Piloto De Fuga escrita por Blue Butterfly


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas:)
Bem vindas novas leitoras e um bj especial para aquelas que desde o inicio tem acompanhado a história.
Boa leitura.



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-Eu sou assim, linda, fabulosa, atraente, desejada – Alice desafinou se requebrando no banco do passageiro.

Seth tamborilava na bolsa preta, dando ritmo a música da menina, ao lado dele Edward sorria,as vezes rindo dos inusitados tons que a voz de Alice assumia. Eu dirigia, muito satisfeita com o barulho baixo do motor do meu carro.

-E quando quero, eu mando e você não fala nada – Alice continuava com toda a animação do mundo.

Eu entrei no grande estacionamento e diminui a velocidade, até parar numa vaga livre.

-Chegamos – eu anunciei.

-Você fica aqui – Alice disse – Nós nos separamos e compramos comida, qualquer coisa que der errado você tem que estar pronta para tirar a gente daqui, Bella.

-Piloto de fuga – eu disse com orgulho.

-Uma super patricinha – Alice concordou sorrindo e saindo do meu lado.

Seth e Edward a seguiram, eu tranquei as portas e liguei o som, uma música suave quase no fim estava tocando. Eu pensei em mudar de estação quando a música terminou e uma música mais ritmada, mais animada começou, me fazendo balançar enquanto o som enchia o carro.

"Você pode me ver

Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Pra te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar

Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar

No fim eu já cantava, toda agitada e animada, o vidro escuro me protegia dos olhares curiosos, eu nunca me sentira tão livre, tão pronta para fazer o que eu quisesse, nunca me sentira menos… dama.

Ri com aquilo, imaginando a cara de Sue Black se me visse dançando uma música daquelas dentro de um carro no estacionamento de um supermercado. Ri ainda mais, meus olhos se enchendo de lágrimas, as primeiras lágrimas de alegria que eu derramava na vida.

Foram mais sete músicas e algumas propagandas até que eles voltaram, os carrinhos cheios de mantimento não perecível. Alice chamou a atenção dos rapazes ao passar, rebolando com sinuosidade sem se quer dar conta disso, Edward estava impecável nas roupas do meu pai, parecendo um da alta sociedade, enquanto Seth, vestido como happer, tentava ao máximo passar desapercebido, uma vã esperança. Com um clique eu destravei as portas, inclusive o porta-malas, ficara decidido que eu não sairia do carro a não ser que fosse necessário. Primeiro porque todos os documentos estavam no meu nome, segundo porque, se eu aparecesse em qualquer lugar com o rosto naquele estado, as suspeitas surgiriam. Não era muito comum ver pessoas com o rosto desfigurado nas ruas da região. Eles entraram e eu acelerei, desta vez foi Seth que sentou ao meu lado, Alice indo para o banco de trás.

-Para onde? – eu perguntei enquanto saía do estacionamento.

-Vá ao lado sul, nós vamos ter que sair da cidade – Seth informou apontando para a rua certa.

Eu concordei, nós passamos por várias ruas, a música do rádio deixou o silêncio entre nós agradável, o tempo passando rapidamente assim como as rodas no chão de cimento.

-Rodovia? – eu perguntei quando a cidade dizia adeus para nós.

-Sim, depois pegue a 109 – Seth disse.

-Está perto? – perguntei olhando ao redor.

-Uns cinqüenta quilômetros para frente – Seth contou.

Acelerei, meu pé afundando enquanto um sorriso surgia no meu rosto.

-Já passam das três – Alice disse depois de algum tempo.

-Estamos quase lá – Seth falou o rosto sombrio.

-Algo errado? – eu perguntei baixinho para que só ele ouvisse.

-Não é como seu bairro – ele me disse – Não vai ter mansões ou jardins.

-Não importa – eu disse – É sua casa, isso é o que importa.

-Não é o que você tem, mas sim o que você é – ele repetiu o que eu dissera antes para eles enquanto descrevia Jacob.

-Isso mesmo.

No bolso da minha jaqueta, um envelope pesou um pouco mais.

Nós paramos num bairro pobre, quase um cortiço, Seth saiu do carro e correu para uma das casas antigas. Demorou mais do que no supermercado, mas ele voltou, uma pasta preta de couro na mão, o computador provavelmente guardado nela, e para nossa satisfação, ele vinha vestindo com roupas certas para seu tamanho, uma pequena bolsa velha nas costas parecendo cheia, talvez com mais roupas.

