Fazia quase uma semana desde o acidente e Demi continuava inconsciente e eu sem ir para casa. Dianna e Dallas ficavam insistindo para eu ir descansar, enquanto Eddie se mostrava um pouco mais compreensivo e trazia-me café e bolinhos e até novas mudas de roupa que ele trazia do guarda-roupa de sua enteada mais nova.

Eu havia recebido alguns telefonemas de amigos e mais um monte de jornalistas querendo marcar entrevistas, como eles haviam conseguido meu número eu não fazia idéia, isso significava que era hora de trocá-lo outra vez.

Era minha vez de ficar com Demi, nós havíamos feito uma espécie de escala para que pudéssemos nos revezar entre o descanso e a espera.

Costumava ficar cantando para ela, qualquer uma das músicas que costumávamos ouvir quando fazíamos nossas noites do pijama.

“You had your dreams I have mine

You had your fears I was fine

Showed me what I couldn't find

When two different worlds collide.

She was scared, unprepared

Lost in the dark, falling apart

I can survive, with you by my side

We're gonna be alright

This is what happens when two different worlds collide.”

Peguei em sua mão somente por costume e foi quando ocorreu. Senti um perto de leve em minha mão, tão de leve que se eu não estivese tão concentrada nela, eu não teria percebido. Meu interior parecia querer explodir de felicidade naquele momento e empolgada com o progresso, resolvi recomeçar a música.

“She was given the world

So much that she couldn't see

And she needed someone to show her

Who she could be

And she tried to survive..”

Tão de repente como o pequeno aperto na minha mão, ela abriu os olhos e fitou o teto por alguns segundos.

_ Demi!- não pude resistir e acabei gritando sem querer.

Ela virou os olhos para mim, mas eu percebi que faltava alguma coisa. Eles estavam estranhos olhando para mim e isso me deu medo. Ela puxou sua mão da minha e pude ver o que estava errado: ela não me reconhecera, não ficara feliz ao me ver. Aquilo fora como um soco no estômago e cheguei mais para longe sem perceber.Demi continuou a me olhar de modo estranho e resolvi procurar Dianna para avisá-la sobre a filha.

Desci correndo para a sala de espera e quase tropecei nos meus próprios pés saindo do elevador, avistando a loira corri ainda mais até ela, que se assustou com a minha chegada.

_Selena?- ela me olhou confusa.- O que você está fazendo aqui? E por que está chorando?

Eu estava chorado? Eu não havia percebido...

_Demi acordou.- minha voz foi quase um sussurro e me surpreendi que ela pudesse ter ouvido.

Dianna pegou minha mão e me fez correr de volta todo o caminho que eu havia feito, passando ainda mais rápido pelos lugares que eu já tinha visto. Entrou no quarto em desparada, indo logo ficar ao lado da filha, enquanto eu, parei na porta sem coragem de entrar, sentindo a dor comprimir meu peito de uma forma que nunca fizera antes e sentindo outras lágrimas descendo meu rosto lentamente.

_Filha!- ela passava a mão pelo seu rosto com muito carinho.- Estou tão feliz esteja bem...- olhou para mim estranhando meu comportamento.- Por que você não entra?

_Eu... eu...

Eu não consegui inventar uma desculpa que me parecesse boa o bastante. Os olhos de Demi estavam outra vez em mim, distantes e frios como jamais haviam estado, parecendo ter medo de mim, a menina que vinha sendo sua melhor amiga há 11 anos.

_Mãe..- a voz dela não era mais que um sussurro e era rouca pelo desuso.- Quem...?

Dianna olhou para mim e pareceu perceber o que ocorria.

_Essa é a Selena, sua melhor amiga... Não lembra dela?

Demi pareceu confusa e eu tive a plena certeza naquele momento que minha melhor amiga não me reconhecia. O que era muito estranha contando que aparetemente ela ainda se lembrava da mãe. Será que eu não era especial o suficiente?

_Selena, venha mais perto, talvez se ela puder te ver melhor...

Eu não me aproximei, não tive coragem, os olhos de minha amiga sobre mim ainda carregavam medo e hostilidade. A dor era tanta que ao contrário do que pedira Dianna, me afastei da porta, indo para o meio do corredor e ali mesmo desabando. Sentei em um banco que havia e deixei todas as lágrimas virem para desafogar meu coração.

