Entre Gelo e Fogo escrita por Fernanda


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Ficou curtinho :(



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Matt

 Quantas vezes umas pessoa pode ser torturada de todas as formas possíveis e ainda continuar voltando para o mesmo pesadelo?

 Eu já não aguentava mais. Vi todas as pessoas que eu amo morrerem, vi os meus amigos e minha família serem torturados, queimados vivos. Vi-me sendo torturado, senti a agonia do meu eu no sonho quando ele foi cortado em milhões de pedacinhos, quando cortaram sua cabeça fora, quando foi furado com ferro quente em todos os lugares de seu corpo. E eu continuava voltando para aquele pesadelo. Tentei gritar, mas minha voz havia sumido, minha garganta estava totalmente seca.

 O veneno daqueles malditos mosquitos estava em meu corpo e não parecia querer sair de jeito nenhum.

 Finalmente, quando eu pensei que ficaria preso naquele ciclo vicioso para sempre, o sonho acabou. Fui jogando na inconsciência, o que foi muito bom para mim. Eu finalmente consegui dormir e pude deixar que as últimas gotas do veneno saíssem do meu corpo.

 Quando acordei, tinha praticamente esquecido quem eu era e onde eu estava, mas quando o ar gelado da arena chegou ao meu rosto, tudo voltou a minha memória. Lembrei-me daquela noite em que eu estava tentando conter os mosquitos para eles não se machucar Alice e August, mesmo eu não gostando dele.

 Cada picada que eu levava parecia que paralisava alguma parte do meu corpo, então não tenho ideia de como consegui correr ate o acampamento. Abri meus olhos, não tinha ninguém a vista, mas tudo estava arrumado.

 Sentei-me, mas todo o meu corpo doía, escutei sons de passos. Acho que Alice estava voltando, junto com August.

 - Matt, finalmente você acordou – disse Alice – como se sente?

 - As picadas ainda doem um pouco, mas estou me sentindo bem. Eu estive dormindo por quanto tempo?

 - Faz três dias desde que fomos atacados – disse August.

 - Nossa. Vocês estão bem?

 - Sim, estamos bem – disse Alice, mas quando olhei para August vi algo diferente em seus olhos, acho que era determinação, mas não pude ter certeza disso.

 - Alguém morreu?

 - Sim, Fatery nos atacou enquanto você estava dormindo. Matamos ela, mas ninguém mais morreu.

 Agora restavam 9, então eu tinha certeza de que teria que partir logo. Alice precisava ganhar estes Games.

 - Isso é bom. Pelo menos temos uma pessoa a menos para matar.

 - Pois é, mas você está com fome?

 - Não, mas estou com sede.

 A neve tinha aumentado nestes três dias, então peguei um punhado de neve e fiz uma pequena fogueira. Alice tinha feito uma pequena tigela, aonde colocamos a neve e a derretemos. Quando virou água nós a purificamos e tomamos, e comemos um pouco do animal que August tinha caçado.

 Já era noite. O hino de Panem começou a tocar, não vi nenhum rosto no céu. Alice e August pareciam esgotados, então eu me ofereci para ficar com primeira vigia da noite. Assim de deitaram em seus sacos de dormir, ambos caíram em um sono pesado.

 Fiquei ali, esperando o amanhecer, eu conseguiu escutar os sons da floresta, alguns pássaros faziam barulho levemente. Até acho que vi algum tributo pulando sobre alguma arvore, mas não queria matar ninguém, e eu não era um dos carreiristas, então não iria começar a caçar o tributo. Alguma hora ele ia morrer de qualquer jeito.

 Mas um barulho chamou a minha atenção, som de passos, ate algumas vozes ao longe. Queria sair para dar uma olhada no que era, mas não podia deixar os meus aliados ali, totalmente desprotegidos. Ouvi um canhão ao longe, senti um arrepio, mas não achei que os carreiristas estivessem por perto, acho que alguma outra coisa matou o tributo, o que de uma certa forma me deixou com mais medo já que  as bestantes que viviam nesta floresta podiam ser medonhas.

 Mas algum tempo depois o sol começou a nascer. Alice é a primeira a acordar, ela levanta e vem falar comigo.

 - Bom dia, - eu digo a ela.

 - Bom dia, você não esta com frio?

 Agora que ela perguntou eu percebi que estava congelando, mas não era importante, logo que eu começasse a me mover meu corpo já ficaria aquecido.

 - Um pouco. Dormiu bem?

 - Não muito. Não consigo dormir direito aqui, os pesadelos me atrapalham, sinto falta de casa. Fico sonhando que pessoas da minha família morrem. Principalmente minha mãe.

 - Fique tranquila, isso não ira acontecer, sua família permanecera inteira por muitos anos ainda.

 - Espero que sim.

 Nesse momento August acordou  e então fomos para dentro da floresta, para não correr risco de os carreiristas atacaram o nosso acampamento. Andamos por algumas horas sem nada acontecer, mas então ouvimos sons da floresta, e vi um relance dos cabelos de Sandiri passando por entre as arvores. Eu sabia que estávamos encrencados caso eles nos pegassem. Os carreiristas não iriam ser gentis dessa vez.

 Corremos muito floresta adentro, mas podíamos escutar os passos de nossos perseguidores. Quando tínhamos corrido alguns quilômetros eu já não aguentava mais. A neve acumulada no chão naquela parte da floresta era tanta que parecia que quando mais corríamos, mais devagar íamos.

