Céu escrita por Liminne


Capítulo 28
Cap 28 – Jogue fora o orgulho do fundo do armário




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O trem logo ia parar. Finalmente voltaria para uma terra segura, onde não tremesse o tempo todo. E já estava até sorrindo. Rukia o estaria esperando na estação. E ia poder provocá-la bastante. Por qual apelido ia começar? Luazinha de prata? Não... Talvez bonequinha de cristal. Não... Pudinzinha! É. Aquele era o mais curioso e vergonhoso.
Finalmente o trem parou. Levantou-se e esperou a oportunidade para descer.
Do lado de fora, correu os olhos por todos os lados. Ela não estava lá.

****

No outro dia, tentou chegar o mais cedo possível aos portões da faculdade. Não estava com uma cara muito boa. Na verdade, estava de mau humor. Nem tinha dormido direito... Parecia que só agora estava se dando conta da correria de sua vida. Ou podia ser as provas se aproximando...
Atravessou o corredor a passos largos, mas quando entrou na sala, o professor já havia chegado. Não adiantava. Sempre tinha alguma coisa empatando seus compromissos. O pensamento fez com que soprasse a mecha de cabelo que atravessava seu rosto.
- Professor! – chegou até ele um tanto ofegante. – O trabalho. – entregou o trabalho ao homem e apressou-se
em sentar. Estava com a cabeça tão cheia que nem olhou para o ruivo que estava lá no canto, chamando-a com o olhar.

****

- A-Aizen-sensei... – Momo entrou na sala dos professores, na hora de seu almoço. O rosto, como sempre, corado e os olhos brilhantes. Estivera esperando pelo fim de semana inteiro para encontrar-se com o professor. Precisava dizer coisas importantes.
- Hinamori-kun! – ele sorriu gentil, tirando os olhos de seus papéis. – O que te traz aqui?
- Ah... Eu... – forçou-se a olhar para ele com firmeza. – Aizen-sensei... Obrigada pelo presente! – fez uma pequena reverência.
Ele sorriu ainda mais.
- Então você... Aceita?
Ela levantou os olhos para ele. O coração batendo mais rápido. Sorriu.
- Sim. Eu aceito.

- Puxa... – ele balançou a cabeça e seu sorriso parecia um pouco mais fraco. – Estou tão feliz, mas... Me sinto um pouco egoísta.
- Egoísta? – ela franziu as sobrancelhas. – Aizen-sensei nunca seria egoísta!
- É que estou tão feliz quanto você. Porque talvez seja minha chance de fazer um trabalho como fotógrafo. – falou bem baixinho, inclinando-se para ela.
- Ah, mas eu vou ganhar com isso também! Talvez aí esteja meu futuro! – ela continuava radiante. – E eu vou ficar mais feliz ainda em ajudar o sensei... – olhou para baixo com sua inegável carinha de apaixonada.
E ele continuava sorrindo feito bobo.
- Mas ainda é segredo por enquanto, hein? – lembrou a ela, ainda naquele tom de sussurro.
- Claro! – ela imitou-lhe o sussurro e selou os lábios com o dedo indicador. – Quando eu puder começar, me avise.
Ele assentiu com a cabeça.

****
Ichigo saiu da sala quando era hora do almoço. Passou os olhos por ela, mas estava entretida com os livros. Suspirou. Parecia que ela nem o estava vendo. Devia estar com algum problema... Ou estava o evitando de novo? O que tinha feito? Sentiu um pouco de raiva momentânea. Lembrou-se do dia anterior quando ficou esperando meia hora que ela aparecesse na estação e nada. Se ela estava com problemas, tudo bem! Mas não precisava ignorá-lo por isso!
E por que é que estava tão irritado por causa disso?
Hunf... A quem ele queria enganar? Passou então reto pela capricorniana e saiu da sala. Não ia ficar sem comer por causa do desprezo dela.
- Ukitake! – o professor chamou, estava atolado de papéis, os trabalhos que havia pedido. Parecia segurar o de Rukia.
- Sim! – ela levantou-se dos livros e foi até ele.
- O que aconteceu com você? Que trabalho é esse? – deu-o de volta para ela.
A jovem folheou-o e sentiu o coração apertar. Passou rapidamente os olhos pela mesa e pelos outros trabalhos. Com certeza tinham se esforçado mais que ela.
- Eu... – abaixou a cabeça. – Acho que não dei o melhor de mim.

