Snuff - Dramione escrita por Lívia Black


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Eu sei. Até que enfim eu postei Snuff. Se é que ainda tem alguém que lê né, mas ok. Não tenho realmente como explicar porque eu não escrevi mais a fanfic...Sei lá, eu simplesmente desanimei :CC mas com a ajuda de alguns reviews voltei a me empolgar, e agora pretendo pegar firme! principalmente porque to de férias! Agora, postei um mega capítulo enorme, mesmo sabendo que isso não pode compensar tanto tempo de espera, e estou rezando para que vocês gostem...*o* Principalmente dos flashbacks (: Mas enfim...Muito obrigada mesmo por lerem e pelos reviews! Fazem da minha vida muito mais feliz *---*



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Capítulo 5. - Snuff.

I still press your letters to my lips

And cherish them in parts of me that savor every kiss

I couldn't face a life without your light

But all of that was ripped apart... when you refused to fight!

(Eu ainda pressiono suas cartas em meus lábios

E as guardo em partes de mim que saboreiam cada beijo

Eu não poderia encarar a vida sem a sua luz

Mas tudo isso foi dilacerado, quando você se recusou a lutar.)

Draco Malfoy sabia que não devia.

Tinha a plena consciência de que devia simplesmente espantar a familiar coruja de penas acinzentadas, Pia, com alguma praga ou com um abano. Mesmo que não adiantasse.

A tentação, por sua vez, era triplamente maior que a vontade de seguir o juramento.

 “Acabou”, disse, repetiu, jurou, um milhão de vezes na noite anterior, enquanto bebia o uísque e se deitava na solidão, “Finalmente, acabou.” E sorriu, e repetiu as palavras, e jurou. “Sim, agora, você tem certeza de quem ela é. Podre. Sempre amou o Weasley, você nunca foi mais do que uma insignificância na vida dela. Uma insignificância que gosta de se desiludir. Nunca teria chance de se transformar em algo além do que sempre foi para ela: nada.” E bebeu, e bebeu, e bebeu, e bebeu, e jurou. “Eu nunca mais quero ter porque me lembrar do rosto dela. Nunca.” E quebrou a garrafa, e se cortou com o vidro, e levou o sangue aos lábios. “Não sei nem porque estou triste. Eu nunca tinha gostado dela, de verdade, afinal.” E gritou, e xingou, e jurou. “Mentira. Eu a amava. E só fui me dar conta disso agora.” E rasgou as roupas, e abriu outra garrafa, e bebeu, de novo e de novo e de novo, e jurou. “Será que ela voltaria atrás se eu dissesse que a amo?” E se jogou contra a parede, correu, desistiu e jurou. “Não. Ela não voltaria...” E riu, e desgraçou-se, e praguejou, e empertigou-se, e jurou. “Acabou”. E fixou a palavra na mente, e bebeu o último gole e depois, pela milésima vez jurou: “Eu jamais vou voltar a saber de Hermione Granger. Para mim, ela de acaba de morrer.” Mas no final de tudo, somente fungou. *Snuff*

 Dormiu, ali mesmo, na sala toda destruída, e acordou, com uma dor de cabeça dos Infernos, e estilhaços de vidro grudados no corpo. Amaldiçoava tudo que via pela frente. Enquanto enfrentava a ressaca, não se sentia tão mais determinado a esquecê-la quando enquanto bebia. Depois de arrumar o lugar com auxílio mágico, sentiu a solidão voltar, e ficou batalhando contra o silêncio e a vontade de mandar uma carta para ela, utilizando o juramento como arma. Até que teve a ideia de chamar Astoria, sua noiva, para ir jantar com ele na Mansão. Se estivesse com ela, a solidão desapareceria um pouco. Mas a mulher estava atrasada, e enquanto comtemplava as paredes da sala, Pia, a coruja, pousou na janela de repente, como se fosse uma miragem, e Draco Malfoy sabia que ela não sairia dali até que pegasse a carta e quebrasse seu maldito juramento.  

“Então que se foda. De qualquer forma, vai ser divertido. Aposto que quer pedir desculpas, ou qualquer coisa do gênero. Mas vai receber o que merece: Desprezo.”

Draco foi até a janela e roubou a carta do bico de Pia e ignorando-a. Com resignação, arrastou-se até a poltrona mais próxima, e desatou o selo para ler, antes mesmo de se sentar.

Observar os contornos da letra dela trouxe algo como...melancolia, à Draco Malfoy, mas ele fingiu simplesmente não ter percebido que o sentimento estava lá. Começou a ler sem mais delongas.

