Entre a Luz e a Escuridão escrita por zariesk


Capítulo 20
Capítulo 17 - O senhor das Tempestades


Notas iniciais do capítulo

dessa vez a atualização foi rapida, e dessa vez o cap será melhor que o anterior (tenho que confessar que não estava muito inspirado no ultimo)
finalmente isawa está cara-a-cara com o dragão shinmon, e saberemos se ele vai ajudar ou não.
e quanto ao meu amigo desgraçado que me cobrava pra bota-lo na historia na forma desse dragão: curta sua aparição seu maldito, e me deixe em paz!!!



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Viajar por túneis escavados naturalmente dentro de uma montanha era bem diferente de escalar a montanha em questão, muitas coisas eram completamente diferentes do que uma pessoa está acostumada com o mundo externo.

O primeiro problema era a escuridão absoluta, sem qualquer fonte de luz viajar por esses túneis era como andar com os olhos fechados eternamente, pros anões esse problema era insignificante, mesmo sem fontes de luz eles enxergavam no escuro tal como os gatos ou como Turok enxergava já que ele era meio tigre, Isawa e Fou também não se sentiam incomodados já que seus sentidos eram muito superiores ao de um humano, o mais incomodados eram Karin e Daneth, Karin ainda conseguia enxergar um pouco no escuro por ser uma feiticeira, mas Daneth sendo um humano normal estava literalmente as cegas, se não fosse uma magia previamente conjurada pela pequena feiticeira ele não enxergaria um palmo a frente dele.

O segundo problema era o terreno irregular, já que era uma subida por túneis escavados naturalmente era muito diferente de simplesmente subir escadas, quanto a isso Isawa se sentia satisfeita por ainda ter garras e caudas pra escalar com facilidade, mas varias vezes eles reclamaram por se enfiarem em caminhos estreitos e apertados.

 

- Agora entendo por que vocês são anões! – reclamou Fou ao sentir sua asa esquerda enganchar em algo – pra viver em túneis tem que ser bem pequeno!

 

Ao invés de se irritarem com o comentário os anões que acompanhavam o grupo riram do sofrimento que ele sentia ao ter que andar agachado pra não bater a cabeça no teto.

O terceiro problema era a total falta de noção de tempo, no mundo exterior você mede o tempo pelo nascer do sol e o anoitecer, mas dentro das cavernas não havia dia ou noite, estações do ano ou clima diferente, era eternamente a escuridão que tanto Tenebra amava, sem nenhum desses fatores pra marcar o tempo o que ditava o ritmo da viagem era o quanto eles agüentavam prosseguir sem parar.

Mas quando finalmente o grupo sentiu uma brisa eles suspiraram de alegria por que isso indicava que havia uma abertura e que a superfície estava próxima, finalmente a jornada pelo mundo subterrâneo estava acabando.

 

- Eu pensei que “uma luz no fim do túnel” fosse só uma expressão – comentou Daneth vendo um pequeno brilho distante – mas isso é a mais pura realidade em todos os sentidos da frase.

 

Todo o grupo compartilhava da emoção dele, depois de 5 dias viajando pelo interior da montanha o simples fato de poder andar livremente a céu aberto já era considerado uma dádiva divina, quando finalmente conseguiram sair dos túneis o mundo que se revelou diante deles era bem diferente do que imaginavam.

 

- Hei Vulthar, será que nós pegamos algum desvio errado lá dentro e fomos parar em alguma selva da áfrica? – perguntou Isawa ao observar a floresta tropical diante dela.

- Ironicamente não é impossível isso acontecer – respondeu a serpente negra – portais mágicos que ligam mundos diferentes podem se abrir nos locais mais improváveis, mas nós ainda estamos no mesmo mundo.

 

A paisagem era bem diferente mesmo, a saída do túnel estava de frente pra uma floresta, o topo da montanha lembrava uma cratera vulcânica que abrigava um ecossistema próprio e independente, até os animais lembravam a fauna típica desse tipo de terreno, a única coisa que indicava que eles estavam mesmo no topo de uma montanha era o céu.

 

- Apesar das dificuldades fico feliz que tenhamos tomado o caminho por dentro da montanha – comentou Daneth – aquelas nuvens não parecem nada amistosas.

