O vento gélido da noite soprava entre os campos de cultivo e carregavam os lamentos dos mortos, casebres em ruínas ostentavam a glória daquele que ceifava vidas por interesse próprio, o sangue escorria dos cadáveres e das garras daquele que foi o algoz de uma família inteira.

A grande fera tinha escamas negras como piche, lustrosas e oleosas davam a impressão de estarem sempre engraxadas, seus olhos amarelos brilhantes eram as únicas coisas que quebravam a morbidez do dragão negro que acabara de sair de uma batalha e agora recolhia as poucas coisas de valor que encontrou.

Enquanto usava o focinho pra revirar os escombros ouviu algo chorar por baixo da palha que já foi um telhado usando sua garra ele retirou tudo de uma vez e encontrou uma criança ali.

 

- Ora o que temos aqui – disse o dragão cinicamente – minha sobremesa.

 

A criança ao vislumbrar a fileira de dentes do dragão entrou em pânico e com toda a força de seus pulmões berrou estridentemente.

O grito repentino e a proximidade fizeram o tímpano do dragão doerem, todos os sentidos de um dragão são dezenas de vezes superiores aos de um humano e isso o estava incomodando.

 

- Cala a boca desgraça! – exigiu ele colocando a pata sobre a criança praticamente esmagando-a – eu já comi harpias que gritaram menos!

 

Os gritos da criança foram abafados, ele já passava a língua nos dentes imaginando o gosto da criança quando sentiu uma presença que o incomodava muito, ao longe viu a forma daquele que mais lhe irritava.

 

- Olá rastejador de pântanos – cumprimentou a fera alada recém chegada.

 

O dragão negro encarou com nítida raiva aquele que lhe cumprimentava, um dragão azul com asas emplumadas, um dragão com focinho mais longo que o convencional e cauda longa, suas escamas tinha cor azul celeste e os muitos espinhos que desciam suas costas eram perolados e brilhantes.

 

- Você tem o dom de aparecer nas horas mais impróprias Shinmon! – reclamou o dragão negro.

- Eu teria vindo antes, mas demorei pra encontrar seu rastro, você tomou banho hoje não foi? – gracejou o outro.

 

O dragão negro rosnou furioso com a piada do outro dragão, era verdade que dragões negros cheiram a lama, e por isso o outro o farejava facilmente.

 

- Acalme-se Zariesk – pediu o outro – eu soube que você anda de olho nesse país, ta interessado em bancar o governante?

- Eu só vou dominar esse país e exigir tributo até os humanos implorarem pela morte, ai vou reduzir tudo a um monte de lixo.

- Resumindo vai fazer desse lugar seu novo lar não é? – brincou Shinmon rindo.

- Vá pro inferno! – reclamou Zariesk erguendo a pata em posição de ataque.

- Hei! Vai comer isso ai? – perguntou Shinmon apontando para a criança morta sobre as garras do outro dragão.

 

Entretido com a conversa Zariesk se esqueceu da menina sob sua pata e ela morreu sufocada.

 

- Pode ficar, perdeu a graça – respondeu ele jogando o cadáver pro outro.

- Não é do seu feitio perder tempo com camponeses – disse Shinmon enquanto mastigava o corpo – geralmente você só se interessa por desafios.

- Eles só deram o azar de estarem por perto quando lutei com a guarda do palácio, não que eu me importe é claro.

 

Já fazia um mês que Zariesk perambulava por essas terras, nesse tempo a cada dia ele causava incidentes cada vez maiores para atrair a atenção da pessoa que governava esse país, ultimamente todas às noites ele tem sido confrontado por soldados imperiais.

 

- Quer ouvi uma coisa engraçada? Eu já matei aquele soldado ali duas vezes – disse ele apontando na direção do corpo – parece que a rainha de que eu ouvir falar é boa em animar cadáveres.

- Ela é esperta, ao invés de contratar novos guardas ela remenda aqueles que morreram e trás eles de volta a ativa.

