Céu escrita por Liminne


Capítulo 4
Capítulo 4 – Sorte e destino [começo]




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Sobre Ichigo Kurosaki

Nome: Ichigo Kurosaki
Idade: 19 anos
Nascimento: 07/07
Signo: Câncer
Ascendente: Leão
Lua: Áries

Mais sobre Ichigo Kurosaki


1- Cores preferidas:

- Preto
- Vermelho


2- Habilidades:

- Noções de medicina
- Resistência física
- Intimidar
- Brigar/Lutar


3- Fraquezas:

- Timidez
- Demonstrar sentimentos diretamente
- Dependência
- Lembranças da mãe
- As pessoas que eu amo


4- Sonhos/Objetivos:

- Ser um pneumologista
- Salvar vidas
- Ter uma família
- Ser pai


5- Hobbies:

- Ler (principalmente Shakespeare)
- Brigar
- Reclamar
- Observar estrelas
- Estar com quem gosto

6- Comida preferida:

- Chocolate
- Pratos apimentados

7- Bebida preferida:

- Café

8- Vícios:

- ...


9- O que não suporta:

- Pessoas escandalosas
- Que me envergonhem em público
- Que façam mal a quem amo
- Ficar longe de quem amo
- Barulho

10- O que agrada/admira:

- Determinação
- Pessoas fortes
- Carinho
- Sorriso
- Roupas apertadas

11- O que gostaria de aprender:

- Ser menos tímido
- Ser mais independente

12- Parte do corpo preferida (sexo oposto):

- Olhos
- Sorriso

13- Cantores/Bandas:

- UVERworld
- The all-American rejects

14- Qualidades:

- Sincero
- Protetor
- Cúmplice
- Carinhoso (somente com quem amo muito mesmo!)

15- Defeitos:

- Ciumento
- Tímido
- Ranzinza
- Mal humorado
- Impulsivo
- Dependente

Terminou de ler. Ou melhor, terminaram.
Entreolharam-se.
- Parece bom, não acha? – Momo perguntou empolgada.
- Parece ótimo! – Rangiku exclamou até mais exaltada do que pretendia. – Veja que gracinha! Ele gosta de Shakespeare e sonha em ser pai!
- E é tímido, que fofo! – Momo completou incentivando.
- E vai fazer 20 anos ainda este ano! É uma idade ótima! – Rangiku ajudou.
- Calma, calma... Ainda tem mais... – a pequena de olhos azuis não desfixava do monitor, descendo a rolagem.

As outras duas trataram de colar os olhos novamente.

“Um caso difícil de signos solares opostos. Os ascendentes em quadratura e as luas iguais. Modos parecidos de lidar com a emoção e totalmente diferentes de enxergar o mundo.”

- Essa é a mísera interpretação que eles dão? – perguntou-se um tanto indignada.
- Ahh, Rukia-chan, eles sabem o que fazem! – Rangiku sentou-se na cama balançando a cabeça com cara de quem entende do assunto. – Acho que é o suficiente para você saber. O resto vai descobrindo com a prática, muito mais legal! – sorriu brilhante.
- É... Acho que você tem razão... – murmurou e continuou descendo a rolagem. O coração martelava dolorido no peito. Foi tudo tão rápido! Ainda não podia acreditar! Como seria agora? Não conseguia traduzir aquelas pontadas e aquelas bolhas estranhas no estômago... Seria nervosismo? Seria medo? Seria decepção? Seria... Esperança? Seria... Alegria?
Percebeu que embaixo, no fim da mensagem, havia uma instrução.

“Agora que encontramos sua alma gêmea, gostaríamos que aparecesse para uma segunda consulta, onde tudo sobre o primeiro e os demais encontros do casal será explicado e detalhado. Por favor, não falte quarta-feira, às cinco e meia da tarde.”

- Isso é... – encostou-se no respaldo da cadeira com os olhos ainda maiores e o coração cada segundo mais louco. – Isso é rápido demais... – ofegou.
- Não! Isso é maravilhoso demais! – Rangiku aplaudiu alegremente. – Será logo depois de amanhã! Você tem uma sorte incrível, Rukia-chan! Incrível!
- Acho que sim, não é? – disse baixinho, deixando escapar um pequeníssimo sorriso pelo cantinho dos lábios.
- Claro! – assentiu a loira. – O que acha de irmos ao shopping amanhã escolher a roupa do encontro?
- Ótimo. – respondeu antes que pudesse pensar. Não era pecado se sentir um pouquinho empolgada... E além do mais, só podia ir para a faculdade no terceiro dia...