- Provavelmente esse tal Shinmon ergueu uma barreira mágica na subida da montanha – analisou Fou – dragões odeiam receber visitas indesejadas.

 

Isawa parou pra pensar sobre isso, será que ela seria bem vinda diante dele? Ela ouviu que seu pai e Shinmon eram mais ou menos amigos, dito isto por que eles vivam brigando e as vezes as brigas deles causavam problemas a Kyara (o que custava muitas escamas dos dois quando ela se irritava com isso).

 

- Só agora eu notei nee-chan, mas você voltou ao normal!

 

Depois da observação de Karin Isawa se examinou, ela realmente voltara a forma humana e nenhum traço da sua transformação era visível.

 

- Será que aconteceu de repente ou foi durante o tempo que permanecemos lá? – perguntou Turok.

- Falando em tempo, pedimos desculpas princesa – disse o líder do grupo anão – pensamos que levaria três dias mas esquecemos que pessoas da superfície não estão acostumados ao caminho das rochas.

- Por que está se desculpando? Teríamos ficado presos lá pra sempre se viéssemos sozinhos – disse Isawa sorrindo – em todo caso agora nós podemos prosseguir sozinhos, não queremos causar mais problemas.

 

Após a despedida o grupo anão retornou pelo mesmo caminho, já o grupo de Isawa rezava pra nunca mais terem que se enfiar dentro da terra porque tomar o caminho de volta por lá sozinhos seria suicídio.

 

- Agora chegou a hora de encontrar esse meu padrinho bastardo – disse Isawa como uma líder tomando a dianteira.

- Ela fica linda liderando – comentou Turok emocionado.

- Você é um puxa-saco viu? – alfinetou Fou maldosamente.

- Pra mim ela fica linda a qualquer momento – respondeu Daneth olhando a jovem de cima a baixo.

- Vocês vêem ou terei que dar uma surra em todos pra saírem do lugar??!!! – gritou Isawa já lá na frente.

 

 

*************************************************

 

- “Quanto tempo um mortal levaria pra capinar tudo isso?” – pensava Azgher enquanto cruzava um simples jardim do reino de Vitalia.

Vitalia era o reino criado e habitado pela deusa da vida, um paradoxo incoerente com a deusa que o criou por que enquanto ela representava a eterna juventude que jamais cresce seu reino crescia demais.

A deusa da vida era chamada de criança eterna, uma deusa que aparentava ter eternamente 8 anos de idade e quando vista casualmente sua idade mental era menor ainda, a deusa da vida escolheu essa forma por que nada representa melhor a vida do que uma criança brincalhona e sorridente, mesmo que Khalmyr seja o deus mais poderoso Lena era a deusa mais importante, tão importante que se ela desaparecesse o universo estaria condenado.

Já o seu reino era uma explosão de crescimento, nesse reino tudo era muito maior e vigoroso, mesmo as menores criaturas como os insetos aqui são do tamanho de animais domésticos, um cachorro por exemplo podia ser tão grande quanto um cavalo, um porco podia ser tão grande quanto um elefante e os elefantes de verdade era grandes como dinossauros (deu pra imaginar o tamanho dos dinossauros?).

Com a flora não era diferente, a grama que tanto incomodava Azgher passava da cintura, cogumelos eram grandes como casas e as arvores podiam facilmente ter troncos com 1 km de altura e dezenas de metros de diâmetro, algumas abrigavam civilizações dentro dos seus troncos.

Quando Azgher finalmente atravessou a incrível selva de jardim ele se deparou com a arvore que ficava no centro exato desse reino (os reinos dos deuses são mundos planos ou invés de planetas redondos), uma arvore tão alta e larga quanto uma montanha e com galhos de centenas de metros, o interior da arvore abrigava um reino fantástico governado pelas crianças desse mundo, os únicos adultos eram os servos da deusa que ficavam extremamente honrados em cuidar desse reino e de suas crianças, na verdade esse reino mais parecia uma creche do que uma cidade onde as crianças brincavam livremente.

E no centro de uma roda de crianças brincando de ciranda lá estava a deusa, para aqueles que não podem enxergar a sua aura divina seria impossível distingui-la das crianças mortais fazendo com que levasse no mínimo um mês apenas pra encontrá-la em meio a tantas crianças eufóricas.