Ele entrou e eu acelerei para longe dali, alguns rapazes já olhavam com desconfiança para meu carro e eu não gostei nada daquilo.

-Agora sim você está apresentável – Alice disse quebrando o silêncio de meus pensamentos de desconfiança.

-Tive que dizer adeus ao happer – Seth brincou, uma sacolinha de supermercado com as roupas do meu pai na sua mão.

-Onde tem um posto de gasolina por aqui? – eu perguntei olhando para o painel colorido do carro.

Seth deu as instruções. O posto de gasolina era um lugar calmo àquela hora, só havia mais dois carros ali, um já sendo atendido enquanto, no outro, o passageiro parecia cantar uma das atendentes vestidas de amarelo e roxo. A loja de conveniência estava meio vazia, havia dois garotos mal vestidos olhando com carinho para a parte de doces enquanto a moça do balcão os mirava com desconfiança.

-Eu preciso sair e esticar as pernas – Alice contou quando eu parei na frente de uma das bombas.

-Tudo bem, vocês podem ir na loja de conveniência e comprar alguma coisa – eu disse – Aproveita e compra um chocolate pra mim Alice – pedi entregando o dinheiro para ela.

-Algum sabor favorito? – ela indagou já abrindo a porta.

-Chocolate com nozes ou com recheio de morango. Pode comprar umas cinco barras, e também não se esqueça de comprar água.

-Tudo bem.

Eu os vi sair, Edward olhando discretamente ao redor. Nossa sorte é que não tínhamos encontrado com nenhuma viatura ou veículo do Partido. Eu não sei o que teria acontecido se eles vissem Alice, Seth ou até mesmo Edward.

O atendente do posto bateu no vidro escuro, uma careta surgindo na minha face quando eu vi seus dedos sujos de óleo e graxa tocando no vidro. Abaixei o vidro minimamente, pedindo que ele enchesse o tanque completamente, olhando distraída para os números que corriam, indicando o volume de gasolina que entrava. Estava nisso quando o farol de um carro que saía, o primeiro carro, já que o moço que dirigia o segundo parecia estar tendo sorte com a atendente; refletiu numa caixa com cores familiares. Sem me importar em esconder meu rosto destroçado eu saí do carro com pressa, correndo na direção da caixa colorida. O atendente pareceu surpreso com minha atitude, mas como eu não corri com o carro, ele não disse nada e continuou fazendo seu trabalho. Com cuidado eu peguei o envelope do bolso, certificando-me que o selo e o endereço estavam no lugar e escrito corretamente. Como num gesto de despedida, eu beijei de leve um dos lados do envelope, colocando-o na boca aberta da caixa de correio.

Parei ali, atordoada com meus sentimentos confusos e tristes.

-Para quem é isso? – Edward perguntou sombriamente, me fazendo dar um pulo.

-Você me assustou – eu reclamei pondo a mão no meu coração, minhas batidas estavam frenéticas.

-Para quem era aquela carta? – ele perguntou de novo, irritado.

-A carta? – eu perguntei me fazendo de idiota. Precisava de tempo para bolar uma resposta brilhante que não o deixasse furioso de mais.

-A carta que você acabou de colocar na caixa de correio, para quem era ela Bella?

Sem ter muitas alternativas, já que eu prometera nunca mais mentir para ele, revelei:

-Era para o Jacob.

-O que? – a voz dele se elevou, fazendo com que algumas pessoas olhassem para nós, preocupadas.

-Se controla – eu pedi tentando manter a expressão calma para nossos telespectadores.

-Então não faça besteira – ele revidou, a voz mais baixa mas nem um pouco menos furiosa – Exatamente o que você escreveu naquela carta?

-Eu contei a verdade, disse para ele o que está acontecendo e que lado eu tomei…

-Você não fez isso… – ele arquejou, as mãos tremendo.

-Eu não falei nada sobre os outros, ou sobre você – expliquei tentando manter a situação sob controle – Não há absolutamente nada nessa carta que comprometa vocês, ou que possa localizá-los…

-Como posso ter certeza disso? – ele me interrompeu ainda trêmulo.

