Céu escrita por Liminne


Capítulo 69
Capítulo 50 – Está tudo traçado




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Na segunda-feira de manhã, na república, foi quando as quatro colegas de apartamento puderam conversar finalmente. Rukia havia chegado bem tarde no domingo e encontrado Rangiku e Momo adormecidas. O mesmo com Mai, que chegara ainda mais tarde.

- Momo, por que você não está com o uniforme da escola? – o tom de Rukia já era briguento. – E por que está carregando essa mala? – arregalou os olhos.

A geminiana então trocou um olhar cúmplice com a prima.

- Bem, Rukia-chan... – Rangiku começou cautelosa. – Temos uma longa história do fim de semana para contar.

Pelo tom sombrio na voz da loira de olhos azuis, Rukia encolheu-se com um mau pressentimento.

- O... O que aconteceu? – Mai também parecia espantada.

- Eu vou passar um tempo no litoral com o Shiro-chan! – Momo apressou-se em responder com um sorriso forçado no rosto.

- O quê?! – Rukia estava indignada. – Você está em aula, Momo!

- E nem é mais verão! – Mai acrescentou confusa.

- Acredite. Ela precisa disso. – Rangiku afirmou muito seriamente.

Tanto que as outras duas calaram-se. Nunca a tinham visto usar aquele tom.

- Bom... Eu vou lá ver se o Shiro-chan já aprontou tudo. – Momo continuou forçando o tom alegre. – Já volto! – saiu do apartamento.

- Okay. – agora quem estava séria, quase brava, era Rukia. – Será que dá pra explicar, Rangiku Matsumoto?

Mas ao invés de se afetar com o tom da capricorniana, Rangiku apenas ficou encarando seu copo de chá entre as mãos.

- Lembram-se do professor pelo qual a Momo era apaixonada? – perguntou subitamente, sem encará-las.

Rukia franziu as sobrancelhas, mas respondeu.

- Lembro. O que é que tem?

- Bom... Ele arrumou um... Uma... Como posso dizer? Armadilha? – balançou os ombros. – A verdade é que, pelas nossas costas, a Momo estava se encontrando com ele. Ele havia prometido que ia transformá-la em uma modelo e tirava fotos dela... Mas a verdadeira intenção dele... Era vendê-la. – subiu os olhos claros para os rostos chocados.

- Santo Deus! – Mai exclamou horrorizada. Quando subiu as mãos para cobrir a boca, era perceptível o quanto seus dedos estavam trêmulos.

- Isso... I-Isso... Não pode ser verdade! – Rukia gaguejou chocada demais para se mexer.

Os olhos de Rangiku começaram a encher sem volta.

- E isso não é tudo! – a voz oscilava. – O Gin estava envolvido nisso! Ele pretendia salvá-la por ela ser minha prima! Mas o plano todo falhou e... E ele foi preso. Graças a Deus a Momo conseguiu se salvar, mas... Mas vocês sabem... – a essa altura, as lágrimas já se acumulavam escorridas no seu queixo. – Vai ser um trauma pro resto da vida! – fungou tentando conter-se, mas só conseguia piorar o próprio estado. – Então o Hitsugaya se ofereceu para levá-la à casa da avó dele. Passar um tempo por lá para ela esquecer, se distrair. Eles se conhecem desde criancinhas, acho que vai ser melhor pra ela. – enterrou a cabeça nas mãos. – Ai meu Deus! Como eu sou inútil! – mesmo abafada, podia-se perceber o quanto tremia sua voz.

Mai também tinha lágrimas nos olhos naquele momento. Apressou-se em dar apoio à amiga libriana, passando a mão em suas costas.

Rukia fez o mesmo. Aproximou-se e, com o coração doendo, abraçou a loira.

- Eu sinto tanto... – Rukia disse. – Também me sinto culpada por isso! Devíamos ter ficado de olho nela... No professor... – sua voz começou a embargar também.

- Não adianta se culpar, gente! – Mai interveio. – Foi uma fatalidade. Mas aconteceu por algum motivo. Temos que agradecer a Deus por ela estar bem agora. É isso que importa. Vamos esperar que ela se recupere nessas férias. Vamos nos mostrar fortes para ela. Porque se ela não tiver forças aqui, onde mais vai ter?

Ficaram curtindo as lágrimas por alguns poucos minutos.

