Acordei com uma voz feminina soando em meus ouvidos.

-Giovanna, levanta. - Era a caçadora punk. Ela estava sentada da minha cama, e tirou os cabelos do meu rosto.

–Não quero. - Gemi, e virei para o outro lado.

–Levanta logo.

–Não quero. - Repeti.

–Não quer comer? - Minha barriga roncou alto. Denunciando a minha fome enorme.

–Você ganhou. - Me levantei da cama, e me espreguicei. - Senta ai, e me espera.

Peguei uma roupa, e me troquei. Coloquei minhas jóias habituais. Me olhei no espelho. Eu parecia, alias, eu estava uma pessoa diferente da que chegou aqui. Saí do banheiro, com uma cara infeliz e de poucos amigos.

–Vamos? - Chamei a atenção dela. Que ficou me observando por alguns segundos. - O que foi? - Olhei pra mim mesma.

–Nada. Você está linda. - Sussurrei um "obrigado", enquanto ela levantava. Achei estranho o fato de uma punk me achar bonita.

Caminhamos lentamente até o refeitório. Um ar gélido batia na minha pele. O céu estava com nuvens pesadas e cinzas. Não parecia ser 12:00. Senti frio até chegarmos ao refeitório. Lá não estava tão frio, por causa da fogueira.

Entrei e Nico olhou pra mim na hora. Dei um leve sorriso triste e desanimado, ele fez o mesmo. Fiz o de sempre. Peguei minha comida, joguei a oferenda á Zeus, Hades, e Afrodite. Comi silenciosamente. Thalia havia ido se sentar na mesa das caçadoras, mas ficava me vigiando. Ela perdeu alguma coisa na minha cara decerto?

Quíron bateu os cascos no chão de mármore. Fez um barulho irritantemente alto. Não entendi o porque de ele bater os cascos, já que o refeitório já estava super silencioso.

–Só quero avisá-los que queimaremos as mortalhas amanhã á noite. Então deem seus nomes, e o nome da pessoa que morreu, caso quiserem fazer alguma delas. - Ouvi murmúrios. - É só isso. Estão dispensados.

Acabei de comer assim que ele terminou de falar. Lembrei da minha mochila, ela estava do meu lado. Coloquei uma das alças. Caminhei até a mesa de Hades. Quando ia me sentar, Nico advertiu.

–Não sente. Senão, vai ter que lavar a louça do acampamento na lava fervente. - Eu estava com a bunda a centímetros do banco.

–Ok. Terminou de comer então?

–Já. - Ele levantou. - Onde quer ir?

–Qualquer lugar.

Dei as mãos com ele, e saí do refeitório. Um vento frio bateu. Me encolhi em Nico. Ele sorria divertidamente.

–Espera um pouco. - Parei e pedi uma jaqueta de couro pra mim. Coloquei-a, e coloquei a mochila nas costas novamente. - Melhorou. - Murmurei. Ele voltou a me abraçar. - Aonde vamos?

–Praia, anfiteatro, floresta, qualquer lugar. - Ele respondeu.

–Vamos pra praia mesmo.

Continuamos andando. Sem falar palavra alguma. Chegamos depois de cerca de 5 minutos. Ele sentou na areia, e eu deitei usando sua perna como travesseiro. Ele mexia nos meus cabelos, o que estava quase me fazendo dormir.

–Se você continuar, eu vou acabar dormindo. - Adverti.

–Não tenho nenhum problema com isso. - Sorri.

–Que saudade dela. - O meu sorriso morreu.

–Eu também. - Ele admitiu, e parou de mecher nos meus cabelos por um breve momento.

–Sabe que esse frio é culpa sua não é? - Ele me perguntou. Acho que o assunto "Ísis" era difícil pra ele.

–Tinha uma breve idéia que sim.

O resto das horas pareceu se arrastar. Iríamos ficar até o jantar lá, só que minha irmã e Ana apareceram. Para varir, reclamando de tédio. Porque elas não vão fazer alguma coisa sem nós? Nós estávamos tão bem, quietos na praia.

–Vamos fazer algo mais... Prestativo. - Ana falou.

–Ana, é estranho ouvir você falando de coisas que prestam, sendo que você mal faz alguma. - Nico falou virando a cabeça para trás onde elas estavam.

–Fica quieto Di Angelo. Você mal me conhece pra ficar falando da minha prestatividade para as coisas. - Ela se irritou.

–Então, o que querem fazer pessoas super-prestativas? - Ironizei. Estava irritada de tanto falar a palavra "prestar" em outras conjugações.

