Jane:

Há alguns anos a destruição da Terra começou, guerra entre os humanos, milhares de mortes, eu e os outros de nossa espécie nos fartamos da comida que não precisava ser caçada, apenas ficávamos perto do campo de batalha e esperávamos, o banquete era farto, mas depois de algum tempo, novos conflitos aconteceram e não havia mais o combate corpo a corpo dos humanos, eles haviam avançado nesse quesito, sendo que não precisavam estar próximo ao inimigo para destruí-lo, apenas alguns cliques e estava feito, alguma nação havia sido engolida pelas bombas de alta destruição.Alguns de nós foram mortos por causa disso.

Mas a pior parte disso, foi que os humanos descobriram sobre nós e então o inferno reinou sobre a Terra, eles já sabiam como nos destruir, não somos imortais tecnicamente, apenas vivemos para sempre, mas qualquer explosão pode matar vários de nós, ou os raios de sol, os humanos transformaram a luz solar em arma, usando alguma tecnologia avançada para transformar os raios-ultravioleta em algo poderoso e mortal.

Depois que eles descobriram sobre nós, eles se esconderam nos muros de fortalezas que foram construídas rapidamente, sabendo da ameça que os cercava, eles começaram a treinar para nos destruir, por algum tempo isso foi inútil, nós éramos rápidos e antes que eles pudessem empunhar suas armas, seus pescoços estavam quebrados e seu sangue estavam passando por nossas gargantas.

Isso foi antes. Agora, tudo piorou, descobrimos que os humanos, não conseguiam se reproduzir como antes, estavam perdendo essa habilidade, isso significava extinção tanto para eles quanto para nós. Nosso alimento se tornou escasso e então travamos batalhas entre nós mesmos, lembro-me que alguns foram selecionados e salvos, os anciões originais foram escoltados para dentro de câmaras, em segurança. O mais engraçado de tudo isso é que, eles esperavam acordarem do seu descanso e encontrarem o mundo melhor. Hipócritas de merda.

Com o mundo se destruindo aos poucos, a falta de alimento, tivemos que caçar animais, e isso era nojento, o sangue deles era estranho e sem gosto, não nos saciava, mas não tínhamos alternativa.

Depois de algum tempo a maioria ou o que sobrou de nós já havíamos nos acostumado com tudo o que estava acontecendo, não havia esperança de um mundo melhor. Já havíamos aceitado isso.  

Eu não tinha "família" isso era óbvio, vivia sozinha, caçava, essa era minha rotina, eu morava na floresta, era o melhor lugar para mim, caçava quando queria fazia o que eu queria e quando queria, não havia nada nem ninguém, para me impedir disso. Em uma certa noite eu estava caçando, quando senti um cheiro estranho, parecia o cheiro de um humano moribundo, mas também tinha aquele cheiro de sangue vivo e estava perto, mas aquele cheiro ruim ainda predominava. Curiosa, eu fui em direção ao cheiro.

Chegando perto de uma colina, pude ver vários humanos subindo por ela, algo em mim se agitou. Comida, continuei andando até eles, faminta, a anos eu não sabia o que era afundar meus dentes em um pescoço macio. Mas havia algo de errado com aqueles humanos, eles andavam devagar e grunhiam, o que estava acontecendo com eles?! E aquele cheiro horrível, pareciam mendigos com aqueles trapos nojentos e cheios de sangue coagulado e preto. Então algo ocorreu o vento me trouxe o cheiro deles e então eu rosnei enfurecida. 

Zumbis...Os filhos da puta, ainda continuavam por aqui. Pensei que os outros já haviam conseguido se livrar desse malditos. Mas parece que eles são fortes e se transformam mais rápido do que nós, o mais intrigante de tudo isso é que eles se alimentam mais do que nós.

Comecei a correr na direção contrária a deles, eram muitos. Aquela colina deveria ser o esconderijo deles. Droga, eu não havia percebido que eu estava morando no meio do território deles. Merda. Então ouvi alguma coisa e então eu o vi, um zumbi, rapidamente pulei em cima de uma árvore e rosnei. Ele pareceu se assustar comigo, mas fez alguns gestos gentis para mim.

