Entre a Luz e a Escuridão escrita por zariesk


Capítulo 9
Capítulo 9 - sangue real.


Notas iniciais do capítulo

eu sei, to demorando demais pra atualizar.
mas a culpa é do pc da minha esposa, aquele pc morre e revive mais que jesus cristo! (por isso ganhou o apelido de jesus).
mas a boa noticia é que alem desse capitulo já estar pronto o especial que escrevi tambem já está quase pronto, então divirtam-se e em breve eu atualizo denovo.



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Aquelas sensações incomodavam Isawa profundamente, a sensação de que algo ruim aconteceria, seu olfato captava um odor irritante, seus pêlos se arrepiavam tal como ficamos diante de uma assombração, seus sentidos alertavam para algo.

E tal como seus instintos alertaram um grupo de seis guerreiros em armaduras douradas entraram no quarto pondo a porta abaixo, sem avisos ou conversas eles sacaram suas armas, aquele que estava na frente carregava uma lança e ao apontar a arma para as jovens no quarto ele avançou com tudo.

 

- Sai daí Karin! – gritou Isawa puxando a pequena irmã.

 

Isawa num ato desesperado empurrou a jovem feiticeira tirando-a da trajetória da arma, infelizmente ela acabou colocando a si mesma como alvo.

A dor foi a única coisa que a avisou do ferimento, sua vista convergiu direto para sua barriga onde a haste metálica atravessava com sua ponta afiada aparecendo do outro lado, tal como seu pesadelo.

 

- Eu peguei ela! Eu peguei ela! – gritava o rapaz de armadura eufórico.

 

Os guerreiros dentro do quarto gritavam de alegria, eles comemoravam a morte daquela que representava o mal nesse mundo, Karin olhava atônita a cena, as memórias da execução da sua mãe que ela tentava esquecer retornaram com tudo fazendo a menina gritar agoniada.

A mente de Isawa funcionava descontroladamente, do seu ponto de vista tudo se movia em câmera lenta, as vozes não chegavam direto ao cérebro, tudo rodava e aquela sensação de frio crescia, os gritos de desespero de Karin pareciam um instrumento de sopro extremamente desafinado.

Daneth que estava no quarto do outro lado do corredor saiu para ver o que acontecia, suspeitava que um grande problema literalmente batia a sua porta, ao olhar assustado a situação dentro do quarto ele fez o que pode, mas um bardo que não era voltado pro campo de batalha logo foi dominado pelos soldados treinados e jogado ao chão.

 

- Alguém faça essa pirralha calar a boca! – disse um dos soldados.

 

Um soldado sacou sua cimitarra e se preparava pra cortar fora a cabeça de Karin, mas Vulthar que até então estava escondido embaixo da cama mordeu-lhe a coxa injetando uma quantidade generosa do seu veneno, o soldado caiu no chão se debatendo e se contorcendo, Vulthar enrolou-se no corpo de Karin para protegê-la.

 

- Você vai morrer Isawa, vai deixar desse jeito?

“Morrer” foi a única palavra que sôo claramente na cabeça de Isawa.

- “Eu não posso morrer aqui, eu não quero morrer, eu tenho medo, eu quero viver!”

 

O desespero, a dor e a vontade de viver ativaram algo que estava adormecido no interior de Isawa, sua mente nublou e logo apenas um pensamento a dominava: matar para viver.

O soldado que a mantinha presa contra a parede nem teve tempo de reagir quando a mão de Isawa lhe trespassou o coração, um jato de sangue quente espirrou no rosto dela que se transformava gradualmente.

 

- Ela é um demônio! – disse um soldado horrorizado – um demônio do maldito inferno de Tenebra!

 

Uma aura negra explodia em volta de Isawa, sua pele escurecia gradualmente, suas unhas transformavam-se em garras afiadas, suas presas adquiriam um aspecto ameaçador, logo todo o corpo dela tornou-se negro tal como seu dragão progenitor, sua pele estava áspera ao toque e seus olhos tinham um brilho vermelho igual ao sangue.

Arrancando a lança da barriga ela se curvou em dor, mas mantinha o olhar sanguinário sobre os guerreiros de Azgher.

