Eu estava acordada, mas ao mesmo tempo dormindo. Não sei, mas eu podia ouvir tudo ao meu redor, só não tinha forças para abrir os olhos, apenas ouvia tudo com atenção.

– Quando ela vai acordar? Era Quil, eu conhecia muito bem a voz dele.

– Em breve. A voz de Carlisle.

– Vai demorar? Perguntou Quil. Sua voz estava rouca, cansada.

– Relaxe, Quil. Você precisa descansar. Logo a Claire vai acordar e você vai ver que estará tudo certo. Disse Carlisle dando alguns passos. Mexi a mão devagar, tentando atrair a atenção de Quil. Em vão.

– Não Carlisle, esperarei ela acordar... Tenho que dar a noticia sobre a morte de Sam... – Ouve uma pausa, Quil devia estar respirando. – Vai ser difícil para ela. Disse ele. Então meu tio havia morrido? Meus tios haviam morrido! Desgraça demais para uma só semana. Ouvi o som da porta se fechando, talvez Carlisle já havia saído.

– Oh Claire... Vai dar tudo certo. Quil estava próximo, pude sentir. Suas mãos quentes tocaram as minhas. Ganhei forças e apertei sua mão.

– Claire? Você... Está me ouvindo? Se sim, aperte minha mão duas vezes. Ele disse. Apertei a mão de Quil, duas vezes seguidas, sentindo sua aproximação. Reuni mais forças e consegui abrir os olhos, lentamente. Fitei o teto branco e logo Quil surgiu acima de mim.

– Oi... Disse, mas saiu mais como um sussurro. Quil sorriu bobamente.

– Claire! Você está... Bem? Perguntou passando as costas de sua mão direita sobre meu rosto delicadamente.

– Estou amor. Respondi sorrindo fraco.

– Graças a Deus! Claire, você precisa saber de uma coisa... Ele me olhou sério. Senti a preocupação em seu olhar. Eu já sabia o que era, mas fingi que não.

– O que? Me fiz de desentendida.

– O Sam... Seu tio Sam, ele... Ele morreu Claire. Quil disse e eu arfei. Se eu não soube-se aquilo teria me atingido de tal maneira que com certeza eu haveria desmaiado. Mas mesmo assim aquilo me doeu, doeu bastante, pois Sam era como um pai para mim. Pisquei os olhos inúmeras vezes. Quil me abraçou forte.

– A vida não é justa comigo Quil! Primeira tia Emily... Agora tio Sam... Eu só posso estar pagando por meus pecados... Droga! Eu disse com a voz pouco alterada.

– Calma Clair, foi à vontade de Deus, você tem que ser forte amor. Disse ele afagando meus cabelos.

– Se Deus existisse teria salvado meus tios, Quil! Eu disse em meio as lágrimas traiçoeiras que rolavam por minha face.

– Claire, não fala assim. Deus sabe o que faz, ele nunca erra. Você tem que aceitar... Por mais que seja difícil, você tem que ser forte. Quil devia estar todo ensopado graças a mim.

– Ai Quil, como eu vou viver sem eles? Não dá Quil. Disse sendo interrompida pelo soluço. Apertei Quil contra mim, enterrando meu rosto na cavidade de seu pescoço.

– Você vai conseguir Claire, eu sei que vai. Disse ele entrelaçando seus dedos em meus cabelos. A porta se abriu e fechou. Não me movi para ver quem era.

– Claire... Você acordou. A voz de Nessie. Levantei o rosto rapidamente a observando. Ela não estava nada bem; As olheiras em seus olhos diziam que ela não havia descansado.

– Nessie... Disse com a voz falha, me soltando lentamente dos braços de Quil e abrindo meus braços para Nessie. Ela correu ate mim e me abraçou.

– Oh minha pequena... Eu estou aqui, vai ficar tudo bem. Ela disse afagando meus cabelos.

– Eu só queria acordar e ver que tudo isso não passou de um daqueles pesadelos que me perseguem. Minha voz estava rouca, falha. Sem vida alguma.

– Todos nós queríamos Claire. Disse Quil ao lado.