-Cal..ma, não grite, está...tudo bem.- o zumbi disse eu o observei, ele vestia uma camiseta branca que com o tempo se tornou macabra demais, com as marcas de sangue, uma jaqueta vermelha e uma calça jeans azul escura, ele era muito pálido, algumas veias se sobressaltavam na área do pescoço. Os olhos eram de um cinza chumbo estranho, seus lábios estavam roxos. E apesar dessa aparência macabra, ele era bonito, na verdade muito bonito.

-Nome?- ele perguntou para mim. Eu não sabia o que responder, ele estava falando comigo?! Estava realmente perguntando o meu nome? Sempre pensei que os zumbis fossem criaturas ignorantes que só soubessem gritar: CÉRRRRREBRO, mas esse parece ser diferente, ele não tem aquela aparência de besta igual aos outros.

-Jane, meu nome é Jane.- eu disse. Ele sorriu. Como isso era possível, ele tinha emoções, sempre pensei que os zumbis fossem criaturas famintas que não se importassem com nada além de comer cérebros e carne humana. Mas pensando bem, eles podiam pensar o mesmo de nós.

-Qual o seu..nome? - eu lhe perguntei na tentativa de ter um dialogo com ele.

-R...meu nome é R.- ele disse.

-Você é uma vampira?- ele perguntou.

Eu afirmei com a cabeça.

-Como chegou até aqui?- ele perguntou.

-Eu moro aqui.- eu disse.

-Não...deveria, eles podem matar você, deve ir embora.- ele disse de uma forma autoritária.

-Gosto daqui, não vou embora, é a minha casa, se estão incomodados se mudem.- eu disse asperamente.

-Você é arisca.- ele disse sorrindo, eu também sorri e me sentei no tronco da árvore.

-Talvez, cheguei aqui antes de vocês, então este lugar é meu.- eu disse um segundo depois ouvi passos em nossa direção e aquele cheiro horrível e carne podre e sangue coagulado.

-Alguém esta vindo.- eu disse ele se virou e esperou.

-Se esconda...rápido, suba mais para cima... na árvore e não... faça... barulho algum.- ele disse. E então uma mulher apareceu, com certeza ela era nova no mundo dos zumbis, seu corpo ainda tinha toda a pele e e seus olhos eram como os dele, apenas o cinza chumbo. Ela vestia uma saia preta e uma camisa de seda branca que estava com manchas vermelhas de sangue, o cabelo estava preso num rabo de cavalo e ela tinha um crachá no peito, ela era uma secretária, ela tinha um nome, mesmo de longe como eu estava eu podia ver claramente.

Emily, o nome dela era Emily.

R olhou para ela quando ela chegou, ela pareceu irritada com ele, fez alguns gestos irritados com as mãos alguns grunhidos altos, eu não conseguia compreender mas parecia que ela estava brigando com ele, algo me dizia que eles eram casados, pois ele ficava calado enquanto ela grunhia/gritava com ele. Quando ela foi embora ele se virou para mim.

-Era sua esposa?- eu perguntei, ele afirmou suspirando.Eu ri.

-Você..também é casada?- ele perguntou.

-Não, já tentaram me arranjar um marido, eu fugi para a floresta no dia do casamento.- eu disse, parecia fácil conversar com o R. Ele riu e assentiu com a cabeça.

-Eu queria fazer... o mesmo se... ela não tivesse...me arrastado pro altar.- ele disse.Eu sorri.

-Ela parece muito ciumenta.- eu disse. Ele deu de ombros.

-Não se importa, com isso?- eu perguntei.

-Não...na verdade eu... não gosto dela.- ele admitiu.

-Como não?- ele iria responder mas algo nos interrompeu, um zumbi de pelo menos dois metros com cabelos loiros chegou.

-Vamos...voltar, os outros... estão chamando.- ele disse.

R assentiu com a cabeça. O zumbi grandão foi embora e ele foi junto, mas acenou um adeus antes eu lhe dei um tchau decente e quando ele sumiu de vista eu pulei da árvore e comecei a correr em direção ao meu antigo clã. Precisava lhes dizer que estávamos fodidos. Todos nós.

Enquanto eu corria pela cidade ou o que sobrou dela ouvi algo, mas não me importei, então eu pisei em uma faixa e as explosões se iniciaram.