 

- Temos que matar essa besta do inferno! – gritou um deles.

 

Os quatro sacaram suas armas, estavam determinado a lutar, Isawa em seu estado de fúria urrou tal como um leão encurralado, um urro que podia ser ouvido em todo o andar dos quartos.

Como se atendesse ao urro alguma coisa forçava passagem através da parede que separava os quartos, a figura de uma fera foi a primeira coisa que todos viram, depois que a parede foi completamente derrubada no buraco que se formou estava de pé o licantropo de antes empunhando seu perigoso machado.

 

- Não ousem tocar na minha princesa! – disse ele com sua voz poderosa.

 

Dois soldados avançaram contra ele, Daneth aproveitou para se colocar ao lado de Isawa, o guerreiro bestial apenas moveu seu machado com grande força em um corte horizontal, assim que o movimento se completou a cabeça de um soldado rolou pelo chão, o outro teve um pouco mais de sorte: só perdeu um braço.

 

- Afastem-se se não quiserem ter o mesmo fim – ameaçou ele apontando o machado para os últimos dois.

 

No momento que os dois recuaram o licantropo se aproximou de Isawa, ela parecia uma fera acuada mostrando as presas afiadas pra ele.

 

- Estou aqui para servi-la minha princesa – disse ele se ajoelhando diante de Isawa.

 

Isawa se curvou mais ainda por causa do ferimento, nessa forma ela se recuperava mais rápido, mas mesmo assim ela não resistiu e desmaiou sendo aparada pelo homem fera.

 

- Quem é você? – perguntou Vulthar.

- Eu já servi a rainha Kyara – respondeu ele – agora devo servir sua herdeira.

- Podemos deixar as apresentações para depois – pediu Daneth catando tudo que estava espalhado – em breve eles voltarão com toda a guarda da cidade.

 

Concordando que era melhor evitar mais conflitos devido ao estado de Isawa todos saíram correndo do hotel, Turok carregava Isawa na costas, Daneth carregava a mochila de Isawa e Karin levava Vulthar, através de caminhos sinuosos e muita sorte eles conseguiram sair da cidade sem maiores problemas, agora eles se escondiam na floresta que circundava a cidade.

 

- Quando a vi pela primeira vez senti que havia algo de diferente nessa menina – disse Turok colocando Isawa cuidadosamente no chão – mas quando ouvi a confusão no quarto entendi que só podia ser ela mesma.

- Então você servia Kyara? – perguntou Vulthar.

- Eu era um dos soldados do palácio dela – contou ele.

 

Nesse momento todos notaram que Isawa estava acordando, sua aparência já tinha retornado ao normal, e seu ferimento já não era mais tão grave.

 

- O que aconteceu? – perguntou ela tentando se levantar, logo desistiu devido à dor.

- Não... Se lembra? – perguntou Karin.

- Ta tudo confuso – respondeu Isawa com a mão na testa.

 

As memórias voltavam como flash’s em sua cabeça, toda a confusão inicial, o momento do ataque, a hora em que foi ferida e também o momento em que matou um homem praticamente arrancando-lhe o coração.

 

- Eu n-na-não posso ter feito aquilo – disse ela desesperada – não posso, não sou assassina!!

- Assassinato é o que eles queriam fazer com você nee-chan! – disse Karin tentando acalmá-la.

- Foi legitima defesa senhorita, ninguém a julgará por isso – disse Daneth.

 

Isawa estava sofrendo com a idéia de ter matado alguém, como ela poderia impedir essa guerra se na primeira oportunidade ela já tira a vida de alguém?

 

- Se isso faz você se sentir melhor tudo isso aconteceu por que seu sangue draconico despertou, foi puro instinto.

- Meu... Sangue draconico?

- Seu lado dragão esteve adormecido todo esse tempo – explicou Vulthar – mas quando sua vida esteve em perigo seu instinto de sobrevivência agiu por conta própria e lutou contra a ameaça, alem de tudo você só sobreviveu ao ferimento graças a isso.

 

Isawa passou a mão sobre sua ferida, antes aquele buraco jorrava sangue e agora já estava meio fechado apesar de que qualquer esforço poderia abri-lo.