****

Sabia que já tinha passado de sua hora de dormir. Mas não conseguia meramente fechar os olhos.

O que tinha lido havia algumas horas não saía de sua cabeça... E seu coração ficava respondendo àqueles pensamentos com batucadas incrivelmente fortes... E que espalhavam por todo o corpo uma sensação de inquietação sem fim.
Virou-se pela milésima vez na cama. Sua alma gêmea... Alma gêmea ... Mal podia acreditar que sua espera ia chegar em breve ao fim... Como seria ela? Pensando sobre a descrição, parecia uma mulher doce e ao mesmo tempo determinada. Exatamente o que procurava... E ainda compartilhavam do mesmo sonho... Não via a hora de olhá-la nos olhos, ouvir sua voz e ter a certeza... Aquela certeza. A mesma certeza que eles tiveram ao se encontrar pela primeira vez. A certeza de que seriam muito felizes juntos, até que a morte os separasse.
A certeza que sempre desejara.
No dia seguinte, à noite, teria um encontro com Celeste-sama. Agora parecia menos doloroso passar por aquela situação constrangedora que era expor seus sentimentos para um cara esquisito e suspeitamente irônico que mal mostrava os olhos...

****

A quarta-feira finalmente havia chegado. Foi mais ou menos esse o pensamento de Rukia ao acordar pela manhã, sem mesmo a ajuda de um despertador, no tempo certo para que se arrumasse para o primeiro dia na faculdade.
Levantou-se na ponta dos pés, Rangiku ainda dormia. Arrumou-se e acordou Momo com o café da manhã pronto e as duas foram comer juntas na cozinha.
- E aí? Animada, Rukia-chan? Hoje é um dia muito especial. Primeiro dia de faculdade e o encontro com o guru-sama!
- Ah, é. – fingiu um tom casual depois de tirar a xícara da boca. Não queria denunciar a pequena agitação que tinha por dentro. – Sabe... A cada minuto que passa eu fico mais insegura com esse encontro... – resolveu desabafar depois de uma pequena pausa pensativa.
- Mas por que, Rukia-chan? – a voz de Momo era levemente decepcionada.

- Bem... – abaixou os olhos. – Estava pensando sobre o caso da Rangiku-san e... E se ele for um psicopata!? – disse a última frase baixinho, mas com bastante efeito, voltando a pregar os olhos na menina.
- Ah... Não acho que vá acontecer de novo isso! – Momo meneou a cabeça e balançou as mãos fazendo sua melhor performance de descrente.
- Tudo bem. Pode não acontecer. – refez sua postura. – Mas... Na ficha dele vinha dizendo que ele é dependente e... Não sei se posso com isso. Acho que não ia suportar.
- Ahh Rukia-chan! – a garotinha franziu o cenho um pouco brava. – Você está colocando empecilhos onde não há! Você sabe como cuidar das pessoas! Um cara dependente ia se dar bem com você!
- Humm... – abaixou novamente os olhos pensativa.
- Ao invés de ficar pensando nos defeitos dele, pense nas qualidades! Vocês têm até mesmo um sonho em comum! – sorriu e terminou de beber seu chá.
- É. Acho que você está certa. – sorriu fraquinho. – Bom, melhor irmos andando! – levantou-se. – Acha que estou bem para o primeiro dia? – sinalizou para as próprias roupas.
Vestia um gracioso vestido lilás de meias mangas que caía até pouquíssimo acima dos joelhos e tinha o decote coberto por um leve tecido branco rendado, combinando com o acabamento na barra. Nos pés, as suas costumeiras sapatilhas delicadas e confortáveis.
- Está linda, Rukia-chan! Como sempre! – disse sinceramente e levantou-se também. – Agora vamos! – foi andando na frente até a porta. – É uma pena que hoje não tenha aula com o Aizen-sensei... Queria que o conhecesse logo...

