“Porque a gente tem que acreditar. Tem que saber enxergar as coisas na vida. Sempre tem uma saída. Sempre. Sempre existe um novo olhar, um novo caminho, uma nova maneira.”

Clarissa Corrêa

No meio da tarde, Jack achou que estávamos seguros o suficiente para uma parada numa loja de roupas, num restaurante e depois, nosso destino foi ficando estranho a meu ver. Paramos numa estradinha de terra que acabava em uma fazenda. Jack me mandou esperar no carro enquanto ele foi lá dentro se encontrar com um amigo. Ele não me deu nenhuma informação além dessa. Eu não tinha ideia do que ele pretendia fazer. Seria esse amigo humano ou vampiro? Não saberia dizer, já que não o vi. Uma hora depois, Jack retornou, e falou:

-Tudo certo. Agora podemos prosseguir com o plano.

-Qual é o plano? - eu perguntei, na esperança de ele me dar algum detalhe.

-Espere e veras, Mary.

E assim viajamos por mais algum tempo, e fomos parar em um cais. Navios e barcos estavam atracados e pessoas estavam andando por todos os lados. Havia marinheiros, capitães e passageiros. Pessoas passando apressadas com suas malas. E eu estava confusa outra vez. Iríamos viajar?

-Jack? Me explica, por favor?

-Você vai pegar um navio e ir para bem longe.

-Como assim? Sozinha? Que eu me lembro, você deveria ficar me protegendo, para passarmos por isso juntos. O vampiro James me encontrará se eu ficar sozinha. Ele vai me farejar. Você não pode me deixar! Não pode! A culpa de eu estar aqui, sendo perseguida, é sua! - e eu estava fazendo um escândalo. As pessoas em volta estavam olhando e se perguntando o que estava acontecendo.

-Eu vou embarcar com você. Apenas não posso prosseguir neste mesmo navio. Mas eu vou te encontrar do outro lado... -Esta fala não fez muito sentido. Parecia que ele estava falando outro lado com outro sentido, como se fosse... Num outro lugar. Outra dimensão. Como se ele estivesse falando de após a morte.

-Seu navio vai aportar apenas daqui a dois dias. Até lá, temos tempo para te acomodar.

E com isso ele foi me conduzindo. Passamos pelo píer e entramos em um navio de médio porte, denominado Fuga Marítima. Não era um nome bonito, mas parecia adequado à situação.  Encontramos um quarto vazio em um dos níveis abaixo. Não saberia dizer qual, e não conseguiria encontrar este quarto de novo se eu voltasse para cima. Jack me disse que eu não voltaria.

Então, Jack me disse que passaria a noite comigo, e no dia seguinte ele iria embora, seguir com o "plano". Eu já estava cansada disso. E eu estava assustada. Tinha um pressentimento que, a partir do momento em que Jack saísse daquele quarto, eu nunca mais o veria novamente. Eu sentia que eu estava prestes a ficar sozinha no mundo. Eu estava enlouquecendo. Era muita coisa para uma humana. Ser perseguida por vampiros, abandonada em alto-mar, prestes a morrer...

Jack sabia que eu estava passando por dificuldades, e me abraçou. Eu sabia que este era um dos meus últimos dias de vida. Uma das últimas sensações. Então eu apenas segui meus instintos...

Jack

Eu sabia que eu não viveria muito tempo depois disso. Eu estava indo para o inferno, e a única coisa boa que eu já havia feito em toda minha vida era ter conhecido Alice. Ela era meu anjo, minha salvação. Uma última vista do paraíso antes da condenação eterna. Porque vampiros são seres desalmados e cruéis. Eu morreria pelas mãos de James, e Alice viveria sem saber quem era. Mas ela conseguiria sobreviver, eu não tinha dúvidas.

E eu não consegui resistir. Aquele anjo me beijando, me oferecendo seus últimos momentos humanos. Eu não era um vampiro virtuoso e respeitável. Se eu iria para o inferno, eu iria aproveitar meus últimos momentos terrenos. Então eu deixei acontecer... E foi a melhor sensação de toda minha  vida...