A carta não começava com nenhum cumprimento, nem qualquer coisa do gênero. E muito menos se desenrolava da forma como ele esperava.

Eu posso ser até uma vadia miserável de sangue-ruim, como você mesmo disse hoje, Malfoy. Afinal, eu cometi erros.

Draco sabia exatamente a que erros ela estava se referindo naquela passagem.

Suspirou.

A palavra “erro” estava indiscutivelmente associada a um dia específico, em sua mente.  Aquele dia, naquele pub das ruas de Londres, três semanas e alguns dias depois da Noite de Formatura.

Ele nunca havia esquecido aquele dia.

Parecia que tinha sido a tanto tempo, e ao mesmo tempo, parecia que tinha sido ontem. Quase podia tocar a lembrança.

Ela vestia, impecavelmente, lilás.

[Flash Back: On]

-Olá.

-Oi.

Aquilo poderia receber o título de diálogo mais simples, corriqueiro e monótono de todos os tempos, mas a simples trocas entre palavras fez o sangue de Draco Malfoy gelar, mesmo que ele jamais fosse admitir isto verbalmente.

Hermione Granger estava muito...peculiar, aquela noite. Apenas para não afirmar de uma vez que ela estava incrivelmente linda, de um jeito que somente ela conseguia ser.

Com seus 19 anos e alguns meses, ela não era exatamente o estereótipo de “mulher perfeita”. Draco Malfoy tinha certeza disso.  

Seus cabelos eram somente castanhos, sem nada que os diferenciasse de qualquer outro tipo de cabelo, e eram enrolados e volumosos. Provavelmente andariam emaranhados se a garota não os mantivesse, quase sempre, presos num rabo de cavalo torto e desalinhado.

Seus olhos, também, não tinham nada de surpreendente. A cor mais óbvia de todas: uma variação típica de avelã.

A boca era pequena e a voz, atrevida.

O nariz, delicado, como as orelhas e o pescoço.

Seu corpo também não era do tipo de fazer as outras mulheres se dissolverem de inveja, muito embora fosse esguia e apresentasse certas curvas que foram evoluindo com o passar dos anos.

Os seios, não eram nada de exuberante, como certos homens desejariam que fossem, mantinham apenas um equilíbrio exato com sua elegância física.

A pele era demasiado branca. Talvez não só mais branca que a dele, que era tão pálido como o marfim. Apresentava também algumas pequenas sardas decorativas nas bochechas e no colo.

A única coisa que poderia ser considerada uma consagrada obra de arte nela, eram suas pernas. Sempre muito delineadas, longas e esbeltas. Macias de se tocar, ele bem o sabia, e tentadoras.

Mas fora isso, Hermione Granger era uma mulher comum. É claro, havia também o fato de ela ter o sangue-sujo e impuro. Mas era inteligente, e esperta, e uma coisa sempre parecia compensar a outra.

Porém, o fato, é que alguém como ele, não deveria conseguir enxergar uma espécie de beleza única e especial em alguém como ela. Costumava ser chata, metódica e nerd, também, apenas para completar o estoque. Quer dizer, não que ainda não o fosse.  Mas era como se todos os defeitos que um dia possuíra tivessem simplesmente virado vapor e desaparecido depois daquilo.

Flashs da Noite de Formatura passeavam por sua mente. Começara a surpreender a si mesmo pensando por um bom tempo na ousadia que ela teve ao beijá-lo e em como o sorriso dela era bonito enquanto faziam coisas que ele jamais sonharia que viriam a fazer algum dia.

As vezes, parecia até que sentia falta dela.

Bem, talvez, realmente sentisse um pouco. Afinal, ela havia sido sua única companhia naquele último ano em Hogwarts. Uma companhia bem briguenta, mas ainda assim, uma companhia. E ninguém deletava uma noite daquelas assim, com tanta facilidade.

Não dava para simplesmente esquecer e muito menos ignorar.

Draco Malfoy suspeitava de que Hermione Granger havia sentido a mesma coisa naquelas últimas semanas, caso contrário, por que ela estaria ali, naquele local, onde ele mesmo a havia convocado, sob o pretexto de que deviam conversar?

Sim, eles não haviam conversado depois daquela noite. Toda ousadia e determinação de Hermione pareceram sumir com a chegada da alvorada, para provavelmente darem o lugar a sua vergonha e rigidez habituais. Haviam ido para o quarto e até mesmo dormido ali, porém, quando acordou, encontrou a cama vazia, e suas malas, despachadas. Pensaria que estivera sonhando, se não houvesse um bilhete sobre o travesseiro, que dizia apenas, sem reviravoltas: “Depois conversamos sobre isto. H.G”. Mas eles não haviam conversado, e uma hora ou outra teriam de colocar a história em pratos limpos e decidir o que iriam fazer sobre o assunto.

