem expressão. Eles querem ouvir.

- E quais são seus pontos fortes?

- Agora, habilidade com certa arma. Foi com ela que matei meu instrutor, Magister, não é mesmo Plutarch? – O sangue saiu totalmente do rosto dele. – Como você acha que eu ganhei minha grande nota? Arruinando pobres bonecos?

Nem Caesar respondeu dessa vez.

-Ele acreditou em mim sabe. Sempre falou que eu era uma criança excepcional da Capital. A Capital tem seus problemas e pelo que estou vendo, os Rebeldes querem os imita-los. Aposto que vão tentar desmentir tudo o que estou falando depois, mas é impossível negar algo que é verdade quando está na frente de seus olhos.

Me levanto e espreguiço – Foi bom falar contigo Caesar, até.

Vou direto para o elevador que nos leva para os quartos, mas não antes de parar e falar para Kiara, que me olhava perplexa:

-Ótimo. Você é a louca e eu sou o odiado. – Dou uma risada forçada igual à dela na entrevista e subo ao apartamento. Amanha eu assistiria a reprisse. E depois, bom, depois eu estaria lutando para protejer minha vida. Agradecendo muito pela minha facilidade de cair no sono.