Not Insane escrita por AnneLice


Capítulo 6
Capítulo 6




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Mais um dia. Minha vida agora estava entediante. Por alguma razão, as visões estavam ficando mais fracas, por isso eu estava descansando o máximo que podia. Você se surpreenderia com a quantidade de sono que uma pessoa podia ter em um só dia.Mas agora eu já estava funcionando, viva de novo. E queria mais ação.

–Jack? -Eu fui até a porta de seus aposentos, sendo vigiada pelos outros enfermeiros. O encontrei dormindo. O acordei, abrindo as cortinas.

–Mas o que? Fecha isso!Por um momento eu tive quase certeza de ver um brilho espectral em sua pele. Mas antes que eu pudesse confirmar, ele saltou da cama e fechou a cortina.

–Agora estamos nos falando? -ele falou meio zangado.

–Sim. É realmente enlouquecedor ficar sem conversar com ninguém. Já cansei de contar a quantidade de rachaduras no teto e manchas na parede. Estou entediada, então você vai ser meu amigo.

–Simples assim? Você não está brava por eu não ter acreditado na história sobre seus pais? -ele estava desconfiado agora. Eu tive que mentir.

–Não, esse lugar prega ilusões em meus olhos. Foi só um pesadelo. -Não foi só um pesadelo, mas entre omitir uma verdade e usar uma camisa de força, optei pelo mais inteligente. Ele pareceu perceber, mas não disse nada.

–Então doutor, o que faremos hoje?

–Mary, são oito horas da manhã. Meu horário é a partir das onze. Preciso dormir.

–Você parece bem acordado pra mim. -Na verdade ele parecia algum tipo de deus de pijamas. Preferi não pensar mais sobre isso, me fazia corar. -Você vem me esnobando por mais de uma semana. E eu acabei de sair de uma crise existencial profunda, com licença. Quer dizer, estou saindo. Ainda não aguento minha vida. Por isso você precisa me ajudar. -Ativei a cara de cachorrinho com fome, com esperança que funcionasse.

–Tudo bem. Eu te levo para um passeio, mas só depois das cinco.

–Mas às cinco é muito tarde. Não teremos mais a luz do sol, estará escurecendo. Quero ir agora.

–Às cinco Alice. Isso não está em discussão. Me espere em seu quarto a essa hora. Agora saia.

–Tá bom então. Vou conseguir alguma roupa com a paciente do quarto 101.Até mais.

Saí e fechei a porta. Missão cumprida.

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Ao meio dia, almocei. Como previsto, nada de sopa essa semana. Pela tarde, fiquei repassando minha vida inteira pela memória. Desde que eu era uma garotinha, com quatro anos, eu já comecei com as visões. Me lembro da primeira vez. Eu vi meu avô morrendo com um tiro no peito. Um mês depois aconteceu. Minha mãe não conseguia olhar para mim de tanto desgosto. Ela estava devastada e precisava de alguém para culpar. Esse alguém foi a pequena garotinha dela.

A garotinha foi crescendo, e ganhou o apelido de "bruxa". As crianças são cruéis, mas nada se compara ao desprezo que eu sempre recebi de meus pais. Quando eu completei treze anos, eu fui morar no porão. Lá eu não seria vista nem ouvida, as pessoas poderiam esquecer da minha existência, e assim mais ninguém seria "amaldiçoado". Eu via as pessoas morrerem, cada uma delas com muita dor e sofrimento, e esse sofrimento me atingia também, criando buracos em meu coração. E eu não podia fazer nada, contar a ninguém.

Então eu me tornei uma adolescente, mais problemática do que nunca. Torturando meus pais, sendo a desgraça da família. Até que eu completei dezoito anos, e eles me trouxeram para cá.

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Às cinco ele veio me buscar para o passeio. Ele estava vestido de enfermeiro, então deduzi que não iríamos para a cidade. Eu tinha colocado um vestidinho lilás, que percebi que seria desnecessário.

–Onde vamos?

–Dar uma volta no bosque, o que você acha?

Na verdade essa ideia me arrepiou, pois me lembrou do meu pesadelo real. Mas eu tinha que ser forte, superar isso. Não demonstrar medo.

–Vamos.

Começamos a andar. O edifício velho foi se perdendo atrás de nós. Jack me guiou para uma parte do bosque que eu não conhecia ainda. Caminhamos por vários minutos, vagueando sem realmente um destino em mente. Eu estava perdida, mas em uma parte não sombria e assustadora da floresta, sem névoas e árvores se fechando sobre minha cabeça. Apenas um lugar pacífico.

–Já passeamos o bastante, não acha Jack? -eu estava cansada. Nunca fui uma atleta, e sempre gostava de coisas que não exigiam esforço físico.

–Sim, vamos retornar.

Começamos a andar, até que eu caí. Suas mãos geladas me ajudaram a levantar, e isso se transformou em um momento surreal e imaterial, como se só tivessemos nós dois no universo, e nada mais importasse. Pela primeira vez eu o vi, seus olhos castanho-avermelhados, sua pele de mármore, seu cabelo comprido e negro tocando sua clavícula. Como ele era lindo. Mais que lindo, perfeito. E ele também me via, pois havia algo em seu olhar que eu não reconhecia muito bem, mas se parecia com desejo. Nossas mãos estavam se tocando, mas isso não era o suficiente. Precisávamos de mais. E então ele se aproximou e me beijou. Meu coração parecia querer sair do meu peito de tão acelerado. Foi um beijo lento e demorado, uma sensação totalmente nova e maravilhosa.

E então teve que acabar. Eu estava sem ar. E agora que eu estava conseguindo pensar, que essa conexão rinha sido interrompida, eu consegui ficar envergonhada. Meu rosto estava queimando. Então eu tentei manter uma distância segura. Ele devia estar pensando que eu era uma atirada, uma qualquer.

Andei alguns metros para o lado. Até que notei algo estranho.Sangue na árvore. Olhando para cima, eu vi. Um corpo, manchado de vermelho. Um corpo pequeno, de uma criança. Emily. Minha irmãzinha. E olhando mais acima, dois corpos enroscados na árvore. Meus pais.

Era tudo real...


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