Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Bubu' quase ninguém comentou o último capítulo :( fazer o que né...



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August

 A caverna começou a desabar, conseguimos salvar nossas coisas, mas nosso esconderijo estava acabado. Teríamos que voltar para a floresta. A tempestade estava começando a ficar ainda mais forte, mas eu esperava que os gamemakers a fizessem parar logo. Tenho certeza que de que a audiência não iria gostar de ver as pessoas morrendo de uma forma tão chata como morrendo de frio.

 Vimos o resto de a caverna desabar e então tivemos que voltar para o lado em que ficava a floresta, mas para isso teríamos que passar pela cornucópia e por Sandiri e Griffor. Eu esperava que eles estivessem melhor do que nós, e não precisassem sair para dar uma olhada ao redor.

 Alice e eu fomos andando, tentando ver por onde andávamos por entre a neblina que a tempestade criava. O vento estava muito forte, e a neve estava tão alta sobre o chão que nossos pés afundavam quase 10 centímetros sob a neve. Quando estávamos passando pela cornucópia, nos encaminhando para a única passagem que levava à floresta, avistamos Griffor e Sandiri, mas não vimos nenhuma barraca e nenhum sinal de comida por ali. Eles pareciam tão perdidos quanto nós.

 Tentamos passar despercebidos, mas quando estávamos quase na passagem que nos levaria para a floresta, uma flecha passou voando a poucos centímetros de mim, juro que pude escutar até o barulho.

 - Nós vamos lutar com eles de novo? – perguntou-me Alice. Ela parecia meio cansada de lutar com as mesmas pessoas. Eu também estava ficando farto disso.

 Olhei para trás e vi que Sandiri estava me alcançando, mas Griffor não corria para nós, ele estava simplesmente lá, parado olhando o que acontecia na sua frente sem mexer um músculo.

 A voz de Griffor foi quase inaudível, mas um sopro do vendo trouxe e som para onde eu pudesse ouvir, foi um grito repreensivo para Sandiri.

 - Sandiri, - gritou Griffor – você não pode fazer isso agora, eu sei que você quer vingança, mas está não é a hora de fazer isso, eu sei que você terá o que espera.

 Isso pareceu despertá-la de seu ataque de loucura, ela se virou e voltou para junto de seu aliado, mas não antes de me lançar um olhar sanguinário que jurava morte.

 Tentei não pensar sobre o que havia acontecido ali, e no por que Sandiri queria me matar enquanto corríamos pela floresta, tentando achar algum lugar seguro para ficarmos.

 Chegamos à clareira onde Matt havia morrido. A neve havia se acumulado no chão, limpando os vestígios de sangue que estavam ali. Alice olhou aquele lugar e seus olhos ficaram tristes de repente. Eu sabia que não podíamos ficar ali.

 - Vamos procurar um novo lugar para acamparmos – eu disse – este lugar ainda desperta muitas lembranças.

 - Sim – a voz de Alice denunciava que ela estava à beira de chorar – talvez possamos achar um lugar que os carreiristas não consigam nos encontrar, acho que eles estão tentando matar você. Temos que deixar você vivo.

 - Você sabe que nós dois não podemos ganhar isso.

 - Mas, faremos o possível, eu não quero que os fantasmas das mortes da arena fiquem me assombrando para sempre, eu quero que você ganhe.

 Não pude conter o riso, era uma ideia tão absurda eu ganhando os Games que nem consegui cogitar. Mas me contive, Alice não podia saber ate onde eu estava disposto a ir para que ela ganhasse estes Games.

 - Eu não quero ganhar, mesmo com tudo que eu tenho em casa, minha família, meus amigos... Mabel.

 Mabel. O que ela pensaria quando eu morresse para proteger Alice? Será que ela entenderia? Eu tinha que dar um jeito de deixar claro que eu a amava antes de morrer, mas neste lugar tenebroso seria difícil dar uma prova de amor a ela.

 - Bom, não importa agora – eu disse tentando manter minha mente longe do que me desconcentrasse do meu objetivo – vamos procurar um lugar para acamparmos.

 Começamos a andar pela floresta, tentando achar um lugar pelo menos um pouco seguro para conseguirmos descansar. Eu parecia ridículo andando pela floresta carregando a cesta em que Haymitch havia mandando nossa comida.

 - Por que não subimos nas árvores? Seria mais fácil ver nossos inimigos lá de cima – disse Alice.

 - Não sei se os galhos vão conseguir me sustentar, mas acho que é uma opção tão boa quanto qualquer outra.

 Subimos nos pinheiros, que nesta parte da floresta eram um pouco maiores, então conseguiram sustentar o meu peso nos galhos razoavelmente altos.

 Do alto do pinheiro eu conseguia ver uma boa parte da floresta, mas ainda havia lugares aonde a minha vista não podia alcançar. Mas o que mais me chamou atenção foi uma parte da floresta aonde as árvores mudavam, mas eu não consegui reconhecer o tipo de árvore que aparecia ali. Mais ainda, no chão a neve parecia de um vermelho berrante, quase como se muitas mortes houvessem acontecido ali, e nem a neve que insistia em cair conseguia cobrir.