Atravessando a multidão mirim Azgher finalmente conseguiu ficar diante de Lena, infelizmente ele precisou de mais uma hora pra conseguir tira-la de seus jogos infantis.

 

- Vem tomar chá comigo tio Azgher! – pediu a pequena deusa.

 

Lena arrastou Azgher pra uma mesinha de criança onde outras meninas brincavam de servir chá pra bonecas, a serva que fazia o papel de mãe delas assim que reparou que sua deusa se aproximava trocou a água comum por chá de verdade.

 

- Você quer seu chá de quê tio Azgher? – perguntou Lena com o bule na mão.

- Eu não quero chá! Eu quero... – quando ele reparou que ela parecia decepcionada mudou de idéia – pode ser chá de laranja?

 

Com o sorriso mais meigo do mundo ela magicamente transformou o chá no bule para o tipo escolhido pelo visitante, Azgher se sentiu ridículo tendo que entrar no jogo dela, mas era perigoso decepciona-la, irrita-la ou magoa-la. É a alegria dessa deusa que mantinha a vida no universo fluindo, eram as brincadeiras que faziam ela feliz e ninguém no universo tinha o direito de macular isso, nem mesmo Sszzas tem coragem de tentar corrompê-la, nem mesmo Ragnar tem coragem de levantar a mão pra ela, e como o mesmo se aplicava a Tenebra Azgher tinha esperanças que a deusa infantil pudesse ajudá-lo com seu problema.

 

- Você com certeza viu o que Tenebra fez no mundo mortal não é? – Azgher perguntou enquanto virava o rosto para poder beber o chá.

- Ta falando dos zumbis babões? – ela perguntou com seu jeito infantil de sempre, mas ela falava sério.

- Mais de 2.000 zumbis demoníacos marcham pelo continente em direção as ruínas de Daí-lung – explicou o deus do sol – e o pior é que a semana nem acabou ainda.

 

O famigerado exercito da morte de Tenebra marchava em direção ao refugio do poder das trevas, nenhum exercito tinha permissão de deter-los assim como eles não atacavam ninguém que encontravam no caminho, mas mesmo que houvesse permissão pra enfrenta-los dificilmente qualquer exercito sairia vitorioso contra essa legião de morto-vivos que eram selvagens e mortais.

 

- Você mexeu com a bruxa velha e a bruxa velha se vingou! – disse ela sorrindo.

- Não é hora pra piadas! – disse ele seriamente pondo a xícara na mesa – esse problema afeta você principalmente! Faz idéia de quantas pessoas morrerão nessa guerra?

 

Quando tais palavras foram proferidas o reino inteiro silenciou, palavras relacionadas a morte eram proibidas nesse mundo e quando dita por mortais acabam com toda a alegria num raio de quilômetros, quando ditas por um deus cessam toda a felicidade do reino, no futuro esse dia ficará conhecido como o único dia em que nenhuma vida nasceu no reino dos mortais.

 

- Ninguém se preocupa mais com essa guerra do que eu – disse ela com uma seriedade que lembrava um adulto – independente de qual lado saia vitorioso eu perderei no final.

 

O olhar triste dela poderia comover o mais diabólico ser, fazer com que se arrependesse de todos os seus pecados, mesmo um demônio nascido nas chamas do inferno que vislumbra-se aquele olhar desejaria que ela voltasse a sorrir.

 

- Mas você deve saber que se Tenebra vencer será muito pior – argumentou o deus sentido pela magoa dela – se ela vencer milhões morr....

- Não diga tais palavras novamente – alertou a deusa interrompendo o outro – minhas servas já estão tendo muito trabalho pra animar minhas pequenas irmãs novamente.

- Peço perdão pela minha falta de tato, mas esse problema é sério demais pra ser tratado com rodeios ou delicadeza, Tenebra não pode vencer!

- Ninguém pode vencer essa guerra Azgher – disse ela com sua sabedoria infinita – se você vencer será ela a sofrer com a derrota e mais uma vez as crias dela serão caçadas, acha que não sei o que seus servos fazem com elas?

 

Azgher ficou um pouco ofendido com a acusação dela, mas também ficou constrangido pois sabia que era verdade, nem todas as criaturas das trevas são seres sem vida e nas suas cruzadas contra as trevas ele levava até as ultimas conseqüências.