 

- Eu tenho um monstro adormecido dentro de mim, um monstro que mata sem hesitar!

- Antes ele que você menina – disse Vulthar com sua típica delicadeza – eles tentaram matar você, então é justo que você foda com ele.

- Eu não sou assim!! – gritou Isawa.

 

Em meio a tudo ela notou que tinha mais alguém ali.

 

- Eu me lembro de você – disse ela reparando agora.

- Eu sou Turok minha princesa – disse ele se curvando.

- Contaram pra ele? – perguntou Isawa.

- Ele já sabia – respondeu Daneth – na verdade ele salvou a todos nos, e parece que ele era intimo da sua mãe.

 

Isawa ficou surpresa, não imaginaria que aquele ser pudesse conhecer sua mãe.

 

- Eu servia sua mãe, mesmo antes dela conhecer aquele dragão negro, na verdade você tem um cheiro idêntico ao dele.

 

Isawa se sentia agora um pouco cismada com o próprio cheiro.

 

- E o que você quer Turok?

 

Ele se ajoelhou diante dela, Isawa ficou rubra com o tratamento.

 

- Eu servi sua mãe por muito tempo, mas quando ela mais precisou de mim eu falhei em protegê-la – disse ele com a cabeça baixa – depois da guerra e vaguei pelo país, cuidando do reino e protegendo os poucos que escaparam, mas a situação só tem piorado, mas agora que você voltou eu quero ajudá-la a restaurar a paz que existia antigamente.

- Eu não sei se posso fazer tanto – disse ela triste – mal comecei e já falhei.

- Não diga isso nee-chan! Eu sei que você pode, mamãe também confiou em você! – disse Karin mostrando a pedra azul turquesa que ganhou.

 

A pedra que simbolizava o espírito de Sansara, Isawa sentiu um enorme peso, não podia desapontar aquela menina, mas não tinha mais a mesma confiança que tinha no inicio.

 

- Nos te ajudaremos – disse Daneth segurando a mão dela – quero ver que tipo de mundo você pode criar com suas próprias mãos.

- Eu quero acreditar que eu posso, mas como vou conseguir vencer o ódio de uma nação inteira?

- Você deseja lutar minha princesa? – perguntou Turok.

- Eu não quero lutar, se possível eu quero resolver tudo pacificamente.

- Você já deve ter percebido que é impossível não lutar – disse Vulthar – Tenebra deixou claro.

- Eu posso ensiná-la princesa, assim poderá se defender sozinha.

- Viu só nee-chan? Você não ta sozinha! – disse Karin feliz – e eu também quero ajudá-la.

- Antes temos que sair daqui, aqueles guerreiros virão atrás do nosso rastro em breve – avisou Daneth.

 

Turok arrancou um galho de uma árvore e entregou para Isawa usar como muleta.

 

- Se quisermos sair do olhar vigilante de Azgher temos que ir pro subterrâneo, ele não enxerga nada lá.

- Pro subterrâneo? Quer dizer embaixo da terra?

- Exatamente princesa, todo esse país é repleto de túneis subterrâneos, assim as espécies que odiavam a luz do sol podiam se mover durante o dia.

 

O grupo tinha um plano e um objetivo, Isawa estava determinada a não cometer o mesmo erro novamente, mesmo lamentando a vida que tirou ela poria fim à guerra.

 

 

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A imagem da fera alada sobrevoando a capital surpreendeu a população inicialmente, mas o brasão que estava cravado na sela indicava que ele pertencia a alguém da realeza do deserto, era Menefer que chegava a capital depois de ser alertada por Azgher.

O dragão dourado pousou no meio da praça da cidade, em seguida sua mestra desceu as ruas e foi direto pro lugar onde ocorreu o incidente.

 

- Esse é o hotel e restaurante que Isawa se hospedou? – perguntou Menefer para um dos soldados.

- Exatamente minha princesa – disse ele respeitosamente.

 

Menefer subiu as escadarias e chegou ao quarto onde tudo ocorreu, os corpos dos soldados mortos ainda estavam lá.