 - Alice, você viu aquele ponto da floresta? Parece que muitas pessoas morreram ali.

 - Vamos lá verificar, mas rápido antes que fique muito escuro.

 Fomos ate aquele lugar, levou algumas horas para chegarmos lá, e quando chegamos o sol já estava se escondendo atrás das nuvens, não que a tempestade nos deixasse ver muito do sol, mas ela também estava diminuindo.

 Quando chegamos aquele lugar da floresta, eu vi que muitas coisas morreram ali, mas não foram humanos. Foram bestantes. Aquelas bestantes que vimos no dia em que os mosquitos atacaram, estavam mortos e vários pedaços de seus corpos estavam espalhados pelo chão, manchando a neve de sangue.

 - O que será que aconteceu por aqui? – perguntou Alice, ela parecia chocada.

 - Algo atacou as bestantes, - eu disse – e se foi forte o suficiente para que não fosse morto e ainda cortasse muitos pedaços daqueles monstros, eu não quero encontrar quem ou o que fez isso.

 - Sim, você tem razão. Vamos sair daqui antes que o que fez isso volte e acabe nos matando.

 - Só um minuto. Eu tenho que fazer uma ultima coisa.

 Vi todo aquele sangue manchando o branco puro da neve e tive uma ideia. Pegue um graveto que havia perdido por ali e comecei a escrever na neve. Eu não tinha certeza se estavam filmando a mim, mas mesmo se não estivessem eu tinha certeza de que Alice daria o meu recado a Mabel depois que eu tivesse morrido.

 Escrevi “Mabel, mesmo que o sangue manche o branco da neve, nada mudará. O meu amor por você é como está neve. Mesmo que eu acabe morrendo aqui, eu ainda amo você. E nada mudará isso nunca”.

 Pronto, a minha prova de amor estava feita. Agora meu único propósito era proteger a minha pequena aliada. O que não seria um trabalho fácil, já que Alice não tinha tanta sorte em ficar longe de problemas.

 Quando estávamos saindo do lugar aonde a neve era manchada de sangue, ouvimos um barulho sobre as árvores e acabamos recuando. Alguns minutos depois, Vistric, o tributo do distrito sete apareceu. Ele parecia muito assustado e seu rosto estava pálido e suado. Ele carregava um machado sujo de sangue em suas mãos.

 Alice pegou sua espada, e eu minha lança. Estávamos prontos para batalha, mas quando Vistric nos viu, seus olhos se ampliaram e mostraram muito pânico.

 - Não me matem – ele implorou – eu já cheguei tão longe, não quero morrer agora. Eu sei que vocês não são do mal. Não gostam de matar. Deixem-me ser seu aliado.

 Eu não conhecia muito de Vistric. No centro de treinamento ele era quieto e não se destacava em muita coisa. Mas eu sabia que as pessoas que vinham do distrito sete não eram tão confiáveis assim. Podiam se fazer de santa e depois lhe apunhalar pelas costas. Olhei para Alice, talvez ela desse um pouco de confiança para Vistric.

 - Pode se juntar a nós – disse ela.

 - Obrigada – disse ele, caindo de joelhos sobre a neve e quase chorando – vocês não sabem os horrores que eu tive que enfrentar nesta floresta, as bestantes são horríveis.

 - Você sabe o que aconteceu aqui? – perguntei, gesticulando para a neve vermelha sob nossos pés.

 - Foi horrível, as bestantes entraram em colapso, começaram a atacar umas as outras, pedaços começaram a voar pela floresta, estive fugindo por ai durante toda a tempestade.

 Eu tive um pressentimento de que ele estava mentindo, algo naquele cara não me agradava nem um pouco, mas eu não podia provar nada contra ele. A única forma de proteger Alice, que parecia totalmente confiante era manter os meus olhos bem abertos.

 - Vamos sair daqui antes que elas voltam então – eu disse.

 Começamos a entrar mais em uma parte inexplorada da floresta, Vistric parecia feliz de estar com aliados. Durante o caminho, enquanto as árvores se tornavam mais densas e a floresta mais fechada a e escura Vistric contava para Alice como havia conseguido sobreviver a tempestade e durante todo esse tempo fugindo de bestantes. Mas aquela sensação ainda me incomodava, eu sentia que aquele cara significava problemas.

 Depois de uma hora ficou escuro demais para continuarmos, então paramos e montamos acampamento. Acendi uma fogueira pequena e derreti e purifiquei um pouco de água e esquentei um pouco da comida que Haymitch havia nos mandado.

 - Nossa como o mentor de vocês é legal – disse ele animado – o meu nunca me mandou nada e nem falou comigo durante todo o tempo em que estive aqui.

 Aquela animação toda estava me irritando profundamente.

 - Não, ele não é nem um pouco legal – eu disse de mau humor – ele falou conosco apenas uma vez.

 - Calma Guto – disse Alice – vamos dormir, vai ver amanha você acorde com um humor melhor.