 Agora eu podia ver os carreiristas se aproximando. Todos tinham pelo menos algumas marcas dos mosquitos, mas não pareciam tão mal quanto eu. Continuei correndo a toda velocidade, mas mesmo assim não conseguia me mover com velocidade suficiente. Alice não estava tendo tantos problemas, já que ela era pequena e leve, mas August também não estava tendo muitos progressos.

 Então, quando estávamos chegando a uma pequena clareira, ainda menor do que aquela que havíamos montado o nosso acampamento, uma flecha veio voando em minha direção e aceitou a base das minhas costas, o sangue começou a escorrer, mas continuei correndo, finalmente entrei na clareira, mas mal conseguia ficar em pé. Outra flecha passou voando, mas eu consegui desviar, e por sorte não acertou Alice no pescoço.

 Os carreiristas nos seguiram e uma luta começou. Eu tinha que me manter concentrado para me manter vivo e em pé. Mas era uma coisa muito difícil de fazer. Sandiri tinha largado o seu arco e agora estava atacando August com uma adaga. Griffor e Francis estavam atacando Alice, mas ela estava se defendendo muito bem com a sua espada, já que ela era pequena podia se esquivar muito facilmente na neve.

 Geridia foi me atacar, ela também tinha uma espada, consegui pegar a minha lança, mas ela estava muito pesada e eu mal conseguia conduzi-la, mas em um golpe de muita sorte, eu consegui acertar a lança no estomago de Geridia. Ela caiu de joelhos, mas estava tão perto de mim que conseguiu acertar a adaga em meu peito, bem onde o meu coração estava.

 August

 Isso não iria acabar bem. A corrida pela floresta já não havia sido boa, agora essa luta contra Sandiri que era a mais mortal dos carreiristas.

 Ela me atacava duramente, mas felizmente eu ainda estava com a lança que Alice tinha pegado de Griffor durante a primeira luta na cornucópia. Sempre que ela me atacava eu conseguia desviar, mesmo que por muito pouco, mas sempre tinha que dar uma olhada para o lado, ver se Alice estava bem na sua luta contra Griffor e Francis, mas aquela pequena era rápida e conseguiu subir em uma arvore aonde os carreiristas eram muito grandes para alcançá-la.

 Entao Francis se virou e veio para me atacar. Enquanto isso Sandiri tinha trocado a adaga pelo arco novamente, mirando em minha direção. Eu estava encurralado, Francis com uma faca, vindo atrás de mim, e Sandiri, com o arco apontado para minha garganta na minha frente. Eu estava vendo que iria morrer, mas o tempo estava ao meu favor. Quando Francis estava prestes a me atacar Sandiri soltou a flecha do arco. Eu me abaixei e a flecha voou na direção da garganta de Francis, alguns segundos o canhão dela atirou. Pelo menos sobraram só 3 profissionais.

 Griffor tentava subir na arvore em que Alice estava, então, ataquei Sandiri, dando-lhe um soco na cara, que a deixou inconsciente jogada ali na neve. Fui em direção a Griffor, olhando ameacadoramente em seus olhos. Ele não se deixou ameaçar, mas então escutamos outro canhão, eu olhei para o outro lado, aonde Matt devia estar. A neve estava manchada de sangue. Geridia estava no chão, com uma lança em seu estômago, morta. Por um momento tive a expectativa de ver Matt em pé, olhando com aquele olhar cínico que sempre olhava quando conseguia algo. Mas não.

 Matt estava deitado no chão, com uma poça de sangue ao seu redor. Uma adaga estava em seu peito, bem em seu coração. Eu podia dizer por sua aparência que ele não tinha muito tempo de vida.

 Griffor, vendo que estava sozinho, pegou no colo Sandiri, que ainda estava desacordada e correu floresta adentro. Acho que ele sabia que agora que um de nossos aliados estava morrendo, nós iríamos atrás de vingança, e ele não seria bom em uma luta em que estivesse em desvantagem.

 Alice desceu da arvore, caindo ao meu lado, mas correu para Matt assim que seus pés tocaram o chão.

 - Matt, - gritou ela – você não pode morrer agora. Está muito cedo.

 - Nunca está cedo demais para a morte – disse ele, sua voz quase não saia. – principalmente neste lugar. Mas lembre-se de sua promessa, não vai chorar por mim.

 Eu não sabia do que eles estavam falando, mas vi Alice tirar do pulso uma pulseira de cipó que eu nem havia percebido que ela estava usando. Ela pegou e colocou entre os dedos de Matt, mas ele apenas balançou a cabeça, acho que queria dizer que não queria a pulseira.

 Alice pegou de volta.

 - Mas, você me disse para devolvê-la para você.

 - Era para saber se podia confiar em você. Agora eu sei que isso tudo não foi em vão. Ganhe estes jogos, Princesa do Gelo. Você é a minha favorita.

 Alice estava com lagrimas nos olhos, mas parecia determinada a não as deixar escorrerem, tentando cumprir sua promessa.

 O canhão de Matt soou. Tudo na floresta ficou quieto. Alice soltou a mão dele e saímos de lá. Agora restavam 5, e o por do sol iluminou pela ultima vez o corpo de Garoto Cinzento.


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Notas finais do capítulo

Eu chorei escrevendo esse final :'(
Me digam o que acharam!!