 

- Que bagunça! – disse Dalap sentada no ombro de Menefer.

 

Menefer examinou a situação, viu o cadáver do homem picado por Vulthar, aquele que teve a cabeça decepada e o outro com o coração transpassado.

 

- Nos tínhamos tudo sobre controle – dizia o soldado sobrevivente – estávamos a um passo de matar o ser das trevas, como podíamos imaginar que ela conseguiria revidar?

- Não existe nada mais perigoso do que um dragão acuado, você cometeram o erro de agirem por conta própria e pagaram o preço por essa besteira.

- Só queríamos poupá-la do trabalho princesa – disse ele humilhado.

- Eu sou a única que acabará com ela, tenha isso em mente.

- De qualquer forma vamos procurar o rastro dela, com certeza descobriremos pra onde ela está indo.

- Eu já sei pra onde ela está indo, depois de tantos desvios e considerando onde estamos só existe um lugar pra ela ir: a ex-capital.

- Aquele lugar amaldiçoado?  Mas temos vários quartéis em volta dali, ela nunca passará pelo bloqueio!

- Acho que você já viu o que acontece quando subestimam a capacidade ela, ela dará um jeito.

 

Menefer não perderia mais tempo com aquele lugar, teria que se apressar se quisesse chegar à antiga capital antes do anoitecer.

 

- Parece que ela fez amigos aqui – comentou Dalap.

- Segundo os soldados tem uma menina, um sujeito metido a besta e uma daquelas feras sarnentas, fora o couatl das trevas.

- E você tem a mim! – disse Dalap batendo no próprio peito de forma heróica.

- Quando você passar de um metro em levarei em consideração – brincou Menefer.

 

 

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Os túneis subterrâneos eram escuros, cheiravam a mofo e escorregadios, o tipo de lugar que uma pessoa em sã consciência não visitaria, porem para Isawa esse era um abrigo seguro contra a perseguição dos seus algozes.

 

- Desculpe lhe dar tanto trabalho Turok-san – pediu Isawa sendo carregada por ele.

- Não há necessidade de se desculpar minha princesa, eu faço isso com orgulho, mas o que é esse “san” que você acrescentou ao meu nome?

- Aah isso? É assim que as pessoas do meu país tratam aqueles que respeitam, é quase como chamá-lo de senhor.

- A princesa é muito generosa por me tratar assim – disse ele nitidamente orgulhoso.

- Você não nos disse quase nada sobre seu mundo senhorita – comentou Daneth – poderia nos contar como ele é?

- Bom... Pra mim que cresci lá era um bom lugar, eu gostava da vida que tinha lá, mas eu acho que vocês iam odiar.

 

Isawa parou para pensar sobre a terra, ela vivia pacificamente lá, mas ela sabia de todos os conflitos que causavam dor e sofrimento aos inocentes enquanto as nações tentam acabar uma com as outras, nesse ponto a guerra entre Azgher e Tenebra parecia uma coisa banal, pois na terra as guerras eram motivadas por interesse dos poderosos, conflitos de ideologia ou simplesmente por que alguém não concordava com a maioria.

 

- Tem alguma coisa se mexendo ali – avisou Karin.

 

Isawa forçou sua visão ao local indicado, desde o ocorrido antes ela conseguia enxergar perfeitamente no escuro.

 

- É normal os cogumelos se mexerem por aqui? – perguntou Isawa.

 

Do meio das pedras um bando de pequenas criaturas saiu de forma curiosa, eles não tinham nem um metro de altura, possuíam braços e pernas, eles eram como cogumelos ambulantes.

 

- É perfeitamente normal – explicou Turok – esse cogumelos são criaturas inteligentes

- Eles até que são bonitinhos! – comentou Karin depois que um grupo deles se aproximou

- Princesa, se falar com eles talvez possam nos indicar um caminho seguro – sugeriu Turok.

- Hei pequeninos, podem dizer como fazemos pra sair daqui?

 

As pequenas criaturas começaram a saltitar em volta deles e logo andavam em fila como se mostrassem o caminho.

 

- Bem, vamos segui-los – disse Daneth animado.