- A Mai tem razão. – Rukia fez um esforço para secar os olhos. – Temos que mostrar força. Temos que ajudá-la a superar!

De repente, a porta abriu-se.

- Voltei! – Momo anunciou bem alto. – Agora sim vou comer. Eu e o Shiro-chan partiremos daqui à uma hora. – olhou para os rostos vermelhos e molhados. – Vocês... Por que estão chorando? – cerrou o punho, parecendo amedrontada.

- Por que... – Rukia interveio. – Por que você vai embora, Momo!

A expressão dela amansou-se até parecer emocionada.

- Ahhh... – sorriu verdadeiramente. – Não fiquem tristes. Eu vou voltar logo.

Então todas se levantaram para abraçá-la até que tivesse que implorar por ar.

 

****

 

Na hora do almoço na universidade, Ichigo como sempre se sentou sozinho. Ficava, como de costume, observando Rukia almoçar com Ashido e Chiharu. Isso quando ela saía da sala de aula.

Sua vida estava ficando muito chata.

- Ichigooo! – aquela voz cantada. Podia reconhecer a milhas de distância. – E aí? – o jovem sentou-se à sua frente.

- Keigo. – ele não tinha nenhuma emoção na voz. – O que está fazendo aqui? Seu curso nem é integral.

- Eu sei, eu sei. – ele falava alto e animadamente como sempre. O que fazia Ichigo intensificar o azedume do rosto. – Mas estou fazendo um trabalho chato e muito grande, hoje estou passando o dia todo aqui.

- Não diga! – o ruivo alternava olhar para a comida e para além do moreno sentado ali.

- Então! Agora que ficou humilde podemos finalmente voltar a conversar, não é?! – seus olhos brilhavam de alegria.

Ichigo só percebeu isso porque, com aquele papo estranho, teve que olhar pra cara dele.

- Fiquei humilde? Do que você está falando?

- Você sabe, Ichigo! – ele piscou. – Enquanto você estava saindo com a gatinha da Ruky-chan você estava se achando parte da realeza! Agora que vocês terminaram... Bem, você voltou à sua vida normal, humilde e sem graça de sempre! – riu.

- Eu não fiquei me achando parte da realeza! – Ichigo se defendeu. – Não sei por que fica falando essas besteiras! – fez uma careta.

- Você não sabe o porquê?! Você não sabe o porquê?! – ele fazia escândalo para o desespero do canceriano. – Tem quanto tempo que a gente nem se fala, hein? Me responde! Nem parece que somos amigos há mais de cinco anos!

- Foi você que sumiu. – Ichigo retrucou indiferente.

- Fui eu que sumi?! Eu sempre estive aqui! Eu sempre estive na república! Você sempre soube o número do meu celular!

- Keigo. – olhou sério para ele. – Eu faço medicina, certo? Eu tenho muita coisa para estudar. Você está agindo como se fosse minha mulher! – fez cara de nojo.

- Você é tão arrogante e insensível! – o jovem se encolheu de mágoa. – Eu cheio de novidades para te contar e você me esnobando! Você é horrível! Por isso que almoça sozinho todos os dias! Por isso que...

- Tá, ta bom! – Ichigo gritou para que ele calasse a boca. Seus choramingos estavam lhe causando dor de cabeça. – Me conta aí as novidades!

Keigo iluminou-se de repente.

- Então. Estou super a fim de uma garota!

Ichigo suspirou. E isso era a novidade?

- Eu já a conhecia há tanto tempo, mas nunca pensei que fosse gostar dela! – suspirou. – Mas esses dias a gente se esbarrou na biblioteca. Ela estava carregando um monte de livros e eu fui ajudá-la... Aí acabamos conversando e a partir desse dia, estamos sempre juntos!

- Aham. – Ichigo arqueou uma sobrancelha cético. – E onde está ela agora? – encheu a boca com o suco.

- Está bem ali! – apontou para a mesa que Ichigo não cansava de olhar.

Não podia ser a Rukia. Então era...

- Cof! Cof! Cof! – Ichigo engasgou-se com o suco.

- ICHIGO! – Keigo berrou assustado.

- Estou bem! Cof! Estou bem... – os olhos dele estavam vermelhos e quentes. – Então... Você quer dizer a...

