Jogos Escolares escrita por Lucas Michelani


Capítulo 2
Semana de Provas (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

estava ficando meio grande esse capítulo então decidi por em duas partes.posto a próxima amanhã ou segunda (:



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Catherine

Meus pêsames pela perda de Jake Oliver Everdeen.

Força Armada Americana.

Acordei gritando, estava suando e minhas têmporas latejando, tive aquele horrível sonho de novo, no qual recebíamos uma carta declarando a morte de meu pai; a última evidência de que ele existiu no mundo, a última lembrança que me resta e que agarro com todas as forças para não esquecer de que ele me amava, de que queria o meu bem, e de que devo ser forte independentemente do que acontecer.

Meu pai fora um grande militar, lembro-me de quando me contava os significados de todas aquelas insígnias e suas estratégias com o grupo, ele nunca me disse que havia matado alguém, mas com o passar dos anos e com a urgência que era chamado, percebia que não fazê-lo não era mais uma opção. No início, quando recebemos a carta, fiquei em choque, não falei por dois dias e não me apresentei à escola, não porque negava, mas porque minha mãe não se importava se eu fosse; depois senti raiva, raiva do mundo, da minha nação que se importava tanto com a guerra, do meu pai, como ele ousava nos deixar naquela situação? Eu não o via oito meses por ano, estava entrando na puberdade e precisava de um exemplo masculino pra desconfiar das festas que eu ia e de quem eu gostava; no final, só me restava me conformar com o fato de que ele estava indo de encontro à morte, em mais uma guerra contra o Japão, afinal, quem conseguia sair do país nos tempos atuais? Os furacões não perdoavam ninguém nos litorais, e mesmo que conseguissem ultrapassar as fronteiras, que chances teriam com as tempestades e as ondas bravias? O mundo não era mais o mesmo e todos sabiam disso, os EUA estavam em decadência, e ninguém é aliado de um perdedor.

Minha mãe era outro caso: Isolada em seu mundo de piedade e sacrifício, passara a sustentar uma casa, agora assombrada pelo frio vento da morte e da solidão, e uma filha, na flor de seus onze anos de idade, ela parecia uma criança de novo, toda estabanada e esquecida, chorava escondida pelos cantos da residência, sobre os escombros que restaram de nossa família, não conseguíamos sustentar nossas despesas e tivemos que vender nosso carro, nossa casa, e fomos morar em um pequeno sobrado do outro lado da cidade. Esses foram nossos dias escuros, onde cada amanhecer significava que a vida continuava e de que ninguém ia trazê-lo de volta, tivemos que sobreviver dia após dia e isso me deixou forte, independente e corajosa, comecei a prestar mais atenção à minha volta, nos comportamentos das pessoas e seus pontos fracos, foi difícil reerguer um cotidiano sem choros e desapontamentos e não iria deixar ninguém tirar o pouco de liberdade e esperança que restara em mim; e foi assim que passei os próximos cinco anos da minha vida.

–Bom dia querida - disse minha mãe esfregando meus olhos – pronta para mais um outono escolar? - Ela estava com a sua habitual roupa de atendente de concessionária importada, não que ela ganhasse muito, os salários eram mais valorizados a quem prestava serviços para o Estado, e em um país onde a qualquer momento pode-se cair uma chuva ácida, ninguém se importa em ter carros italianos com estofamento de couro.

–E eu tenho escolha? – disse beijando sua testa e pensando em como tem sido pra ela se manter pelo menos um ano no mesmo trabalho, sem crises emocionais durante o expediente.

–Não, não tem, é por isso mesmo que pedi ao Darion que a levasse para escola.

–O Darion? É realmente desnecessário, eu vou com o Lian ou de ônibus mesmo – Darion, o namorado de minha mãe, Liza, uma porto riquenha de cabelos pretos e lisos iguais aos meus, com grandes lábios e negros olhos como carvão, diferentemente dos meus verdes brilhantes, meu pai dizia que eram iguais as cores das penas dos papagaios no Brasil. Darion era executivo e trabalhava para uma das maiores empresas de armamentos no país, simpático e arrojado, me dava náuseas só de pensar nele; mas se fazia bem pra minha mãe, fazia bem pra mim.