-Vai ter que confiar em mim – eu disse com frieza.

Ficamos nos olhando, para meu alivio ele acabou se controlando, os tremores diminuindo e sua face ficando vazia. Não que eu gostasse quando ele assumia aquela expressão vazia e fria, mas era melhor isso do que o ódio estampado.

-Tudo bem, confio em você – ele falou por fim, um leve tom de derrota na sua voz – Vem aqui garota.

Ele abriu os braços e eu fui até ele, deixando que aquele corpo quente se fechasse sobre o meu enquanto ele bagunçava meu cabelo.

-Eu não vou trair você de novo – eu disse contra seu ombro.

-Eu sei, me desculpe por ter ficado bravo com você.

Eu balancei a cabeça, me afastando de seu corpo quente. Apesar de amar tê-lo assim tão perto de mim, Alice e Seth já nos esperavam, o atendente olhando na minha direção com impaciência. Edward tomou minha mão, sem esperar meu consentimento, e juntos nós voltamos para a Ferrari. Paguei o atendente, dando uma gorjeta considerável a ele, as pessoas sempre ficavam mais dispostas a esquecer sua passagem pelos lugares quando você lhes dava uma boa gorjeta. Ele sorriu para mim, contando as notas com olhos brilhantes.

-Boa viagem madame – ele desejou.

-Estamos indo para… – e eu inventei um nome qualquer.

-É um belo lugar – ele concordou entendendo meu recado sutil – Boa viagem novamente.

-Obrigada – e com um sorriso de triunfo eu ergui o vidro e acelerei.

-Isso é suborno e corrupção – Alice taxou no banco de trás, a voz como se me acusasse de um crime muito grave.

-Pelo contrário, isso é sonegação de informação correta e bondade para com o próximo. Eu só confundi o nome do local e ajudei o pobre com um pouco de dinheiro – me defendi com inocência.

-E tudo isso para manter os dois lados – Seth comentou do meu lado – Hei, comprei um CD na loja, quer ouvir? – ele perguntou olhando para mim.

-Fique a vontade, mi carro es su carro – brinquei apertando o delicado botão para que a tampa abrisse para receber o CD.

Nós esperamos em expectativa, até que uma música animada e barulhenta iniciou. Na verdade era uma música difícil de se acostumar, cheia de altos e baixos, solos de guitarra e outros instrumentos irritantes. O cantor tinha uma voz terrível, meio rouca que desafinava quase a música toda.

-Que lixo é esse? – Alice perguntou com desprezo, já colocando a mão entre nós para tirar o CD.

-Esse é o lixo que vai nos manter acordado até o fim da nossa viagem – Seth explicou segurando a mão de Alice – Ou você acha que nós vamos conseguir nos manter acordados enchendo a Bella de chocolate, você de batatinha e eu e o Edward de Coca-cola?

Alice, pela primeira vez que eu podia ver, ficou sem resposta, voltou a mão para seu corpo e sorriu um pedido de desculpas para ele.

-Boa idéia Seth, isso, com certeza, vai nos manter bem acordados – eu elogiei franzindo a testa com um grito horrendo do cantor – E agora Alice, para onde?

Ela disse o endereço e, com a ajuda de um mapa, Seth foi indicando o melhor caminho para mim.

-Não tem GPS nesse carro? – Alice perguntou olhando significativamente para o aparelho em cima do painel.

-Ter tem, mas eu o desativei. É possível localizar um veículo pelo seu GPS, e como esse carro não devia estar em movimento, é melhor consultar o bom e velho mapa – expliquei com simplicidade.

Essa foi a parte mais difícil da viagem, se não fosse pelo excesso de chocolate e pelo CD que Seth comprara, que, aliás, se mostrara incrível para uma viagem longa como aquela, eu teria caído no sono. Meu corpo, que rapidamente se acostumara com o conforto da minha casa, reclamava pelo tempo exagerado que passava sentado, mesmo o conforto do banco era ruim, minhas pernas ardiam por falta de movimento e meus olhos teimavam em fechar.

Os três se revezavam para conversar comigo e me manter acordada, dormindo em seguida quando sua função terminava. Nenhum de nós tinha coragem de mudar, de ser o motorista, enquanto eu dirigisse aquele carro, qualquer batida policial não traria problemas, uma situação muito diferente se um deles dirigisse.