 

O grupo viajante seguiu os habitantes das profundezas como eram chamados aqueles que viviam abaixo da terra, no caminho eles observaram as varias espécies de animais que habitavam as cavernas, muitas Isawa nem sonhavam que existiam.

 

- É uma maravilha não é? – disse uma voz no escuro que Isawa já conhecia.

 

Da escuridão emergiu Tenebra, com seu sorriso característico e os caninos a mostra, no mesmo instante Turok se ajoelhou e Isawa ficou de pé, Karin e Daneth por não conhecê-la ficaram impassíveis.

 

- O que você quer agora? – perguntou Isawa ríspida.

- Sua amiginha está lá na superfície procurando por você – alertou Tenebra.

- A Akiko? Ela já chegou aqui?

- Ela sabe pra onde está indo, ela te conhece muito bem.

 

Tenebra passou a circular em volta de todos como se avaliasse cada um.

 

- Qual o seu nome pequenina? – perguntou Tenebra para Karin.

 

Claramente ela já sabia o nome dela, perguntou apenas por diversão.

 

- E-eu- s-sou Karin moça.

 

Daneth ficou maravilhado com Tenebra, jamais vira uma mulher tão bela em sua vida, bela e misteriosa.

 

- Que bardo interessante – comentou Tenebra – diga-me, você sabe cantar operas?

- Ainda não senhorita, mas por você eu aprenderei imediatamente.

- Você veio aqui só pra atazanar Tenebra?

 

No momento que Isawa pronunciou o nome de Tenebra Daneth e Karin quase caíram pra trás.

 

- Já tomou uma decisão sobre o seu futuro minha criança?

- Eu já decidi que vou parar essa guerra, mas não pretendo fazer você vitoriosa.

- Acha que consegue fazer os dois lados vencerem? Ou planeja fazer algo mais.

- Eu planejo parar a guerra sem lutar, de uma forma ou de outra podemos chegar a um acordo ou uma promessa de paz, eu tenho certeza que da pros dois lados se entenderem.

 

Tenebra até tentou segurar o riso, mas começou a gargalhar como se o mundo fosse acabar, sua gargalhada fez a caverna tremer.

 

- Você acha mesmo que as coisas se resolvem assim? – disse Tenebra depois de parar de rir.

- Eu acho que você é que nem quer tentar.

- Exatamente, eu quero que Azgher desapareça do mundo, quero que suas criações se tornem cinzas e lembranças distorcidas, quero que minhas criações dominem o mundo e transforme esse e qualquer mundo num paraíso sombrio onde todos me idolatrem e implorem por minha generosidade, quero beber sangue até me fartar.

 

Tenebra dizia isso com uma nítida e terrível crueldade em suas palavras, cada palavra trazia um frio à alma daqueles que ouviam, Karin que ainda era nova demais se ajoelhou soluçando um choro inaudível.

 

- Por que você tem que ser assim? – disse Isawa amparando a irmã – por que tem que ser esse monstro?

- Por que essa é minha natureza – respondeu Tenebra sorrindo – só os mortais tentam lutar contra sua própria natureza.

- Não me admira que Azgher queira tanto acabar com você, e é por isso que a Akiko-chan me odeia tanto, ela pensa que eu sou como você.

- Quando você souber a verdadeira razão dessa guerra entenderá que a paz é só uma ilusão – Tenebra começou a desaparecer, mas sua voz persistiu – e ai você não lutará mais contra sua natureza, você saberá o que é o verdadeiro ódio.

 

A voz de Tenebra desapareceu no ar, os únicos sons audíveis eram as goteiras e a respiração de todos, turok que permaneceu calado a conversa toda finalmente se pronunciou.

 

- A guerra entre Tenebra e Azgher já atravessou incontáveis eras, mesmo o seu desejo não será capaz de por fim a isso minha princesa.

- Posso não ser capaz de acabar com a guerra entre os deuses – disse ela séria – mas daqui pra frente eu porei fim na guerra em meu reino.

- Quando você diz seu reino quer dizer que assumirá sua herança real? – perguntou Vulthar que até então nada tinha dito.

- Eu já entendi que não posso fazer nada como uma adolescente normal, mas se eu sou mesmo a herdeira desse reino pelo menos em meu território eu acabarei com o conflito.

