Rachel estava sentada em alguma mesa aleatória na biblioteca do McKinley. Seu dever de química intocável na sua frente. Ela até tentou fazer as primeiras questões, mas logo que pôs os olhos em todas, ela sentiu que não teria a concentração necessária para fazê-las.

Ela não conseguia pensar em mais nada a não ser nos primos Fabrays.

Esses últimos dias a cabeça de Rachel tem estado uma loucura. Aliás, desde que Luke veio para o McKinley, Rachel sentia algumas certezas suas serem quebradas.

Finn já estava em casa sendo cuidado por sua mãe e Rachel ainda não tinha ido visita-lo depois da briga. Finn já havia lhe mandando várias mensagens por telefone, internet e até Puck e Kurt haviam trazido recados do garoto, mas ela ainda não tinha dado atenção a nenhum.

Rachel então sentiu uma pontada de culpa. Enquanto seu namorado estava doente e preocupado com o relacionamento deles, lá estava ela pensando em não só uma, mas duas pessoas. Ela se sentia uma traidora, apesar de não ter feito nada demais com ambos (bem, quase), ela estava definitivamente atraída por alguém que não fosse Finn. Ela o amava. Pelo menos ela pensava que amava desde que pôs os olhos nele. Ela já havia se sentido atraída por outros, mas, seus sentimentos por Finn ainda eram maiores e quase possessivos. Ela sempre se via ao redor dele, como um planeta ao redor do sol.

Pelo menos era o que ela pensava.

– Rachel! – Uma voz gritou no seu ouvido a fazendo pular da cadeira.

– Por Deus Kurt! – Disse ela enquanto colocava a mão no peito e tentava controlar sua respiração. – Você quer me matar do coração aos 17?

– Eu é que pergunto. – disse Kurt enquanto sentava numa cadeira próxima – Quase perco a voz de tanto te chamar. Onde você estava com a cabeça? Sonhando acordada com o próximo álbum da Celine de novo?

Kurt colocou sua bolsa na mesa próxima a de Rachel e tirou seu próprio dever. Rachel apenas deu um suspiro e começou a rabiscar coisas aleatórias no seu caderno.

– Na verdade não – Disse Rachel baixinho.

Kurt parou de organizar suas coisas e finalmente olhou atentamente pra Rachel. Imediatamente ele percebeu que algo não estava bem com a garota.

– Rachel? – Kurt há chamou um pouco mais próximo – Há alguma coisa errada?

Rachel lhe deu um olhar triste e soltou o seu lápis.

– Eu não sei bem Kurt – Admitiu por fim – Minha cabeça anda uma confusão ultimamente.

A morena então se encostou à mesa e apoiou sua cabeça em ambas as mãos, dando outro suspiro.

– Me sinto como se no meio de um labirinto sabe? Eu simplesmente não faço ideia de como sair disso. – Disse Rachel numa voz cansada.

Kurt apenas pegou em uma de suas mãos e a fez olha-lo nos olhos.

– É sobre Luke de novo? – Ele perguntou já tendo absoluta certeza da resposta.

– Sim... Bem, em sua maior parte.

Ela ficou em silencio por um tempo apenas olhando sua mão entrelaçada com a de Kurt. O perfume suave do garoto envolvendo seus sentidos.

– Qual é o problema então, diva? – Kurt perguntou gentilmente dando um aperto leve em seus dedos. – Você... está tendo... sentimentos por ele? – Ele perguntou um pouco hesitante se deveria ou não questiona-la.

Rachel estreitou ainda mais o aperto entre seus dedos.

– Talvez... eu... eu não sei Kurt! – Disse ela num sussurro desesperado – E é isso que está me matando. Eu não tenho mais certeza de nada.

Rachel soluçou e sentiu as primeiras lágrimas rompendo seus olhos. Ela então rapidamente usou a mão livre pra limpa-las, não querendo fazer uma cena em plena biblioteca.

– Até algumas semanas atrás eu jurava pra mim mesma que Finn era o homem da minha vida. Estávamos pensando até em casamento. – Ela começou a tamborilar os dedos na mesa, nervosa - Eu... eu já tive sentimentos por outros caras, você sabe, Puck, Jesse e até Blaine!

– Nem me lembre daquilo. Até hoje me pergunto como diabos aquilo aconteceu. – Disse Kurt mais pra si do que pra Rachel.

– Bem o ponto é – Disse Rachel finalmente – É que mesmo me sentindo atraída por eles, nada era tão forte quanto o que eu sentia por Finn.

Rachel então ficou em silencio, mas Kurt já tinha escutado o suficiente para entender onde ela queria chegar.

– Então você está confusa por que já não sabe se Finn é realmente o homem da sua vida? – Disse Kurt a olhando profundamente nos olhos.

Rachel não disse nada. Apenas desviou o olhar e passou a fitar a mesa entre eles. Mas Kurt não estava esperando uma resposta no fim das contas.