 

- Tenebra é impiedosa, ela não consegue distinguir o certo do errado e leva sua escuridão a todos, sejam aqueles que a idolatram ou não – continuou Lena – mas se ela está tão desesperada pra vencer essa guerra é porque você a encurralou!

- E você acha que ela faria diferente? Levei mais de 1.000 anos pra conseguir conter o avanço da influencia dela no continente – argumentou ele – e no século passado quando Kyara criou o reino de Houran ela voltou com tudo, se não fosse aquela batalha de 16 anos atrás hoje Tenebra teria um poder firme e indiscutível no continente inteiro!

- Se a situação continuasse nesse quadro que você imaginou talvez Tenebra estendesse sua influencia para outros paises, talvez outros governantes sucumbissem as manipulações de Kyara e talvez ela conseguisse convencer a todos de abraçar a escuridão e rejeitar sua luz.

- Então você compreende que deve me ajudar a derrotá-la?

- Não o ajudarei a vencê-la Azgher – disse Lena se levantando da mesa e sentando no chão para apanhar uns brinquedos – eu o ajudarei a proteger a vida daqueles que serão apanhados no meio dessa batalha, e com certeza não conte comigo pra tirar vidas.

- Jamais pediria que cometesse tal crime – disse ele um pouco mais feliz – mas se você puder cuidar desse exercito que Tenebra está formando já seria a melhor das ajudas, sei que seus servos não podem tirar vidas mas combater morto-vivos não vai contra seus ensinamentos.

- Aquelas criaturas me dão nojo! Seres sem vida tirando a vida de outros seres! Apenas por isso odeio Tenebra!

- E o que você fará sobre isso?

- Convocarei meus paladinos, quando chegar a hora do confronto eles lidarão com as abominações.

 

Azgher sorriu vitorioso, os paladinos da deusa da vida eram os guerreiros mais poderosos de todos quando era necessário combater seres como os demônios, zumbis e esqueletos, a magia sagrada que eles carregam é sem igual.

 

- Para compensar os problemas que lhe causei eu ordenarei que meus servos reúnam o maximo possível de ouro pra ajudar a todos que sofreram por causa da investida de Ragnar pelos paises do oeste, construirei hospitais pra cuidar dos feridos e reconstruirei seus lares, aqueles que perderam suas famílias serão encaminhados a sua ordem pra serem cuidados.

 

- Eu também quero uma boneca nova! – exigiu Lena voltando a sua infantilidade – a boneca mais fofa de odalisca que existir!

- Antes do sol se por em seu mundo você a terá – avisou Azgher desaparecendo finalmente.

 

E tal como ele disse antes do por do sol Lena recebeu seu presente, uma boneca feita de seda com o tamanho de uma criança de verdade, costurada com fios de ouro que brilhavam a noite, a boneca tinha vida própria e adorava dançar e cantar e brincava como qualquer outra criança, essa se tornou a boneca preferida de Lena.

 

************************************************

 

- Quando dizem que dragões são megalomaníacos as pessoas não sabem a real extensão dessa palavra – comento Turok enquanto todos observavam as inúmeras estatuas de dragão a frente deles.

As estatuas retratavam o dono do lugar em varias situações: dormindo, lutando, em posição altiva, observando o horizonte, eram tantas que fariam qualquer narcisista perder seu orgulho exagerado, porem era a construção que ocupava todo o espaço diante deles que chamava a atenção.

 

- Me corrija se eu estiver errada – disse Isawa para Vulthar – mas esse templo gigantesco usa a arquitetura grega não é?

- Fico surpreso que saiba o que é arquitetura – disse Vulthar antes de receber um cascudo – sim, isso é grego, pelo visto esse dragão imitou sua mãe com o habito dela de espiar a terra.

- Existem construções assim no seu mundo? – perguntou Daneth.

- Não desse tamanho, e com certeza não tão pomposo! – respondeu ela.

 

O templo do qual eles falavam na verdade era a morada do dragão, um templo de proporções colossais feito de puro mármore branco, entalhes perfeitamente esculpidos na rocha lembravam murais contando a historia do lugar, segundo a interpretação das imagens antes do dragão chegar ali existia um povo de criaturas mais ou menos parecidos com os anões, eles foram escravizados e depois que terminaram a construção o dragão os exterminou.