 

Os dois dragões gargalharam da piada, isso era o máximo de amizade que poderia existir entre esses seres tão distintos.

 

- Eu ouvir dizer que a rainha desse país é poderosa – advertiu Shinmon – dessa vez você pode estar se metendo com uma presa grande demais pra mastigar.

- Por acaso eu já falhei em conseguir o que eu quero? – disse Zariesk imponente.

- Eu tenho uma coleção de lembranças de seus fracassos em meu covil – respondeu Shinmon de forma jocosa – estou ansioso para conseguir mais uma lembrança aqui.

 

O ódio de Zariesk podia ser sentido no ar.

 

- Aquilo foi do tempo que eu era filhote seu papagaio gigante!!!! – gritou ele avançando sobre o outro dragão.

- Quem manda ser um filhote metido a besta? – reclamou o outro se defendendo.

 

Os dois além de mordidas e golpes de garras lutavam com palavras de ofensa.

 

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O palácio imperial da capital era uma maravilha arquitetônica, nenhum dos seus moradores ou servos sabia de onde veio à inspiração para fazer o palácio naquele estilo tão peculiar, dizem que nenhuma construção se iguala ao palácio em questão de beleza exótica.

O que ninguém sabia era que a rainha pouco antes de decidir como queria que seu palácio fosse construído tinha usado de sua grande magia para observar outros mundos em busca de inspiração, coincidentemente ela observou o palácio imperial da china antiga e ficou encantada com aquela beleza e decidiu que queria um palácio igual.

Não satisfeita em ter apenas um palácio igual ela enviou varias criaturas mágicas para a china apenas para que aprendessem sobre os costumes, hábitos e forma de governo daquela terra que tanto lhe encantou, hoje a capital daí-lung é uma replica da cidade imperial chinesa, tudo da cultura chinesa foi assimilado por esse povo, seja nas celebrações, vestimentas, decorações ou a burocracia, a rainha Kyara aproveitou tudo de bom daquela nação.

A rainha Kyara era uma rainha amada por todos os cidadãos de daí-lung, gentil, nobre, honrada e justa, era implacável com aqueles que desafiavam seu governo e generosa com aqueles que lutavam para tornar esse país um paraíso.

Kyara era um dos poucos servos de tenebra que possuíam bom coração, ninguém sabe quando ou como ela decidiu se dedicar a deusa das trevas mas seu reinado não se parece em nada com o que as pessoas de fora pensam, enquanto ela passeava por suas terras a noite foi encontrada por um de seus soldados.

 

- Minha rainha – cumprimentou o jovem guerreiro ajoelhado diante dela.

- Pois não meu rapaz? – a retribuiu de forma educada e cordial.

 

O jovem soldado achava Kyara um anjo em forma humana, governantes geralmente não mantinham contato com o povo, mas Kyara por outro lado adorava passear pelo reino e conversar diretamente com os plebeus, jamais ostentava arrogância porem exalava nobreza, e por tudo isso odiava ter que dar más noticias para ela.

 

- Infelizmente o dragão negro venceu mais uma vez – disse ele nitidamente envergonhado.

- Essa já é a terceira vez – ela disse com a voz nitidamente contrariada.

- Nós do exercito imperial pedimos seu perdão, ele é muito poderoso.

- A culpa é minha, não deveria ter subestimado um dragão que parece brincar em nosso território.

- Dessa vez apenas 8 soldados voltaram vivos, nossa legião zumbi também foi derrotada e o capitão Zuares foi derrotado.

- Zuares é um vampiro, estará de volta no próximo anoitecer, o que não posso admitir é que meus nobres soldados sejam mortos.

 

Kyara que estava montada a cavalo desceu da montaria e entregou as rédeas para o soldado.

 

- Cuidarei pessoalmente disso, avise a corte imperial.

- Mas minha rainha, é perigoso! – avisou ele preocupado – pelo menos espere até a guarda de escolta chegar.