E a hora era aquela.

Hermione Granger havia acabado de chegar no pub. Ele havia enviado o endereço por correio-coruja, que era como estavam se comunicando, a única forma aceitável para ela, naqueles tempos, ao que parecia. Reconheceu-a um segundo depois de entrar pela porta da frente, vestida de lilás, dos pés a cabeça. Mas esperava que simplesmente aparatasse no local. Aquele era um pub bruxo.

Fingiu que não a havia reconhecido, para se fazer de difícil, e desceu outra dose de firewhisky garganta abaixo. Somente depois de ela andar alguns metros em sua direção, é que fingiu tê-la localizado, e abriu um sorriso provocativo, apenas para não perder o hábito.

Hermione colocou displicentemente uma mecha de cabelo atrás da orelha, mas não sorriu. Veio caminhando até ele, e odiou-se por gostar tanto da forma que ela colocava um pé na frente do outro, em equivalentes distâncias. Quando ocupou o banco que havia ao seu lado no balcão, e ajeitou o vestido, cumprimentou-o com um sólido “Olá.”.

Ele procurou algum vestígio daquela ousadia da Hermione que o beijara na noite de Formatura, mas pareceu-lhe que não restava nada. Devolveu-lhe um “oi” seco, embora seu coração acelerasse incorruptivelmente.

E então, ela fez algo que o surpreendeu por completo. Inclinou-se para mais perto, e antes mesmo que conseguisse raciocinar sobre o que ela pretendia, beijou rapidamente sua bochecha.

-Como tem passado, Malfoy?

Desconfiou daquilo desde aquele instante até o final daquela noite. O que será que ela esperava ganhar cumprimentando-o, e agindo de forma...tão cortês?

-Nunca estive tão bem, Granger. E você?

Decidira de pronto, entrar no jogo dela, e agir como se fossem velhos amigos, que, ocasionalmente, resolveram se encontrar para beber um drink e jogar conversa fora.

-Estou ótima.

Ela respondeu de imediato, sim, mas a tremida de sua voz a entregou de modo inegável.

-E seu namoro com o Weasley? Também está ótimo?

Granger disfarçou, jogando o cabelo para o lado. Chamou o barman, e pediu uma cerveja amanteigada. Uma bebida potencialmente insignificante, principalmente se comparada com a de Malfoy.

-Hein? – Insistiu. Definitivamente, paciência não estava em suas virtudes.

-O quê? Ah, sim, eu e o Ronald. Está ótimo sim, Malfoy. Excelente, na realidade. Hmmm, quer dizer...Nós somos felizes. 

-Ah, é mesmo, Granger? –O jogo de palavras dela atiçara odiosamente o monstro de seu sarcasmo. –Imagino, imagino. Consigo até visualizar a expressão de felicidade do Weasley quando se olha no espelho e vê aquela galhada. Deve dar um sorriso incrível.

O ritmo descontraído e educado de agir de Hermione Granger espontaneamente transformou-se, em menos de um segundo. Olhou-o om aqueles olhos, violentamente furiosos, como quando ele a interrompia em seus momentos de estudos na biblioteca.

-Cale esta boca, Malfoy.

Draco não conseguiu reter seu riso de escárnio.

-Vai negar, Granger? Mesmo? Justo para mim?...

Ela o observou rir por mais alguns segundos, com uma expressão de quem não estava achando nenhuma graça. Depois, tipicamente, bufou.

-É para isso que estamos aqui? Para você ficar rindo da minha cara enquanto falamos do Rony? – Ela deu uma golada em sua cerveja amanteigada, que tinha chegado, enxugando a espuma da boca com as costas da mão. – Rony é meu namorado, e eu o amo, e assim sempre vai ser. Você não é digno de falar dele, então não quero ouvir comentários idiotas a respeito. –As palavras de Granger o irritaram profundamente, tanto que ele teve que inspirar e depois expirar para reter um palavrão. –E não, eu não vou negar nada do que aconteceu, Malfoy. Mas também não vou negar que foi um erro.

Draco levantou uma sobrancelha, visivelmente ofendido. Analisou-a com seus olhos cinza por meia dúzia de segundos. Mas depois sorriu.

-Erro? Tem certeza?