****

No caminho para a universidade, comprou uma revistinha sobre astrologia. Lendo sobre o signo de câncer descobriu que os cancerianos são pessoas extremamente dependentes, tímidas, ciumentas e ligadas ao passado e à família. Principalmente à mãe. Também descobriu que são bastante sensíveis, românticos, carinhosos e protegem com a vida aqueles que amam.
Depois de adquirir todas essas informações, amassou a revista bem no fundo de sua bolsa.

Ninguém precisava saber que gastara seu dinheiro com aquela bobagem.

Finalmente pôs os pés na universidade. Era uma sensação esquisita. Era bem diferente da que havia freqüentado no ano anterior
em Kofu. Era maior e mais estonteante. Tinha mais gente. Sentia-se mais perdida, menor do que nunca.
Foi seguindo algumas instruções por alguns minutos a fim de chegar a sua primeira sala. Mas parecia cada vez mais perdida. Passou um longo tempo ficando cada vez mais tonta com tantos corredores, escadas, pessoas, cores diferentes de roupas e cabelos, perfumes... Só não encontrava a sala que tanto procurava. E ninguém que estivesse realmente disposto a ajudar.
- Ei! – uma voz apareceu pelas suas costas. – Eu já vi você passando por aqui. – virou-se. O homem que falava era muito alto. Sorriu para ela. – Por acaso está perdida?
Sentiu-se ligeiramente aliviada. Parecia que finalmente alguém a estava enxergando ali.
- Oi. – disse encarando o jovem de cabelos castanhos avermelhados e olhos azuis. – Eu creio que estou perdida sim... – sentiu-se corar levemente.
- Ora, ora... – aproximou-se. – O que está procurando? Quantos anos você tem?
Sentiu como se lhe espetassem uma agulha.
- Tenho dezenove. – respondeu empertigada, levantando um pouco o queixo. – Estou procurando a sala para minha primeira aula. – mostrou-lhe um papel contendo os horários que lhe seriam exigidos.
- Humm... – examinou o papel interessado. – Eu acabo de vir de lá. Então está estudando medicina...
- Sim. – balançou a cabeça. – Pode me dizer exatamente onde fica a sala?
- Eu te levo até lá... Como se chama? – inclinou a cabeça para ela.
- Ukitake Rukia. – respondeu olhando-o mais de perto.
- Ashido. – assentiu e foi andando.
- Hum... Obrigada Ashido. – falou baixinho meio sem jeito acompanhando seus passos.
- Não tem de quê.
- Você... Também faz medicina? – perguntou mantendo os olhos em frente, passando por pessoas e pessoas, mas agora inabalável.
- Não. Estou terminando o curso de direito.

- Oh! – admirou-se. – Meus parabéns! – sorriu olhando rapidamente para ele.
- Obrigado. – acenou para alguém que passou por eles. – No que vai se especializar?
- Pneumologia. – respondeu, os olhos mudando para nostálgicos. – Eu tenho um grande objetivo...
- Hmm... Vai ser a melhor pneumologista do Japão e ganhar rios de dinheiro? – arriscou.
- Não... – riu um pouco. – Na verdade vou descobrir uma cura. Livrar meu pai e muitas outras pessoas de uma doença terrível da qual se sabe muito pouco. – ficou séria. – Vou dar tudo de mim para salvar muitas vidas.
- Oh... – impressionou-se. Ouvir uma garotinha tão pequena e com aparência tão infantil falando algo de porte tão grande faria qualquer um pensar que aquilo se tratava apenas de um sonho alto demais. Mas alguma coisa naqueles enormes olhos determinados... Alguma coisa na força daquela voz... Alguma coisa o fazia acreditar e até mesmo ver aquela baixinha alcançando o sonho, por mais alto que fosse. A confiança dela na afirmação o fez sorrir admirado. – Tenho certeza que sim... – acrescentou baixinho.
Olhou para ele e sorriu de volta, docemente.
- Bem... – parou diante de uma porta, de repente. – Chegamos.
- Ah! – olhou para a porta. – Sim! Muito obrigada Ashido. Fico te devendo essa. – abaixou a cabeça brevemente em agradecimento. – Até mais! - acenou e sumiu porta adentro.
- Até... – respondeu baixinho para a porta fechada.
- Ui, ui, ui! – uma vozinha feminina surpreendeu o castanho-avermelhado. – O que foi isso, hein?
- Chiharu! – ele pôs a mão no peito como se pudesse acalmar o coração assustado. – Não sabia que estava aqui!
- Quem não deve não teme, hein? – a garota de cabelos compridíssimos castanhos presos num rabo-de-cavalo começou a andar em direção oposta à da sala que Ashido deixara Rukia.
- Não estou temendo nada. – resmungou seguindo-a.
- A Mai-chan não vai gostar nadinha de saber que andou dando em cima de outra garota... Não sabia que era do tipo infiel... – torceu o nariz em reprovação.

