Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 4
Capítulo 4




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Alice

 Eu escutei o meu nome ser chamado e quase nem acreditei, depois de tudo que a minha mãe havia me falado naquela manha eu havia ficado mais calma, mas o pressentimento de que seria eu nunca me abandonou.

 Fui andando ate o palco, eu sabia que teria que subir, mas não conseguia suportar olhar para os meus pais, eu sabia que isso não iria ser fácil para eles. Procurei o meu irmão no meio da multidão, quando eu o achei ele não estava olhando para mim, mas eu podia ver o terror no seu rosto inocente.

 Não consigo explicar qual é a sensação de ser escolhida para ser jogada em uma arena, com pessoas que irão te matar. Não sei como minha mãe pode suportar esse terror duas vezes. Mas quando pensei no que ela me disse, que faria de tudo para que eu voltasse viva para casa, me senti um pouco mais calma, mas não muito.

 Subi no palco e fui para a plataforma aonde os selecionados ficavam. Ainda não tinha conseguido olhar para os meus pais. Mas eu podia sentir a atmosfera pesada que se instalou sobre a multidão. Effie foi para o globo dos garotos, colocou a mão lá dentro, mexeu um pouco e logo tirou um papel.

  August Hastor.

 Eu nunca tinha falado com ele antes, mas ele parecia ser uma pessoa legal. Tinha 17 anos, cabelos lisos, castanhos, os olhos pareciam ter todas as cores, azul, verde e castanho, tudo meio misturado.

 Ouvi uma mulher gritar “Guto!”, devia ser a mãe dele. Mas a dor naquele grito era tão evidente que fiquei com pena daquela mulher. August subiu ao palco e foi para a sua plataforma. O hino começou novamente. Depois que acabou os tributos foram convidados para o centro do palco. Onde apertamos nossas mãos. E foi isso, fim da colheita.

  Olhei para as pessoas que estavam indo para suas casas. Algumas pareciam tristes por nos, algumas choravam. Mas também algumas pareciam aliviadas, quase como se estivessem felizes de que fossemos nos e não eles. Mas na maioria havia pena. Pelo que me contaram, quando uma pessoa de 12 anos é selecionada as pessoas sentem pena, e pensem que uma criança nunca ira poder sobreviver aos carreiristas.

 Não pude mais olhar, me levaram para dentro do Edifício da justiça. Eu sabia o que iria acontecer agora. Eu teria que me despedir, talvez para sempre, das pessoas que eu amava.

 Subi no velho elevador ate uma sala pequena, que não tinha nada demais. Apenas quadros nas paredes. Mas os quadros contavam a historia da guerra, não aquela que dividiu Panem, mas da que aconteceu mais recentemente, aquela em que minha mãe participou. Uma pintura pequena mostrava um broche, com um pingente de Mockingjay, meu pai havia me contado sobre esse pássaro. Disseram que foi o símbolo da revolução. Outra pintura mostrava um homem, com olhos verdes como o mar. Devia ser Finnick Odair, pai do meu amigo Finn. Ele parecia realmente bonito, na pintura ele estava segurando um tridente, parecia ameaçador. Mas quando o pacificador entrou trazendo meu amigo Tyler, eu estava olhando uma pintura grande, que ficava no meio da parede. A pintura mostrava minha mãe e meu pai no desfile que os tributos fazem na abertura dos Games. Eles estavam incríveis, com capas e chapéus que pagavam fogo, rostos radiantes, mas o que mais me chamou atenção foram suas mãos, pareciam tão firmes, juntas, como um laço. Nada poderia separá-los.

  Tyler encostou-se ao meu ombro, um pouco receoso. Acho que ele não sabia o que pensar de tudo isso. Eu também não sabia.

 - Você sabe que eu vou tentar fazer de tudo para voltar, não sabe? – eu disse a ele.

 - Sim, espero que isso seja o bastante. Não posso perder minha melhor amiga. – disse ele, com lágrimas chegando aos seus lindos olhos azuis.

 Era estranho ver Tyler chorar. Ele era um garoto alto, musculoso, com sua pele morena e seus olhos azuis ele era absolutamente lindo. Tinha 14 anos.

 Eu nunca entendi muito bem por que ele resolveu ser meu amigo. Na escola, eu era uma pessoa quieta e não me destacava muito nas aulas. Só nas aulas de artes eu era boa. Um dia eu estava sentada em um pequeno tronco embaixo de uma arvore no recreio quando ele se aproximou.

 - Posso sentar aqui? – ele perguntou educadamente.

 Não entendi o porquê, afinal ele era o cara que todos gostavam, popular, tinha muitos amigos. Sempre se vestia bem, apesar de seu pai trabalhar nas minas ele não era uma pessoa pobre.

 - Claro. – eu disse, mas acho que saiu um pouco rude.

 Tyler sentou ao meu lado e tentou conversar comigo, mas eu não estava ajudando muito. No outro dia, aconteceu a mesma coisa, só que resolvi falar com ele. Conversamos e acabamos virando melhores amigos. Fazíamos tudo juntos. Ate agora.

 Sentei no sofá que havia na sala, ele sentou ao meu lado. Deu-lhe um abraço e disse que tudo iria ficar bem, que mesmo se eu morresse naquela arena, todo o tempo que passamos juntos nunca seria apagado dos meus pensamentos.