- Uma governante não pode se esconder atrás do seu exercito – disse ela – tenho que mostrar minha determinação por esse reino.

 

Dizendo isso ela reuniu toda a escuridão do lugar que tomou forma, assumindo a forma de um enorme morcego feito de puras sombras, uma montaria voadora que muitos temeriam sequer chegar perto.

 

- Com ou sem vitória estarei de volta antes do amanhecer – avisou ela pouco antes de subir no morcego e levantar vôo.

 

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Kyara percorreu uma longa distancia até chegar ao vilarejo atacado pelo dragão, aquele que a um mês foi visto na fronteira e que agora estava a meio caminho da capital, a cada ataque ele avançava mais como se desafiasse as forças do império, como se a cada batalha vencida ele movesse uma peça de um intricado jogo de xadrez.

Segundo as informações dos sobreviventes que ele fazia questão de deixar escapar o dragão que era negro sempre ficava aos arredores dos locais atacados e sumia durante o dia sugerindo que talvez ele deteste a luz do sol tanto quanto esse povo, não demorou muito para Kyara encontrá-lo no ultimo local atacado.

Zariesk avistou de longe o morcego sombrio que voava em sua direção e ficou impressionado, aquela criatura que era conhecida como vulto alado não era cavalgado por qualquer um, imaginou que o guerreiro mais forte do império vinha combatê-lo.

E sua surpresa foi maior ainda quando o ser das trevas pousou e em suas costas estava uma bela mulher humana vestindo trajes nobres e com um ar imponente, embora não tinha certeza ele suspeitava que ela só poderia ser a rainha desse império.

 

- Você é o dragão que cria problemas em meu reino? – questionou ela após descer da montaria.

- Achei que era obvio que sim – disse ele sarcástico.

- Já tive outros da sua espécie por aqui, mas nenhum deles me causou problemas.

- Devo confessar que fiquei surpreso de vê-la aqui, não achei que tivesse coragem de me confrontar diretamente, e ainda mais sozinha.

- Um líder deve dar exemplos aos seus comandados, um rei não deve se esconder atrás de seu exercito e sim lidera-los no campo de batalha, um rei deve escutar seu povo e não apenas ordenar, aquele que governa deve assumir a gloria de seus feitos e a responsabilidade de seus erros.

- Uma atitude de um grande líder, seria uma pena perde-la tão facilmente – disse ele enquanto a observava atentamente – se me entregar seu reino prometo poupa-la e torna-la uma das minhas esposas.

 

Kyara riu, uma bela risada que em outras pessoas poderia causar aquela sensação de conforto, mas que para Zariesk sôo como uma ofensa.

 

- Diga-me dragão, o que deseja fazer com esse reino após tomá-lo? – ela perguntou após se sentar em uma pedra.

- Farei desse reino meu imenso covil! – disse ele imponente – assim como os dragões-reis tem seus próprios impérios eu terei o meu e ficarei acima de todos!

 

Kyara riu novamente, dessa vez riu como se estivesse escutando uma bela piada bem humorada contada por um velho amigo, levantou-se de onde estava sentada e passeou pelo campo destruído.

 

- Um reino só é tão glorioso quanto seu povo, seu povo só viverá em um reino que o acolha e cuide deles, um reino só pode acolher um belo povo se seu governante agir corretamente em prol desse povo.

- O que está tentando dizer mulher insolente? – Zariesk já estava irritado com a conversa.

- Estou dizendo que em suas mãos esse reino murchará como uma flor envenenada, não pode tratar esse reino como seu tesouro pessoal para seu próprio deleite, não pode sacrificar o povo por mero capricho.

 

Nesse momento ela chegou até um cadáver, ao tocá-lo uma aura negra se formou e o cadáver se ergueu novamente.

 

- Faça-me o favor de reunir todos os corpos certo? – pediu ela para o novo zumbi.