– Eu não aguento mais isso, eu quero morrer! Meu coração se apertou. Quil me olhou assustado, com dor nos olhos. Nessie se afastou um pouco de mim e lançou-me um olhar de reprovação. Engoli a seco sentindo o peso de minhas próprias palavras.

– Eu vou sair daqui! Exclamou Quil saindo porta a fora. Suspirei arrependida.

– Ótimo, eu sou um monstro mesmo. Murmurei.

– Não fala isso Claire! Você não é um monstro. Apenas é difícil para nós lhe ver desse jeito... Pálida, com um rosto sem vida, fraca, chorando. Nessie sorriu fraco. Mordi o canto do lábio.

– Vocês também sofrem, não é mesmo? Sofrem em me ver assim... Tudo por minha culpa. Queixei-me, abaixando a cabeça.

– Para com isso Claire! Dói muito mais ouvir você se culpando por tudo. Você não é a culpada de nada Claire, nunca foi! Você apenas está sofrendo pois eles eram sua família... Eles que lhe criaram quando seus pais morreram, eles que lhe educaram... É difícil perder alguém assim, mas você tem que ser forte, por mim, pelo Quil... Nós odiamos lhe ver assim, é dor demais. Nessie chorava. Apenas a abracei.

– Desculpa... Nossa, desculpa mesmo... Eu não sabia que doía tanto assim para vocês. Eu prometo que vou tentar ser forte, por vocês. Disse parando de chorar, Nessie deitou a cabeça em meu ombro.

– Obrigada Clair, você não sabe como isso me deixa feliz. Nos afastamos um pouco e pude ver o sorriso de Nessie, sorri também.

– Hã... E o velório? Perguntei sentindo as pontadas no peito.

– Amanhã bem cedo. Meu pai está cuidando disso... Seus tios serão enterrados da maneira que merecem. Disse ela se sentando à beira da cama. E só agora pude perceber que estávamos no quarto de Nessie. Não disse nada, eu estava mais preocupada com o velório de meus tios.

– Já avisaram aos Clearwater? Perguntei lembrando-me de minha “família”.

– Sim, Leah está inconsolável. Disse Nessie revirando os olhos. Ela odiava minha prima de segundo grau, simplesmente por ela ser melhor amiga de Jacob.

– Ah, claro... Ela ainda é apaixonada por Sam... Pela primeira vez eu não disse a palavra “tio”, e isso soou estranho para mim.

– É! Agora com certeza ela vai correr para cima do Jake. “Ai Jake, estou tão mal” “Ai Jake, me consola!”. Nessie fazia uma imitação tosca da voz de Leah. Ri daquilo e ela revirou os olhos.

– Calma Nessie, o Jake é seu e ninguém vai mudar isso. Nem mesmo minha prima super carente e bonita. Disse enquanto Nessie me fuzilava com o olhar. Ri novamente.

– Bonita? Aonde aquela lá é bonita? Ela é ridícula... E aquele cabelo? Meu Deus! Alguem tem que dizer para ela o que é moda. Disse Nessie batendo com a mão no ar. A porta se abriu e Alice entrou sorridente.

– É só falar em moda que ela aparece. Sussurrei para Nessie, a mesma riu fraco.

– Acho que tem alguém aqui com fome. Disse ela com uma bandeja em mãos.

– Estou sim tia, obrigada. Nessie se esticou para pegar algo na bandeja. Alice esquivou e repreendeu Nessie com o olhar.

– Eu estou da Claire. Disse Alice se aproximando de mim. Nessie revirou os olhos e se sentou novamente.

– Ah, muito obrigada tia fadinha. Agradeci e peguei cuidadosamente a bandeja, colocando sobre meu colo e pegando o copo de suco.

– Claire, você tem visita. Disse Quil colocando a cabeça dentro do quarto. Ele disse aquilo tão friamente.

– Ora, mande entrar! Exclamou Alice com as mãos na cintura. Quil assentiu e sumiu dali.

– Ele está estranho. Murmurei.

– Deve estar com fome. Disse Nessie roubando uma torrada da minha bandeja.

– Não, eu acho que ele se irritou pelo que eu falei sobre querer morrer. Disse sentindo a culpa sobre mim.