Granger assentiu com a cabeça, três vezes, e cruzou as penas para se ajeitar.

-Você é um Malfoy.

Draco virou um gole, e se apoiou no balcão. Em seguida revirou os olhos para Granger.

-Não me diga...

-E eu sou Hermione Granger.

-Ah, sério mesmo???

Ela o ignorou.

-Isso não diz qualquer coisa para você, não, Malfoy?

Bem, há não ser que Granger estivesse se referindo que essas eram as maiores obviedades do Universo, o que era improvável, aquilo não lhe dizia nada.

-Err...Não.

Hermione soltou o ar, impaciente, com o suposto raciocínio lerdo dele.

-Significa, babaca, que qualquer contato que não seja de extremo ódio entre nós dois, é, indiscutivelmente, errado. Nós, por exemplo, não deveríamos nem estar aqui, bebendo, conversando, e correndo o risco de sermos pegos.

Ele a encarou, dando uma mordida no próprio lábio. Pensou em revidar o “babaca” com “vadia”, mas soaria um pouco estúpido de sua parte.  

Realmente, o ambiente estava recheado de pessoas, e entre qualquer uma delas, poderia estar alguém que os conhecesse e que também fosse fofoqueiro. Mas Draco não estava nem aí.

E por outro lado, as pessoas também eram uma segurança, afinal, como alguém os enxergaria no meio de tanta gente?

 Mas não era o risco que o frustrava e muito menos o pub. Era, na verdade, as palavras de Granger.

-Se é errado demais para você, então por que está aqui, Granger?

Draco Malfoy tamborilou os dedos no balcão do bar, confrontando-a. A castanha demorou um bocado de tempo maior do que lhe agradava para responder.

-Eu nunca disse que era errado demais para mim, Malfoy. Disse apenas que era errado, e isso qualquer um há um raio de meio milímetro pode perceber.

O loiro não conseguiu impedir que seus lábios, se entreabrissem por um momento. Estava simplesmente surpreso com essa resposta. E com a forma que Granger mordeu o lábio e ajeitou os cabelos após dá-la.

-Achei que você fosse dizer algo como “Estou aqui para eu lhe avisar que ninguém jamais  deve saber do que aconteceu, porque nunca mais vai se repetir, e nós não podemos mais nos ver e blábláblá...” – suspirou, apenas para demonstrar que tais palavras o entediariam.

Granger pareceu pensar. Já perdera a conta de quantas vezes na conversa ela parava para refletir sobre quais palavras eram mais adequadas antes de verbaliza-las. Dessa vez, até desviou os olhos do gelo dos seus, e bebeu um pouco mais de cerveja amanteigada. Somente enquanto lambia os lábios voltou a fita-lo, com um sorriso incomum, quase malicioso, que fez alguma coisa dentro dele se agitar.

-O que você me diria, Draco Malfoy, se eu lhe dissesse que passei a gostar do errado depois de tudo aquilo?

Dois segundos de silêncio.

 -Bem, Hermione Granger, eu lhe diria que você está um pouco mais parecida com a mulher que eu conheci aquela noite. –Respondeu Draco, entrando no jogo, com seu sangue fervendo por debaixo das veias apenas pela perspectiva desse jogo não ser só um jogo. –Eu gostei bastante dela, posso lhe garantir. Mas ela viveu em um dia, e morreu no seguinte.

Dessa vez, foram três segundos.

-Eu estava confusa, não sabia o que fazer. -O lugar realmente estava cheio de gente, mas naquele momento parecia que só havia os dois. Estavam tão perto, tão longe. Ela, de surpresa, agarrou sua mão, que tamborilava no balcão. O toque pareceu ter cinco mil graus. Hermione mordeu o lábio inferior, penetrando nos olhos dele.- Essa mulher pode voltar, Malfoy. Mas só sobre algumas condições.

-Diga-as.

Ele estava tão incorruptivelmente louco por ela naquele instante que poderia ter aceitado qualquer coisa que ela ditasse, apenas para tê-la. Qualquer coisa.

-Primeiro: Eu quero silêncio. Ninguém jamais poderá conhecer a existência dessa mulher. Arranque a sua língua antes de falar sobre ela.

-Arrancarei.

-Segundo: Isso será apenas, quando eu quiser, quando eu chamar.

-Quando você chamar.

-E terceiro, último e também mais importante: Para o nosso bem, e para o fluxo normal das coisas, é melhor não haver nada de sentimentalismo. Isso será um caso, não um romance com amor ou qualquer coisa do gênero. Você pode ter a sua vida amorosa como quiser, assim como eu também tenho a minha. Não haverá ciúmes, nem ressentimento.