- Você só acha? – o professor não estava muito contente. – Olha, você é uma das melhores alunas que eu tenho... Mas você sabe, isso aqui não é o colégio. E ninguém vai ficar te mimando. Se você realmente quiser alguma coisa da sua vida, vai ter que fazer melhor que isso. – seu tom era frio e rígido.
- Mas... – suas sobrancelhas tremeram.
- Não tem “mas”. – ele continuou no mesmo tom. – Isso é matéria de prova. – levantou-se. – Você tem sorte de eu estar te dizendo isso. Geralmente eu desconsidero e pronto. – ajeitou os papéis e levou-os consigo. – Até a próxima aula. – e saiu da sala, passando por Ichigo que acabara sendo detido na porta.
- Droga... – ela murmurou com raiva. O ruivo podia ver seu punho cerrado e prever como estava aquele rosto.
- Rukia... – aproximou-se cauteloso. – Vamos almoçar...
Ela virou-se para ele. Os olhos definitivamente não tinham o tom azul de sua camiseta e de sua saia florida. Estavam mais fechados, daquele jeito que sempre mudava quando ficava mais fria.
- Não tenho fome. – ela disse, sem encará-lo mais.
- Mas você tem que comer! Vai ficar o dia todo aqui! – ele ralhou.
- Eu acabei de quase zerar um trabalho, tá? – ela gritou irritada. – Será que não tenho o direito de perder o apetite?
Ele quase recuou. Mas sabia que tinha que estar com ela naquele momento. Principalmente depois daquele sábado.
- Rukia. – disse sério. – Por que é que você vacilou desse jeito?
Ela hesitou. Franziu o rosto e respirou fundo antes de soltar com a voz elevada:
- Porque eu não tenho tempo! – explodiu. – Eu tinha tantas outras coisas pra fazer que acabei esquecendo desse maldito trabalho! Eu estudo até de tarde, trabalho até de noite, ainda tenho que estudar durante o trabalho ou de madrugada e me desdobro nos fins de semana pra fazer os trabalhos, cuido da casa, das minhas colegas de quarto... E ainda tem as porcarias das missões do Infernal-sama! – passou a mão na testa e fechou os olhos com força. – Eu não sei onde eu tava com a cabeça quando decidi aceitar essa droga de joguinho!

Passei o sábado fazendo aquela pesquisa idiota e no domingo fui lembrar do trabalho... Passei o dia todo fazendo e ainda saiu uma porcaria! Eu tinha que ter lido mais! Eu tinha que ter pesquisado mais! Mas você acha que eu tenho tempo?
- Rukia! – Ichigo foi até ela e segurou-a pelos ombros. Sacolejou-a de leve. – Calma! Fica calma!
De repente, o semblante sério e duro dela começou a tremer. Não... Não agüentaria se ela desabasse no choro ali!
- Mas que droga! – ela disse, a voz querendo vacilar. – O professor tem razão! Isso é matéria de prova! E elas já estão chegando! E eu nem vou ter tempo pra estudar! Minha média vai cair por causa desse trabalho... E onde eu vou chegar se continuar desse jeito?
- Ei, ei! – sacudiu-a mais um pouco. Mas agora sua voz estava mais gentil. – Não precisa surtar assim... Foi só uma nota baixa. E é só um trabalho. Você sabe que pode recuperar.
- Eu sei! – a voz estava mais aguda. – Mas eu não tenho tempo pra me recuperar, Ichigo! Eu devia estudar o tempo todo! Mas eu sou fraca demais e tive que inventar de sair de casa! E agora estou me dando conta de que as coisas estão ficando apertadas e se eu continuar assim...
- Então larga o trabalho! – ele cortou-a. Ainda estava sério. Seu tom ainda era mais ameno. E ainda segurava os ombros dela. – Você devia saber que um estudante de medicina não tem tempo para trabalhar.
- É, mas... – de repente seus olhos ficaram frágeis. O gelo estava derretendo e aquele líquido o mataria. – Mas não quero sobrecarregar meus pais... Eu devia ser independente... – a voz deu uma tremida que ela reprovou com toda sua alma. Mas não podia evitar. Sentia-se uma inútil.
- E você é! – ele voltou a gritar. Ela tinha que ouvi-lo. – Você saiu de casa, largou todo amor e conforto pra vir para uma universidade melhor. Você não se acha independente com isso?
- Mas ainda preciso que meus pais me ajudem! – gritou de volta, sentida. – E sou eu quem devia ajudá-los! E não ficar dando mais e mais trabalho!

