Eu cheguei ao hospital desesperada e não me importei realmente com os inúmeros flashes que vieram a seguir. Eu não me incomodei com eles clicando as minhas lágrimas, a minha dor, eu só ignorei os flashes e todas as perguntas que vieram com eles. Tudo que eu queria naquele momento era saber se ela ficaria bem.

Me perdi no hall de entrada, onde eu deveria ir? Eu não sabia onde ela poderia estar. Olhei ao redor procurando qualquer rosto conhecido que pudesse me ajudar e encontrei Dianna, ela parecia tão desesperada quanto eu e assim que me viu, veio correndo até mim.

_Oh, Selena!

Ela me abraçou apertado e eu retribuí, sentindo as incontáveis lágrimas que desciam pelo meu rosto.

_ O que foi que aconteceu Dianna? Eu não entendi o que houve...

Dianna se separou de mim para poder olhar em meus olhos e quando voltou a falar, parecia que cada palavra lhe arrancava um pouco da força que tinha.

_ Ela tinha ido acampar com Joe, ela me ligou dizendo que estava vindo embora, ela parecia aborrecida... -outras grossas lágrimas cairam e eu tive que segurá-la para que não caísse.- Quase duas horas depois o hospital me ligou, ela não parou no sinal e não viu o caminhão vindo... Ela estava muito rápido... O motorista não pôde freiar... E então...

A voz dela morreu e parecia que eu seguiria o mesmo caminho. Eu podia ver a cena, os faróis vindo de frente, eu podia ouvir a buzina e então o choque. Não sei como, mas perdi minhas forças e quando eu vi eu estava no chão. Demi, minha melhor amiga, meu porto seguro, ela estava ferida e isso me feriu também.

Os momentos que se seguiram foram confusos para mim. Primeiro, eu estava abraçada à Dianna, depois eu estava no chão, e então haviam pessoas de branco em cima de mim e um corredor, eu não vi nada depois disso, e só uma coisa preencheu minha cabeça: a imagem de Demi sorrindo e acenando para mim da última vez que tínhamos nos encontrado.

–x-

Quando abri os olhos outra vez, Dallas estava do meu lado e parecia apreensiva, quando nossos olhares se encontraram, ela veio até mim.

_ Você está bem?

_ O que foi que aconteceu? -eu não sabia muito bem.

_ Você desmaiou, está há umas duas horas inconsciente.

As cenas caíram sobre mim, uma após a outra. “O motorista não pôde freiar... E então...”, e então os faróis vindo até mim. E Demi...

Levantei rápido e senti coisas me puxando, uma ardência no braço.

_ Ai!- gritei.

Quando olhei para o braço, uma agulha pendia torta dele e uma pequena gota de sangue escorria, me senti tonta e imediatamente voltei a me sentar.

_ Selena! Pelo amor de Deus não faça isso de novo!- ela foi correndo até a porta.- Enfermeira, eu preciso de ajuda aqui!

Ela voltou para o meu lado e com a mão boa segurei as mãos dela.

_ Dallas... por favor... me diz!

Eu estava implorando, eu precisava saber.

_ Ela...

Mas nossa conversa foi interrompida pela enfermeira que entrou correndo no quarto. Dallas soltou minhas mãos e foi para o canto, apenas me olhando de longe. A enfermeira mexeu na agulha, tentando ver o tamanho do dano, tirou a agulha de dentro de mim e eu gemi de dor, dava para ver uma pequena parte da minha pele rasgada. Ela limpou meu braço e estancou o sangue, enquanto eu olhava suplicante para Dallas que continuava a me negar a informação que eu mais queria. Ela furou meu outro braço e me fez um curativo no ferimento, saindo em seguida e deixando que eu e a irmã de minha melhor amiga pudéssemos ficar sozinhas outra vez.

_ Dallas, por favor Dallas, eu preciso ver a Demi!

_ Ela ainda está em cirurgia, não é como se eu pudesse fazer algo...

_ Ao menos me diga, tem quanto tempo que ela está lá?

_ Eu não sei ao certo, umas nove horas talvez...

Encostei a cabeça no travisseiro e fechei os olhos, era realmente mais grave do que eu supunha.

_ Eu queria ter estado aqui quando aconteceu... Maldita viagem!

_ Você não tinha como saber Sel! E além disso- ela sentou na poltrona ao lado da cama.- Fiquei surpresa de te ver aqui tão rápido considerando que estava na Espanha!

_ Eu não podia ficar lá sabendo que tudo isso tinha acontecido...

_ Não esperava que você ficasse.

Suspirei. Eu precisava ver Demi, eu precisava da certeza que ela estava bem.

_ Quando ela sai?

_ Da cirurgia?- assenti para ela.- Ninguém sabe.

Levantei outra vez da cama.

_ Eu preciso de informações mais concretas!

Talvez o movimento tennha sido muito rápido, porque outra vez me senti tonta e desequilibrada, caí na cama. Dallas veio até mim e me fez deitar outra vez.

_ Se você não se aquetar, eu vou chamar alguém para te dar um calmante!

Bufei.

_ Dal, eu preciso ir! Ela é minha melhor amiga!

_ Ela é minha irmã!

_ Você não entende...

Outras lágrimas rolaram dos meus olhos e Dallas me apertou com carinho.

_ Entendo que você esteja sofrendo e que queira notícias, mas não há nada que saber ainda... Minha mãe disse que ligaria se houvessem novidades, então por favor, tenta se recuperar primeiro e depois eu te deixo ir aonde você quiser.