- O que pensa que está fazendo? – perguntou ele furioso enquanto esticava as asas.

- Pretendo trazer de volta o máximo de aldeões que você matou, como não faz sentido eles continuarem aqui pelo menos vão substituir os soldados que você estraçalhou.

- Chega de sua ousadia! Eu queria poupá-la, mas agora vou reduzi-la a nada!

 

No momento em que ele escancarou sua boca para cuspir seu sopro acido uma rajada gélida saiu das mãos de Kyara e o atingiu em cheio congelando o corpo de Zariesk instantaneamente, agora o dragão parecia uma enorme escultura de gelo.

 

- Esfrie a cabeça dragão, você ainda tem muito o que aprender e eu adoraria ensiná-lo.

 

Enquanto ela admirava a sua “obra” o zumbi recém-criado já tinha juntado três corpos que estavam inteiros.

 

- Nossa, você é rápido! Agora vamos levantá-los para eles te ajudarem e depois é só marcharem pra capital.

 

Com sua magia negra Kyara continuou erguendo novos zumbis, em pouco tempo ela tinha dezenas deles que estavam prontos pra marchar em direção a capital.

 

- Eu irei na frente – disse ela após montar novamente o vulto alado – vocês não parem até chegarem na capital.

 

Kyara contemplou uma ultima vez a escultura de gelo que criou com o dragão, sabia que ele sobreviveria e escaparia daquilo quando o gelo derretesse, mas por enquanto ele não era mais uma ameaça.

 

- Esqueci de perguntar o nome dele – observou Kyara antes de voar para casa.

 

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O dragão Shinmon aguardava pacientemente diante do bloco de gelo, já passava de meio-dia e o gelo derretia lentamente, e por isso ele esperava balançando a cauda ritmicamente como um cãozinho ansioso.

A casca de gelo já estava fina e o primeiro movimento foi notado, Shinmon ficou de pé aguardando uma reação que não tardou a acontecer quando o gelo explodiu e um urro furioso foi ouvido a quase 1 km.

 

- MALDITA SEJA KYARA!!!!! NEM A AGONIA DO INFERNO SE COMPARARÁ A MINHA IRA!!!! – gritou Zariesk furioso.

 

Shinmon que até então estava se segurando começou a gargalhar como nunca em sua vida.

 

- MALDITO SEJA VOCE TAMBEM SHINMON! – disse ele ao notar a presença do outro.

- Hahahahahaha eu daria todo o meu tesouro para ver a hora em que Kyara fez isso!! – Shinmon ria tanto que bolava pelo chão.

- Há quanto tempo... Droga! Já é de dia???

 

Zariesk usou sua asa para bloquear o sol que lhe queimava a face, embora a luz do sol não lhe fizesse mal ele a odiava do mesmo jeito.

 

- Já passa do meio-dia caso queira saber – avisou Shinmon se recompondo – quando eu te encontrei assim de madrugada foi a coisa mais hilária que já vi!

- Espera ai! Você me encontra congelado pela madrugada e ficou esperando que o sol derretesse o gelo? Por que não fez nada?!!!!

- Eu tinha que fixar a imagem do Zariesk congelado na minha mente, fiquei observando cada detalhe o tempo todo.

 

Foi inevitável que Zariesk usasse sua baforada acida em Shinmon que desviou da maior parte por pouco, a parte que o atingiu começou a corroer suas escamas e ele começou a bolar no chão para a terra absorver o acido.

 

 

- Que droga!! Ta tentando me matar? – perguntou Shinmon vendo parte de sua carne exposta nos ferimentos.

- Você vai depois! Vai viver pra me ver derrotar e devorar aquela humana prepotente!!

- Do mesmo jeito que fez antes? Eu notei que não há sinais de luta aqui.

 

Zariesk ficou calado e virou o rosto pro lado.

 

- Ela te pegou de jeito não foi? Nem chegou a dar um único ataque!!!