- Não sou do tipo infiel! – retrucou cerrando os dentes irritado. – Eu só estava ajudando a garota, ela estava perdida! Ela deve ser nova aqui!
- Sei, sei... – examinou as unhas perfeitamente manicuradas com os olhos diminuídos incrédulos.
- E vê se não vai correndo falar pra Mai sobre isso. Afinal, não significou nada. E você bem que gosta de aumentar as histórias.
- Eeeu!? – apontou para si mesma fazendo as pulseiras coloridas tilintarem. – Que injustiça, Ashido! – gemeu.
- Tsc... – com um estalido de língua, apertou o passo e ultrapassou a garota de uma vez.

****

- Com licença... – foi dizendo equanto entrava na sala. Mas percebeu que ainda não tinha nenhum professor. Deu de ombros então e passou os olhos pela sala enorme. E algo lhe chamou a atenção. Ou melhor, alguém. Alguém de cabelos espetados e laranjas inconfundivelmente ofuscantes e com aquela cara amarrada, a personificação do mau humor. Revirou os olhos. Estava numa cidade maior, mas o Japão continuava sendo minúsculo.
E ele levantou os olhos. E abriu-os um tanto espantado. Lembrava-se dela. Era a garota do supermercado, aquela da república! Como foi que não se esqueceu daquele rosto? Sempre se esquecia do rosto de quem via poucas vezes... Bufou irritado por ter que dividir as aulas com uma criança superdotada. Eram tão irritantes esses prodígios! Enfiou a cara na janela como sempre, depois que a viu atravessar a sala e sentar bem longe, lá na outra extremidade.

No meio de tantas pessoas entrando na sala e grupinhos se formando e vozes falando e rindo, mal deu para ser notada uma musiquinha de celular que recebia uma mensagem. A não ser, claro, por quem estava bem perto.
- Mensagem? É do Ashido? – uma garota que chamava bastante atenção com seus cabelos curtinhos pintados de rosa, usando boina, botas e vestido pretos, empolgou-se e empoleirou-se atrás da loira que tinha o objeto na mão.
- Não. – a loira respondeu apertando as teclas do celular não parecendo tão animada. – É da Chiharu.

- Ah... – a outra deixou os ombros despencarem e sentou-se ao lado da amiga deixando a energia ir embora. – O que ela quer?
- Reunião urgente no banheiro. – leu com voz descontente, levantando as sobrancelhas claras e finas. – Ai, o que será que ela quer agora, hein? – soltou o ar desanimada e mexeu os cabelos brilhantes distraidamente.
- Ah não sei, mas vamos logo saber! – levantou-se se animando de novo. – O professor não chegou ainda, certo? – sorriu.
- Hum... Certo. – guardou o celular na linda bolsa vermelha de couro novo que combinava com a frente única e os sapatos altos que usava e levantou-se. – Espero que seja algo que valha à pena.
E as duas deixaram a sala, a cor-de-rosa com preto falando alguma coisa toda enérgica e a outra, quase bocejando, mas desfilando elegantemente em seus saltos.

****

O coração pulsava quase em sua garganta. As mãos suavam e sentia a adrenalina brincar de escorregador pela sua espinha, subindo e descendo de novo.
Ele queria vê-la na sala dos professores! Será que tinha feito alguma coisa errada? Ou seria uma tarefa de ajudante?
Qualquer coisa que fosse estava feliz. Mesmo se estivesse no caminho para uma severa bronca. Queria vê-lo todos os dias e era um enorme prazer poder fazê-lo em um dia que não fosse o de sua aula.
Chegou até a porta branca. Hesitou por um minuto, mas obrigou-se a bater logo. Esperou menos de dez segundos e ele abriu-a, juntamente com aquele sorriso de sempre.
- Olá, Hinamori-kun! Como está? – os olhos fecharam-se calorosamente por trás das armações pretas dos óculos. E ela sorriu com as bochechas em chamas e o coração desgovernado. Sentia o cheiro dele misturado com o café que certamente estava bebendo...
- E-estou bem. – disse desviando os olhos para baixo e juntando as mãos timidamente. – Por que é que o senhor queria me ver, Aizen-sensei?
- Não se preocupe, entre! – fez sinal para que ela entrasse na sala. – Não vou tomar muito seu tempo, espero não estar atrapalhando sua aula.