-Essa é a melhor coisa que já ouvi na vida.

Hermione Granger se permitiu sorrir. Um sorriso, que cá entre nós, não tinha nada de doce ou angelical.

-O resto é permitido. Completamente permitido.

Draco deu um sorriso que era o reflexo do dela.

-Na minha casa ou na sua?

Hermione bebeu o último gole de cerveja amanteigada e piscou.

-Na minha, Draco. Sempre na minha.

Não muito mais tarde, aparataram juntos no apartamento de Granger, que ficava em algum bairro trouxa qualquer. Quando finalmente estavam sozinhos no quarto, Draco arrancou dela o vestido lilás, e o arremessou no chão, para tê-la nua em seus braços. Foi quando estava prestes a entrar dentro ela, mordiscando seu pescoço e ouvindo seus pequenos gemidos de prazer, que descobriu que nunca em toda sua vida, fazer o errado parecera tão infinitamente certo...

[Flash Back: Off]

A lembrança que as palavras trouxeram foi demasiado amarga.

Fez seu coração doer de uma forma inaceitável.

Como se já não estivesse farto de tudo isso do dia anterior.

Forçou-se a continuar lendo maldita carta.

Mas sabe qual é a melhor? Eu não me importo, pois acabo de consertá-los. Eu tenho um casamento e um marido perfeito, que me ama de verdade, pela frente. Enquanto você...Você sempre será essa merda, Malfoy. E é triste que você não consiga nem tomar consciência disso.

“Eu tomo consciência, Granger.” Ele não quis pensar aquilo, mas foi tão espontâneo que não pode evitar. Odiou-se por aquilo, mas odiou-se mais ainda quando outra lembrança veio a sua mente. Desta vez, de tempos não tão longínquos.

[Flash Back: On]

Ele nunca esperara encontra-la ali. Logo ali, no seu lugar favorito.

Mas na verdade deveria esperar sim, só nunca tinha parado para analisar o risco.

Era de se espantar que o tão orgulhoso Draco Malfoy pudesse gostar tanto de um lugar como aquele.

Pássaros azuis cantavam no alto dos galhos de milhares de árvores. Carvalhos, Nogueiras, Macieiras e Mangueiras. O verde da grama resplandecia, vivo, e todo o lugar emitia um aroma de vida, de natureza. Havia esquilos roendo nozes e lebres saltitando. Flores surgindo, folhas secando. As nuvens pareciam sempre querer estar branquinhas e o clima, ameno e confortável, ali.

Qualquer um poderia jurar de pés juntos que nunca o veria ali. O lugar não combinava, nem com um terço dele. Sempre com seu terno preto e seus cabelos penteados, aquele seu jeito sombrio e sarcástico. Era, de certa forma, inconcebível.

Mas, era ali que ele gostava de estar, de uma forma ou de outra. O que mais apreciava era a paz e o silêncio do local, como se estivesse numa espécie de paraíso na Terra. Havia descoberto aquele local quando ainda era um comensal da morte, há alguns anos atrás. Quando estava perturbado demais pela ameaça e pela pressão, simplesmente vinha até lá, e fechava os olhos, fazendo suas preces particulares.

Agora, as coisas não eram mais assim, felizmente.

 Estava ali apenas desperdiçando sua folga no St.Mungus, em algo que o fizesse sentir-se bem. Apoiou as costas num tronco de árvore nua, e começou a respirar profundamente, de olhos fechados. Não soube quanto tempo se transcorreu, então, até que começasse, bem de longe, a ouvir as vozes indistintas.

 De imediato seus olhos se abriram, e se escondeu atrás da árvore. Por alguma razão, não queria que ninguém, quem quer que fosse, o visse. Não queria ouvir os comentários.

 Passou apenas a observar o local, escondido, e atento aos ruídos, e foi só quando percebeu que conhecia aquela voz de algum lugar, e detectou a sinfonia do timbre é que se deu conta de quem estava ali era ela.

E não estava sozinha.

Weasley a acompanhava.

Não demorou muito tempo até que eles se materializassem, ao alcance de sua visão. Estavam de mãos dadas, conversando alegremente, enquanto admiravam a bela paisagem da colina.

Hermione vestia um moletom cor-de-rosa, e o Weasley, um suéter laranja, que fazia uma combinação ridícula com a cor de seus cabelos. Por alguma razão, sentiu-se subitamente enjoado.