 - Se cuide, pequena pintora. – me disse quando um pacificador o tirou da sala.

 Pequena Pintora.

 Tyler me chamava assim desde um dia em que estávamos na minha casa e ele entrou no estúdio do meu pai. La è um lugar muito triste, pois ele pinta fatos sobre a guerra, e rostos de pessoas mortas. Mas um quadro chamou a atenção de Tyler. Um girassol que eu havia pintado a alguns anos atrás.

 - È lindo! – exclamou

 - Obrigada, eu que fiz.

- Ah, então você è uma pequena pintora não è? – disse ele rindo.

Desde aquele dia Tyler me chama assim. Eu vou sentir falta disso na Capital. Vou sentir falta dele.

 Quando Tyler sai, entra o meu irmão, já com os olhos vermelhos, acompanhado por Ian.

 Theo vem correndo e me abraça, retribuo e ficamos alguns minutos abraçados. E eu não conseguia mais me segurar, comecei a chorar. Depois que eu soltei Theo eu lhe disse:

 - Você tem que ser forte, entendeu?

 - Sim, mas você vai fazer de tudo para voltar, não vai?

 Olhei para os seus olhos cinzentos, que, como os da minha mãe, eram muito difíceis de ler. Mas lá estava o pânico, o medo.

 - Sim, eu prometo. Tentarei ganhar, por você. Mas quando eu estiver fora, fique tranquilo. Brinque muito com o Ian, tente não pensar muito no que estiver acontecendo comigo. Tudo bem?

 - Vou tentar!

 O pacificador entrou e então eu abracei Theo de novo, e Ian, quem eu considerava como meu irmão também, já que nos tínhamos crescido juntos. E eles se foram. Não tinha mais ninguém para me visitar.

 Imaginei se meus pais viriam me ver, mas depois de um tempo tive certeza de que não. Eles iriam comigo, então acho que a visita seria proibida.

 Fiquei surpresa quando a porta se abriu novamente, eu não esperava mais ninguém. Mas um homem entrou. Eu não o conhecia, ele tinha cabelos castanhos curtos, olhos castanhos e pele morena. Usava um delineador dourado sobre os olhos.

 - Quem é você? – eu perguntei.

 - Sou Cinna – respondeu o homem – um antigo amigo da sua mãe.

 - Por que você esta aqui?

 - Porque eu vou ser o seu estilista na Capital, mas as pessoas não podem saber quem eu sou. Estou aqui para te explicar o plano da sua mãe, para que Games tenham fim, novamente.

 Cinna me contou o plano, mas eu fiquei confusa na maior parte, mas achei melhor não perguntar nada. Quando terminou de contar, ele apenas saiu da sala.

 Fiquei lá, sentada, sem saber o que fazer, ate que um pacificador veio me buscar para me levar para o trem que me levaria a Capital. Chegando à estação, vi que August não estava com nenhum vestígio de lagrimas no rosto, mas sua mão estava com muitas marcas de unha. Será que ele se machucava quando estava com medo de chorar?

 Fiz uma anotação mental para perguntar para ele depois, se ele não fosse uma daquelas pessoas que só de se olhar já querem te matar.

  Entramos no trem e eu fui para a janela ver as pessoas que eu amava ficar na estação me dando um triste adeus. Mas uma coisa me chamou atenção quando o tem começou a andar. Uma figura com um manto preto começou a correr atrás do tem e saltou para dentro, eu não entendi muito disso, mas deixei passar, a pessoa não devia ter conseguido subir. Depois que nos distanciamos fui para o meu quarto, e quando entrei encontrei minha mãe sentada na cama. Ela parecia triste.

 - Sinto muito por você ter que passar por isso. – me diz ela tristemente. – eu não queria que isso acontecesse.

 - Tudo bem – eu disse sentando na cama e a abraçando – eu vou sobreviver, sabe por quê? Porque eu tenho os melhores mentores possíveis.

 Minha mãe sorriu, e fiquei feliz de ter feito ela se sentir melhor, mesmo que os meus sentimentos não fossem tão otimistas.

 - Eu quero te dar uma coisa, para você lembrar-se de mim e de seu pai na arena.

 Ela tirou de bolso do seu vestido um colar com um pingente pequeno em forma de um floco de neve. Ele era perfeito.

 - Eu comprei isso quando minha irmã morreu. Como ela morreu queimada, comprei em forma de um floco de neve para que pudesse aliviar a dor das queimaduras. – disse, com o olhar preso em um passado terrível.

 - Oh, é lindo mãe. Muito obrigada. Eu vou usar sempre.

 Ela me ajudou a colocar e me virou para um espelho enorme que eu nem havia reparado que estava ali. No reflexo apareciam duas pessoas. Uma mulher, alta, forte, que foi símbolo de uma revolução. A mulher que foi conhecida como A Garota Em Chamas. Ao seu lado estava uma menina, que foi escolhida pelo azar para estar ali, mas o seu rosto estava determinado a fazer tudo o que fosse preciso para que ela saísse da situação viva.

 - Eu sou Katniss, a garota em chamas – disse minha mãe – você será a minha filha, que deveria ser igual a mim, mas pode ter certeza que você è diferente. Você è a Princesa do Gelo


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