O caranguejo enfureceu-se. Largou bruscamente o corpo da baixinha de cabelos negros e marchou até sua mochila. Demorou um pouco vasculhando-a, mas voltou a Rukia com alguns papéis na mão e o rosto vermelho, ávido. Estava furioso com aquela situação.
- Isso aqui! – berrou sacudindo os papéis na frente do rosto dela. – Isso aqui é o que você desejou toda a sua vida! – jogou-os em cima dela, que os pegou meio atrapalhada. – O que você desejou mais que tudo... O que você se dispôs a fazer, se jogou para fazer... E agora vai arrumar qualquer desculpa para hesitar, para ficar com medo? Vai deixar que o orgulho ou qualquer merda dessas te impeça de alcançar seu objetivo maior e mais nobre?
Ela estava ainda
em choque. Tremulamente abriu os papéis e leu-os. E seus olhos úmidos formaram as gotinhas de lágrimas que ficaram presas em seus cílios e na sua garganta. Aquilo ainda existia... Seu desejo... Suas cartinhas para o Papai Noel pedindo que seu pai fosse curado!
- Eu não vou ficar com medo e nem hesitar... – disse com a voz embargada, ainda olhando para a carta. – Mas... Mas... Eu ainda assim estou atrapalhando...
- Pare de falar besteira! – ele continuava fazendo caretas. – Você não está atrapalhando ninguém. Seus pais têm a maior fé
em você. O maior orgulho. Eles acreditam e sabem que você ainda vai fazer milagres. Eu também acredito nisso. – olhou para ela. Ela olhou de volta, paralisada. – Seja um pouco humilde agora e aceite a ajuda deles. Eles nunca vão se arrepender de permitir que você brilhe cada vez mais... Mas isso só vai acontecer se você quiser mesmo tudo isso. E estiver disposta a desistir do seu orgulho. E esquecer as desculpas. E realizar seu próprio sonho, assim como todos que conhecem Ukitake Rukia têm a certeza de que você vai fazer.

- Ichigo... – ela murmurou sem ação. – Ichi... go... – a emoção voltou. E ela quase não conseguiu conter as lágrimas. Mas foi mais rápida em secá-las. – É. – refez sua postura forte. – Você tem razão. – segurou com força as cartinhas em sua mão. A energia delas não devia ser ignorada. – Eu não posso deixar que nada me atrapalhe. – um sorrisinho saiu com facilidade. – Obrigada.
O rosto retesado dele relaxou também. E diante do sorriso dela, não pode deixar de sorrir também.
- Vamos almoçar logo. – coçou a nuca e foi andando na frente. – Antes que comece a próxima aula.
- É. – ela foi andando mais rápido para alcançá-lo.