–Não seja tola filha você sabe que são escassos os horários dos ônibus e um carro é muito mais rápido – Realmente depois que entramos em guerra com meio mundo, os únicos ônibus que circulavam para os estudantes eram os militares, blindados e pesados, um carro seria bem mais fácil e seguro, mesmo assim, não se sabia quando uma tempestade de poeira podia começar e rasgá-lo como se fosse um jornal velho. A questão é que o clima virara uma roleta russa, terremotos e inundações, secas e tempestades que duravam a chegar a três meses, e a nova guerra mundial - os caças franceses são ótimos em passar pelas barreiras eletromagnéticas que cercam as regiões e explodir meia metrópole - contribuem para a devastação da humanidade na América do Norte, além da falta de alimento e água que afeta os extremos das regiões; digo regiões porque nosso país se dividiu em 14 aglomerados de humanos, bolsões, onde tentamos levar uma vida normal, enquanto a maioria dos homens que atingem 18 vão para a guerra, e as mulheres se preocupam se seus filhos nascerão deformados devido a radioatividade das armas nucleares. Vivemos em um mundo de constante revolução.

Lancei um olhar de desafio para minha mãe, ela já sabia o que significa, e sem mais comentários, peguei duas torradas com um pouco de geleia, uma xícara de café e subi para me trocar, tranquei a porta do quarto e pressionei a chamada rápida do meu localizador, o nome Lian DelVount apareceu na tela e esperei. Todo estudante recebia um localizador no dia em que se alistava em alguma escola, ele era preso no pulso para que o governo pudesse controlar nossa ida à instituição educacional, mas também servia como um celular.

–Estou aí em 5 minutos – disse ele, e desligou.

Lian DelVount, 16 anos, cabelos castanhos e olhos de mesma cor, se eu fosse considerar alguém meu amigo de verdade seria ele, foi quando me mudei para a seu quarteirão que o conheci, diz ele que sempre esteve na minha classe mas eu nunca havia reparado; lembro-me do primeiro dia na casa nova, ele nos trouxe uma torta de maçã, segundo ele caseira, mas dentro da embalagem do supermercado; e uma presilha para mim, branca, ele a roubara da prima que passava o dia lá e a dera pra mim, ele é muito bom em roubar as coisas sem que ninguém perceba, foi nesse dia que nossa amizade começou, desde então passei a andar junto com ele na escola, eu não era muito sociável até conhecê-lo, e toda sexta Lian arranjava algo de bom na cantina da escola pra comermos, em compensação, ensinava-o como lidar com os valentões e as aulas de história, pois tinha experiência em achar o ponto fraco das pessoas e me lembrava de todos os acontecimentos do passado, afinal dependemos desse para entender o presente.

Cinco minutos depois, estava voando pela sala e dizendo tchau para minha mãe, ela sabia que Darion ficaria mais uma vez com cara de raiva quando percebesse que não o esperara para me levar à aula; vestia o uniforme rotineiro, uma camiseta azul e saia vermelha, e claro, a minha presilha branca. Sai de casa bem no momento em que Lian parava seu velho carro do lado da calçada, entrei e o cumprimentei.

–Mais um ponto para Lian – nós rimos, ele diz isso porque gosta de Darion tanto quanto eu.

– Mais um ano, mais um dia, espero que a Chelsea não tenha outra crise de primeira semana esse ano, falando de como foi o inverno dela com o tal namorado da região 3, e de como vai ser difícil viver sem ele – Chelsea é a nossa mais velha amiga, sua maior preocupação era com a aparência, e os garotos; como qualquer menina comum, ela é simplesmente boa no que faz, mas ao contrário das outras garotas, ela sabe a hora de parar com a maquiagem. – As vezes me pergunto porque deixamos que ela fale mal sobre as outras pessoas para nós.

– É porque ela sabe que os outros são apenas seus passatempos – Realmente Chelsea é ótima em saber da vida dos outros e se atenta a detalhes que nem eu percebo; ela sabe sobre cada pessoa do último ano à sexta série e suas fisionomias, quem foi advertido e quem não vai passar de ano, ela é como uma espiã, sabe como agir e falar em diversas ocasiões, ela é muito leal.