- Então conte comigo para ajudá-la – disse Turok se curvando.

- Mas o que Tenebra queria dizer sobre a razão dessa guerra? – perguntou Isawa para Vulthar.

- Eu não sei de nada, mas com certeza ela sabe de algo que ninguém mais sabe ou não teria tanta confiança de que você vai fazer o que ela quer.

 

Isawa ficou pensando sobre isso à medida que continuavam o caminho, ela sentia que estava sendo manipulada, a duvida era se ela podia confiar em Tenebra ou não, mas ela tinha certeza de uma coisa: ela não seria uma peça de xadrez para ninguém.

 

 

******************************************************

 

 

Menefer acampava já há algum tempo, a noite chegara e os clérigos de azgher nunca viajam a noite, seu dragão dormia ao lado da barraca e Menefer e Dalap estavam em volta da fogueira.

 

- Desse jeito ela vai escapar de você mestra – disse Dalap enquanto agitava a fogueira.

- Não vai mesmo, a cidade imperial fica mais longe do que ela consegue viajar a noite, a alcançaremos assim que o sol nascer.

- Você realmente é muito confiante – mais uma vez Tenebra se manifestava para alguém nessa noite.

 

Tenebra surgia das sobras que a mata criavam ao redor do acampamento, o dragão de Menefer se agitou diante da presença da rainha das trevas, Menefer sacou sua espada e se colocou em posição ofensiva.

 

- Os clérigos de Azgher são burros? – perguntou Tenebra diante da hostilidade de Menefer – o que acha que pode conseguir com essa espadinha contra uma deusa?

- Sei que não sou páreo para você – disse Menefer mantendo a coragem – mas um servo de Azgher jamais recua diante do mal.

- Isso tem haver com o seu orgulho? O estúpido orgulho que Azgher ensina para seus sevos que os levam para as “batalhas justas”?

 

Azgher ensinava que seus clérigos deveriam ser orgulhosos, jamais baixar a cabeça para os outros, pois assim como o sol estava acima de todas as coisas os seus servos eram mais nobres que qualquer um, a justiça de Azgher era a única verdadeira, eles deveriam ser fontes de inspiração, sempre nobres e poderosos.

Tenebra sempre ensinou aos seus servos que nada é humilhante demais que não possa ser encarado em prol da sobrevivência, se humilhar, rastejar, trapacear, qualquer coisa é justo diante da sobrevivência, inclusive driblar a morte para continuar existindo, prosperar retirando a vida dos seres inferiores também era aceitável.

 

- O que você quer comigo aberração?

- Tenha mais respeito comigo, ou eu lhe mostrarei o inferno – avisou Tenebra.

 

Dalap estava escondida dentro das chamas, tinha medo demais de Tenebra para sair dali.

 

- Eu quero saber o que te motiva pequena guerreira de Azgher – disse Tenebra.

- Eu quero acabar com seu reinado – respondeu Menefer convicta.

- Errado, esse é o desejo do seu deus – disse Tenebra sorridente – você é só uma casca vazia preenchida com a vontade dos outros, tão ignorante quanto à verdade.

- Então eu não seria tão diferente do seu fantoche – zombou Menefer – desde que nasceu Isawa sempre foi seu instrumento.

- Errado de novo – Tenebra estava se divertindo com essa conversa – ela me rejeita, não aceita essa guerra e ainda te considera uma amiga.

- Você está mentindo, você não pode me enganar como faz com o deus da justiça que caiu vitima do seu encanto.

 

Muitos deuses não se conformavam que o deus da justiça fosse casado com Tenebra, muitos a acusavam de enfeitiçá-lo e usa-lo, Khalmyr sempre afirmou que apenas se apaixonou por ela e ela é uma ótima esposa.

 

- Minha querida, não preciso mentir para você, eu só precisaria contar a verdade para destruir você.

- Do que você está falando seu demônio?

- Estou dizendo que você é a única nessa historia que é só um fantoche, a verdade é muito mais cruel do que você imagina.