****

- Hahahaha! – a dupla de signos opostos sentava a uma mesa com o almoço. Agora já riam. – O que foi aquilo? – perguntou Rukia meio sorrindo e meio indignada.
- Não sei. – ele balançou a cabeça enquanto sentava. – Mas não pensei que fosse viver pra ver isso. Ela é mesmo uma puxa-saco.
Os dois estavam falando de Fuu. Minutos antes de sentarem-se ali, tinha ido até eles perguntar por que não tinham ido à sua festa de aniversário. E ainda acrescentou que fizeram muita falta!
- Ela quer comprar sua companhia de volta... Parece que você causa boas impressões. – Ichigo disse, agora parando de rir.
- Hunf! – Rukia fez uma careta. – Quero ver ela continuar pensando assim. Eu vou ficar ainda mais nerd do que já sou!
- Isso. – Ichigo aprovou a decisão da capricorniana. – Gosto da determinação.
Seus olhares sem querer se encontraram. E desviaram meio tímidos. Principalmente ela, que ficara levemente corada. Um pouco pela explosão de antes e um pouco pelo modo como ele disse aquilo. Ele tinha mesmo fé, não é? Não podia ter desejado apoio maior do que aquele.
- Sabe... – agora o tom da jovem mudou para mais triste. – A Mai não veio de novo... – mudou de assunto. Mas a verdade é que já queria falar disso antes. – Estou ficando preocupada.
- Já disse que você não deve se preocupar com ela. – o canceriano franziu as sobrancelhas e balançou os ombros.

Os olhos azuis, porém ainda percorreram aquele monte de pessoas. Avistou Chiharu correndo com alguns livros na mão. Abaixou os olhos.
- E então... Pudinzinha. – Ichigo resolveu provocar. Já estava louco para fazer isso. – Como foi sua missão do fim de semana? – puxou um sorrisinho malicioso.
- Ah... – ela não pôde deixar de corar ao ouvir aquele apelido. Só seu pai mesmo pra dizer que tinha bochechas de pudim. Segurou a vontade de esconder o rosto por dentro e encarou-o. – Foi bem proveitosa. E meio desnecessária.
Ele continuava se sentindo superior, reparando no leve rubor nas bochechas dela.
- Desnecessária? Vai querer excluir o Celeste-sama da sua vida também, Luazinha de prata? – perguntou um pouco preocupado, mas mesmo assim provocativo.
- Não estou falando disso. – bebeu um pouco de suco para fazer mistério. – Estou falando de ter que ter tido informações demais... Como... Ugh! Da sua cueca da sorte. – simulou um arrepio de nojo. – Espero que não a esteja usando hoje... – franziu o rosto.
A cara de Ichigo não dava para ser descrita. Era uma mistura de vermelho vivo com paralisia e olhos do tamanho de frisbees.
- Q-q-quem te contou isso?! – berrou desesperado.
- Oh, é segredo. – ela fazia pose de, como sempre, a que ri por último. – Fontes secretas! – pôs o dedo indicador na frente dos lábios.
- Mas que... – o caranguejo trincou os dentes e apertou o punho irado.
- Ihh, calma! – ela continuava com aquela expressão irritante. – Se eu fosse você não me importava com um detalhe tão trivial. Quer dizer, com tantas outras coisas piores pra se preocupar. – riu curtamente.
O coração do ruivo dava para ser ouvido em Kofu naquele momento. O que mais contaram? O que mais ela arrancou? Por que ela era tão desgraçada? Por que o estava olhando com aquela cara?!
- O que mais te contaram? – perguntou com força, mas ao mesmo tempo tentando ser cauteloso. Mais cauteloso com seu coração, claro. Queria estrangular aquela baixinha. Era esperta demais pro seu gosto!

