Assim como eu havia acreditado, as piadas não tardaram a chegar. Ao menos, Christian não as lançou para mim, daquela vez. Provavelmente com medo de que eu tivesse outro surto e socasse seu nariz, também. E aquilo me deixou feliz...

Nós caminhávamos para dentro da biblioteca, enquanto algumas garotas lançavam sorrisinhos para Adrian.

– Afinal com quantas mulheres você já dormiu? – Christian perguntava, espantado à Adrian, que sorria, enquanto enfiava a mão no seu bolso jeans para pegar um cigarro. Mas Lissa o havia repreendido por fumar ali. E com um suspiro frustrado, ele guardou de volta, passando os dedos dentre o cabelo organizadamente bagunçado. Às vezes eu tinha certeza que Adrian passava horas e mais horas em frente ao espelho, tentando deixá-lo daquela forma.

– Tantas que já perdi a conta. – sorriu Adrian, enquanto nós nos sentávamos no chão, em um canto afastado próximo a uma estante de livros. Eu me espremi entre eles, ainda mais, me sentindo desconfortável pela conversa um tanto que constrangedora. Orando internamente para que aquele assunto não recaísse sobre mim.

– Eu ainda me pergunto como isso aí – Christian apontou para os jeans de Adrian, que sorriu presunçoso, enquanto eu sufocava uma risada. – não caiu.

– Não sinta inveja, garoto do fogo. Eu provavelmente fui um garoto bonito. Bonito o suficiente para arranjar várias namoradas, não uma só... Como você fez... – dessa vez, eu não consegui conter uma gargalhada. O que fez Christian franzir. E a bibliotecária, que conversava com Lissa, um pouco distante dali, lançar um olhar de repreensão para nós.

– E você, Rose? – dessa vez, fora Christian quem dissera. Maldito Ozera! Eu suspirei, sentindo aquela pontada, enquanto eu orava internamente, dizendo que aquele era a minha vez.

– O que tem eu? – eu forcei meu tom firme.

“Por favor, não fale sobre ontem, por favor, não fale sobre ontem...”

– Pela sua aura mais cedo, você fez coisas travessas noite passada... – Adrian murmurou, batendo seu ombro no meu levemente. Eu corei. – É aquele cara alto, o tal Ambrose? O dhampir... Eu vi vocês conversando um dia desses... Na verdade, vocês estavam flertando terrivelmente. Eu me pergunto se você também causa esse efeito em outros dhampirs...

– Em falar em dhampir... Eu não vi Belikov ainda. Ele teria te repreendido por socar Avery. – Christian disse, aéreo. E eu senti minhas bochechas arderem.

– Eu ainda me pergunto como a sua tia Tasha teve coragem de ter alguma coisa com Belikov. O cara é um antissocial...

– Eu me pergunto se os boatos de Ambrose mandando ver na sua tia-avó são verdade... – Christian retrucou, e logo, recebeu um olhar feroz de Adrian, eu reprimi um gemido. – Eu realmente não entendo o que minha tia viu nele... Eu... O cara é tão na dele...

– Ele não é estranho... Ele tem um ótimo sotaque... – eu murmurei, me sentindo incomoda. Dois idiotas.

– Você sabe o que dizem dos caras grandes... – Adrian murmurou, enquanto eu me espremia no meio de Christian e ele. Eu senti minhas bochechas arderem. Então, como se alguma coisa tivesse se quebrado, Adrian e Christian trocaram um olhar significativo.

– Oh, meu Deus! Você – Christian quase gritou, se eu não tivesse tapado sua boca com minha mão, eu olhei ao redor, e ele fez o mesmo, logo, se deu conta de que estávamos numa biblioteca, então, abaixou sua voz em um sussurro para dizer: – dormiu com Belikov?

– Isso não é da sua conta, ok? – eu resmunguei, e então, ambos soltaram uma risada perversa e alta. Eu corei ainda mais.

– Oh, cara! Você dormiu... – Christian fez uma careta – o cara é quase dez anos mais velho do que você...

– Sete. – corrigi.

– Oh, Deus, tantos caras por aí, e você foi logo para cama com o antissocial estrangeiro?! – questionou Adrian, ainda rindo. Eu acotovelei ambos.

– Não é como se ele tivesse sido ruim. E pelo menos, se eu tivesse ido para a sua cama, eu teria que me preocupar de não pegar algum tipo raro de doença. – eu disse, me sentindo uma vaca total assim que fechei a boca. Adrian me encarou, seus olhos verdes um pouco alargados, e então, foi à vez de Christian rir perversamente. Eu estava pronta para retrucar para Christian, quando uma voz soou.

– Lorde Ozera, Lorde Ivashkov...– a voz de Dimitri me fez gelar no mesmo instante. Eu olhei para cima, sentindo Christian ficar vermelho ao meu lado, e Adrian rir desdenhosamente. – Rose... Poderia falar um instante com você?

– C-claro. – gaguejei, me levantando e lançando um olhar de ‘fiquem de bico calado’ para Adrian e Christian. Os dois se encolheram, então, quando eu olhei para trás, eu vi Adrian murmurar para mim, algo muito, muito feio. Eu reprimi a necessidade de fazer um sinal também horrivelmente feio.