- N-não, de jeito nenhum! – foi entrando devagar, o corpo bastante retesado de nervoso.
- Quer um pouco de café? – sorriu gentilmente voltando a sentar-se em sua cadeira, erguendo uma xícara com o nome do colégio gravado.

****


- O que é que você quer Chiharu? – perguntou impaciente, fazendo um barulhinho estalado no assoalho com seus scarpins. Cruzou os braços esperando.
- Ai, que mau humor, Mai-chan! – a garota de cabelos castanhos presos encolheu-se. – O que aconteceu? Brigou com o Ashido, foi?
- Há! Até parece! – riu jogando os cabelos pra trás. – Nosso relacionamento é perfeito! – levantou o nariz arrebitado de modo arrogante.
- É que a Mai-chan está querendo levar a faculdade a sério depois das notas vermelhas do ano passa...
- Cala a boca, Fuu! – a loira deu uma forte cotovelada nas costelas da amiga linguaruda. – Só não quero perder muitas aulas, afinal, quero mesmo ser uma doutora renomada algum dia. – explicou-se com a dignidade que lhe sobrava.
- Ah... – abriu a boca observando Fuu massageando as costelas doloridas. – Bem... É que eu achei que o assunto ia mesmo te interessar. Afinal, tem a ver com o dito cujo. – deu de ombros, sentindo-se levemente ofendida.
- Com o Ashido? – os olhos escuros e miúdos da loira cresceram vertiginosamente por baixo dos cílios cheios de rímel. – O que tem ele? – jogou a pose de nerd a quilômetros de distância.
- Eu o vi hoje conversando com uma garota... – declarou de braços cruzados e cabeça meneante como se estivesse dando uma notícia muito séria. – Mas o problema é que não era uma conversinha qualquer não. Ele estava cheio de gentilezas com ela, um sorrindo para o outro, trocando olhares... Parecia que já se conheciam há tempos!
- Quem é essa garota!? – a voz de Mai reverberou por todo o banheiro, assustando Fuu que estava atrás. – Como ela é!? – as sobrancelhas estavam bastante franzidas, e os lábios pintados comprimidos.
- Olha... Ele levou-a até sua sala... Ou seja, ela está fazendo medicina junto com você.

E eu escutei a conversa dos dois e ela disse algo como “Oh, eu quero ser uma pneumologista, descobrir a cura da doença do meu papai e salvar o mundo”. – fez gracejo imitando ironicamente a voz de Rukia. – E isso o deixou todo derretido. – revirou os olhos.
- Sei... – os lábios da loirinha praticamente tinham sumido, de tanto que ela os apertava. – E como ela é? Detalhadamente!
- Ah... – Chiharu ficou pensativa, levando o dedo indicador à bochecha, balançando as pulseiras. – Ela é bem baixinha, parece ter uns quinze anos ou menos... E parece uma bonequinha, vestidinho com rendinhas e sapatilhas... Cabelos pretos curtos, olhos muito grandes e azuis... Ela tem cara de garotinha do interior...
- Ela é... – remexeu-se hesitante e pigarreou tentando manter uma postura digna. – Ela é mais bonita do que eu? – tentou parecer calma, mas por dentro o sangue bombeava violento.
- Meu Deus, claro que não! – a garota de cabelos longos abriu a boca e os olhos exageradamente. – Até parece, Mai-chan! Você é com certeza a garota mais bonita que circula por essa universidade! – seu tom de voz surpreso era igualmente exagerado.
- É! Não diga mais uma coisa dessas! – Fuu ajudou.
- É... Vocês têm razão, não há porque eu me preocupar, não é? – virou-se para o espelho e ajeitou os cabelos. – Só vamos manter o olho nessa garota... Quem sabe a gente não fica “amiguinhas” dela só para, vocês sabem, mantê-la debaixo de nossos olhos.
- Idéia excelente! – os olhos vermelhos à base de lentes de Fuu brilharam. – Parece até aquele filme, “Meninas Malvadas”!
- Ah, não leve para esse lado, não vou fazer nenhuma maldade com a menina! – Mai fez pose de profundamente ofendida.
As outras duas entreolharam-se em dúvidas e engoliram o riso que queria explodir.
A possessividade de Mai deixava marcas fundas de dúvidas quanto a essa afirmação...