- É! A Chiharu-chan! – sua voz encheu de mel ao pronunciar o nome dela.

- Argh! – o ruivo revirou os olhos. – Que nojo, fala sério!

- Qual o problema? Ela é linda! E muito inteligente também... E no outro dia que eu vim começar o trabalho, na hora do almoço, a gente tinha pedido o mesmo suco! E depois, no dia seguinte, viemos para a aula com a mesma cor de blusa! Não é incrível? Temos tanta coisa em comum!

A cara de tédio de Ichigo era digna de uma foto.

- Muito incrível mesmo! – olhando para a cara de bobo do amigo, teve que dizer. – Keigo... Eu não queria dizer nada... Mas você sabe como a Chiharu é. Ela e a Mai são farinhas do mesmo saco. Não acho que você vá conseguir alguma coisa com ela.

- É... Pra falar a verdade, estou ciente disso... Mas não vou desistir! – ergueu o punho cheio de confiança. – Eu tenho um plano! Vou juntar o dinheiro do meu trabalho para comprar um carro! E aí vou chamá-la para sair!

- Não acho que isso seja garantia de sucesso, Keigo. – Ichigo foi bem direto.

- Mas assim eu vou me sentir confiante para convidá-la! E a confiança muda tudo, meu rapaz! – debruçou-se na mesa para olhar o amigo mais de perto. – Ichigo! Você precisa me apoiar!

- Eu te apoio. – ele afastou-se. – Até você conseguir comprar um carro com seu salário de garçom, você já desistiu dessa idéia maluca.

- Você vai ver, cara! – apontou pro rosto dele. – Se você, feio desse jeito conseguiu uma mulher bonita, por que eu não posso conseguir?

Uma veia saltou na testa do esquentadinho.

- Boa sorte, Keigo. – falou entre dentes.

- Pra você também, Ichigo. – sorriu agora parecendo diferente. – Estou torcendo para a Ruky-chan voltar para você.

Ichigo desviou o rosto. Por algum motivo sentiu-se sensibilizado com aquele incentivo.

 

****                                     

 

A noite cairia em pouco tempo. Momo e Toushiro tinham chegado havia poucas horas na cidade. E a menina, mesmo com todo aquele frio, pediu para que fossem passear na praia.

- Ver o pôr-do-sol aqui com você... – ela dizia enquanto os dois caminhavam sem rumo, lentamente. – Isso me lembra a nossa infância... – sorria pequena e nostalgicamente.

- Você ainda está na sua infância. – ele resmungou. Enfiou uma das mãos no bolso da calça.

- Olha quem fala. – ela lançou um olhar atingido para ele. – Você não sente isso, Shiro-chan? – virou novamente o rosto para frente, deixando a brisa fria brincar com seu rosto e os fios do seu cabelo.

Ele pensou em corrigir o nome. Mas calou-se. Não era uma boa hora.

Olhou para o mesmo ponto que ela. Sentiu o frio azucrinar-lhe. Mas de alguma forma... De alguma forma não queria estar em outro lugar no mundo.

- Eu sinto é frio! – ele escolheu dizer, porém. – Você não quis vir no verão agora temos que congelar aqui!

Ela ficou decepcionada. Parou de falar e só continuou andando.

Ele acabou se sentindo culpado.

De repente o frio desaparecera. O calor de suas bochechas era tanto que acabava irradiando pelo corpo. Ou seria seu sangue? Não sabia ao certo. Mas resolveu ir em frente com sua decisão: pegou a mão dela.

- Shiro-chan! – ela virou o rosto surpreso para ele. Os olhos castanhos naquela luz... Eram tão doces e desprotegidos... Tão amáveis...

- Quando éramos crianças... – ele desviou mais uma vez o olhar, temendo que tremesse enquanto segurava a mão dela. – Quando éramos crianças costumávamos andar assim. – justificou-se, avançando no caminho.

Ela não pensou que aquilo pudesse acontecer. Seus olhos encheram-se. Inundaram-se. E começaram a escorrer ladeando seu sorriso frágil e sensibilizado.

- É verdade. – ela disse com a voz fraquinha e vacilante. Apertou com força a mão dele. – É verdade... – repetiu como que para marcar.

- Você se perdeu uma vez... – ele lembrava. – E aí minha avó pediu para que eu sempre segurasse sua mão... Para que você não sumisse mais...