Agora, não podia ser visto, de verdade. Qualquer mínimo vislumbre de Granger sobre si, o denunciaria, e ela o repreenderia em seu próximo encontro sobre como ele era um idiota ciumento. Mas, a bem da verdade, era que Draco não estava gostando nem um pouco de vê-los ali, e ficou em dúvida, por alguns segundos, se o que devia fazer era mesmo fugir, como uma criança assustada.

Uma parte de si queria ficar, apenas para contar para Weasley como era “brincar” com sua inocente namorada 3 vezes por semana, e talvez espanca-lo um pouco. Ah, sim, a perspectiva de espanca-lo fazia Draco sentir-se bem, embora não soubesse exatamente dizer o porquê.

Talvez, fosse porque ele simplesmente conseguia fazê-la sorrir. Hermione gargalhava, bela e puramente, com as palavras dele. Parecia mais serena e contente do que nunca, e de alguma forma, ele sentia inveja do poder de Weasley de fazê-la ficar assim.

Mas jamais admitiria isso. Nem mesmo para si.

-Este lugar é tão mágico, Ron. –Ouvia a castanha murmurar, exultante, enquanto suas mãos tremiam, em seu lugar, que seria sempre atrás da árvore. – E olha que nós temos especialidade em lugares mágicos.

-Imaginei que você fosse gostar, minha princesa. Foi onde meu pai pediu minha mãe em namoro.

-Ah, é? Sério mesmo?!

-Aham.

-Uau. Então passear por ele deve nos dar alguma sorte, não acha?

-Hmm...Hermione, eu já sou o cara mais sortudo do mundo por ter você.

-Pare com isso. Você que é... mais do que eu poderia sonhar em ter, Ron.

-E você ainda parece ser um sonho. Um sonho que eu jamais quero acordar. Promete para mim, Hermione?

-O que meu amor?

-Que nós vamos sempre ter um ao outro?

Um beijo. Teve de escutar o estalido de um beijo.

-Sempre, meu querido. Sempre.

E conforme ia escutando a conversa, Draco ia sentindo um milhão de sentimentos diferentes, juntos e misturados, tanto que não sabia como lidar com eles.

Mas sua principal sensação, era de uma espécie de vazio...Como se por dentro fosse inteiro oco e não houvesse absolutamente nada para preenche-lo.

Nunca havia tido uma troca de palavras como aquelas. Saber dos segredos de Hermione, sem poder compartilhá-los, fê-lo sentir-se sujo...como algo descartável, uma merda, com ninguém a recorrer e ninguém que o amasse de verdade. Ou pelo menos ninguém que o amasse como Hermione amava o maldito Weasley.

 Por um segundo, uma amaldiçoada lágrima ameaçou vazar de seu olho direito, mas quando se lembrou do motivo pelo qual ela seria derramada, cuspiu e a reteve até que seus olhos secassem. “Malfoy’s não choram. Não se humilham. É estúpido.” Decretara.

 Em seguida, aparatou de volta para sua Mansão, e chamou Astoria para dar uma volta. Com certeza, o amor que sentiam um pelo outro poderia florescer e superar qualquer outro que ousasse existir. Com toda certeza.

Nunca mais voltou no Bosque Profundo depois daquilo.

E quando, no próximo encontro, Hermione Granger perguntou o porquê de estar tão calado e misterioso, Draco apenas beijou o canto de seu pescoço, e tirou sua roupa. “É assim que isso sempre vai ser.Tenho tudo, e ao mesmo tempo não tenho nada.” Pensara, respirando fundo. “Mas já aprendi a lidar com isso.”

[Flash Back: Off]

Havia se sentido aquele dia, no Bosque, como ela dissera na carta. E era como havia se sentido muitos dias que sucederam aquele, embora ele não tivesse muita coragem para assumir. Teve de respirar bem fundo para driblar aquela angústia idiota antes de ler as últimas palavras dela.

Preste atenção, mas preste atenção mesmo, pois este é nosso último contato.

Até nunca mais.

Aquela última frase só o fez lembrar-se da primeira frase, a frase que havia começado com toda aquela tragédia, há não tantos dias atrás.

“Vamos ter que parar de nos ver.” Ela dissera. Sádica, fria, monstruosa.

Último contato. Último contato. Como ela queria fazer daquele seu último contato???! Uma sequência de palavras hostis, horrendas, angustiantes. Como ela ousava apagar o archote que o salvara quando tudo o que restava de sua vida eram somente trevas?

Ela não podia desejar vê-lo na escuridão mais uma vez. Não podia, simplesmente não podia.