 

- Ele é igualzinho ao seu pai antes de casar com a rainha Kyara – avisou Turok – pode ser perigoso entrar sem permissão.

- Dragões odeiam receber visitas indesejáveis – continuou Fou – e em se tratando de dragões todo o resto do mundo é considerado indesejável.

- Bem, não podemos ficar parados aqui até ele sair e nos convidar pra entrar – disse Isawa já entrando – pelo menos ele pode nos ouvir.

 

Assim quando ela entrou todos os outros se entreolharam.

 

- Olhem o lado bom: ele pode ficar feliz em rever a afilhada – disse Daneth seguindo Isawa.

- Ou pode ficar “insatisfeito” ao lembrar dela e do pai dela – respondeu Fou seguindo os dois.

- Eu acho... que não é uma boa idéia – disse Karin também entrando no templo – dragões são assustadores.

- Eu prefiro ser devorado do que voltar sem falar com ele – disse Turok lembrando do caminho da volta.

 

Já que era inevitável todo o grupo adentrou o imenso salão, aparentemente as dimensões do templo eram adaptadas pra que um ser colossal se locomovesse dentro dos corredores sem dificuldades, pra matar o tempo enquanto andavam Isawa explicava o pouco que sabia sobre historia grega, contou que o povo grego também veneravam vários deuses e que sua mitologia era recheada de criaturas mágicas que ela já encontrou pessoalmente desde que chegou a esse mundo.

 

- Não é para menos, antigamente os deuses desse mundo também governavam o seu mundo – explicou Vulthar – mas depois de um tempo eles foram embora e deixaram outros deuses em seus lugares.

- Outros deuses? Quer dizer que os deuses daqui são diferentes dos deuses gregos?

- Comparar Ares, o deus da guerra grego com o nosso deus da guerra é como comparar uma criança com um adulto – respondeu Vulthar – os deuses gregos só estavam lá pra “esquentar a cadeira” até os verdadeiros donos voltarem, infelizmente ninguém sabe porque mas os nossos deuses jamais pisaram os pés lá de novo.

- Tudo isso é muito interessante senhorita, eu queria conhecer seu mundo pessoalmente – disse Daneth prestando atenção em cada detalhe.

- Alguém já reparou que já passamos por esse corredor duas vezes? – disse Fou olhando as obras de arte.

- Eu já perdi a noção de direção nesse lugar, com todas essas voltas e corredores tão grandes é fácil se perder aqui – analisou Turok.

- Isso porque meu senhor não gosta de visitas – disse uma mulher que surgira de outro corredor.

 

A mulher em questão usava uma toga azulada de tonalidade celeste, seu cabelo esverdeado estava preso no coque no alto da cabeça, ela tinha orelhas pontudas e cumpridas e seus olhos pareciam platina, ela encarava o grupo de visitantes como se estivesse indecisa quanto a presença deles.

 

- Eu sei que não devíamos ter entrado sem permissão – começou Isawa se desculpando – mas eu preciso muito falar com o dragão chamado Shinmon e viajei de muito longe pra isso.

- Você compreende que se deseja mesmo falar com ele deve estar preparada pra arriscar a vida de todos do seu grupo além da sua?

 

Isawa não tinha hesitações quanto a arriscar sua vida, mas em hipótese alguma ela poderia arriscar a vida daqueles que lhe seguiam, voltando-se pra trás para pedir que voltassem ela teve uma surpresa.

 

- Nem peça para voltamos – adiantou-se Daneth – já deveria saber que nunca a abandonaremos.

- Mas agora é diferente, isso não é uma briga que nos pegou de surpresa, estaremos deliberadamente desafiando alguém que pode nos matar.

- Proteger minha princesa ou morrer fazendo isso – disse Turok – essa é minha promessa pra rainha Kyara.

 

Os olhos de Karin indicavam o mesmo sentimento, quanto a Fou ele não tinha boas relações com dragões mas não parecia interessado em fugir.

 

- Se já tomaram sua decisão me sigam – pediu a mulher – espero mesmo que seu assunto seja do interesse do lorde Shinmon.