Lian liga o rádio e escutamos as notícias do dia; a bolsa de valores da Argentina está em alta e o Uruguai venceu a batalha contra o Peru, se tornando a nova fonte da maior economia mundial; mais um avião foi abatido na costa leste dos EUA e um furacão se aproxima da nossa região, penso nas pessoas que acabaram de perder um pai, um marido ou um irmão e sinto as lembranças daquele dia pesando sobre mim.

–Ei! – diz ele colocando a mão em meu ombro. – O que é isso Cathy, é um novo dia, vamos, olhe para mim, está tudo bem eu estou do seu lado – e segura a minha mão até chegarmos à escola.

Dez minutos depois chegamos à SilverHall school, uma das melhores escolas de nossa região, eu conseguira ficar nela pois tinha uma bolsa escolar, Lian parou o carro no estacionamento e fomos de encontro a nossos amigos na sombra de uma velha macieira. Chelsea, Taylor e Charlie; o cabelo de Taylor havia crescido e agora suas longas mechas loiras chegavam até a metade de suas costas, realçavam bem mais seus olhos azuis, enquanto Charlie continuava com seus dreads que se encontravam amarrados como um rabo de cavalo.

Taylor sempre fora a mais arrumada de nossa turma, fazia todas as tarefas e nos ajuda quando necessário, não era fácil passar a perna nela, sagaz com as situações geralmente escolhia as opções menos radicais e mais lógicas. Charlie era bom com negócios, lidava bem com as pessoas, adorava música, não tinha um dia em que ele não estivesse com seus fones, isolado do mundo, e não se importava em pegar o caminho mais difícil para conseguir a melhor recompensa.

–Onde está o Kile, Taylor? – falou Lian olhando em volta, Kile era o namorado de Taylor e grande amigo de infância de Lian, aficionado por esporte, jogava futebol americano no time da escola, era um dos melhores, mas nunca se esquecia dos seus outros amigos.

–Ele foi recepcionar os alunos novos e as líderes de torcida, vamos nos encontrar no Sótão, no intervalo.

Todo ano, no campo de futebol, os alunos que se inscreviam para participar de alguma turma esportiva, eram recepcionados pelos jogadores e as líderes de torcida, que faziam um showzinho à parte.

–Espero que nesse ano a Stanfield quebre o pescoço.

–Que horror Chelsea, não o pescoço... só uma perna ou um braço.

Caímos na risada, Gabriella Stanfield é a líder das meninas de pompom, Chelsea tem um amor especial por ela desde a terceira série, quando ela cortou uma de suas mechas avermelhadas e Chelsea teve que cortar o cabelo todo para iguala-lo.

Conversamos sobre o rigoroso inverno que tivemos e nos despedimos, Taylor, Charlie e eu iríamos para a mesma sala. Matemática. Conforme fomos andando pela escola, percebi como ela havia mudado, televisores se encontravam em todos os corredores, e as portas das salas estavam bem maiores, assim como os nossos armários. Nossa sala ficava no terceiro andar, passando pela secretaria e diretoria, no prédio principal; nossa escola era divida em 3 prédios: o maior, no meio, com a maioria das salas e a grande biblioteca no segundo andar. O que ficava a direita, continha o grande teatro, além das salas de atividades extracurriculares e era ligada com o prédio principal por um corredor. Já a terceira ficava um pouco mais longe e continha as salas dos menores, o ginásio e o refeitório. No fundo ficavam o lago de canoagem e o pequeno estádio; atrás da cerca que limitava os alunos, um denso bosque se estendia até o horizonte.

Chegamos a nossa tão conhecida sala, entretanto haviam repaginado-a por completo. Nova lousa touch screen, armários de ferro e cedro, as carteiras estavam maiores e a sala também, sem esquecer a onipresente televisão na parede, as janelas haviam dobrado de tamanho e agora eu conseguia ver as árvores que margeavam o lago, e o grande pátio, com seus verdes e seus bancos, havia uma pequena fonte no meio e várias pessoas conversavam por ali, inclusive Mack, o irmão mais novo de Lian, eles tinham horários diferentes de nós e raramente ia para a escola com o irmão. O colegial era puxado, mas não me incomodava, pelo menos aqui eu tinha comida e água, luxurias lá fora.