 

Menefer não conseguiu conter sua ira, atacou Tenebra que nada fez para se defender, ao atingir a deusa das trevas com sua cimitarra esta teve o corpo cortado e incendiado.

Mas nada disso fazia mal a Tenebra, deuses não morrem pelas mãos dos mortais, um deus só pode ser destruído por outro deus, por isso a capacidade deles interferirem com os mortais é limitada, porem nada impedia que Tenebra se vingasse de Menefer agarrando-a firmemente Tenebra cravou suas presas no pescoço da jovem, começou a suga-lhe o sangue e Menefer sentia que pouco a pouco sua vida abandonava seu corpo, tentou se libertar, mas era impotente contra a força de uma deusa.

 

- Seu sangue é delicioso – disse Tenebra depois de ficar satisfeita – a parcela celestial que carrega nele da um gostinho especial.

 

Menefer caiu no chão tremendo e pálida, mais um pouco e estaria morta.

 

- Eu a deixarei viver, você é a motivação da minha pequena Isawa, tomara que vocês se encontrem logo.

 

Tenebra desapareceu deixando Menefer agonizando em dor e tristeza, Tenebra não apenas sugou seu sangue, também sugou parte de sua alma e a preencheu com uma agonia assustadora, Dalap saiu das chamas para abraçar e proteger sua mestra, se condenando por ser tão covarde.

 

 

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A viagem pelo subterrâneo chegou ao fim, depois de horas e mais horas de caminhada por caminhos sinuosos, trilhas escorregadias e muita sujeira ele finalmente respiram ar fresco após encontrarem a saída.

 

- Anoiteceu agora pouco – disse Vulthar analisando a situação.

- E então? Onde nos estamos? – perguntou Daneth.

- Estamos muito próximos a cidade imperial – disse Turok, já fiz esse caminho centenas de vezes.

- Mas você disse que ainda levaríamos mais um dia para chegar aqui – disse Isawa confusa.

- Aparentemente Tenebra deu uma ajudinha – comentou Vulthar.

- Se ela podia fazer isso por que não fez logo no inicio? – perguntou Isawa furiosa.

- Deuses não trabalham assim menina, até que você decidisse agir por conta própria Tenebra não poderia fazer nada por você, burocracia divina.

- Mas foi bom que a deusa Tenebra tenha nos ajudado, agora podemos chegar à capital mais rapidamente – disse Karin.

 

A saída da caverna estava oculta por arvores, ao atravessar a mata eles estavam no topo de uma colina, de lá dava pra ver as ruínas da cidade imperial.

 

- É a primeira vez que vejo uma cidade nesse estilo – comentou Daneth vendo a arquitetura do lugar.

- Por coincidência essa cidade é semelhante à cidade imperial de um país na terra conhecido como china – explicou Vulthar – alias tudo aqui nessa região é assim.

 

Isawa estava admirada com a cidade, mesmo de longe e estando em ruínas ela lembrava mesmo aquelas cidades chinesas antigas que viu durante as excussões da família.

Mas também havia algo de assustador ali, um redemoinho bizarro pairava sobre a cidade, uma nevoa gélida cobria o chão da cidade e vultos sinistros se arrastavam de um canto a outro.

 

- Não precisa ter medo minha princesa – disse Turok ao colocar sua mão sobre o ombro dela – essa cidade jamais fará mal a você.

 

Isawa não estava assustada pela cidade em si, mas por como sua vida poderia mudar depois disso, ela sentia que estava entrando num caminho sem volta.

 

- Querendo ou não eu tenho que ir lá cedo ou tarde, não vou voltar atrás agora – disse ela decidida.

- Tenebra deu a entender que você terá uma chance de falar com Kyara – disse Vulthar.

- É o que eu mais quero – disse Isawa satisfeita – eu sinto que minha mãe poderá me ajudar a encontrar meu caminho.

 

 

Continua.


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Notas finais do capítulo

gostaram? eu espero que sim ^^
a pobre isawa sofreu muito nesse capitulo, mas em breve darei a ela um pouco de felicidade!
e o proximo capitulo é um especial contando o passado de ninguem menos que a rainha kyara e o dragão zariesk!(sim, eu mesmo, heheheheheheh)