Uma sensação de vazio me oprimia e nada parecia fazer sentido porque afinal Demi havia reconhecido a mãe, então porque não me reconhecera?

Abracei minhas pernas e deitei minha cabeça em meus joelhos sentindo todo o cansaço da semana se abater sobre mim, fechei os olhos. Cenas de mim e Demi começaram a passar na minha cabeça, nossa infância, o nosso teste para Barney, a emoção quando descobrimos que estaríamos no programa juntas, nossa adolescência, quando entramos para Disney e todos os momentos simples que eram especiais apenas porque ela estava ao meu lado.

Não sei quanto tempo passei perdida nas lembranças, mas de repente senti alguém me abraçar. Abri os olhos para ver Dianna De La Garza me abraçando com carinho e afagando meus cabelos. Sem pensar duas vezes, abracei suas pernas e lá deitei minha cabeça.

_ Ela não lembra quem você é...

–x-

Quando o médico ficou sabendo que Demi acordara, a tirara do quarto para que pudesse fazer uma série de exames que ele dizia que iriam detectar o que havia de errado com ela. Isso levara a maior parte do dia, quando os resultados finalmente saíram já se aproximava de oito horas da noite e tendo esses resultados em mãos, o doutor convocou a família e a mim para outra reunião.

_Bom, como eu havia previsto, a pancada deixou sequelas... A paciente está com amnésia, que significa perda de memória. Aparentemente essa perda é parcial já que ela reconheceu a família, mas não reconheceu a amiga.- ele apontou para mim com uma cara de dó que fez meu coração apertar.- Não é possível ver a extensão das memórias que foram afetadas, isso é algo que será revelado conforme vocês a apresentarem à coisas ligadas ao seu passado, à sua história.

_ Esse problema é temporário ou permanente?

Eu não tinha pensado nessa possibilidade e a pergunta me fez tremer. NÃO! Demi não podia ficar assim para sempre, isso significava ela longe da minha vida. E essa não era uma possibilidade que me agradava.

_ Não é possível prever isso também, alguns pacientes levam dias para se recuperar, outros anos e outros infelizmente nunca se recuperam. Por isso é que digo a vocês que é importante estimulá-la a se lembrar, contem histórias, mostrem fotos, vídeos, apresentem objetos, a levem para lugares que signifiquem alguma coisa.- ele fez uma pausa.- Mas é preciso que vocês saibam dosar a quantidade de informações que deve chegar até ela no dia, é muito importante que vocês não a deixem estressada.

Todos assentimos concordando, afinal não era tão dificil seguir as recomendações. Deixei que toda a família saísse, eu queria falar com o médico sozinha, eu precisava ter a certeza de que tudo estava bem.

_Dr Gyllehal?

Ele olhou para mim. O verde de seus olhos era meio acinzentado e eu percebi que era a primeira vez que havia prestado atenção neles.

_ Sim?

_ O senhor acha que seria ruim se eu viesse visitar a Demi? Ou acha que isso possa talvez atrapalhar a recuperação dela?

Ele sorriu para mim e confesso que me senti um pouquinho mais segura depois disso.

_ Não iria atrapalhar em absolutamente nada. Pelo contrário, eu acho que seria bom que estivesse por perto. -ele segurou minhas mãos entre as dele.- Só lhe dê um tempo... Ela está confusa agora, especialmente sobre você, mas eu sei que cedo ou tarde ela se lembrará e então tudo voltará a ser como era antes.

Eu lhe retribui o sorriso muito mais feliz do que antes. De certo que o medo de perder permanentemente minha melhor amiga estava lá, mas havia surgido em mim uma esperança.

_ Obrigada doutor, eu realmente aprecio sua ajuda.

_ Fico feliz de ter ajudado. Agora vou dar um conselho, vá para casa, descanse, dê a Demi um tempo, dê a você esse tempo também... Você está nesse hospital há sete dias, você merece descansar.

Uma parte de mim queria negar e dizer que ficaria ali, mas a outra parte sabia que o doutor estava certo.