Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/210272/chapter/3

Katniss

 Não tive nenhuma outra reação alem de pânico. Como poderiam voltar a fazer os Games? Eles foram a causa de uma guerra e diversas mortes. Não podiam fazer isso de novo.

 Enquanto eu não tive reação, Peeta ficou louco. Começou a gritar e se eu não o tivesse segurado, ele teria quebrado cada coisa que encontrasse.

 Se a guerra teve um efeito ruim em mim, em Peeta foi muito, muito pior. Ele foi capturado pela Capital e torturado com o veneno das Teleguiadas (abelhas manipuladas geneticamente pela Capital), e eles o fizeram pensar que eu era uma mutação programada para lhe matar. Ele se recuperou, mas ainda tem suas recaídas de vez em quando.

 Depois que Peeta se acalmou um pouco, nos colocamos as crianças para dormir e fomos ate a casa de Haymitch, que também deveria estar vendo aquilo. Quando chegamos não vimos ninguém na sala e a TV estava desligada, fomos procura-lo. Nada nos quartos, apenas seu filho Ian, fruto de uma noite com Effie, estava dormindo tranquilamente em seu quarto. Não havia mais ninguém na casa.

 - Para onde acha que ele foi? – perguntou Peeta para mim.

 - Não sei, mas tomara que não tenha ido longe, principalmente se ele estiver bêbado.

 Fomos andando por ai, pensando onde Haymitch poderia estar, então do nada eu comecei a pensar em Cinna e no que ele havia me dito naquela tarde. Que em breve eu iria querer falar com ele novamente e que tudo iria mudar.

 - Peeta – eu disse – Nós vamos conversar com Cinna, agora.

 - Mas por quê? Você acha que ele sabia que os Games iriam voltar?

- Eu não sei, mas tenho uma impressão de que sim. Ele pareceu saber de alguma coisa que iria mudar tudo quando eu o encontrei.

 Fomos para a floresta. Estava escuro e muito difícil de andar por la, mas acabei encontrando a abertura para a caverna. Quando entramos la, vimos Cinna e Haymitch conversando, mas a conversa parecia tensa e se não tivéssemos entrado tenho certeza que viraria uma briga.

 - Oh, olá Katniss – disse Cinna, animadamente.

 Haymitch me olhou como se fosse me matar ali mesmo, mas eu o ignorei.

 - Você sabia não é? – eu perguntei a Cinna – Sabia que os Games iam voltar.

 - Sim, eu sabia.

- E por que não me contou quando eu estava aqui antes? – gritei para ele.

 Eu não podia acreditar que Cinna sabia de tudo e não me contou nada.

 - Iria fazer diferença? – perguntou ele – Você iria fazer alguma coisa para parar isso em apenas algumas horas? Não, você ia apenas ficar se preocupando mais.

 Ele estava certo, eu não poderia fazer nada em um tempo tão pequeno, mesmo aquela semana que Johnso havia dado para prepararmos a colheita era um tempo mínimo, nada poderia ser feito.

 - Mas, Katniss – disse Haymitch – Você poderá fazer alguma coisa, poderá acabar com isso novamente. Você vai para o Capitol com os tributos escolhidos, com certeza terá a chance de fazer alguma coisa.

 Pensei nisso, era verdade, eu poderia fazer alguma coisa. Poderia tentar fazer Johnso parar com os Games, poderia tentar ameaça-lo, o fazer ver que aquilo não era certo.

 Pensei nisso quando uma duvida surgiu a minha mente.

 - Haymitch, o que você esta fazendo aqui?

 - Quando soube dos Games, eu vi falar com Cinna, perguntar como ele sabia antes de todos. E quando descobri que ele falou com você não pude deixar de perder a cabeça, não era para ele ter feito isso.

 - Então você sabia que ele estava aqui? Desde quando? Por que não me disse nada? – eu estava ficando cansada daquilo. Por que todo mundo sente a obrigação de esconder as coisas de mim?

 - Eu sempre soube que ele estava aqui, querida. E eu não te contei porque você não precisava saber. Estava bem do jeito que estava não precisava de um fantasma como ele em sua vida.

 - Cinna, você concorda com isso? – perguntei.

 - Infelizmente, eu concordo. Você não precisava saber que eu estava vivo. – diz ele secamente.

 Eu não acreditava aquilo não podia estar acontecendo, eu passei quase 30 anos achando que um dos melhores amigos que eu tinha – tirando Gale – estava morto. Agora ele me aparece assim e diz que eu estava melhor achando que ele estava morto.

 - Pode ter certeza que eu não estava melhor achando que você estava morto. Eu sempre me culpei por isso, sempre me culpei por todas as mortes.

 - Mas você não è a culpada, Snow era, e agora ele esta morto. Seu próximo problema será Johnso, mas pelo que eu sei, ele è um idiota.  - Cinna informa. – tem alguém por trás de seu governo, alguém que o está influenciando. Você tem que descobrir quem è e fazer esta pessoa parar. De um jeito ou de outro.