****

O sol já estava fraquinho. A brisa entrava refrescante pela janela do carro.

Pelo caminho era fácil encontrar cerejeiras encantadoramente floridas, pétalas dançando e espalhando-se pelo ar. E o perfume de flores que desabrochavam em parques e jardins... Mas aquela bonita paisagem de primavera não conseguia acalmar-lhe como deveria.
- Rukia-chan parece muito nervosa! – Momo reparou, sentada no banco traseiro do carro, agarrada nos dois bancos dianteiros para sentir-se mais próxima das duas adultas. – Você só vai se encontrar com o Celeste-sama hoje, não é prima? – dirigiu os olhos para a loira no volante.
- É isso aí! – ela confirmou sorrindo. – Não tem nada demais! Você só vai acertar os detalhes do encontro!
- Eu sei... – os lábios se retorceram numa tentativa de um sorriso calmo. – Mas é que não tenho mais certeza se eu realmente quero isso... – murmurou virando para a janela, o vento espalhando mechas de seus cabelos negros pelo seu rosto.
- Por favor, não dê pra trás agora! Não dê as costas à sua sorte! – agora Rangiku parecia ter ficado um pouco irritada.
Então a pequena calou-se. Se pensasse bem, estava agindo como uma criança assustada. Só iria conhecer uma pessoa, só isso. Se não gostasse dela, teria uma bela quantia de indenização. Todos aqueles pensamentos, todas as ponderações e listas mentais podiam ser imediatamente descartadas!
- E aí? Como foi na escola hoje? – resolveu mudar de assunto, perguntando para Momo.
- Ah! – ela corou com um sorriso crescente. – Foi ótimo! – riu um pouco. – O Aizen-sensei me chamou para ajudá-lo com projetos e preparativos para suas aulas todos os dias depois do horário!
Houve um silêncio. Rangiku estava concentrada na estrada, se tinha ouvido alguma coisa, não demonstrou. E Rukia, como sempre, estava pensativa.
- E você aceitou isso? – perguntou por fim.
- Claro que sim! Por que não aceitaria?
Lançou um olhar significativo para Rangiku. Mas esta só deu de ombros levemente. Suspirou então e voltou os olhos para a menina.

- Eu quero conversar com esse professor assim que possível. – disse enfim e voltou a olhar para a janela, derrotada. Será que, mais uma vez, estava se preocupando demais?
- E você, Rukia-chan? Como foi seu primeiro dia? – Rangiku perguntou.
- Foi bom. – sorriu pequenamente. – Gostei dos professores... E conheci um veterano do curso de direito e também umas garotas que me convidaram para almoçar com elas...
- E eles são legais? – Momo animou-se.
- Sim... Mas não consegui conversar com as garotas... Eu passei o almoço copiando umas matérias atrasadas... Mas amanhã a gente deve conversar. – sorriu.
- Isso é ótimo! Assim não fica se sentindo sozinha naquele lugar enorme! – Rangiku foi dizendo enquanto estacionava o carro. – Bem... Chegamos. Você fica e nós vamos dar uma volta... Daqui a algum tempinho voltamos para te buscar.
- Certo. – abriu a porta do carro e desceu, dizendo mentalmente para si mesma que não tinha motivos para se sentir tão nervosa e nem para dar ouvidos àqueles ímpetos de fugir que lhe perturbavam os ouvidos. – Até logo! – acenou fechando de novo a porta do carro e observou o veículo partir.