– Olha Rachel – Começou Kurt depois de dar um suspiro – Eu já dei a minha opinião sobre o relacionamento de vocês e sobre esse casamento. Então não direi nada sobre isso, apenas quero lhe dar um conselho, se você me permitir é claro.

Kurt disse com um pequeno sorriso e Rachel apenas acenou para que continuasse.

– O conselho que vou dar é algo muito básico Rachel, mas eu nunca ouvi nada na minha vida que fosse tão certo quanto isso.

Rachel então encontrou seus olhos azuis cristalinos que agora brilhavam mais do que de costume.

– Siga o seu coração diva. – Disse Kurt com um sorriso – Independente do que aconteça, siga-o.

Kurt então apertou sua mão e se encostou a sua cadeira.

– Pelo menos no final você vai ter a certeza de que foi fiel a você, ao que acredita e que fez aquilo que achava certo.

Rachel ficou o olhando por um tempo enquanto sentia o peso das suas palavras. Depois limpou o resto das suas lágrimas e lhe deu o habitual sorriso Rachel Berry de ser.

– Obrigada Kurt – Disse apertando as mãos de seu amigo.

Kurt podia não tê-la suportado por um tempo e eles ainda podiam ter muitas coisas para com o que trabalhar. Mas ela sabia que havia encontrado uma verdadeira amizade no garoto.

– De nada querida – Ele disse devolvendo o aperto.

Depois Kurt começou a mexer no seu celular e Rachel voltou a tentar fazer a sua lição.

– Mas ainda acho que aquele Luke joga no meu time – Disse Kurt com um sorriso travesso.

– Kurt! – Disse Rachel indignada – De novo isso?

– Qual é Rachel? Você viu como o encontramos na primeira vez? – Disse Kurt se sentando reto enquanto mexia no celular – Ele estava fazendo compras! E muitas! Que hétero nesse mundo compra tantas roupas e de grifes como Dior e Calvin Klein?

– Um heterossexual METROssexual. – Disse Rachel escrevendo na sua lição.

– Isso sem contar que já o vi rebolando algumas vezes – Disse Kurt displicentemente.

– Kurt! – Disse Rachel indignada mais uma vez – Você estava olhando a bunda dele?

Ela então deu um tapinha na sua mão, mas próxima.

– Ai! Foi só de relance – Disse Kurt alisando a mão atingida.

– Sei... – Disse Rachel descrente enquanto voltava pra sua lição.

Os dois então começaram a rir e aproveitaram o resto da tarde um na companhia do outro.

X

Quinn estava parada em pleno vestiário masculino apenas olhando para aqueles olhos azuis e inocentes enquanto a dona deles dava um sorriso travesso.

– Britt? – Quinn conseguiu perguntar por fim. – Como você? O que você?... Como assim?

Quinn se atrapalhou com as palavras. Brittany apenas se aproximou mais de Quinn.

– Nossa Q, eu sabia que se você tivesse nascido um homem seria um cara bem gato – Disse Brittany a apenas dois passos de Quinn – Mas não TANTO assim – Disse Britt olhando para sua virilha.

Quinn de repente se tornou muito consciente de que estava no banheiro masculino, sozinha com outra garota e que estava usando apenas uma cueca. Ela começou a colocar os seus jeans apressadamente.

– Eu não sei do que você está falando. – Disse Quinn abotoando sua calça e colocando seu cinto.

– Olha Q, eu ouvi você e Sugar vestida de você conversando sobre os negócios de fada e em como você deve concluir algum plano que envolve Rachel, pra você voltar a ser você. – Disse Britt com um sorriso simples.

– O que? – Disse Quinn chocada – Quando?

– Ontem depois da prática das cheerios. Você e ela estavam conversando no corredor e eu acabei escutando, desculpe. – Disse Britt com uma cara triste, mas logo depois sorriu de novo – Sabe, eu meio que desconfiava, afinal, dava pra ver que não era a mesma Quinn de sempre nas ultimas semanas. – Disse Britt colocando as mãos no bolso do casaco das cheerios.

– Eu também meio que sabia que Sugar era uma fada. Lord Tubbington sempre fica muito sonolento ao redor de uma e ele praticamente morria quando via Sugar. E isso é tão legal! Nem acredito que sou amiga de uma fada! – Disse ela com animação. – Me lembre de perguntar a ela depois como eu posso me tornar uma também.

Brittany disse enquanto a olhava com olhos sonhadores.

Quinn ficou ouvindo aquilo tudo incrédula. Por um momento ela se perguntou como alguém como Brittany havia chegado a essa conclusão, descoberto tudo isso e começado a agir como se não fosse nada demais à existência de fadas e magia. Mas depois ela se lembrou com quem ela estava falando no fim das contas.

Era Brittany afinal, a garota dos unicórnios que até um tempo atrás realmente acreditava na existência do Papai Noel.