–Em primeiro lugar, acabar com essas nuvens que estão deprimindo o acampamento todo. - Thalia criticou as minhas nuvens, que ao contrário de todo o acampamento, está me deixando feliz.

–Eu não sou a única filha de Zeus, Thalia. Você pode cuidar disso se quiser. Mas vou mantê-las mesmo você tentando tirar, porque eu odeio sol.

–Ok então. - Ela murmurou. - Depois se os filhos de Apolo e Afrodite reclamarem, eu avisei.

Ficamos um bom tempo tentando decidir pra onde ir. Eu estava ficando tão irritada com a discussão, que pensava seriamente em esfregar a cara de todos na lava na parede de escalada.

–Chega. Vamos para a floresta logo. Antes que eu mergulhe vocês na lava. - Falei. - Vou largar essa droga de mochila no chalé, e vejo vocês no Punho De Zeus.

Parti com um murmúrio de concordância dos outros. Caminhei preguiçosamente até os chalés. Abri a porta, e joguei-a. Quando eu estava perto do anfiteatro, fui barrada por alguém. Dylan Aron. Ele estava com um sorriso incrivelmente suspeito.

–Oi. - Ele falou. Ele se aproximava lentamente, e mantinha o sorriso sínico.

–O-oi. - Gaguejei. Eu recuava ao máximo. Mas chegou um ponto, onde minhas costas já encostavam em algum pilar ou parede. - O que quer de mim? - Minha mão corria para o meu colar.

–Eu não quero algo de você, eu quero você. - E aí ele me beijou á força.

Desesperada, eu dei um tapa em seu rosto, deixando as marcas exatas de minha mão. Ele recuou, com a mão aonde o tapa havia o atingido.

Foi aí que eu percebi que Nico e outras várias pessoas haviam visto tudo. Torci para que Nico tivesse visto tido desde o começo, e por sorte, ele havia. Pois ele avançou completamente tomado pela fúria em Dylan. Encontrei Thalia na multidão, ela fez um leve sinal, me chamando para perto dela. Corri até ela, e me afundei abraçando-a.

Percy e algum garoto apareceram e apartaram a briga. Nico estava intacto a não ser por um roxo em seu braço. O outro já não. Ele estava com olhos roxos, e o nariz quebrado. Eu, ainda tomada pela fúria e pelo desespero fui em direção ao Dylan, que era segurado apenas por um menino do chalé de Ares.

–Ela gostava de você. - Murmurei as palavras. Lágrimas caíram ao lembrar dela. - Escute aqui, garoto estúpido. Na primeira oportunidade que eu puder matá-lo em uma batalha eu o farei. Sem ter o mínimo de piedade, por causa do que você fez comigo, e com ela. - Nos seus olhos, parecia haver um enorme divertimento. Os meus já refletiam minha fúria, e eu tinha a vaga sensação de que estavam azuis como quando eu lutei com Clarisse.

–Eu nunca gostei dela. Ela era patética. Eu sempre quis ter você. Forte e decidida.

Eu sai de mim, e dei um chute em seu rosto (não faço idéia de como fiz isso), e em sua barriga com toda a força possivel. Ele se contorceu de dor, e mexeu o seu maxilar, aparentemente colocando-o no lugar .

Puxei Nico para longe daquele pessoal, com todos os olhos voltados pra mim. Podia sentir eles impressionados com a minha raiva e força. Quando estávamos longe o suficiente, eu me desesperei.

–Meus deuses. Quíron vai nos expulsar do acampamento.

–Fica calma. - Ele me abraçou. Explodi em lágrimas.

–Nunca mais eu vou te largar assim. - Falei entre soluços.

–Eu também não. - Nos separamos um pouco.

Depois de um tempo, Quíron nos chamou para a casa grande, e como castigo teríamos que lavar a louça do acampamento na lava até o fim das férias. Mas eu expliquei tudo o que aconteceu, e disse que tinham várias testemunhas do ocorrido, então ele diminuiu o castigo para uma semana.

O jantar foi como sempre, só que dessa vez, as pessoas nos olhavam torto. As caçadoras iam embora depois da queima das mortalhas. Mas o anúncio de Quíron, me chocou.

–Campistas, fico feliz em dizer que uma das campistas transformadas em pedra, não está realmente morta, apenas aprisionada. Então essa campista precisará de ter a sua mortalha queimada. - Uma pontada de esperança surgiu dentro de mim. Poderia ser ela? Murmúrios das pessoas perguntavam á Quíron "Quem é?". E eu estava ansiosa pela resposta. Ele finalmente respondeu. - Essa campista, é Ísis Darkway.