****

- Ohh, como é maravilhoso vê-la de novo, Rukia-san! – assim que adentrou aquela espécie de loja de doces esquisita, foi recepcionada pelo homem de trajes verdes e chapéu. – Eu sentia que não ia tardar.
Por algum motivo, não acreditou naquelas palavras.
- Ah, é ótimo vê-lo também. – respondeu com um sorrisinho educado.
- Sente-se, por favor! – indicou a ela uma cadeira velha de madeira enquanto se instalava numa poltrona macia por trás de uma mesa escura de modelagem antiga com uma caixa registradora de um lado e um computador do outro.
Aquele lugar era totalmente... Incoerente.
Sentou-se.
- Então... – ele sorriu. – Vejo que é uma garota de muita sorte, ahn? Na mesma semana encontrou sua alma gêmea!
- Ahn... Pois é... – não sabia muito que dizer. E não tinha certeza se tinha mesmo sorte.

- Bem, vamos deixar de enrolação! – digitou alguma coisa em seu computador e voltou o rosto para Rukia em seguida. – Vou te explicar as regras.
Engoliu em seco e fixou os olhos nele, apurou os ouvidos.
- Este sábado será o dia mágico. O dia em que os destinos irão se unir pela primeira vez. O dia em que descobrirão que estavam esse tempo todo debaixo do mesmo céu. – o discurso parecia ensaiado. – E assim passarão um tempo. Um bom tempo para que se conheçam, para que deixem as estrelas e os demais astros agirem consolidando de vez o amor de vocês.
- E... Quanto tempo isso leva? – perguntou receosa.
- Cada caso é um caso, minha jovem! – disse balançando o dedo indicador. Parecia um médico falando de uma doença. Aquilo parecia de todos os pontos de vista, uma brincadeira. – E o seu caso é... Digamos assim... Especial...
- Especial...? – entoou dando a entender que não compreendia.
- Sim, especial. – sorriu novamente. – É um caso meio complicado, que pode demorar mais tempo do que os outros para se consolidar... Já que estamos lidando com signos solares opostos e visões diferentes do mundo...
Piscou para ele séria, à espera de uma sentença mais direta.
- Câncer e capricórnio... A mãe e o pai. O lar e o trabalho. A emoção e a razão... – disse num tom meio cantarolante. – Ao mesmo tempo em que adversos necessários para que se complementem.
Assentiu com a cabeça.
- E... Por causa de todas as adversidades, o período de, digamos, adaptação, terá de ser estendido. Mas não se preocupe... Não vai durar mais de um ano... E vai depender exclusivamente de vocês... – deu de ombros abrindo o leque casualmente.
- Um ano!? – quase berrou. – Mas isso é...
- Enviarei missões para o casal pelo correio. E ao completarem cada uma, enviarei outra, até que os dois estejam prontos. Os monitorarei por esse aparentemente simples aparelho. – puxou uma gaveta de sua mesa e tirou de lá uma caixinha branca. – Pegue.

Pegou a caixa e abriu-a desajeitadamente. Estava atordoada com tudo aquilo. Ia ter que passar um ano em período de experiência com uma pessoa que nem sequer sabia quem era? Que nem sequer sabia a cor dos olhos?
O tal do aparentemente simples aparelho era um bracelete, percebeu. Igualzinho o de Rangiku. Só que prateado com um símbolo diferente. Certamente o símbolo de capricórnio.
- Gosta da cor? – perguntou alheio – ou não – à confusão dela.
- S-sim... – respondeu sem pensar direito.
- Ótimo! – pegou de volta o bracelete e guardou de volta na caixinha. – No dia do encontro use-o. E não tire mais. Mas não se preocupe... As imagens que me serão transmitidas estarão sem áudio e sempre tem um botãozinho para que possa desligá-lo. Só quero evitar que me passem a perna dizendo que cumpriram as missões sem tê-las de fato cumprido por causa do dinheiro da indenização. – abanou-se. – Alguma dúvida?
- Acho que não... – segurou a caixinha com as duas mãos, a mente trabalhando depressa, confusa. Sentia-se mais tonta do que se sentiu pela manhã quando não conseguia encontrar o caminho para sua primeira aula na universidade, no meio de toda aquela gente desconhecida.
- Então apenas compareça a esse endereço, no sábado, às sete da noite. – empurrou-lhe um papelzinho. – E boa sorte. – abriu-lhe um último sorriso.


Continua...


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