- Vou te dar uma dica. – ela provocou. – É amiga de uma princesa e usa um vestido azul.
Não.
- Mais uma! Seu nome começa com M. – se divertia. O riso preso nos cantos dos lábios o suficiente para dar raiva
em qualquer Ichigo.
o. Milhões de vezes NÃO!
- Ahhh! – deixou escapar um grito de desespero. – Não! Não! Quem...? Como...? Ahh!
- Hahahaha! – soltou o riso. Não dava pra agüentar vendo todas aquelas caretas e estando no controle da situação. – Foi a sua irmã menor. E agora seu pai também tá sabendo. – inclinou-se na mesa e acrescentou num cochicho que quase fez o sangue de Ichigo explodir. – Agora ele está com sérias dúvidas de que você seja bissexual!
- Merda! – deu um soco na mesa. – Como foi que você conseguiu tanta... Argh!
- Bem... Devo dizer que sou uma pessoa dotada de diversos talentos. – sorriu metida para ele. O que aumentou a vontade de estrangulá-la. – E um deles é arrancar informações vergonhosas de um ruivo que fugiu do seu primeiro beijo, com meus olhos adoráveis. Oops! – tampou a boca ironicamente.
- Sua... – se fosse um cachorro estaria espumando. – Eu tinha seis anos!
- Na verdade, sete. – ela corrigiu sem dó.
- Que seja! Ela quis me agarrar do nada! – cruzou os braços bicudo. – E quer saber? Eu não devo satisfações a alguém que tem o apelido de bolinha de neve!
Ela continuou rindo. Seus apelidos não eram nada perto dos micos que ele pagou. Mesmo com todo o esforço que ele fazia para parecerem tão ruins.
- Tá, tá bom. Já deu. – ela refez a postura. – Se eu continuar o emoxinho vai chorar. Mimimi.
Ele lançou um olhar furioso para ela.
- Enfim, agora na paz... Aquela prima da foto era a que você me contou sobre naquele dia no jardim?
O jovem de olhos castanhos ficou quieto. Seu coração acelerou um pouco. Mas nem devia... Afinal, já tinham falado daquilo antes. E sempre podia perguntar para dar o troco. Se isso realmente o fizesse sentir menos sem graça.
- É... Era ela.

- Hum... – Rukia sorriu, para o espanto total dele. – Fico imaginando como ela deve ser agora. Sem toda aquela meleca e os traços infantis.
- Bem... A meleca continua. Mas ela mudou bastante.
Olhou para o rosto dele. Riu um pouco. Queria decifrar aqueles olhar...
- Vocês ainda se vêem com freqüência? – perguntou direta.
- Sim. Quando dá. A última vez que nos vimos foi ainda esse ano. – fez uma pausa. – Por que é que está tão interessada nela? – fez de tudo para encará-la e captar seus olhos.
- Ah! – abriu a boca indignada. – Está me acusando de alguma coisa com essa cara? – franziu o cenho. – Não é por nada. Só é curioso você todo anti-social tendo um relacionamento com uma mulher, só isso... – deu de ombros.
- Não perde a chance, né? – ele diminuiu os olhos para ela.
- Ah! – Rukia iluminou-se de súbito. – Você conheceu Renji e Orihime, não é? O que achou deles? Como é que eles estão?
- Eles reagiram parecidos com você agora. Ficaram me perguntando de você. Estão morrendo de saudade. Isso me deixou realmente surpreso...
- Ah... – suspirou. – Também estou com saudades... – ela ignorou totalmente a alfinetada dele.
- Aquele tal de Renji é um sem educação. A garota é bem normal, a não ser pela comida dela. – ele resolveu responder a primeira pergunta dela.
- É o que eu esperei totalmente que você ia achar. – sorriu.
- Ah... Rukia... – ele fez uma pausa. Agora estava mais sério. – O que você pegou como item interessante na minha casa?
Ela sorriu pequenamente. Mas expandiu o sorriso devagar daquele seu jeito provocador infalível.
- Sua cueca da sorte.
Pelo jeito que o ruivo abriu a boca, os olhos e o rosto soltou fumaça de tão quente, qualquer um podia afirmar que ele tinha explodido por dentro.
- Hahahaha! – ela caiu na risada. – É brincadeira.
O horário do almoço acabou.
- Bem... É melhor irmos para a aula. – ela levantou. – Depois falamos sobre isso.
- Certo. – ele se recuperava. Mas agora estava curioso. – Vamos lá.