Eu não achava que “sofrendo” fosse a palavra certa, eu estava agonizando, como se metade de mim também estivesse sendo operada. Quando fechei os olhos, tentei me concentrar em algo e passei a escutar meu coração, mas cada batida me lembrava o quão frágil estava o fio da vida de Demi e sem perceber, estava aos prantos de novo, tendo dessa vez, Dallas Lovato para me consolar.

–x-

Quando o médico finalmente apareceu, mais de uma hora depois, Dianna convocou a presença de todos na sala de espera.

_ Então Doutor? Como está minha filha?

O médico era moreno e alto e quando sua voz saiu, era tão grave e aveludada como a de um locutor de rádio.

_ Olha Sra. De La Garza, eu não vou mentir e dizer que não fiquei preocupado... O estado dela é bem delicado e inspira cuidados muito especiais.

_ Mas como ela está agora Dr. Gylehall? -fora Eddie quem perguntara dessa vez.

_ O braço dela já foi operado e imobilizado, enão esse realmente não é o pior dos problemas. Ela teve muitos cortes no rosto, mas até mesmo os mais profundos poderão ser curados sem deixar cicatrizes. O que mais preocupa agora é sua cabeça... A pancada foi muito forte e em uma região muito sensível, nós também já a operamos nesse local, mas temos que aguardar para ver o resultado.

_ E ela poderá ficar com sequelas?

_ É possível, mas muito difícil prever quais, o que temos que fazer agora é esperar.

_ E que horas vamos poder vê-la?- era tudo que eu precisava saber.

_ Estão terminando de levá-la para a UTI, o que significa mais 10 ou 15 minutos de procedimentos. Geralmente as visitas à UTI são feitas de 12h à 13h30min, e somente 3 pessoas por dia, mas como o quarto dela é separado, vou liberar para que vocês possam estar com ela o dia todo, contanto que fique lá apenas um de cada vez. Dentro de 20 minutos eu libero a subida de um de vocês. Agora se vocês me derem licença, preciso ir...

O médico fez um aceno com a cabeça e saiu na direção de um elevador, nos deixando outra vez aflitos.

Dianne, Eddie e Dallas se abraçaram e eu permaneci ali, olhando-os, desejando que eles fossem minha família de verdade e me sentindo mais sozinha do que nunca. Fui até o canto e me sentei olhando para o pingente da amizade que Demi havia me dado alguns anos antes.

Era um símbolo do infinito com nossos nomes gravados na parte de trás. Fora de longe o melhor presente que eu ganhara e desde que eu o colocara pela primeira vez, ele nunca mais havia saído daquele lugar.

Percebi uma pessoa sentando ao meu lado e ao virar para olhar vi que ela Dianna. Ela me deu um sorriso fraco e me deu um carinho rápido.

_ Desculpa atrapalhar sua turnê...

_ Eu teria vindo de qualquer jeito, eu não conseguiria ficar longe sabendo de tudo isso.

_ Obrigada por estar aqui Selena, você foi a única de seus amigos que compareceu.

Eu olhei ao redor só para saber se ela estava certa. Mais à frente Eddie e Dallas conversavam e foi nessa hora que percebi que nem mesmo Madison estava lá.

_ Olha Dianna.- segurei suas mãos para lhe passar segurança.- Eu sempre vou estar aqui, não importa o que aconteça. Vocês são a minha família e eu jamais os abandonaria. Além disso, Demi é a pessoa mais importante da minha vida, eu não aguentaria ficar em casa enquanto ela está aqui sofrendo... Eu quero estar aqui quando ela acordar, mostrar para ela que não a abandonei...

Ela lançou para mim um sorriso carinhoso e eu não pude não retribuir.

_ Sabe, quando eu te vi naquela fila da audiência do Barney e você e Demi começaram a conversar, eu não imaginei que estaríamos aqui agora, que você ainda fosse estar em nossas vidas.

Antes que eu pudesse responder algo, o médico reapareceu e levou Dianna com ele para a UTI.

–x-

Eu fui a última a subir para ver Demi e antes de entrar eu não podia estar mais nervosa. O lugar era claro e frio e isso me deu uma incômoda sensação de desesperança.

Quando finalmente entrei no quarto, não pude evitar que mais lágrimas caíssem, ver ela naquela situação fora quase tão difícil quanto ficar sem informações.

Demi tinha muitos aparelhos ligados a ela, inclusive um tubo que entrava por sua garganta. Cheguei mais perto e pude ver os cortes que o médico falara, eles estavam em seu rosto, em seus braços. Na cabeça havia também uma faixa branca que provavelmente ocultava o corte da cirurgia. Sua pele branca, estava quase translúcida e ao tocá-la, percebi que estava tão fria quanto aquele lugar.

_ Oh, Dems.

Eu apertei sua mão mas não houve resposta alguma, ela continuou parada em seu sono.

_ Por que você fez isso Demi? Você não é assim...- toquei seu pulso aonde ficava nossa pulseira, não havia nada ali.- Eu só queria que você melhorasse logo e que voltasse para nós. -suspirei me perguntando se por acaso ela poderia me ouvir. - Não é legal ficar sem você, não tem a mesma graça... Desculpe ter estado em turnê quando aconteceu... Mas sabe, estarei aqui daqui pra frente, eu vou estar enquanto você precisar, como eu te prometi em todos esses anos de amizade.

Vê-la daquele jeito me deixava triste, porque eu desejava a Demi sorridente e brincalhona ao qual eu estava acostumada.

Ainda segurando a mão dela e sem perceber realmente o que eu fazia, encostei a cabeça na maca e algum tempo depois, adormeci.