Com a mão livre, ela secou o rosto. Mas o sorriso permaneceu. As memórias iam grudando-o.

- Me desculpe, Hinamori. – ele disse de repente. Seus olhos caíram para a areia e as sobrancelhas espremiam a testa de modo melancólico. – Eu devia ter ficado segurando sua mão... – quase esmagou os dedos dela. – Eu devia... Se eu não tivesse te soltado... Nada disso teria acontecido!

Ela percebeu o quanto aquilo estava doendo no peito dele.

- Shiro-chan! – acariciou a mão dele com a sua livre. – Não se culpe, por favor. Você está aqui agora. E é a pessoa que nunca deixou de segurar minha mão. E nunca vai deixar. Sempre saberei para onde voltar enquanto tiver você.

Ele olhou nos olhos dela. Estava sendo incrivelmente forte. Como ela conseguia? E por que estava ali daquele jeito enquanto devia estar protegendo-a?

- Não quero que você vá de novo. – ele desabafou com a voz baixa.

Ela continuou fitando-o com carinho.

- Eu não vou mais. – disse com sinceridade. – Eu não vou mais.

Os dois conseguiram sorrir um para o outro. Compartilhavam aquela dor espremida no coração. Mas também aquela doçura, aquela paz que sempre os envolvia quando estavam juntos. Em sintonia.

Continuaram caminhando. Não se perderiam mais um do outro.

 

****

 

- Então a festa de noivado vai ser no dia vinte e seis de novembro. – Rukia informou às amigas enquanto conversavam na praça de alimentação do shopping depois da aula.

- Uau! Está perto, não é? – Rangiku assustou-se.

- É, mas está tudo sob controle. – Rukia ia explicando. – Eu já escolhi o meu vestido. E todos os finais de semana vou à Kofu para ver como os preparativos estão ficando. – sorriu. – O Byakuya não quis me incomodar nos estudos... Então fizemos o plano de como seria a festa e ele está organizando tudo. Vai ser bem simples, só para pessoas muito próximas mesmo. Eu só convidei meus pais, meus melhores amigos de Kofu, vocês e o Shunsui-san com a Nanao-san.

- Sei, sei... – Mai tomou um gole do seu chocolate quente. – Você escolheu seu vestido e nem pediu a minha ajuda. – fez-se de chateada.

- Ah, não é bem assim, Mai... Eu estou em dívida com minha melhor amiga de Kofu, a Orihime. Ela está em desvantagem comigo agora... E você sabe... Nós fomos criadas juntas desde muito pequenas.

- Eu entendo, sua boba. – Mai fez uma careta. – Mas quando você for casar, eu quero ajudar a escolher o vestido. Nem que tenha que ir para Kofu! Eu sou louca por vestidos de noiva! – cruzou os braços em cima da mesa e lançou um olhar mais profundo e malicioso para Rukia. – Vou escolher um vestido que deixe o Kurosaki babando no altar. – recebeu um olhar arregalado de Rukia como resposta. – Oops! – tampou a boca, mas dava para ver que sorria como a boa cínica que era.

- Hahaha! De todas essa foi sua melhor, Mai! – Rangiku aclamou.

O olhar satisfeito de Mai queimava sobre a capricorniana sem saída.

- Do que vocês estão falando? – ela atrapalhou-se. Terminou de tomar seu café com leite num gole só, somente para ganhar tempo de pensar no que continuar dizendo ao seu próprio favor.

- Mai-chan, você é tão má! – Chiharu riu da expressão de Rukia. – Mas... Rukia-chan, não case com o Kurosaki. Ele me dá arrepios!

- Chi, meu amor. – Mai olhou furiosamente para ela. – Quer fazer o favor de comer o seu bolo? – espetou um pedaço com o garfo e enfiou-o na boca da amiga.

O que fez Rangiku gargalhar.

- Mas então... Mudando de assunto para que a nossa amiga possa ter tempo de pensar. – sinalizou para Rukia. – Quero contar uma novidade também! – sorria agora com um brilho diferente no rosto. Daqueles que não se vê nem em ocasiões meramente especiais. Daqueles únicos.

Chiharu riu. Já sabia do que se tratava.

O coração da loira escorpiana palpitava só de pensar em abrir a boca para dar a notícia. Respirou fundo sutilmente e encarou as colegas de quarto. Elas esperavam ansiosas, de olhos muito abertos.