 - Olha quem fala – eu disse a ela – você estava de mau humor ainda ontem quando falamos com Haymitch.

 - Eu não vou nem me dar ao trabalho de discutir com você. O Haymitch me irrita quando ele está daquele jeito e você sabe disso. Vou dormir.

 Ela me deu as costas, e entrou em seu saco de dormir e não disse mais nada. Alguns minutos depois sua respiração se acalmou e eu soube que ela estava dormindo. Virei-me para Vistric, que me olhava com um olhar que parecia me julgar por discutir com Alice.

 - Você não devia brigar com ela – disse ele inocentemente – ela é sua aliada.

 - Eu não estava discutindo com ela. Alice pra mim é praticamente uma irmã. É normal acontecer isso entre irmãos. E já que você gosta tanto de ser o herói e tentar ajudar, você fica com a primeira vigia.

 Não disse mais nada e fui para o meu saco de dormir, sem ao menos esperar uma resposta. Quando estava passando por onde Alice dormia vi algo que brilhava em seu rosto. Uma lagrima perdida. Aquela discução a havia feito chorar.

 Também não me sentia bem com aquela situação, mas eu conheci Vistric há apenas uma hora e ele já havia me feito brigar com a minha aliada. Resolvi não pensar nisso e dormir, mas um pressentimento ruim não me deixava fechar os olhos. Passei umas duas horas tentando dormir quando escutei um barulho perto de mim e me virei. Vistric estava se aproximando de mim correndo com aquele machado sujo de sangue virado em minha direção. Tive tempo apenas para esticar a braço e pegar minha lança. Isso o conteve quando ele chegou ate mim e criou uma barreira. Mas ele estava forçando e eu sabia que logo iria ceder.

 - ALICE! ALICE! – gritei, mas ela não me olhava – Alice, eu estou sendo atacado, seria que você podia me ajudar?

 Nada, nem mesmo um único som vindo dela. Tive medo de que ele já a tivesse matado, enquanto eu fingia dormir. Vistric continuava forçando minha lança. Mas então ele foi jogado para trás. Olhei para cima e vi Alice pendurada em um galho.

 - Achou mesmo que eu não iria te ajudar? – perguntou-me ela ironicamente.

 - Nunca – eu respondi sorrindo.

 Vistric já estava recuperado e susto e voltou para nos atacar. Levantei e consegui jogar a lança contra ele quando ele me jogou o machado. Ambos erraram. Alice desceu da árvore e correu ate ele e conseguiu cortar sua perna profundamente. Vistric caiu de joelhos na nave, mas nem por isso desistiu de lutar. Quando Alice estava saindo de perto dele, ele agarrou o pé dela e ela caiu também.

 - Achou que ia conseguir fugir pequena? – sua voz estava à beira da loucura.

 - GUTO, me ajuda! – gritou ela.

 Vi que nas mãos de Vistric tinha uma faca que eu não havia reparando antes. Ele a puxou e começou a passar perto da garganta de Alice.

 - Tão fofa – dizia ele – é uma pena ter que matar você. Sabe, Alice, eu gosto de você, acho até que estou apaixonado. Mas você tem que morrer. Para o meu bem, para que eu consiga ganhar isso. Estes Games não podem ter dois vencedores. Eu queria matar o seu amiguinho mal humorado ali, mas você se intrometeu, então será você a primeira.

 - Você nunca ganhará isso – disse ela, cuspindo no rosto dele – GUTO! Ajude-me!

 Eu finalmente sai do meu torpor, peguei a espada de Alice, que estava jogada aos meus pés e sem fazer o menos barulho me aproximei por trás de Vistric quando ele começou a fazer um corte na garganta de Alice.

 Nem pensei no que estava fazendo, finquei a espada nas suas costas e ele saiu de cima da minha aliada. Alice se levantou e saiu correndo de perto dele, querendo por a maior distancia entre os dois. Eu podia escutar Vistric agonizando, mas nem me importei, tinha que saber se Alice estava bem.

 - Tudo bem? – perguntei, examinando a linha sangrenta em seu pescoço.

 - Sim, foi um corte pequeno, nem foi profundo.

 - Obrigada por aparecer, ou eu já estaria morto.

 - Eu digo o mesmo. – disse ela me abraçando.

 Abracei-a e senti que pelo menos uma pessoa era minha amiga naquele lugar e não ia me apunhalar pelas costar, depois de alguns segundo escutamos o canhão que anunciava que Vistric estava morto.

 - Vá dormir – eu disse a ela, agora querendo saber que ela estaria o mais segura possível – eu fico com a vigia.

 Ela nem discutiu, apenas se deixou cair dentro de seu saco, mas antes de adormecer me disse:

 - Obrigada de novo. Mesmo. Quando quiser dormir, me acorde.

 Então ela dormiu e eu fiquei ali, olhando para o corpo inanimado de Vistric. A minha sensação estava certa, ele não era uma boa pessoa. Pelo menos isso já estava acabando. Quatro pessoas ainda estavam vivas.

 Encostei-me em uma arvore e esperei para ver o que a arena reservava para mim em seguida.


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