– Xi! Bom “crianças”, preciso ir cuidar do velório... Ed não sabe escolher rosas. Alice sorriu fraco e saiu do quarto.

– Esse Seth é um pedaço de mal caminho... Se não fosse o Jake, juro que eu o “pegaria”. Disse Nessie mordendo o lábio. Eu ri.

– Deixa o Jake ouvir isso, ai ai. – Disse logo assobiando. A porta se abriu e Seth entrou com aquele sorriso meigo.

– Oi Clair... Como... Você está? Perguntou ele se aproximando de nós. Realmente Seth era muito bonito, mas nada comparado ao meu Quil. Sorri com esse pensamento, “meu”, somente meu agora.

– Claire... O Seth está falando com você. Disse Nessie me tirando dos pensamentos bobos. Despertei olhando para o garoto a minha frente.

– Ah, desculpa... Eu estava pensando em outra coisa. Mil desculpas Seth... O que tinha dito mesmo? Perguntei, tentando prestar atenção em Seth.

– Eu tinha perguntado se você estava bem. Disse ele soltando um riso fraco.

– Ah sim. Não estou bem... Mas também não estou mal. Respondi sorrindo de canto. Quil se sentou ao meu lado, passando seus braços por minha cintura e me puxando levemente para um abraço reconfortável. Senti-me estranha nos braços de outro garoto. Mas o que tinha de mais? Aliás, ele era meu primo.

– Oh Claire. Sei bem como você deve estar. Leah também não está nada bem. Nem comer ela quer... Queria que tudo isso fosse um sonho ruim. Disse ele com a voz abafada.

– Sinto muito pela Leah. – Olhei para Nessie e pude notar que a mesma revirou os olhos ao ouvir esse nome. – E eu também queria que tudo não passasse de um sonho ruim. Disse por fim, escutando o barulho da porta se abrindo. Olhei para a mesma, ainda abraçada em Seth. Era Quil e ele tinha uma cara não muito boa.

– Então... Parece que já está bem. Não é mesmo, Claire Young? Disse Quil me lançando um olhar assustador. Entendi e me afastei um pouco de Seth.

– Hã... Seth este é Quil, meu namorado. Quil esse é o Seth, meu primo. Disse dando ênfase na palavra “primo”.

– Olá Quil. Seth sorriu estendendo as mãos para Quil a apertar. Quil apenas olhou e ignorou, se aproximando de mim.

– Clair, você está melhor? Perguntou Quil agachando-se ao lado da cama.

– Estou sim amor. Bom, eu preciso de um banho... Disse olhando para todos, que assentiram. Quil me beijou delicadamente e logo saiu do quarto. Seth sorriu fraco e despediu-se, indo embora. Nessie me ajudou a me levantar e escolher uma roupa.

Os dias começaram a passar rápido até de mais. O velório de meus tios foi uma choradeira só. Pensei que eu seria a “escandalosa” na hora que a sepultura fosse fechada, mas eu estava enganada. Leah chorou tanto que até passou mal e teve que ser levada para um hospital ás pressas.

Tudo estava se normalizando. Jacob e Nessie estavam sempre no “maior love”. Quil e eu a cada dia nos amávamos mais. Eu estava morando com os Cullens agora, portanto Nessie e eu dizíamos para as pessoas que éramos “irmãs”, mas por não nos parecermos, acreditavam que eu era a adotada da história.

Já haviam passado três meses. Estávamos no meio do ano e Alice resolveu dar uma festinha no próximo final de semana, e adivinha? Ela fez Nessie e eu convidarmos o colégio inteiro! Isso é tão... Alice! Até seria legal sabe, uma festa com aquele... Pessoal lá que eu sou obrigada a ver todos os dias – exceto sábado e domingo – e agora terei que aguentá-los na “minha” própria casa... Alice, se eu não te amasse tanto assim, juro que lhe mataria!

Eu aguardava ansiosamente por essa “festa” que com certeza seria o “evento do ano”, do jeito que a Alice é... Nem quero imaginar. Bom, apenas deixarei os dias passarem. E o que tiver que acontecer, acontecerá.