 

O grupo com sua guia percorreram mais alguns corredores, surpreendentemente os corredores seguintes eram bem mais simples, a mulher de nome Kohana explicou que os corredores iniciais são assim mesmo por serem uma armadilha pra invasores, depois de um tempo andando eles chegaram diante de uma gigantesca porta de ferro, Kohana apenas tocou a porta para que ela se abrisse magicamente, mas do contrario nem um gigante seria capaz de abri-la a força.

 

- Lorde Shinmon, aqueles que entraram em seu reino vieram tratar de um assunto – avisou a mulher se ajoelhando ao entrar no salão.

O salão era provavelmente o maior espaço aberto daquele lugar, em suas dimensões cabiam uma mansão em seu interior, todo aquele espaço era necessário pra que a fera que estava no final do salão não se sentisse incomodado.

O dragão que governava essa montanha era realmente grande, Isawa não conseguia deixar de se admirar com a grandiosidade natural do ser, escamas tão azuis quanto o céu, quatro chifres espiralados coroavam sua cabeça e as asas dele eram emplumadas ao invés de serem de couro, ele repousava sobre um pedestal feito para acomodar sua forma gigantesca, sobre seu corpo ou deitadas ao seu redor outras 7 belas mulheres sorriam interessadas no desfecho da conversa.

 

- Quanto tempo faz que não recebemos visitas? – perguntou o dragão para uma das mulheres.

 

Sua voz era tão forte quanto um trovão, quando ele mexeu a boca pra falar os outros se assustaram imaginando que uma tempestade se formaria ali dentro.

 

- Faz 3 anos meu senhor – respondeu a outra mulher – desde que aquele grupo de heróis vieram “resgatar” a Sumili.

 

Quando a historia foi lembrada a mulher que aparentava ser a tal da Sumili sorriu encabulada, as outras começaram a cochichar coisas no ouvido dela fazendo-a corar bastante.

 

- Com... com licença – disse Isawa timidamente – mas será que podíamos conver...

- Não dirija sua palavra a mim! – gritou ele com sua voz trovejante – uma criaturinha como você nem deveria pisar seus pés aqui!

 

Shinmon levantou do seu pedestal devagar, as mulheres que estavam sobre ele flutuaram pelo ar como se não pesassem nada e chegaram ao chão em segurança, cada passada do dragão fazia o chão vibrar mais intensamente a medida que ele se aproximava do grupo.

 

- Vejamos... um humano, uma criança com uma aura mágica incomum, um licantropo e dois mestiços – disse o dragão observando todo o grupo – essa aqui tem um fedor que não me é estranho.

 

Isawa estava assustada e não podia esconder isso de ninguém, mas se ela quisesse levar sua vontade adiante não podia deixar que o primeiro obstáculo aparentemente intransponível lhe fizesse recuar, tentando recuperar sua típica postura ela falou com uma firmeza que era contraria ao seu tremor nas pernas.

 

- Meu nome é Isawa, sou filha da rainha Kyara de Houran e do dragão Zariesk que você conhecia – anunciou ela – e se não for pedir muito eu gostaria de conversar com o senhor.

 

Um silencio incomodo se instalou naquele ambiente espaçoso, Shinmon parecia incrédulo sobre o que ouviu ou então tentava digerir a idéia de que diante dele estava um fantasma do passado que ele jamais sonhou ver.

 

- Você só pode estar brincando fedelha! – disse ele após aproximar a face dela.

Mas o cheiro que ela tinha era irritantemente familiar, as feições faciais lembravam mesmo Kyara e a armadura que ela vestia tinha uma presença que lhe dava calafrios, mas só foi quando Isawa sacou a espada e mostrou pra ele que a certeza se fez presente.

 

- Essa espada é feita com os ossos do meu pai – disse ela séria – e minha armadura feita com suas escamas, ele morreu defendendo meu lar, defendendo minha mãe e defendendo a mim.

 

O olhar firme que ela sustentava parecia ter afastado todo o medo que ela sentia, Shinmon ficou encarando tanto ela como a arma que estava diante dele que parecia ter intenções próprias de atacá-lo, era como se estivesse diante da rainha Kyara.

 

- Supondo que você seja mesmo a filha perdida daquele casal esquisito que assunto teria a tratar comigo? – perguntou ele fingindo desinteresse.