- Ela só me surpreendeu, só isso!!

 

Shinmon voltou a bolar no chão de tanto rir, para um dragão do céu ele estava muito intimo do solo hoje.

 

- Que se dane, ela não vai me pegar de novo! Dessa vez eu estarei preparado.

- Arranjou um cobertor? Vai pegar uma gripe se continuar com isso!

 

Zariesk anotou mentalmente que depois que matasse Kyara e tomasse seu palácio usaria as escamas de Shinmon como enfeite do trono, logo depois ele foi procurar um lugar escuro e úmido para descansar.

 

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As investidas de Zariesk contra a rainha Kyara já duravam um mês, em cada uma dessas vezes ele usava uma nova estratégia e em cada vez era derrotado de uma maneira diferente, o ódio de Zariesk por Kyara era tanto que ele nem ligava mais pra conquistar aquelas terras, ele só se importava em derrotá-la e faze-la implorar pela vida quando ele “piedosamente” a tornaria sua escrava.

Esse desejo obsessivo dominava a mente dele sempre que dormia de dia, Kyara que também dormia nesses horários apenas tinha outros tipos de desejos.

Ela lembrava-se de que uma semana atrás o dragão que sempre a desafiou derrotou um exercito invasor que almejava atacar a capital e saqueá-la, quando o questionou sobre o motivo de ter feito isso ele alegou que simplesmente não permitiria que ninguém a matasse a não ser ele próprio, que desde que ela o humilhara pela primeira vez o direito de tirar a vida da rainha Kyara pertencia única e exclusivamente a ele.

 

- “Dragão teimoso” – pensava ela – “quando entenderá o que quero dele?”.

 

Kyara já se acostumara a lidar com Zariesk quase todas as noites, na verdade ele se tornou uma espécie de passatempo para ela, desde que Zariesk surgiu em seu reino ela não se sentia mais entediada.

 

- “Minha vida pertence só a você não é?” – pensava ela lembrando-se das palavras dele – “Eu também quero que isso se torne realidade”.

 

Quando ela sentiu seus poderes aumentarem sabia que anoitecera, levantou-se da cama luxuosa que ficava no centro do grande quarto que não possuía janelas e era ricamente decorado, ela desejava alguém para dividir todo aquele espaço.

 

- Boa noite minha rainha – cumprimentou uma de suas servas que entraram no recinto.

- Olá meninas – cumprimentou de volta toda animada.

 

Kyara pegou seu robe que ficava num cabide perto da cama, ela gostava de dormir nua já que o quarto era muito quente.

 

- Sinto que está mais feliz que de costume alteza, aconteceu algo de bom?

- Acontecerá em breve – respondeu ela – mas no momento estou morrendo de desejo por passas.

- Providenciarei um prato cheio imediatamente – disse uma das servas que rapidamente foi buscar o prato.

- E sobre aquele dragão alteza? Continuará brincando com ele?

- Eu estava pensando nisso Tinari, sinto que meu joguinho está dando frutos.

 

Enquanto ela aguarda as passas sua mente divagava em pensamentos que sempre envolviam um réptil negro enfurecido.

 

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- Reconhecer a derrota perante um oponente superior também é sinal de nobreza sabia?

 

Shinmon voava seguindo seu velho companheiro que acabara de acordar e estava mais uma vez disposto a enfrentar Kyara, o intervalo entre os ataques diminuía a cada vez e a batalha sempre ficava mais feroz.

 

- Enquanto eu estiver vivo não aceitarei a derrota! – reclamou Zariesk – ou a derrotarei ou morrerei tentando!

- Que pena que ela não colabora com a segunda opção não é? A primeira parece um sonho distante.

 

Zariesk acertou-lhe a cara com um golpe de cauda.

 

- Chega de piadas, ela está vindo!

 

Zariesk e Shinmon pararam naquele ponto pairando muito acima do solo, novamente Kyara veio ao encontro dele em seu vulto alado.