Draco Malfoy levantou-se, e foi buscar em um compartimento secreto de sua copa, algo que sabia o que faria ficar fraco, mais uma vez, tão fraco como a noite de ontem, mas que ele desejava poder tocar.

As cartas. As centenas de cartas. Nunca ousara jogar nenhuma delas fora, e portanto havia mais de meio milhar delas. Mas aquela, aquela amaldiçoada e amarga tinha a audácia de querer ser a última. “Não pode ser”. Pensou. “Não”.

Em algum local de sua mente, ele sabia que o lugar daqueles infinitos pedaços de pergaminho rabiscados era sob as chamas. Definitivamente era. Conflagrando intensamente até se reduzirem a pequenas cinzas, quase inexistentes. Talvez assim, pudesse deixar aquilo ir embora de uma vez por todas. Mas bem diferente disso, eles estavam sendo pressionados nas arestas dos lábios, vermelhos e frios, de Draco Malfoy.

Só conseguia pensar em uma coisa naquele momento:

Era tudo sua culpa.

Ele sabia que tinha feito uma idiotice. Talvez até cometido o pior erro de sua vida. Tudo estava tão perfeitamente fodido. Aquela última carta, a noite de ontem, tudo. Aquilo sim havia sido um verdadeiro erro.

 Sentia-se um babaca, apenas para começar. E sabia que no mínimo, era fraco. Por ter tido a coragem de dizer todas aquelas mentiras, movido pelos impulsos de seu orgulho, ferido, logo após que ela dissera que estava arrependida do “nós” que eles haviam improvisado.

-Vadia miserável de sangue-ruim... – Murmurou Draco, num semi-sorriso masoquista, enquanto amassava uma das cartas dela entre os dedos. Recordava-se agora de como a humilhara, a deixara, expulsara-a daquele local com um recorde de ofensas consecutivas.

Juntou todas as ironias que conseguiu em sua boca, e cuspiu-as com agressividade, e só depois de dizê-las, e de vê-la partir com um brilho de lágrima no olhar, é que compreendeu que só precisava ter dito que a amava.

Se fosse assim todos empecilhos sobrepostos é que seriam atirados nas chamas.

Eles não seriam apenas mais um caso barato e sujo. 

Se parasse para refletir, eles nunca haviam sido.

[Flash Back: On]

-Ah...Eu te amo, Draco. –Hermione Granger deixou escapar, logo após soltar um longo gemido de prazer. Ele acabara de fazê-la ter o que com certeza, poderia ser nomeado como “melhor orgasmo de sua existência”, e a frase fora tão automática, tão espontânea, que parecia ter passado totalmente despercebido para ela quais foram suas palavras.

Porém não para Draco Malfoy.

Mas antes que ele pudesse comentar qualquer coisa a respeito, Hermione Granger enterrou os braços em seu pescoço e começou a beijá-lo na boca, um daqueles beijos molhados e quase intermináveis, enquanto rolavam por entre os lençóis da esquerda para direita. 

Ele teve que contê-la, ofegante, para poder olhar em seus olhos e contestar o que não acreditava que seus ouvidos pudessem ter mesmo captado. Mas não foi muito inteligente de sua parte tê-la deixado distraí-lo por tanto tempo.

-O que disse, Granger?

Afastou-se lentamente dela, para que ela pudesse responder a questão ao invés de ataca-lo de novo, mas Hermione não parecia fazer a mínima ideia ao que ele poderia estar se referindo.

-Ahn?

-Eu perguntei o que você disse. –Replicou.

-Eu? Eu não disse nada, Malfoy.

-Você definitivamente disse alguma coisa, Granger.

-Er, não é como se desse para dizer alguma coisa beijando, sabe...

Ele sabia que ela estava sendo sincera, mas também sabia que não estava delirando. Havia ouvido aquela declaração com todas as palavras. E agora queria ouvi-la repetindo-a.

-Foi antes de você me atacar.

Hermione Granger franziu a testa.

-Antes?

-É, Granger. Se não me falha a memória...Bem...Você disse que...hã...você sabe.

-Não, eu não sei.

Jogou os cabelos para fora dos olhos. Depois suspirou.

-Você disse que me amava, Granger.

Esse foi o momento em que ela parou de respirar, e lançou um dos olhares mais perigosos que já lançara para ele. Demorou alguns segundos para que ela voltasse ao normal, e que disso fosse para uma leve abertura de sorriso, quase piedoso.

-Você está tendo alucinações, Draco.