- Uma editora... – não podia conter o sorriso gigantesco. – Uma editora vai publicar o meu romance! – riu empolgada.

- Ah meu Deus! – Rukia mal podia fechar a boca. – Meu Deus!

- Isso é maravilhoso, Mai! – os olhos de Rangiku brilhavam. – Ai! Que emocionante!

- Não é?! – ela tentava se segurar, mas o risinho de prazer e satisfação dominava sua voz. – Eu estou tão feliz!

- Isso nem precisa dizer. – Chiharu a olhava com carinho. – Até seus olhos tão pretos parecem estar cheios de estrelas agora!

- A Chiharu tem toda a razão! – o sorriso de Rukia foi tão sincero ao olhar nos olhos dela... Com certeza já havia esquecido a pequena maldade que havia feito. – Você está especialmente linda agora, Mai. – riu. – É essa a face da felicidade, não é? Meus parabéns!

De repente os olhos negros encheram-se d’água.

- Ah... – ela abanou-se na tentativa de secá-los. – Foi tudo que eu sempre quis a minha vida toda, sabe? – riu de si mesma. Agora seu rosto estava ficando vermelho. – Droga! Será que eu pareço tão ridícula de estar chorando por isso?

Rangiku e Rukia fizeram que não com a cabeça com um sorrisinho confortador e admirado nos lábios.

- Não mesmo. – Chiharu respondeu com a voz embargada.

E, ao olhar para o rosto da melhor amiga, percebeu que seus olhos estavam praticamente boiando em meio às lágrimas.

- Ah sua boba! – riu e abraçou-a. – Obrigada. Muito obrigada!

 

****

 

- O céu está tão estrelado... – Momo comentou observando o alto.

- É. – Toushiro concordou.

Os dois estavam enrolados num cobertor na varanda de casa. Depois de uma longa caminhada na praia e do jantar, resolveram compartilhar aquele descanso.

- Sabe... Eu devia ter vindo no verão... – ela disse sem tirar os olhos das estrelas. – A gente teria passado a tarde comendo melancias. – riu.

Ele sorriu para o nada. Não tinha mais vontade de dar bronca nela.

Ela bocejou longamente.

- Hoje foi o melhor dia do ano. – disse preguiçosamente. Como se quisesse esticar aquela frase.

Ele sentiu o coração bater mais forte.

Concordava com ela. Foi o melhor dia que poderia ter.

- Obrigada. – ela sussurrou perto do ouvido dele.

Perto demais!

Sentiu o corpo queimar. Ela havia apoiado a cabeça no ombro dele.

“Não agradeça. Eu só quero te ver feliz.”

Era o que ele tinha vontade de responder. Mas a vontade sem a coragem não o levou adiante.

Ele ficou calado enquanto sentia a respiração dela soprando em seu pescoço.

Ficaram daquele jeito por longos minutos. Só admirando o céu. Pensando... Deixando a mente vagar, esvaziar-se... Lentamente sintonizando os corações.

- Momo eu... – ele subitamente não pôde mais segurar. Até chamou-a pelo primeiro nome, como fazia somente há anos atrás. – Eu não quero que me agradeça. De verdade... Eu só quero que fique bem. Porque você vive me dando trabalho. E... E... – apertou o punho. – E não tem nada mais importante pra mim do que você estar feliz. – respirou fundo. Seu coração parecia estar socando violentamente seu peito.

Mas sentia-se vitorioso. Nem acreditava que tivera força suficiente para dizer aquilo!

...

Por que ela não respondia nada?!

- Momo? – olhou para ela.

E não sabia se sentia frustrado ou encantando.

Ela estava dormindo tranquilamente. Sabia que não tinha sido fácil para ela pregar os olhos desde aquele dia. E agora... Parecia um anjo adormecido.

Não ouvira nada do que dissera. Mas encontrou o descanso no seu ombro.

Aquele gesto por si só já não era uma resposta?

Ele acariciou rápida e tremulamente o rosto dela. E em seguida passou o braço pelas suas costas para aconchegá-la.

- Eu te amo, Momo. – disse bem baixinho, para que só as estrelas pudessem ouvir.

 

****

 

As semanas finalmente passaram. Era chegado o grande dia. Ou quase.