****

Quando chegou em casa, percebeu que não estava sozinho. Esperou um pouco parado, de costas para o portão. Virou-se. E a garotinha com uniforme ginasial apareceu sorrindo.
- Hinamori-kun! – ele sorriu de volta e foi até ela. – Veio muito cedo hoje. Eu nem entrei
em casa.
- D-desculpe Aizen-sensei.
– ela ficou vermelha. – É que estava ansiosa.
- Tudo bem. – ele fez um cafuné gentil nela. – Entre. Tenho algumas surpresinhas pra você.
Ela foi seguindo-o quase engasgada de tanta felicidade.

****

Todos tinham saído da sala. Agora podiam conversar.
- Hun... Você vai pedir demissão do seu emprego hoje? – Ichigo quis saber, aproximando-se de Rukia.
Ela abaixou os olhos tristemente. Aquilo estava partindo seu coração pouco a pouco.
- É... Acho que não tem jeito. – forçou-se a sorrir um pouco. – Vou deixar todos os meus coelhinhos com as crianças. Para me sentir menos culpada.
- Os coelhos que você juntou sua vida toda... – ele sorriu. – Acho que está bom para acabar com a culpa. E eles são menos chatos que você, já que não falam e tal...
- Fica quieto. – ela retrucou. – Eu não devia ter feito essa idiotice.
- Culpa do seu orgulho.
- Já disse pra ficar quieto. – ela disse de novo, dessa vez mais ameaçadora.
- Você não suporta ouvir quando está errada, não é? – porém, ele era rebelde.
Ela deu de ombros. Talvez ele estivesse certo.
- Eu vou com você. – ele disse de repente.
Ela olhou para ele surpresa.
- Mas Ichigo, eu não...
- Eu quero ir. – ele afirmou com força. – E depois vamos passar no Celeste-sama para entregar os relatórios.
A face surpresa deu lugar a uma expressão mais doce. Satisfeita, vamos dizer assim. Desde que conhecera o ruivo, a cada dia que passava podia perceber o quanto ele estava se tornando mais forte e determinado. Estava nos pequenos sinais. E gostava disso. Esperava poder ter ensinado a ele tanto quanto ele a ensinou. E tinha só dois meses.

- Ah. – Rukia abriu a boca enfim. Foi até a bolsa e tirou de lá uma caixinha que o ruivo reconheceu logo, com um salto altíssimo do coração. – Aqui está o item interessante que encontrei no seu quarto. – abriu a caixinha e tirou de lá a correntinha com o pingente de coração com um K dentro. – O que é isso, Ichigo? O que é esse K? E por que...
Calou-se quando sentiu a mão dele envolver a sua, a que segurava a corrente. Seu coração disparou instantaneamente. Ele encarou-a por um milésimo de segundo e depois desviou os olhos.
- Na hora certa... – muito baixinho. – Na hora certa você vai saber. – firmemente, olhando-a nos olhos novamente.
Pela primeira vez ela sentiu aquilo. Aquele calor que se espalhava do peito para todo o corpo. O ar que lhe faltou por alguns instantes. E o gosto doce daquele momento. Doce e misterioso.
E ele não sentia muito diferente.
Naquele minuto em que ficaram se olhando tão perto, com as mãos unidas. Quando esse momento ia se quebrar? Quando ele ia se repetir?
- C-certo. – ela disse enfim, mexendo o braço para que ele soltasse sua mão. E ele o fez. – Vou guardar minha curiosidade até lá. – sorriu ainda com as bochechas rosadas e guardou a correntinha na caixinha.
- Bem... – ele agora coçava a nuca rezando para que a freqüência cardíaca voltasse ao normal logo. – Podemos ir agora?
- Podemos. – ela respondeu.

****

Antes que atravessassem os portões da universidade, Rukia parou no meio do caminho. Ichigo fez o mesmo e olhou interrogativo para ela.
- Pode me esperar um segundo? – ela pediu com um olhar preocupado.
- Claro. – ele já imaginava sobre o que seria aquela pausa. – Estarei no carro.
Ela agradeceu e saiu andando em passos rápidos.
- Chiharu! – abordou a garota que conversava com uma outra vestida de preto.
- Rukia! – ela pareceu tão surpresa quanto se tivesse acabado de ver uma pessoa voando.
Com um olhar dispensou a colega de preto e as duas ficaram a sós.