Mas que de todas as pessoas que Quinn conhecia era a mais capaz de ler as emoções de alguém. Tanto que sua intuição chegava a beirar o extraordinário. Não era atoa que pessoas como Santana se apaixonassem pela outra loira. Ela era a única capaz de entender completamente a confusão que era Santana Lopez, e até mesmo a confusão que era a própria Quinn.

Quinn tinha certeza que o verdadeiro pilar que sustentou o “Unholy Trinity” durante os anos, por mais que ninguém pensasse isso, foi à loira de olhos sonhadores a sua frente.

Quinn deu um suspiro cansado enquanto se sentava no banco mais próximo. Sua camisa polo branca ainda nas mãos.

– É verdade sim. – Disse Quinn de repente sentindo o peso do mundo sobre os ombros – Sugar me transformou em homem por meio de magia e enquanto eu estou dessa forma ela esta me ajudando ao se passar por mim.

Quinn disse olhando para os armários a sua frente, não acreditando que finalmente estava compartilhando essa história com outra pessoa. Brittany sentou ao seu lado.

– Por que você desejou uma coisa dessas? – Disse Brittany dando lhe um olhar suave – É por que você gosta de Rachel e não se sentia bem em tentar conquista-la como mulher? Ou só estava confusa sobre si mesma?

Quinn a olhou surpresa novamente. Realmente uma intuição muito extraordinária.

– Er... sim e sim. É isso mesmo – Disse Quinn voltando a olhar os armários a sua frente – Eu estava muito confusa sobre o que eu sentia por ela e quando Sugar apareceu na minha frente dizendo que eu tinha um desejo, eu acabei desejando isso na hora.

Brittany continuou a olha-la e Quinn então respirou fundo tentando controlar todas as emoções que estavam brotando dela naquele momento.

– Eu mesma não lembro muito bem de como tudo aconteceu. – Continuou Quinn – Eu não estava no meu juízo perfeito sabe? – disse Quinn dando uma risada sem humor – Estava bêbada, triste, muito fula da minha vida e pensando besteiras... terminei nessa situação toda.

Brittany apenas se aproximou mais dela e com uma mão pegou em uma das mão de Quinn e com a outra limpou algumas lágrimas que a loira mais alta não havia percebido que derramara. Brittany descansou a mão em sua bochecha e a forçou a olha-la nos olhos. Os olhos de Brittany brilhavam numa seriedade que Quinn poucas vezes vira na vida.

– Eu vou te ajudar Q – Disse Brittany num sussurro suave mais determinado.

Quinn de repente sentiu algo em seu interior aquecer. Ela colocou uma mão sobre a que Brittany tinha descansando na sua bochecha.

– Verdade? – Disse Quinn também num sussurro sentindo todo o peso de suas inseguranças a atingindo mais uma vez.

– Com toda a certeza – Britt disse enquanto dava um sorriso.

Ela então alisou os cabelos de Quinn e se encostou a ela, descansando sua cabeça no ombro de Quinn. Elas ficaram um tempo em silencio apenas desfrutando uma da presença da outra.

– Sabe, eu não estava brincando quando disse que você virou um garoto gostoso de morrer.

Britt disse depois de um tempo a olhando de novo, um sorriso sapeca estampado em seu rosto.

– Ah, qual é Britt? – Quinn disse já sorrindo de novo

– Que tal aquela proposta de ménage que eu e Sants te fizemos? – Disse Britt com o rosto bem perto do de Quinn.

Quinn corou ao lembrar aquela infame proposta que as duas haviam feito pra ela há um tempo atrás.

– Brittany! – Disse Quinn sem jeito – Nem me lembre daquilo ok? E eu acho que Santana não ficaria muito interessada nisso agora.

Brittany apenas riu como uma criança vendo um desenho e depois aproximou sua boca da orelha de Quinn.

– Eu sei convencer a Sants muito bem. – Disse Britt num sussurro enquanto passava um dedo bem de leve pelo abdômen definido de Quinn.

Isso fez um calafrio descer pela espinha de Quinn e alguma coisa criar vida dentro das suas calças.

– Pare com isso Britt!

Quinn saiu de perto de Brittany como se ela pegasse fogo e terminou de colocar sua camisa. Brittany apenas riu divertida.

– E também ela pode nos ajudar. – Disse Britt ainda sorrindo e balançando suas pernas pra frente e pra trás.

– Tem certeza? – Disse Quinn meio descrente e já com a mochila nas costas.

– Tenho sim – Disse Britt se levantando e pegando na mão de Quinn – Agora vamos! Quero ir numa sorveteria nova lá no centro que dizem que vende um sorvete de arco íris!

Britt então a arrastou corredor a fora e enquanto corriam como nos velhos tempos, Quinn não pôde parar a sensação de felicidade rompendo pelo seu peito. Como se num bom pressagio ela sentisse que as coisas ficariam bem.

E ficariam.