Porém, havia um envolvido que não fazia idéia de que o número do calendário significasse tanto.

- Itsugo! Tá mexendo de novo! – Nell estava espalhada no sofá com a mão na barriga. O sorriso no seu rosto denunciava o tamanho de sua felicidade. Uma felicidade tão ingênua.

- É mesmo? – o ruivo tirou a atenção do videogame. Pausou o jogo e foi até a prima. – Será que eu posso...

- Claro! – a sagitariana riu. – Eu acho que ela estava o tempo todo querendo chamar sua atenção!

Ichigo hesitou, mas conseguiu tocar a barriga de Nell. Estava enorme! Tão enorme a ponto de dificultar o próprio deslocamento da futura mamãe. E agora, nem que ela quisesse conseguiria continuar pulando ou correndo de um lado pro outro como fazia um tempinho atrás. Faltava muito pouco para o bebê finalmente nascer.

- Ah! – Ichigo conseguiu sentir. – Está mexendo mesmo! – os olhos estavam arregalados. Não podia negar que estava emocionado. Afinal, ele vira aquela garota tão pequenininha, falando errado, com o nariz escorrendo...

Bem. Algumas coisas ainda não haviam mudado, mas...

- Você está tremendo, seu bobo! – ela riu.

- Não estou! – ele se defendeu, mas sabia muito bem que ela estava certa. – Ah, priminha... – ele falava com o bebê na barriga. – Se eu fosse você não saía daí de dentro. Sua mãe é muito louca, você vai ter uma vida perigosa!

- Itsugo! – ela ralhou, mas estava rindo. – Não escute ele, filhinha. A mamãe não é louca. O primo que é chato e certinho demais!

Ichigo fez uma careta para ela.

Seu celular de repente começou a tocar.

- Alô.  – ele tirou a mão da barriga de Nell e saiu de perto para atender.

Depois de cumprimentar rapidamente a pessoa do outro lado, ficou mudo. Sua expressão ficou levemente chocada.

- Tudo bem, calma! Porra, não grita desse jeito! – irritou-se.

- Itsugo! Olha a boca! – Neliel alfinetou. – Assim você não vai poder virar padre!

Ele virou com os olhos chamejantes para ela.

- Estou indo. – falou ao celular. – E aí você me explica direito porque não estou entendendo nada. – desligou. – Nell, vou dar uma saída.

- Tá bom... – ela suspirou. – Você volta logo? – fez beicinho.

- Volto.

- Se não voltar até o almoço eu posso tentar virar esse jogo? – os olhos dela brilharam olhando para a televisão.

- Pra que? Pra acabar com tudo que eu passei até agora igual você fez da última vez? – arqueou uma sobrancelha para ela.

- É só você voltar logo! – sorriu bem cara-de-pau.

Ele bufou.

- Eu vou voltar logo. – foi embora, mas não sem antes olhar feio para a prima.

 

****

 

Rangiku terminava de se maquiar no espelho. Estava sozinha no apartamento. Rukia e Mai haviam partido para Kofu junto com Ashido e Chiharu. Mas ela ficara para receber Momo de volta. Iria mais tarde com a prima e o vizinho. À noite todos se encontrariam na festa.

Olhou para o relógio. Momo disse que iria estar de volta no começo da tarde. Ainda tinha um tempinho...

Fitou o próprio reflexo. Estava pronta. Parecia forte?

Não importava se parecia ou não. Ela sabia que tremia por dentro. Mas sabia também, acima de tudo, que não estava mais suportando aquela vontade. Aquela saudade. Era quase uma necessidade.

Precisava vê-lo.

 

****

 

- Nossa! – Ichigo deu uma boa olhada no amigo. – O negócio ta pior do que eu pensei.

- Eu sei... – Keigo parecia deprimido deitado naquela cama. Até sua energia irritante tinha evaporado.

- O que aconteceu afinal? – o ruivo sentou-se numa cadeira disponível.

- Intoxicação alimentar. Se você acha que estou ruim agora, é porque não me viu ontem!

O canceriano enrugou o rosto numa expressão enjoada.

- É melhor não descrever. – meneou a cabeça. – Enfim, pra que você precisa de mim? Eu estou cursando medicina, mas não sou enfermeiro.