-Não, eu não estou. – O loiro cruzou os braços. Detestara aquele sorriso de piedade, quase como se ele estivesse delirando, como se estivesse acreditando que fosse provável a hipótese dela amá-lo.

Mas, afinal, por que diabos ela não poderia nutrir essa espécie de sentimento por ele? Já fazia anos que se viam pelo menos 3 vezes por semana, em encontros bem quentes, com beijos, sexo, piadas e conversas. Em anos, afeição é uma das primeiras coisas que se passa a adquirir por alguém com quem se tem contato físico. Pelo menos, era assim que as coisas funcionavam para ele.

Hermione expandiu seu sorriso idiota, aquele que ele detestou com as profundezas de sua alma.

-Eu não disse que te amava, Malfoy. –Insistiu a mulher, veementemente. -Esqueceu-se do nosso trato?

Draco não disse nada.

-Nada de sentimentalismo. Ou seja, nunca dizer ‘eu amo você’, em hipótese alguma. –Granger enunciou, cobrindo-se com o lençol, como se achasse tal ato subitamente necessário, e aparentemente levando mais a sério o assunto.

-Nós fizemos esse trato há mais de cinco anos.

Ele não soube por que essa foi a única frase que lhe correu nos lábios naquele instante. Só soube que era tarde demais para não deixa-la escapar.

O momento de silêncio no aposento foi tão tenso e sepulcral, que Hermione até ficou com medo de quebrar tanta seriedade carregada e embutida, contradizendo-o de alguma forma. Quis tentar descontrair um pouco aquilo. Não sabia expressar como era estranho que, de sexo, houvessem passado para aquele tipo delicado de conversa.

-Bem...-Disse a castanha, implantando um novo sorriso no rosto, que ao contrário dos anteriores, esbanjava uma característica malícia, que ela jamais deixava transparecer fora daquelas quatro paredes. – Nesse caso, eu acho que disse que amava o seu grande e delicios...

-Não. – Draco não a deixou continuar, quando deduziu o previsível fim da frase, que apesar de inflar o seu ego, não era o que desejava realmente ouvir. – Você disse que ME amava, Granger.

Hermione inspirou e expirou fundo. Controlava-se muito para não perder a paciência e manda-lo ir a merda, Draco tinha certeza absoluta.

-Tá bom, que seja, Malfoy. Deve ter sido só um momento de insanidade. Não vai mais se repetir, ok?

Ele não soube o que dizer. Mas algo em seu interior berrava para ele dizer qualquer coisa, qualquer coisa que reparasse a besteira estúpida que ela estava proferindo. Mas ao invés disso, apenas calou a boca.

-Por que não volta para perto de novo, hã? –Pediu Granger, tentando soar um pouco mais doce do que antes.

 Draco assentiu, voltando a se aproximar dela lascivamente, decidido a afastar sua mente de alguns pensamentos intrusos, que não deveriam estar ali. Beijou Hermione Granger com força, se concentrou no calor da pele dela, e de como a desejava, crente de que, só dessa forma, conseguiria esquecer um estranho e inigualável sentimento de esperança e alegria depois de ouvir aquele “Eu te amo”.

[Flash Back: Off]

Somente agora ele estava, lamentosamente, considerando a hipótese de que Hermione sempre soube naquele momento, há algum tempo atrás em uma de suas noites, o que ela mesma havia dito. 

Ela só tivera medo do que ele ia achar desse lapso tão instintivo, e escolhera não lutar contra a vergonha que teria, se ele por acaso a olhasse de forma cruel, e a afastasse, praguejando que “daquele jeito não poderia ser.”

Estava mais do que claro que ela poderia tê-lo amado aquele tempo todo, assim como ele a amara - e não tinha mais vergonha de admitir isso- , mas talvez ela não se achasse suficientemente forte para encarar essa realidade, e todas as batalhas que teria de enfrentar por conta dela.

E agora eles haviam perdido tudo. Absolutamente tudo, em troca de ilusões.

Nada mais podia ser feito.

 A não ser, é claro, piorar ainda mais.

E se Hermione fora destemida o suficiente para mandar-lhe aquela amarga carta que auto se denominava a última, e que o fazia se sentir tão pior quanto um homem poderia estar, ele também enviaria sua última carta.

Mas não iria precisar de palavras para expor a ela quais eram seus sentimentos.

As gravuras de “Draco Malfoy & Astoria Grengrass” em seu Convite de Casamento falariam muito bem por ele. Ah, e como falariam.




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Notas finais do capítulo

Me diga o que achou.