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“_Sabe, você é bem convencida para alguém que vive se machucando.- Uma Demi de nove anos falou fazendo a pequena Selena rir.- É sério Lena, desce daí, você pode caír!

Mas a garota não desceu, ao contrário começou a subir nos galhos ainda mais altos da árvore. Demetria preocupada, ameaçou chamar a mãe da menina.

—Você não vê Demi? Eu sou ótima nisso! Eu não vou cair.

Mas os galhos finos do topo da árvore começaram a fazer uns barulhos estranhos e aquele onde Selena estava pendurada rachou e despencou, fazendo a garota ir junto. Demi foi correndo ao encontro da amiga.

—Lena, você está bem?

A menininha tinha lágrimas nos olhos, o cabelo enrolado estava cheio de folhas e segurava o joelho com uma careta de dor.

—Acho que me cortei.

—Me deixa ver isso aí!

A garotinha de óculos de aro tirou a mão da amiga de cima do machucado e parou, analisando se ela podia cuidar do corte como sua mãe cuidava dos dela.

—Me espera aqui, eu vou pegar a caixinha de primeiros socorros.

Demi saiu correndo e quase caiu, tropeçando no cadarço de seu all star vermelho que estava desamarrado. Ela foi até o armário da cozinha e pegou uma caixinha branca voltando correndo para o quintal para ajudar a outra menina.

—Pronto, agora eu posso fazer isso melhorar.

—Mas Demi...- Selena olhou para cima com olhos marejados.- E se doer muito?

—Eu dou um beijinho e passa!

A garotinha sorriu inocente e orgulhosa de si mesma. Ela estava conseguindo fazer tudo igual à mãe. Depois daquele sorriso, Sel se sentiu muito mais corajosa e deixou que Demi cuidasse de seu ferimento.

Desajeitadamente, Demetria cuidou do machucado da amiga, que choramingou na hora de passar o antisséptico. Terminando o processo, ela deu um beijinho em cima do band-aid da Hello Kitty que agora estava no joelho de Selena.

—Obrigada.

Selena deu um beijo na bochecha de Demi que sorriu ainda mais e abraçou a amiga bem apertado.

—Não se preocupe Lena, toda a vez que você se machucar, eu vou estar lá para cuidar de você, eu não vou te abandonar.

Quando as duas se separaram, havia um brilho no olhar que elas eram novas demais para perceber o que era.”

Quando acordei, demorei um pouco para perceber que haviam lágrimas em meus olhos. Os trovões da chuva lá fora abafavam todos os meus pequenos soluços. O quarto escuro parecia querer me oprimir e me dava uma sensação muito forte de solidão. Sentei na cama trazendo o joelho para a frente do peito. Não sei quanto tempo passei assim ou se havia sido o sonho que me fizera começar a chorar. Peguei o meu celular na mesinha de cabiceira e passei a olhar os contatos.

Vários nomes passaram por mim sem significar nada, outros muitos trouxeram coisas confusas à minha mente, flashes aleatórios de momentos que por algum motivo eu tinha a certeza ter vivido. Mas nenhum deles, absolutamente nenhum, me trouxe a segurança que eu precisava no momento. Até que eu chegasse na letra S.

Aquele nome ficou pulando ali na tela, chamando a minha atenção. Algo em mim dizia que eu podia chamá-la, que ela me entederia mesmo que nem eu estivesse me entendendo e traria o que estava me faltando. Apertei o chamar. Foram precisos cinco toques até que ela atendesse e a voz grogue dela quase me fez pedir desculpas por ligar tão tarde.

—Alô?

Não sei porque ouví-la me deu uma vontade ainda maior de chorar e foi o que eu fiz. Eu deixei que todas as lágrimas caíssem.

— O que foi Demi? Por que está chorando?

Por mais que eu quisesse falar, eu não conseguia. E não era só pelas lágrimas, mas principalmente porque eu não sabia o motivo do choro. Passados alguns minutos eu percebi que era possível ouvir alguns fungados baixos do outro lado da linha e o som me deixou confusa.

— Você está chorando? Por quê?

— Você está machucada e sinto que não posso fazer nada, mesmo depois de ter jurado te proteger de qualquer coisa.

Eu parei um minuto ainda tentando entender aquela menina. Ela estava chorando não por algo que aconteceu com ela, mas porque eu estava chorando?

—Sonhei com você.

Minha voz foi só um sussurro, mas eu sabia que ela havia me ouvido. Olhei para minha janela e a chuva ainda caía forte. Eu não falei nada por um tempo e ela tampouco, acho que soube que deveria esperar que eu voltasse a falar.

—Estávamos na minha casa, nós éramos bem pequenas. Você estava subindo numa árvore, mas caiu, eu cuidei de você. E...

— E depois me prometeu que cuidaria de mim sempre que eu me machucasse, que jamais me abandonaria.

Fitei uma foto minha e de Selena que ficava em cima de minha escrivaninha enquanto assimilava essa nova informação. Não havia sido um sonho, era uma lembrança como eu suspeitava. Uma que mostrava claramente o quão forte era a minha ligação com a menina do outro lado da linha. Outros soluços baixinhos foram ouvidos por mim, mesmo acima do barulho alto dos trovões.

— Me desculpe.

— Por sonhar comigo?- a voz dela era confusa.

— Não.- Respirei lentamente tentando achar as palavras certas. -Por não cumprir minha promessa... Você está chorando e é minha culpa, eu não sei como consertar isso, como cuidar de você.

Ela bufou para o telefone.

—Você é a única que precisa de cuidados no momento, foi você que sofreu um acidente. Eu só estou sendo egoísta, não ligue para isso.

—Sofrer não é egoísmo, você meio que perdeu parte de sua melhor amiga.

Uma careta triste nasceu em meu rosto. Eu queria lembrar, queria voltar no tempo e fazer toda essa situação desaparecer porque eu não queria que ninguém sofresse por mim, nem minha mãe, ou Eddie, Dallas, ou Maddie. Muito menos Selena.

—Eu sei que quando for a hora você vai lembrar, eu sei que eu não vou te perder.

—Como você pode acreditar tanto em mim?

Ela não falou nada por tanto tempo que eu achei que não fosse responder. Mas quando finalmente falou, havia tanta confiança em sua voz que me fez lá no fundo ter esperança de novo.

— Porque nós fizemos prometemos uma para a outra e nós jamais quebramos uma promessa. Nós vamos ser para sempre Demi.

O sorriso que brotou em meu rosto foi totalmente inesperado, mas o aceitei de bom grado. Deitei novamente cheia da segurança que procurava quando acordei chorando, parecia que minha intuição havia me levado a ligar para a pessoa certa.

— Obrigada Selena. Por tudo.

— Não é nada, você sabe, é aquela história: eu estarei aqui para você, mesmo sem você se lembrar realmente de mim.

Eu abracei uma almofada e fechei os olhos, de repente sentindo o cansaço se abater sobre mim. Eu estava quase dormindo quando falei de novo.

— Boa noite Selena.

— Boa noite Demi.- Um suspiro.- Eu te amo.

Eu caí no sono depois disso, um sono sem sonhos.