- Se você é enfermeiro não me interessa. – Keigo respondeu. – Só quero saber se você tem capacidade de ser garçom.

Ichigo não entendeu.

- Se eu tenho capacidade para ser garçom? – riu com desdém. – Quem não tem capacidade de segurar algumas bandejas e anotar uns pedidos?

- Ótimo! – mesmo pálido e fraco, o moreno conseguiu sorrir. – Se é tão fácil assim, não vai se importar de quebrar meu galho hoje.

Espera... Do que ele estava falando?

Pressentia que sua fala arrogante o havia metido em confusão.

- Ahn... Quebrar o seu galho? – perguntou com cuidado.

- É. – Keigo afirmou solenemente. E em seguida, de repente, seus olhos encheram-se d’água. Tomaram um tamanho cinco vezes maior e de quebra, foi acrescentado um brilho irresistível. Como um cachorrinho pidão. – Ichigo, eu preciso muito disso! O restaurante que eu trabalho foi contratado para servir uma festa. Sabe, serviço de buffet! E os garçons vão ganhar em dobro pelo trabalho! Mas eu não posso ir! E se eu não tiver dinheiro, como vou comprar meu carro?! E sem comprar meu carro, como vou convidar uma garota para sair?! Ichigo, nós somos amigos há uma eternidade! Por favor, você precisa ir no meu lugaaaaar!

Foi tão rápido assim para ele voltar a fazer escândalo.

- Keigo, fique calmo! - ele tampava um dos ouvidos, o mais próximo do amigo. - Até o dia da festa você vai estar bom! Quando vai ser?

- Hoje à noite. – fungou dramaticamente.

- O QUÊ?! – o ruivo berrou levantando-se da cadeira.

- EU SEEI! – Keigo acompanhou a gritaria. – É UM DESESPERO!

- Keigo, meu anjo, você está bem? – a voz da mãe do jovem veio lá de fora.

- Estou mamãe! – estava implorando com o olhar grudado em Ichigo. – Ichigo... Por favor! Aposto que não estava fazendo nada em casa! Você só precisa colocar o meu crachá e trabalhar por mim! É tanto garçom que ninguém nem vai perceber que não sou eu!

- É claro que vão, seu idiota! Você não se olha no espelho não?! – Ichigo estava tenso. Era cada uma que aparecia!

- Eu estou te dizendo, Ichigo! Ninguém sabe o nome e a cara de ninguém naquele restaurante, é muita gente! – agarrou a mão dele. – Por favor! – caprichou nos olhos pidões. – Por favor, eu prometo que nunca mais vou gritar seu nome em público! Eu prometo que nunca mais vou te perturbar! Eu prometo não reclamar se você não me procurar por um ano! Eu prometo ser o mestre da discrição perto de você! Por favooor!

Ichigo suspirou. Não adiantava. Era muito coração mole mesmo.

- Tá bom. – coçou a nuca e puxou a mão que ele segurava. – Eu vou. Mas vou cobrar sua promessa.

- VOCÊ É UM ANJO, ICHIGOOO! EU TE AMOOO! – gritou cantarolando.

- A PARTIR DE AGORA! – olhou ameaçadoramente para ele.

- É claro Ichigo-sama! – mudou drasticamente a voz para um sussurro. – Muito obrigado!

O canceriano revirou os olhos.

Pelo visto Nell ia acabar estragando seu jogo de novo.

 

****

 

- Gin... – murmurou ao vê-lo de perto. Comprimiu o máximo que pôde os lábios. Isso ia ajudá-la a não chorar.

Talvez.

- Eu não esperava que você viesse... – ele sorria fitando-a. – Pensei que me odiasse.

- Idiota! – ela berrou. Seu esforço não estava adiantando. – Como posso te odiar? – apertou a alça da bolsa com ambas as mãos. – Eu queria... Eu queria te agradecer... Eu queria ver o seu rosto depois da coragem que teve... Eu queria... Mas eu não tinha coragem... – uma lágrima caiu pela sua bochecha.

- Shh! – ele fez. Não parecia abalado. Mesmo que sua aparência não estivesse das melhores. – Por favor, Rangiku. Apenas olhe para mim.

Ela parou de olhar para o chão e focou-se no rosto dele.