Quando o sol raiou, o chocolate já tinha acabado e eu sabia de cor todas as músicas do CD.

-Meu pai, você sobreviveu à madrugada – Alice comentou bocejando enquanto ela acordava.

-Ahn, o quê? – Seth disse acordando também.

-Fiquem quietos – Edward pediu ainda de olhos fechados, a voz embolada e quase irreconhecível.

-Nós dormimos e deixamos você sozinha? – Alice perguntou aterrorizada.

O tom mais alto da voz dela acordou os garotos, no início eles pareceram confusos, depois me olharam com um misto de respeito e surpresa.

-Desculpe – Seth foi o primeiro a dizer – Devíamos fazer companhia para você e não ficar dormindo.

-Foi mal Bella – Alice se desculpou com sinceridade.

-Está tudo bem – eu disse antes que Edward também se desculpasse – Eu ia acordar um de vocês, mas daí eu olhei e vi vocês três dormindo tão profundamente, como anjinhos em cima de nuvens, que não tive coragem. Coloquei o CD para repetir e terminei com o chocolate e com metade da água.

-Onde estamos agora? – Seth perguntou olhando para o mapa, sempre muito prático.

-Passamos por aqui há uns dez quilômetros atrás – eu apontei para o local indicado no mapa, agora estamos bem perto, chegaremos lá antes do meio dia, com uma parada de quinze minutos aqui – e indiquei o lugar.

 -Que bom que vamos parar, eu preciso ligar para o Dino e confirmar que vamos aparecer mesmo – Alice contou se espreguiçando e bocejando.

Finalmente trocamos o CD, não precisaríamos dele por enquanto, eu coloquei numa das estações políticas do Partido. Os três fizeram cara feia e eu pensei que eles iam reclamar, mas eu aumentei o som e fitei a estrada, deixando bem claro que não mudaria de rádio. As notícias de manhã eram sempre as mais interessantes, no resto do dia elas só seriam repetidas interminavelmente, até que os ouvintes decorassem cada uma delas. Eu não prestei muita atenção no começo, era só os projetos do governo e prestações de conta sobre o dinheiro público. Foi quando chegou a parte policial que meu interesse despertou, assim como o deles também.

-“E agora, diretamente do Palácio do Governo, um pronunciamento do Excelentíssimo senhor presidente Aro Volturi” – anunciou o locutor pomposamente.

Volturi falou sobre a importância de nos mantermos unidos nesses tempos difíceis, em que a onda do anarquismo descia sobre nossas famílias dizimando nossos entes queridos e nossos sonhos.

-“Um país livre, com um povo livre do medo, livre da opressão, um povo feliz, um país melhor para este povo melhor, esse é o meu sonho. E abrirei mão de todos os meios para que isso seja real; darei, se preciso, minha vida para que vocês possam ter as suas. Faço tudo isso por vocês, meus iguais, gente como eu, com sentimentos, com sangue, com carne e com coração. Esses anarquistas querem sujar nossos sonhos com suas idéias deturpadas, com sua guerra contra a paz, mas não temam, nosso Governo está lançando as bases necessárias para protegê-lo contra essa terrível ameaça. Houve uma época obscura na nossa história, onde o medo e a pobreza prevEdwardiam sobre nossos sonhos, agora é mais do que a hora de darmos as costas a essa fase obscura e iniciarmos uma fase de luz absoluta e gloriosa. Pois é sob o sol da glória, da dignidade, da fraternidade e da igualdade que está baseado nosso País.”

-Que canalha! – Alice esbravejou com raiva – Um mundo com igualdade, eu vou mostrar para ele onde é que está a igualdade…

-Não se exalte Alice – eu disse com calma – Não coloquei nessa rádio para que discutíssemos política. Eu sintonizei para que vocês vejam a maior arma do governo: a propaganda e a mídia.

Ela se acalmou com o que eu disse e eles ouviram com mais atenção o que era transmitido. Eu me desliguei novamente, já tinha ouvido tantas e tantas vezes aqueles discursos que os sabia de cor.


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Notas finais do capítulo

E aí? Oque acharam?
Comentem e me deixem feliz :)
pra quem quer um pouco de romance, o próximo capitulo promete ser bem interessante. Bjinhus



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