- Eu estou me preparando pra retomar tudo o que me pertence e que foi destruído pela ordem de Azgher – começou ela – mas ainda não sou forte o suficiente pra isso, eu queria saber se você pode me treinar e me ensinar a usar meus poderes.

 

O que ninguém esperava é que ele gargalhasse, suas risadas pareciam uma tempestade de raios, a atmosfera ficou carregada e um cheiro de ozônio infestou as narinas de todos.

 

- Desapareça da minha frente – disse ele depois de se recuperar do surto de risos.

- Eu não posso, eu preciso ser forte! – disse ela convicta.

- Você é uma patética hibrida, uma hibrida que não faz idéia do que significa ser forte – insistiu ele – uma criatura como você não tem poder suficiente pra ser superior aqueles que governam sobre os derrotados.

- Eu não desistirei sem lutar! – gritou ela – eu não posso envergonhar aqueles que confiaram em mim e que arriscaram suas vidas pra que eu chegasse até aqui!

 

Os outros sentiram que ela se referia a eles e a todo o povo de Houran que aguardavam o retorno dela, no tempo que Isawa permaneceu nas cavernas trilhando um doloroso caminho até ali ela parecia começar a redefinir seus pensamentos e metas, parecia que a vingança ficava novamente em segundo plano, a firmeza dela superava de longe as expectativas deles e parecia surpreender também o dragão.

 

- Você pode ter sangue de dragão mas é ridícula como uma humana! – continuo Shinmon – humanos são seres fracos que raramente conseguem controlar suas próprias vidas, e Zariesk se tornou fraco depois que se meteu com os humanos.

- Do que está falando? Meu pai não era um fraco!

 

Shinmon aproximou o focinho dela como se quisesse olhar bem dentro dos olhos dela, ela não recuou nem um passo.

 

- Seu pai era o único rival que eu tinha nesse mundo além dos dragões-reis – disse ele com uma voz que lembrava um vendaval – ele era o único que eu respeitava, mas quando ele decidiu morrer por uma humana jogou sua vida fora, um dragão como ele tinha poder pra devastar um exercito mas escolheu se sacrificar pra proteger um ser mais fraco que ele.

Essas palavras fizeram o sangue de Isawa subir a cabeça, como resposta o ambiente ficou mais pesado como se uma maldade pegajosa se apossasse do lugar, um cheiro acido substituiu o ozônio e agora chegava a ser insuportável.

 

- Não ouse insultar o meu pai! – disse ela apontando a espada pro focinho de Shinmon – meu pai foi um grande homem lutando por uma causa que não fosse simples ouro e outras pilhagens! Minha mãe foi uma mulher digna que preferiu se sacrificar pra salvar os outros do que salvar a si mesma! Se tem alguém fraco aqui esse alguém é você!

 

Foi um simples movimento, um golpe com uma garra que mais parecia um simplório peteleco, um golpe forte o bastante para arremessar Isawa contra a distante parede atrás dela e depois cair num baque surdo como se ela fosse um saco de batatas.

 

- Acho que isso mostra quem é o fraco aqui – respondeu Shinmon quase rindo.

 

A resposta de Turok foi um urro enfurecido, ele que até então se manteve calado a pedido de sua princesa não poderia deixar passar uma agressão contra ela, seu urro foi impressionante, e o salto que ele deu contra o dragão com o machado em punho foi mais impressionante ainda.

 

- Não faça isso seu idiota! – gritou Fou tentando em vão impedi-lo.

 

Turok acertou o focinho de Shinmon e um som surdo semelhante ao de um machado comum cortando madeira foi ouvido, mas o focinho de Shinmon estava intacto, suas escamas fortes como o aço resistiram a um golpe que era capaz de partir uma grossa arvore ao meio.

 

- Suponho que isso tenha sido com toda a sua força não é? – zombou Shinmon – permita-me retribui com a minha verdadeira força.

 

Ele levantou a cabeça e na sua boca entreaberta dava pra ver a eletricidade se acumulando, Kohana que ainda estava próxima ao grupo flutuo até o teto pra sair da linha de tiro da arma mais mortal de um dragão.

 

- Foi divertido esse tempo que passamos juntos – disse Fou como se já estivesse se despedindo dos outros.