Claramente estava perdendo peso. E tinha um machucado no rosto. Mas ainda assim era aquele rosto que via todos os dias nos seus sonhos. Ainda assim era aquele rosto que a fazia acreditar... Eram aqueles olhos... Aquele sorriso... Aquele coração que carregava metade dela... Aquela alma que completava a sua.

Ele também a observava com cuidado e minuciosamente. Ela continuava linda... Cada vez mais, na verdade. Aqueles olhos cintilantes... Como sentiu falta! Eram sempre tão verdadeiros. Eram sempre... Tão apaixonados. Sabia direitinho como batia aquele coração só olhando nos olhos dela. Não precisava de mais nada. Palavras e gestos eram supérfluos.

- Eu estou feliz que tenha vindo. – o tom de sua voz era diferente do habitual. Parecia mais quente. - E espero que não seja a única vez.

Ela balançou a cabeça. Soluçou um pouco, tentando conter aquela onda de choro.

- Eu não vou te abandonar. – disse bem baixinho. – Eu... Eu vou esperar por você.

Ele sentiu dor.

- Eu também vou. – disse. – É o objetivo da minha vida. Sempre foi.

Ela chorou alto. Segurar aquilo só estava piorando sua situação.

- Você é uma pessoa especial, Gin. – disse em meio aos pequenos soluços. – Eu sei que é. Eu posso ver.

Ele sentiu uma pontada estranha dentro de si. E uma sensação de bem estar... Era algo tão raro para ele... Lembrar que tinha um coração. Parecia que só mesmo ela pensava daquele jeito. E ela acreditava nessa existência tão lindamente que... Que ele conseguia senti-lo batendo forte em seu peito.

Precisava dela. Mais do que qualquer coisa.

Não se arrependeria de arriscar a vida de novo. E de novo, e de novo. Não por ela.

Porque pura e simplesmente... Sua vida era ela. Era ela que o fazia se sentir vivo, humano, alguém. Era ela que conseguia tocá-lo e olhá-lo com aqueles olhos tão ternos. Era ela que enxergava seu coração. Era ela que tinha o controle sobre suas batidas. Porque somente ela acreditava... Somente ela acreditava.

- Eu... Não posso ficar muito tempo. – disse secando o rosto com um lenço. – A Momo chega de viagem e... Eu preciso estar lá para recebê-la.

Ele nada disse. Estava sufocado demais para dizer.

- Eu vou voltar, não se preocupe. – conseguiu mostrar a ele um daqueles lindos sorrisos. – Eu te amo! – sussurrou segurando as mãos dele.

Ele segurou as dela de volta. E naquele toque obteve a energia que precisava para responder.

- Eu te amo mais.

Ela sorriu e soltou-o. E foi embora.

 

****

 

- Prima! – Momo correu para abraçar a peituda. – Eu senti tanto a sua falta! – parecia um carrapato grudado nela. A mulher temeu que ela nunca mais fosse soltá-la.

- Sentiu nada, sua mentirosa! – apertou-a de volta. – Aposto que se divertiu um monte!

Ela riu e soltou-a.

- Me diverti sim! Mas não tem nada como voltar para casa, não é? – sorria.

As sobrancelhas da loira abaixaram-se. O olhar tornou-se tão afável, quase maternal. Dirigiu então os olhos para o garoto recostado na porta. E sorriu com cara de choro.

- Bem vinda de volta! – disse em voz baixa, mas de um jeito bem forte.

Ela estava feliz de novo. Ela estava se recuperando maravilhosamente.

Não podia pedir nada mais precioso do que aquilo. Por mais incrível que parecesse... Aquele sentimento estava se tornando cada vez mais nobre.

Ou... Talvez ela só estivesse descobrindo-o agora.

- Bom, temos que nos apressar! É uma viagem atrás da outra! – riu tentando descontrair. Já estava se sentindo uma atriz de novela mexicana, não parava de chorar! – Estou louca para ver no que esse noivado vai dar.

- E eu também! – Momo exclamou. – Estou morrendo de saudades da Mai-chan e da Rukia-chan!

- Elas também estão morrendo de saudades de você!

- Então vamos! – a geminiana dirigiu-se ao amigo. – Espero que não se incomode de ir, Shiro-chan!

- É Hitsugaya! – ele corrigiu finalmente, com aquele tom mal humorado de sempre.

Ela riu e eles então seguiram para o carro de Rangiku.

 

Continua...


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