 

- Veio acompanhado dessa vez Zariesk? – perguntou Kyara ao notar a presença de Shinmon.

- Ele está aqui só pra assistir – avisou o dragão negro.

- E rir muito quando você derrota-lo mais uma vez – completou Shinmon.

- Hahahaha seu amigo tem muito senso de humor – observou ela rindo.

- Chega de brincadeiras vocês dois! – Zariesk exigia atenção – você não viverá para ver outro anoitecer sua rainha maldita.

 

Zariesk a atacou em pleno ar, ele optou por uma batalha aérea onde ele sabia ter a vantagem, o vulto alado desviava das investidas e se afastava enquanto Kyara contra-atacava com raios de trevas, algo inútil contra um dragão negro mas que os distraia a cada vez que era atingido.

 

- Agora eu te peguei maldita! – disse Zariesk assim que ele abocanhou a cauda do vulto alado.

 

Ele deu um puxão na cauda do morcego sombrio e Kyara caiu da montaria voadora, ela estaria condenada se durante a queda ela não conjurasse um corvo gigante que a amparou e voltou para a batalha.

 

- Boa tentativa Zariesk! – disse ela com um sorriso satisfeito no rosto.

- Morra de uma vez! – gritou ele enquanto usava sua baforada em Kyara.

 

Ela defendeu-se usando uma barreira mágica, enquanto o dragão continuava insistindo no ataque ela fez uma prece a sua deusa.

 

- Deusa da noite, conceda-me o poder de sua cria para enredar meu oponente.

 

A cria a qual ela se referia eram as aranhas gigantes das cavernas, uma teia gigante se formou sobre Zariesk que caiu sobre ele como uma rede que o envolveu e prendeu fortemente.

 

- DESGRAÇADA!!!!! – gritou ele em queda livre.

- Ele ta ferrado! – disse Shinmon.

 

O dragão azul fechou a asas e mergulhou atrás do outro, velozmente o alcançou e antes que Zariesk se espatifasse no chão ele criou um furacão que amenizou a queda, ainda assim ele sofreu alguns danos.

 

- Ainda está vivo dragão? – perguntou Kyara após aterrissar.

- Por que continua a poupar minha vida humana? Eu exijo que termine de uma vez com a batalha.

- Acho que a dignidade dele se arrebentou nessa queda – brincou Shinmon.

- Ta vendo só? Fui salvo por um verme azul! Não me restou orgulho algum.

- Então consiga um novo orgulho dragão – disse Kyara bem próxima ao focinho dele – seja imponente e orgulhoso como sempre foi e não me decepcione, seja digno como um rei.

 

Depois disso ela subiu no corvo e vôo de volta para a capital, Zariesk ficou ali ainda preso na rede mágica.

 

- Se salvou minha vida então me tire daqui pelo menos! – reclamou Zariesk para Shinmon.

- Você ta na fossa mesmo não é? Se pedir com jeitinho posso pensar nisso.

 

A vegetação ao redor morreu com a aura maligna que saiu do corpo de Zariesk, Shinmon entendeu que estava correndo risco de vida.

 

- Ta bom, mas só dessa vez – avisou ele enquanto usava as garras para cortar a teia.

 

Depois que foi libertado Zariesk se pôs de pé com dificuldades, estava com alguns ossos quebrados e o orgulho em pedaços.

 

- Eu não vou descansar enquanto não a fizer passar por uma humilhação da mesma proporção a que eu passei.

- Cara, sua obsessão ainda vai te matar, esquece isso e procura outro reino pra conquistar.

- Nem fudendo que vou dar a ela o gosto de me ver fugir!

- Logo vai amanhecer, acho que to pegando seu habito de dormir de dia – reclamou Shinmon.

 

Ao ouvir isso uma idéia passou pela mente de Zariesk, uma idéia que o faria triunfante sobre Kyara e lhe conceder a vingança que ele tanto deseja.

 

 

Continua.