Dimitri e eu caminhamos para perto de uma das estantes, no fundo da biblioteca. Eu torci para que não houvesse ninguém, e obviamente, não havia, já que era uma biblioteca, e tecnicamente, pessoas normais não estariam na biblioteca numa segunda feira, bem, exceto meus amigos e eu.

– Eu fiquei sabendo... O que aconteceu mais cedo? Você está bem? Se machucou? – eram tantas perguntas. Dimitri segurava meu rosto entre suas mãos, enquanto permanecíamos escondidos. Ele encostou seu rosto, próximo ao meu e me beijou. Fora rápido, mas o suficiente para eu incendiar. Eu me sentia segura, e quase havia esquecido completamente sobre o incidente de mais cedo e de onde estávamos — quase.

– Dimitri... – eu sussurrei, suas mãos ainda seguravam meu rosto, despreocupado. – Estamos em uma biblioteca – anunciei.

Ele sorriu, de uma forma que me fez sentir idiota por tê-lo dito. Então, no que eu deveria chamar — sem nenhuma maldita sombra de dúvida — de infelizmente, ele se afastou. Dimitri tinha aquele olhar carinhoso ainda, mas sua expressão não era exatamente assim mais. Eu me estapeei mentalmente, cogitando chamá-lo para um outro lugar.

– Rose? Você está aí? – a voz soou. Nós nos viramos para ver Lissa não muito distante dali, mas distante o suficiente para não tê-lo visto a cena do beijo.

– Aqui! – chamei, ajeitando meu cabelo e tomando uma distancia segura de Dimitri.

– Aqui está... – ela parou abruptamente quando deu de cara com Dimitri, seu guardião – Oh, Dimitri. Provavelmente, você já soube do incidente de mais cedo.

– Sim – ele respondeu em uma voz neutra. – Eu vim perguntar à Rose sobre isso. Mas eu já estava de saída, Princesa. Hoje eu terei uma ronda e...

– Oh, logo agora?! – Liss soou como uma menina desapontada. Eu tentei estudá-la.

– O que está acontecendo? – sorri para ela, me sentindo novamente uma verdadeira idiota.

– Eu estive pensando em irmos ao Shopping. Fora da Corte. Tudo aqui está uma loucura e eu preciso da sua ajuda, Rose – ela se virou para mim, ainda com um sorriso suave nos lábios, mas eu podia sentir a ansiedade através do nosso laço. – Christian e eu pensamos em irmos ver uns apartamentos junto à faculdade.

– Isso é ótimo! – exclamei, me sentindo feliz.

– Sim – concordou corando levemente, fazendo-a ficar ainda mais bonita do que já era – eu pensei que você poderia ir conosco. Você sabe... Seria bom passarmos um tempo juntas, longe dessa bagunça que ficou aqui.

– Claro – sorri – eu adoraria fazer umas compras.

Dimitri se mexeu um pouco desconfortável ao meu lado. Eu me permiti sorrir ainda mais, imaginando o quão desconfortável ele ficaria numa saída de garotas para compras.

– Então vá pegar algumas coisas... Nós vamos agora... Quero dizer. Não seria bom chegarmos lá perto de fechar, e está cedo... Os shoppings estão fechando mais tarde, graças ao feriado.

– Que feriado?

– Ação de graças – dessa vez, Dimitri disse ao meu lado. Eu não consegui evitar suspirar exasperada. Deus, já estávamos em novembro e eu pouco me lembrava. Eu o encarei, estática. Como uma pessoa que nem havia nascido aqui poderia saber mais sobre feriados do que eu?

– Que seja! – balancei minha mão no ar, com desdém. – Vamos agora, antes que eu me arrependa.

Liss riu, enquanto caminhava à nossa frente, deixando Dimitri e eu um pouco atrás. Ele apenas abaixou um pouco a cabeça, para poder me olhar, enquanto andávamos. Eu sorri para ele, me sentindo feliz, mas ainda em boa parte, muito mal humorada.

– Oh! Aí estão vocês! – Christian exclamou quando saímos dos corredores. Ele e Adrian estavam encostados na porta da biblioteca — e eu não ficaria impressionada se a bibliotecária os tivesse expulsado.

– Vamos... Eu preciso comprar um presente para Rose usar. – Adrian piscou para mim, de uma forma canalha — como ele sempre fora.

– Não seja nojento... – Christian chiou, enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento.

Dimitri dirigia silenciosamente enquanto saiamos dos portões da Corte. Eu estava de alguma forma, desconfortável e eu sabia que Lissa havia percebido, assim como Adrian. “o que você tem?” ela perguntou através do laço depois de alguns minutos, enquanto dirigíamos. Eu a ignorei, enquanto encarava através da janela do banco do passageiro. A paisagem tão natural e bem cuidada — e até urbanizada, devo dizer — do mundo real. Eu suspirei.

Uma coisa eu tinha certeza, enquanto eu escutava as conversas no banco de trás. Aquela viagem ia ser longa.