Not Insane escrita por AnneLice


Capítulo 16
Capítulo 16




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Blurring and stirring the truth and the lies

So I don't know what's real and what's not

Always confusing the thoughts in my head

So I can't trust myself anymore

I'm dying again

Obscurecendo e confundindo a verdade e as mentiras

Assim, eu não sei o que é real e o que não é

Sempre confundindo os pensamentos na minha cabeça

Desse modo, não posso confiar em mim mesma

Eu estou morrendo novamente

Going Under - Evanescence

Alice

E enfim, o dia de minha morte. Eu sabia isto tão claramente como eu sabia que deste momento em diante, eu nunca mais seria a mesma. E eu estava com medo, mas eu me sentia pronta. A morte sempre estivera lá, me aguardando, e eu sempre a enganei. Mas agora era inevitável. Eu precisava morrer. E assim aconteceu.

Jack e eu estávamos abraçados na cama. Foi a melhor coisa que aconteceu comigo e eu sabia que nunca me sentiria assim de novo. Se eu tivesse vivido até aquele momento apenas para vivenciar aquilo, eu estava mais que satisfeita por ter que morrer. Quer dizer, eu preferia minha vida como estava agora a ter uma vida normal, sem visões, sem vampiros, sendo aceita por todos, casada com um homem rico e com o amor de meus pais. Pois isto foi real, foi mágico, foi maravilhoso. Eu não conseguia explicar com palavras, era uma sensação além das deste mundo. Como se cada célula do meu corpo vivesse para isto. Como se minha vida estivesse no seu pico mais alto, no máximo. E eu sabia que depois de chegar nesse máximo, à queda seria grande.

-Jack, o que fazemos agora?

-Agora, você sobrevive. –ele me deu um beijinho na testa, e se levantou.

-Como? –perguntei.

-Do único jeito possível. Eu irei te salvar...

-Que? Mas você não será salvo?

-Não Alice, já vivi por tempo demais. Eu não mereço. Você, meu anjo, apenas você, deverá ter a vida eterna e presenciar coisas maravilhosas. Ter um novo amor. Construir uma família, talvez. Viajar pelo mundo, fazer novos amigos. E eu darei isto a você.

-Mas... E quanto a você? Eu... eu te amo, Jack. Eu não poderia viver sem você. Eu estaria destruída. –E esta foi a primeira vez que eu admiti. Eu o amava, mais do que amava a mim mesma.

-Você não se lembrará de nada, eu prometo.

-Não, você não entende. Eu não vivo sem você, Jack... – e lágrimas saíram de meus olhos.

-Mary, eu te amo, mais do que tudo. Mas eu vou ter que te deixar. Para sempre, talvez. Mas não haverá dor para você. Eu tenho um... dom, podemos chamar assim. Você se esquecerá de tudo. Sua vida começará do zero. Você estará livre de todos os fantasmas do passado. Sua vida será perfeita.

-Eu não quero uma vida sem você. –e o abracei, como alguém se agarra a sua vida quando está prestes a perdê-la. Com um sentimento de saudades, desesperança, mas muito amor e desespero.

-Eu tenho um presente para você. –Jack disse, e pegou uma caixinha dentro de uma das sacolas. Abriu-a, e dentro estava uma pulseira. De ouro, fina, delicada. –Para você se lembrar de quem era.

Na pulseira havia uma placa retangular com um pequeno escrito. Peguei, para conseguir ler.

-Alice? –perguntei, curiosa.

-Sim. Para você não esquecer seu nome.

-Mas você nunca me chama de Alice. É sempre Mary.

-Mary é o seu passado. Mary é a garota frágil e assustada que eu conheci no sanatório. A garota renegada por todos, acusada de ser louca. O nome que te chamavam na sua época sombria. Você agora é Alice.

Ele pegou meu braço e, delicadamente, prendeu a pulseira. Depois me puxou para um beijo.

-Agora, a parte decisiva do plano. Eu preciso de um pouco do seu cabelo, e de suas roupas. Eu vou atrair James pelo cheiro. Levá-lo para o outro lado do mundo. Enquanto isso, você se salva. E eu o mato. –ele parecia decidido. Nunca aceitaria me levar com ele, para morrermos juntos. Sozinhos, talvez tivéssemos uma chance. –E eu vou te transformar.

-Me transformar? Não, por favor. Não quero...

Agora, quando eu estava pronta para morrer em paz, surge esta nova possibilidade. E eu estava com medo dela.

-Mas você vai. Quando você se transformar numa vampira, James perderá seu rastro. Nunca mais conseguirá acha-la. Sabe, o cheiro dos humanos e dos vampiros são totalmente diferentes. Você seria livre.

-Mas eu pensei que você tivesse dito que iria mata-lo. –E de novo eu sinto como se estivesse tudo perdido.

-Eu irei tentar, com certeza. Eu prometo que vou tentar. Mas ele é mais forte que eu, e ele tem seus capangas vampiros. Lembra de Victoria e dos outros que estavam na casa? Eu não tenho certeza que conseguiria vencer a todos.

-Me leve com você. Eu poderia ajudar...

-Como, sendo morta? Não Alice, você fica aqui, a salvo. Esta pode ser minha última missão na Terra. Te salvar. Então, fique viva.

Discutir não adiantaria. Então eu engoli o choro, que estava por vir mais uma vez. Eu precisava ser forte.

-Tudo bem, eu aceito. Só me fale o que eu preciso fazer.

E foi assim que eu passei minhas últimas horas humanas. Nada glamuroso, para falar a verdade. Eu cortei meu cabelo pela metade, pois o cheiro dele com certeza atrairia James para a armadilha de Jack. E provei várias das roupas novas, impregnando-as com meu cheiro. Jack ficava me assistindo, e seu olhar era o de um homem prestes a morrer, carregado com todas as memórias de seus anos passados. Até que veio o momento mais temido. Jack me fez segurar suas mãos, enquanto ele me fazia esquecer. Um formigamento, uma espécie de choque, foi passando de suas mãos para as minhas, subindo, grudando no meu íntimo, de uma maneira não natural. Eu queria me soltar, me livrar disso, mas eu não conseguia soltar sua mão. Estávamos conectados. Jack estava sugando minhas memórias pouco a pouco, como alguém suga o veneno quando é mordido por uma cobra. Eu sentia as memórias escorregando de mim, e eu não conseguia pará-las.

E então uma paz me invadiu, como se eu estivesse flutuando. Um raio de luz veio em minha direção, e tudo explodiu. Mas não havia calor. Não havia mais nada. Tudo ao meu redor era um imenso vazio. Eu apenas sentia a energia, entrando em todas minhas veias, me modificando por dentro. Algo era arrancado de mim, e eu não conseguia segurar.  Eu lutava com todas minhas forças, mas fluía por entre meus dedos, se esvaindo como fumaça. Eu não sabia mais onde eu estava. Eu não sabia mais nada. O que eu era? O que estava acontecendo? Qual era o meu nome? O que era um nome? Eu não tinha nenhuma das respostas.

E então eu desmaiei.


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