- O que você quer? – perguntou ainda com os olhos verdes chocados. – Por acaso veio pra brigar? Eu realmente não sou boa de ataque nem de defesa!
- Ei! – Rukia falou mais alto. – Eu não vim aqui te bater, que absurdo! O que você pensa que eu sou? – deixou as caretas e voltou a falar seriamente. – Eu não estou contra você nem contra a Mai. Muito pelo contrário.
Sabendo que estava segura, a morena de cabelos compridos endireitou-se e encarou a pequena com mais confiança.
- Se você não sabe, a vida da Mai acabou por sua causa. – disse categoricamente.
Rukia só franziu as sobrancelhas.
- O namoro com o Ashido foi pro poço, a reputação dela na escola, a imagem, tudo. E agora ela não sai mais da cama. – ela continuou.
- Ah. Era só isso que eu queria saber. – a baixinha disse. – Então ela está na cama chorando?
Chiharu parecia ter ficado furiosa como se alguém falasse mal de sua roupa ou coisa assim.
- Então foi pra isso que veio? Pra zombar da minha amiga?
- Eu já disse que não estou contra a Mai. E já disse que é muito o contrário. Você acha que a vida dela acabou por minha causa. Mas eu sei que, na cama dela, chorando ou não, ela sabe que estou do lado dela.
- Como pode estar do lado dela fazendo-a chorar? – Chiharu parecia incrédula.
- Chiharu... É isso que amigas fazem. – agora sua voz era amável. – Dizem a verdade. E dizem quando a outra está errada. E a ajudam a encarar a verdade sempre. Mesmo que isso a faça chorar.
Agora a pisciana resolveu ficar quieta.
- Eu queria muito encontrar a Mai e dizer a ela que não tenha medo. Que pense em tudo aquilo que eu disse e aproveite que todos estão inventando mil histórias dela para aparecer como a verdadeira Mai, mais linda e triunfante que nunca. Adoraria dizer a ela o quanto eu queria conhecer a verdadeira Mai. E dizer que não importa quem virou as costas para ela. Eu estaria do lado dela. Sei que você estaria do lado dela. E mais importante: ela mesma estaria do lado dela. E poderia ser sem maiores preocupações. E fazer o que gosta.

E ter ao seu lado o que realmente conquistou para si mesma, com a sua personalidade e seu jeito de ser. – tomou fôlego e pousou uma mão no ombro direito da jovem de olhos verdes. – Chiharu... Você sempre esteve do lado dela. E devia mostrar que também vai estar quando ela quiser assumir a verdade. Você devia estar ao lado dela mostrando que se orgulha do que ela é, que ama o que ela é, porque eu sei que é verdade. E não deveria estar encobrindo toda essa mentira. Você por acaso tem vergonha de quem é sua amiga desde que eram pequenas?
- Não. – respondeu com convicção. – Nunca.
- Então mostre isso pra ela. – tirou a mão de seu ombro. – Dê forças a ela para que seja o que é.
- Rukia... – os olhos verdes estavam cheios de lágrimas.
- E, por favor, não diga que fui eu que te disse. – sorriu. – Eu sei que no fundo isso já tinha passado pelo seu coração. E também... Eu quero fazer uma surpresa quando ela achar que ninguém vai estar ao lado dela.
- Certo. – Chiharu disse com a voz embargada e lágrimas presas no rímel preto, perceptivelmente à prova d’água. – Obrigada Rukia-chan. Muito obrigada.
Rukia apenas sorriu. Podia perder o emprego dali a alguns minutos. Mas já tinha ganhado o dia.