 - Como você sabe tudo isso?

 - Eu vou ao Capitol de vez em quando, aprendi varias coisas nesses anos e uma delas è espiar o Presidente. Sei tudo de cada pessoa que trabalha para ele. Só não imagino quem possa estar manipulando Johnso desse jeito, deve ser alguém de fora, que vive escondido. Como eu.

 - Enquanto eu vou tentar acabar com isso, o que você vai fazer? – perguntei a ele.

 - Eu vou ser o estilista do distrito 12 novamente. Vou mudar meu nome e apenas vocês três saberão quem eu sou.

 Sim, ele estava certo, ninguém saberia quem ele è, sua foto não aparece nos livros apesar de seu nome ser citado. Ele pode se esconder facilmente atrás de um nome falso. Afinal, muitas pessoas na Capital usam delineador dourado.

 Virei-me para Peeta, que não havia dito uma palavra desde que entramos na caverna.

 - Você vai me ajudar, não vai? – perguntei a ele. De repente senti que não ia suportar fazer isso sozinha.

 - Mas è claro – disse ele docemente – nunca deixaria você se arriscar sozinha novamente.

 Ele chegou mais perto e me abraçou, e, de repente senti que poderia fazer isso. Que tudo daria certo no final. Porque ele estaria comigo.

 Naquela semana, eu, Haymitch, Cinna e Peeta ficamos pensando em pessoas que poderiam estar por trás do governo de Johnso, mas não achamos ninguém. Tenho que admitir que a pessoa sabia disfarçar seus atos.

 Na noite anterior ao dia da colheita, eu não conseguia dormir, então decidi ir ate a floresta, ver se caçava alguma coisa, mas quando cheguei la descobri que não iria conseguir caçar, pois uma pessoa muito barulhenta me seguia pela floresta.

 - Peeta, o que faz aqui? – eu disse.

 - Estou preocupado com você – disse ele, me olhando serio – você parece que esta a beira de um ataque.

 Ele estava certo. Eu estava pronta para ter um ataque. Eu queria gritar o quanto tudo o que estava acontecendo era injusto, chorar por todas as mortes que aconteceram por causa dos jogos. Mas eu não podia, eu tinha que parecer forte para mim mesma e para os meus filhos.

 Mas como eu estava dentro da floresta, e eu tinha me certificado de ir para o lado contrario da caverna de Cinna, não tinha ninguém para me ver desabar, alem de Peeta. Mas acho que depois de tudo que passamos juntos ele não ligava para o quanto eu chorasse.

 - Isso tudo è tão injusto – eu disse com lagrimas nos olhos – è pedir demais ter um pouco de paz nas nossas vidas? Ter um lugar tranquilo para que os nossos filhos cresçam? Não me parece tanto.

 Encostei minha cabeça em seu peito e comecei a chorar, como não chorava a muitos anos. Ele simplesmente me abraçou.

 De certa maneira foi bom que ele não tivesse falado nada, poderia estragar o momento se ele tivesse dito algo errado.

 Chorei em seu colo ate ver o amanhecer aparecer no horizonte, foi quando soube que teria que ir para casa, pois logo Alice e Theo iriam acordar. E com certeza estariam muito nervosos, principalmente Alice, pois o seu nome estaria no globo, junto com outros para o sorteio.

 Quando chegamos em casa, as crianças ainda dormiam, então eu e Peeta fomos para a cozinha e fizemos um pequeno café da manha, mas ninguém realmente estava com fome. Quando Theo acordou, estava muito quieto, o que não era normal dele. Então pedi a Peeta que falasse com ele. Enquanto Peeta falava com Theo, fui ver Alice.

 Quando cheguei em seu quarto ela já estava acordada, mas ainda estava deitada em sua cama e parecia pensar. Entrei devagar e sentei no final da sua cama. Olhei em seus olhos e vi medo dentro deles, me lembravam de muito de Prim no dia da sua primeira colheita.

 - Vai ficar tudo bem – eu disse a ela – eles não vão te sortear, tem muitos outros nomes dentro daquele globo.

 - Mas mesmo assim, sempre tem a chance de ser eu – ela me disse – Na escola ensinaram que os filhos de antigos vencedores sempre tem mais chance de serem escolhidos do que outras pessoas.

 Ela estava certa, isso sempre acontecia nos distritos vencedores. Ou as pessoas se voluntariavam, o que era muito raro aqui no doze. O medo de morrer ali na arena era maior do que o terror de ver sua família ou algum amigo seu na mesma situação.

 Coloquei sua cabeça sobre o meu colo e comecei a massagear seus cabelos.

