– Alice era uma das três Discordians, ou como preferíamos falar no Olimpio, as filhas da Discórdia. – Zeus falou, e um tipo de flashback passou pela minha mente. – Um grupo formado pelas três mulheres mais belas, sábias e guerreiras da antiga Grécia, alguns homens as idolatravam, outros as temiam e as mulheres as invejavam. – Ele contava com um brilho no olhar, o que me causou um calafrio. – Mas elas nunca ligaram para homem algum, eram criadas por Éris com o potencial da discórdia! Destruíram reinos, famílias, casais... E até Deuses. – Zeus falou com um olhar vago.

– Mas Deuses não podem ser destruídos! – Questionei.

– Não literalmente! – Explicou e sorriu sem humor. – Elas nos seduziram e nos colocaram uns contra os outros! Foi uma época terrível no Olimpio, o caos reinou... E nem Apolo, que era completamente apaixonado por Alice, teve chances. – Zeus riu em deboche.

– Nossa. – Murmurei me lembrando que Apolo havia dado em cima de mim. – Mas... O que aconteceu? – Gaguejei.

– Ele não aguentou o fora, e resolveu se vingar de todas, dando-lhes a pior coisa que elas poderiam receber. – Zeus falou olhando para mim. – Amor.

– Como assim?

– Bem, as Discordians tinham um trato com Éris! Se a Deusa lhe desse o poder, a sabedoria, a beleza e os ensinamentos de luta, em troca elas lhe ofereceram os seus corações.  – Ele explicou. – Mas Éris nunca contou com o poder de Afrodite.

– Afrodite deu um coração pra elas? – Perguntei irônica.

– Pior, deu a elas alguém para ensinar o que é o amor! – Respondeu misterioso. – Bom, eu tenho que ir...  – Zeus falou se levantando da areia.

– Mas você não terminou de me falar sobre a Alice! – Reclamei me levantando junto com ele.

– Não posso e nem preciso! – Zeus piscou e depois desapareceu numa nuvem cinza.

– Valeu o vácuo! – Gritei pro nada.

Decidi voltar para casa Grande, fui caminhando devagar à beira do mar. Senti a minha barriga roncar, olhei para o meu relógio que marcava meio dia.

– Droga, eu não tomei café da manhã e se eu não correr vou perder o almoço também! – Falei começando a correr.

Cheguei ao pavilhão o mais rápido possível, e por pouco não tropecei e quase dei de cara com a porta do pavilhão. Suspirei, e entrei (pela primeira vez) com dignidade.

Fui até a fila de campistas, para poder pegar o meu almoço e jogar metade da MINHA refeição para Héstia!

– Esfomeada. – Murmurei enquanto tacava a comida no fogo, me virei para as mesas, me dando conta que não conhecia ninguém, os campistas me encaravam (como se eu fosse uma novata pobre numa escola de ricos).

Até que notei Nico sentado numa mesa afastada e decidi me sentar com ele.

Nossos pais eram casados + minha mãe não tinha mesa = Filha de Perséfone pode se sentar com filho do padrasto do mau u-u.

– Oi. – Foi à única coisa que saiu da minha boca quando cheguei perto da mesa.

– Oi. – Ele respondeu.

– Posso me sentar com você? – Perguntei timidamente, mas o que estava acontecendo comigo?

Nico deu de ombros e eu me sentei-me à mesa, comemos em silêncio, um silêncio tenso e desagradável.

Bem, se eu não estivesse com tanta fome talvez eu até tentasse puxar assunto.

– Nossa ta com fome em? – Nico disse rindo.

– Experimenta não jantar, acordar no meio da noite, receber uma bronca de um pocotó, ir para um chalé de um desconhecido, no outro dia não tomar café, discutir com duas loucas sobre morrer ou não, encontrar 3 deuses malucos e descobrir tudo sobre uma guerreira lendária! – Falei atacando a minha lasanha.

– É a vida de semideus minha cara! – Ele falou com um sotaque fajuto. – Ah e não esqueça a parte de beijar os desconhecidos!

– Não me lembre! – Reclamei fechando os olhos. – Já basta descobrir que minha antepassada provavelmente foi uma puta desgraçada! – Pensei alto.

– Como assim? – Nico perguntou levantando a sobrancelha.

– Ops! Fiz cagada! – Falei baixinho. – Nada Niquinho lindo do meu coração! – Sorri.

– Ta, mas saiba que eu não acreditei em nada do que você disse! – Ele falou. – Menos a parte de eu ser lindo!

– Metido! – Disse.

– Gorda. – Nico falou e eu fiz uma cara de indignada, o fazendo rir.

– Obeso! – Respondi.

– Gorda.

– Obeso.

– Gorda.

– Obeso.

– Gorda.

– Obeso.

– Gostosa! – Ele gritou. – Quer dizer, gorda!

Senti a minha pele arder, acabei notando que durante a nossa “discussão”, nós aviamos nos aproximado e os nossos rostos estavam a centímetros de distancia.

De repente ouvi alguém coçar a garganta, olhei para trás e dei de cara com o pocotó... Quer dizer Quíron.

– Eu iria dizer para a senhorita Della Fiore ficar no chalé de Hades, mas acho que vou repensar a minha decisão. – Quíron disse com um olhar severo.

Eu engoli a seco, droga! Meu rosto estava fervendo!

– Quíron... eu.. eu... – Tentei falar, mas POR ZEUS, cadê a minha voz?

– Relaxa Quíron! – Falou Nico me abraçando. – A Ana é a minha irmãzinha. – Ele falou na maior cara de pau, e me mandou uma piscadela.

QUE TIPO DE IRMÃO BEIJA A IRMÃ NA BOCA? SEM CONTAR A MÃO BOBA EM!

– Irmãos hein? – Quíron perguntou levantando a sobrancelha. – Sei... Incesto é pecado sabiam?

Antes que o boco do meu lado falasse mais alguma besteira, coloquei a minha mão na boca dele.

– Ele ta só brincando Quíron. – Falei (MUITO) rápido. Provavelmente mais vermelha que o cabelo da Renata.

– Aham, claro! – Quíron respondeu. – Bem, senhorita Fiore, você terá que ficar no chalé de Hades até que seu chalé seja completamente construído! – Murmurou. Senti Nico sorrir e gritar um “UHU” por baixo da minha mão. – MAS não quero gracinhas! Principalmente você, Di Ângelo!

– SEMPRE EU! Porque essa cisma comigo em? – Gritou Nico.

– Eu não quero saber! Só mantenha suas garras longe de Fiore! Ordens da mãe e do avô dela! – Quíron falou e saiu.

[...]

– Sabe o que eu mais odeio? – Nico me perguntou e eu neguei com a cabeça. – Que eu não posso te tocar!

Estávamos no chalé de Hades, eu arrumando as minhas coisas e Nico... Me “ajudando”.

– Você é um idiota mesmo! – Falei rindo.

Senti ele me abraçar por trás.

– Seu idiota. – Ele sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar.

– Sabe... Quíron disse que você não podia colocar suas garras em mim... – Ele assentiu. – Mas não falou nada sobre eu colocar as minhas em você! – Disse me virando e olhando naqueles olhos pretos.

[...]