****

- Olá! Ukitake-san! Kurosaki-san! – o loiro de roupa verde e chinelos de madeira recebeu os jovens com um sorriso abanado pelo seu leque. Era sempre o mesmo. – Vieram trazer os relatórios pessoalmente?
Ichigo e Rukia entreolharam-se.
- Na verdade. – como sempre, a capricorniana tomou a dianteira. – Viemos levar em segurança para nosso lar, os itens ‘roubados’. – estremeceu de leve. – Argh. Não acredito que fui forçada a fazer isso. – sua expressão não era muito contente.
- Ohh, é mesmo chato mexer com a honestidade de um capricorniano. – ele nem ligava se abanando com aquele leque.
- Então. – Ichigo entregou ao guru as coisas. – Pode conferir.

- Bem, bem... – Tessai apareceu e pegou as coisas enquanto o loiro continuava falando. – Eu gosto de analisar as coisas devagar e sossegadamente... Então não esperem que eu devolva isso hoje... Me desculpem que tenham vindo até aqui à toa. – por um segundo fez cara de piedade, mas logo sorria de novo, o que esquentou o sangue de Rukia rapidinho.
- Grr... Esse Infernal-sama... – ela disse com dentes trincados.
- Não esquenta Rukia. – Ichigo olhava feio para o homem de chapéu. – Aquele colar é meu, então não vou ficar desconfiado de você.
- Aproveitando que vocês estão aqui... – Celeste-sama cantarolou. – Eu já poderia entregar a próxima missão. – sorriu. – E poupar o dinheiro do envio... – acrescentou baixinho e logo voltou a sorrir.
- Manda logo. – Rukia estava claramente de má vontade.
- Inversão de papéis! – ele foi dizendo todo contente. – Normalmente, no velho machismo e nos filmes e todas as coisas, o homem faz alguma surpresa para agradar a mulher e a mulher cozinha para agradar o homem. Então vamos fazer o contrário dessa vez. E para o mesmo dia.
- Tão simples assim? – Ichigo estranhou.
- É. Quero ver a criatividade e o romantismo da capricorniana e os dotes culinários do canceriano. Não vale pedir pra irmãzinha cozinhar, quero ver você cozinhando!
- Há, essa eu quero ver! – Rukia animou-se um pouco. – Quero ver se vai ser melhor ou pior que aquela gororoba do nosso primeiro encontro.
- É isso aí meus jovens. Alguma dúvida? – sorriu.
- Não. Acabamos. – Ichigo disse.
- Okay. Como vocês sempre dispensam o chá, vão com cuidado e tenham uma noite estrelada!

****

Pararam diante do prédio de Rukia. Ela havia feito o trajeto todo em silêncio e com um olhar desanimado. Aquilo partia o coração de Ichigo.
Com certeza não tinha sido um dia fácil para ela. A primeira nota baixa na faculdade e largar o emprego... E ainda ver o sorrisinho sarcástico do Infernal-sama. Dava para entendê-la.
- Rukia... – ele disse. – Se quiser eu te ajudo a recuperar seus coelhinhos.

Ela não pôde deixar de esboçar um sorrisinho.
- Babaca. – disse, mas sem muito ânimo. Pôs a mão na trava da porta para sair, mas ele a deteve.
- Não. – travou a porta. – Você não vai embora com essa cara.
Ela olhou para ele. Não entendia. Ele estava agindo tão... Mas não a entendia. Não podia desfazer a tristeza só porque ele estava pedindo. Mesmo que estivesse pedindo tão...
- Ichigo, sinto muito. Mas meu dia não foi muito legal. Eu realmente gostava das crianças... E do emprego... E... Aquele maldito trabalho...
- Ahh... – ele suspirou e olhou de dentro do carro para o céu lá fora. – Olha... É a lua cheia de novo.
Ela olhou também. Era verdade. Seguida de estrelinhas coloridas lá estava ela reluzente. Cheia. Cheia de momentos. Cheia de sentimentos. Cheia de segredos e promessas.
- Uma trégua... – ele disse, ainda olhando o céu.
- ... Pela Lua cheia. – ela completou. E sorriu sinceramente.
Era mesmo um poder incrível.
Olhou para ela. Viu aquele sorriso e deixou-se sorrir minusculamente de volta. Destravou a porta do carro.
- Boa noite, Rukia.
- Boa noite, Ichigo. – e saiu mais leve.


Continua...


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