 - Mesmo se você for escolhida, você não ira sozinha. Eu e seu pai iremos junto. Ate o velho chato do Haymitch ira, poderemos te proteger e iremos fazer de tudo para que você ganhe. Mas não vamos precisar fazer isso. Você esta segura.

 Dei-lhe um beijo na testa e um abraço. Não queria que ela tivesse que passar por isso, mas eu iria acabar com isso. Por mim, por Peeta. Por todas as crianças de Panem, inocentes que nunca tiveram nada a ver com a guerra que aconteceu antes de elas nascerem. Mas, principalmente, por meus filhos.

 Desci e vi que Peeta e Theo não estavam mais ali, mas fiquei tranquila, a colheita era apenas de tarde e Peeta não iria deixar que nada acontecesse com nosso filho.

 Quando Alice desceu, tomamos nosso café e como não tínhamos mais nada para fazer, fomos ver as roupas que usaríamos na colheita.

 No meu guarda roupas haviam muitos vestidos velhos de Cinna havia feito quando ainda era meu estilista. Mas ele insistiu para que eu usasse aquele que eu havia visto na caverna. Concordei. Para Alice achei um vestido de um azul cor de gelo, nada muito chamativo, mas que ficava perfeito nela.

 Quando Peeta e Theo chegaram já era quase meio dia. Então mandei os dois tomarem banho e se arrumarem, já que a colheita começava a uma hora da tarde. Meio dia e meio saímos e nos dirigimos à praça, aonde aconteceria o sorteio, seguido de uma festa, mas acho que isso não importava muito para mim, já que eu teria que voltar para o Capitol de qualquer jeito, mas seria bom para as pessoas do distrito 12 ter um pouco de distração, menos para as pobres famílias dos tributos escolhidos.

 Quando chegamos lá, Alice foi para a fila das crianças de 12 anos, em quanto Theo ficou junto com Greasy Sae, para assistirem. Peeta e eu nos dirigimos para o palco. Haymitch já estava lá, o que era de se espantar porque ele quase sempre estava muito bêbado para ver as horas. Ele conversava com Effie, acho que estavam brigando por ele sempre estar bêbado demais para tomar conta de Ian. Mas não tenho muita certeza sobre isso.

 - Katniss, Peeta, muito bom ver vocês – diz Effie do seu jeito animado de sempre.

 Este ano o seu cabelo esta rosa, como na colheita em que Prim foi escolhida, mas suas roupas são de um tom vermelho berrante que ate dói os olhos de ver. Eu lembro como eu e Gale costumávamos imitar o seu sotaque engraçado.

 - Olá, Effie – diz Peeta educadamente.

 - Olá – eu disse.

 - Se animem vocês dois. Hoje è um grande, grande dia.

 Era bom ver que depois de tantos anos, ela pelo menos ainda era a mesma Effie de sempre. Meio sem noção do quanto as coisas são importantes. Mas eu sei que no fundo ela não gosta dos Games tanto quanto qualquer um de nos, e deve gostar menos agora, porque daqui a alguns anos, seu eu não conseguir fazer isso parar, Ian poderá ser escolhido para ir para a arena, e eu sei que ela não quer nada disso.

 - Onde está Ian? – ela pergunta a Haymitch – quero ver ele antes de começarmos.

 - Eu não sei – diz Haymitch, envergonhado – da ultima vez que eu vi, ele estava com Greasy Sae.

 Nesse momento chega Ian, uma criança pequena, com apenas 7 anos de idade. Cabelos loiros caem em cachinhos sobre seus olhos verdes. Ele se joga nos braços de Effie gritando “Mamãe” alegremente.

 Depois de abraçar o garoto o quanto podia, Effie o mandou descer do palco e ir ficar junto com Greasy Sae e com Theo porque a colheita iria começar.

 Quando tudo estava pronto, o prefeito começou a falar e todas as pessoas da plateia ficaram quietas. Antes de o prefeito falar o hino da Capital começou a tocar, depois o prefeito começou a contar a historia dos Games, como começaram e como foram interrompidos por alguns anos, com um breve relato sobre a guerra.

 Quando ele acabou de falar, os vencedores deveriam subir ao palco para serem reconhecidos. Subi, com Peeta ao meu lado. Eu estava decidida a não soltar a mão dele nem por um segundo que fosse. Quando eu, Peeta e Haymitch fomos apresentados como mentores era a hora da escolha dos tributos.

 - Primeiro as damas – disse Effie, como sempre, e colocou a mão dentro do globo de vidro com o nome das garotas. Demorou um tempo ate ela pegar um papel. Fez-se um pouco de suspense ate que ela abrisse o nome.

 Quando ela estava com o papel na mão, eu apertei a mão de Peeta tão forte que acho que ate o machuquei, mas eu estava com o um pressentimento tão ruim que eu precisava saber que não estava ali sozinha. Um pouco antes de Effie ler o nome no papel eu já sabia.

 O nome era Alice Mellark.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Gelo e Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.