 

Daneth estava mais preocupado em proteger Karin, ele se colocou na frente dela abraçando-a como se quisesse usar seu corpo como escudo enquanto a menina instintivamente chorava de medo, mas infelizmente ele não compreendia a extensão do poder destrutivo de tal ataque.

Turok pensou em fazer a mesma coisa, talvez seu corpo mais forte junto com a armadura fosse um escudo melhor para sua princesa do que o corpo franzino do bardo, mas quando ele pensou em correr na direção de Isawa ela não estava mais no mesmo lugar onda havia caído.

Na verdade numa velocidade impressionante ela saltou na direção de Shinmon que já ia disparar sua baforada, com a espada em punho ela golpeou o pescoço dele rasgando suas escama e queimando a carne com o acido que desestabilizou seu ataque que acabou acertando o teto furando-o, no pé da montanha aquilo seria visto como o maior relâmpago do mundo.

- Não ouse machucar meus amigos! – gritou Isawa com uma voz furiosa – eu arranco sua cabeça fora!

 

Por um segundo Shinmon ficou receoso que ela pudesse cumprir sua ameaça, por instante enquanto aquela menina se transformava na sua frente ele sentiu a presença completa de Zariesk e Kyara, apesar de dizer que Kyara era fraca ela era uma das poucas humanas que o assustava quando zangada.

Um tornado envolveu o corpo de Shinmon, o vento afastou todos de perto dele, quando o tornado desapareceu um humano com asas, cabelos azuis e um olhar irritado estava no lugar do dragão.

 

- Típico do Zariesk, ele sempre perdia a cabeça por qualquer coisa – disse o homem coçando o pescoço que tinha um pequeno ferimento – você realmente é filha dele.

- Você por acaso duvidava disso? – perguntou Isawa tentando manter a calma pra não se transformar completamente.

- Não era uma possibilidade descartada – respondeu ele – mas o motivo do meu ataque é que realmente não gosto de vocês e principalmente você me irrita igual ao seu pai.

- E como era difícil sair ileso de uma briga com o senhor Zariesk você descontou na filha dele não é? – reclamou uma mulher ruiva de olhos esmeralda.

- Você fala como se eu tivesse medo daquele dragão rastejante de pântanos! – reclamou o dragão diante da ousadia dela.

- Pare de bancar o durão maltratando essa menina! – gritou ela novamente.

 

Todas as mulheres encaravam ele como se quisessem devora-lo vivo, o grupo visitante observava tudo com temor e espanto.

 

- Afinal quem são elas? – perguntou Isawa voltando ao normal depois de perder a vontade de lutar.

- São minhas esposas – respondeu Shinmon se afastando das 8 mulheres zangadas.

- Você se casou 8 vezes? – perguntou Daneth espantado – e ainda manteve todas as esposas? Só podia ser um monstro mesmo!

 

Mas outra coisa que surpreendeu foi que Isawa agarrou Shinmon pelo colarinho de sua roupa e o encarava com um olhar mortal, o dragão já não parecia tão grandioso assim agora.

 

- Você é o maior filho da puta que já encontrei na minha vida! – gritou ela para Shinmon – depois de tanto reclamar do meu pai você é casado com 8 mulheres? Você não é só um cretino, você é uma ser desgraçado e sem moral alguma!!!

- Na maior parte do tempo ele é um ótimo marido – disse uma que tinha pele roxa, orelhas pontudas e uma cauda fina – mas concordo que ele é um safado sem vergonha.

 

As outras mulheres começaram a rir do comentário da outra, Isawa largou Shinmon e se virou revoltada.

 

- Só podia ser filha do Zariesk mesmo pra me causar tanto problemas numa única visita – reclamou Shinmon – já que você se mostrou digna eu posso treiná-la, mas vai estar preparada pra sofrer muito? Eu não vou pegar leve!

- Quando começamos? – foi a única coisa que ela disse voltando sorrir vitoriosa.

 

 

Continua.


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Notas finais do capítulo

dessa vez eu devo ter acertado o ritmo da fic, a partir de agora começará o treino de isawa, logo tambem apresentarei as esposas do shinmon (safado de sorte, 8 mulheres pra se satisfazer! ¬¬)
pra quem sentiu falta da menefer nesse cap ela voltará a ativa no proximo.
pra quem gostou da deusa Lena ela é uma gracinha! *_*