Nossa turma consistia em 20 alunos, sendo que no total éramos 45 no segundo colegial, quando o sinal tocou, nos organizamos e esperamos o Sr. Feuder, mas o que entrou na nossa classe mais parecia um cientista da NASA; junto com ele um homem musculoso de terno e barba por fazer o acompanhou.

–Meu nome é Sr. Aldrin e estou aqui para substituir o Sr. Feuder em seu congresso na região 7, e esse é o novo diretor, Sr.Cina.

–Olá alunos, sinto informar que a maioria dos professores foram convidados a participar de congressos e não estarão aqui pelas próximas duas semanas. Nesse meio tempo a grade escolar de vocês mudará e todos os alunos frequentarão as mesmas matérias.

Ele nos entregou uma lista com nossos horários, a maior parte do dia passariamos no ginásio para fazermos treinamentos, enquanto as outras aulas eram de sobrevivência, estratégia e raciocínio lógico. Nada de história ou literatura; isso me deixou extremamente frustrada.

Assim como o Sr.Cina apareceu ele foi embora, restando ao Sr.Aldrin dar a sua mais nova, e longa, aula. Depois de raciocinarmos em cima de um mapa da nossa escola saímos para o intervalo; como sempre fui ao banheiro com a Taylor enquanto Charlie ia para a biblioteca, saímos e fomos para lá também.

A biblioteca é um lugar colossal, também recebera alguns ajustes como as TVs e novas prateleiras, se não me engano não havia tantos livros, elas estavam abarrotadas com várias edições e todos os gêneros, ao passarmos pela porta fomos para a direita, passando pela mesa da bibliotecária nova que lia um livro de capa preta com um tordo e uma flecha; passamos por vários sofás, prateleiras e computadores e fomos parar em uma esquina do grande salão, onde o papel de parede escondia um fundo falso, assim puxamos um dos livros na prateleira e a entrada foi aberta. Fomos para o Sótão.

Nosso esconderijo nada mais era que uma sala pequena, com 3 janelas que ficavam encobertas pelas árvores do lado de fora, dois sofás velhos e um armário, onde colocávamos doces, água e salgadinhos, era arejado e tínhamos uma espécie de varanda mínima, mas não nos arriscávamos a subir porque estava quase cedendo. Fora Lian quem encontrara esse lugar, quando tentava se esconder da advertência que havia levado por enfrentar, e ganhar de, um valentão, desde então nós seis nos reunimos para passar o tempo e observarmos a escola por entre os galhos nas janelas.

Portanto, lá estávamos outra vez, eu, Lian, Chelsea, Charlie, Taylor e Kile, comendo salgadinhos e bebendo Coca.

–Muito estranho esse diretor novo - comentei.

–Parece que todos eles foram para algum congresso - disse Lian.

–Tentei obter algo dos outros alunos, mas ninguém sabe quem são os novos professores e de onde vieram – comentou Chels, e se nem ela sabia era algo muito ruim.

–O treinador também não é o mesmo esse ano, muito menos o ginásio, espadas, arcos e flechas, lanças, onde estão as bolas de futebol e as de basquete? – Falou Kile e escondeu a cabeça no ombro de Taylor.

–Algum aluno novo Chels? – perguntou Taylor, vendo a frustração de Kile, era melhor mudar logo de assunto.

–Ninguém interessante – e quando ela disse interessante, estava se referindo aos garotos. - Mas percebi um garoto muito estranho no primeiro ano, não sei o nome dele ainda, aquele, que está sentado sozinho perto do chafariz.

–Como é branco – disse Charlie, ele não gostava muito de quem não tivesse o tom de pele dele.

–Vou chamá-lo de Albino – dei uma boa olhada para ele, cabelo loiro e bagunçado, rosto fino e de olhos azuis, um pouco acima do peso, ele me deixava arrepiada, algo nele não era normal, embora parecesse inofensivo, seu sorriso amarelado me era suspeito.



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Notas finais do capítulo

me digam o que acharam pessoal por favor, aqui ou no http://cheersforthem.tumblr.com , críticas também são bem vindas, digam o que acharam dos personagens e o que querem que eu explique melhor. ;*



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