Céu escrita por Liminne


Capítulo 27
Capítulo 27 – Bases da ponte [esquerda]




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Tinha acabado de almoçar num restaurante. O primeiro que encontrou, estava morto de fome. Levantou-se e respirou profundamente. O ar era mesmo bem mais fresco e puro no interior... Mas apesar da vista e da brisa agradáveis, agora viria o problema sério. Muito sério.
Verificou se os botões da camisa estavam todos fechados. Era a roupa mais certinha que possuía. Tinha que dar alguma impressão de que estava realmente trabalhando.
Certo. Tirou do bolso da calça o papelzinho com o endereço de Rukia e sentiu um frio na espinha. E não era o clima de montanha.
- Ei! – Ichigo parou um homem que entrava no restaurante. – Sabe onde fica essa rua aqui?
O homem franziu a testa para as letras no papelzinho, ergueu os olhos para Ichigo e apontou algum caminho e algumas instruções.
Sabia por onde deveria ir. Agora só faltava deixar o medo passear pelo lado oposto.

****

Não demorou pra chegar onde o endereço apontava. Não havia muito para se perder por ali. A casa indicada pelo papel era bem grande. Mais do que imaginou. Mas se parasse pra pensar, a maioria das casas que tinha visto era assim...
O coração apertava na sua garganta. Olhando para aquela construção branca, espaçosa e cheia de flores, só conseguia pensar nela. Era ali que ela costumava viver... E parecia que... Parecia que aquele lugar tinha mesmo cheiro de Rukia...
Um homem de cabelos longos passando na calçada o fez acordar de seu transe. Era agora ou nunca. Apesar de todo o sentimento, tinha que ter certeza antes de tocar a campainha da casa.
- O-Olá. – tomou uma coragem meio tremida. – Por acaso o senhor sabe se é aqui que mora a universitária Ukitake Rukia? – perguntou assim como formulara e reformulara na mente enquanto esperava o trem parar.
- Olá! – o homem cumprimentou com um sorriso doce. – Sou o pai dela, meu jovem! No que posso ajudar?
Por essa o ruivo não esperava. Seu coração quase virou uma cambalhota e seus olhos quase voltaram para Tóquio num salto. O pai dela?!

Então era esse o pai dela? E era com ele que tinha que falar assim, logo de cara?!
Mesmo que o homem transpirasse gentileza, os joelhos do canceriano teimavam em querer vacilar. Teve que se esforçar muito para não passar mal e cuspir as próximas falas ensaiadas.
- E-eu... – gaguejou. – Sou Kurosaki Ichigo. – Droga! Não ia mentir o nome? – E-eu vim fazer uma pesquisa... Sou estudante de jornalismo... – Não era essa ordem! – E... E...
- Haha! – o homem de cabelos brancos riu e pousou a mão no ombro do jovem em apuros. – Quer tomar um copo de água e comer alguns doces? Deve ser seu primeiro trabalho de campo, não é? Está muito nervoso!
O que ia fazer? Seu rosto estava em chamas! Culpa daquele maldito Infernal-sama!
- O-obrigado. – assentiu com a cabeça sem nem olhar pra o homem gentil. Talvez se tomasse um pouco de água e se sentasse, pudesse se acalmar um pouco e conseguir fazer alguma coisa que não fosse passar vergonha.
- Então venha! – ele abriu o portão e foi seguindo com o ruivo atordoado até a casa. – A propósito, me chamo Ukitake Jyuushirou, prazer! – girou a maçaneta da porta e adentraram no mundo dos Ukitake.
E ao invés de se acalmar, Ichigo quase explodiu por dentro. Era uma experiência realmente assustadora. Maravilhosamente assustadora.

****

Tinha a sua frente uma bandeja de doces e nas mãos o copo de água pela metade. O homem de expressão gentil, o pai de Rukia, continuava o olhando com aquele sorrisinho. E tinha se juntado a ele a mãe de Rukia! Pareciam mesmo imensamente felizes. E o ruivo covarde ainda não tinha conseguido emitir nenhum som que não fosse o de engolir a água.
- Se sente melhor? – Jyuushirou perguntou.
- S-sim. – respondeu o canceriano pouquíssimo convincente.
- Então você estuda perto da nossa filhinha? – Unohana perguntou cintilante.
- É-é. – Ichigo respondeu robótico.
- E você a escolheu pro seu trabalho? – Jyuushirou quase voava de orgulho.
- I-isso.

- Porque ela é tida como uma das melhores alunas de medicina? – a mulher pegou a mão do marido. – Oh meu Deus! Como estou orgulhosa da minha pequena!
- Eu já imaginava! – suspirou o homem convencido. – Mas não faz mal vir alguém para nos confirmar, não é? – sorriu para a esposa.
- Claro! – ela assentiu. E voltou o olhar para Ichigo. – Mas espera... – franziu as sobrancelhas pensativa. – Eu não sabia que tinha curso de jornalismo na Universidade de Tóquio...
- Ahh... – Ichigo lembrou-se subitamente do que Rukia dissera. A mãe era muito inteligente e observadora e sacava de longe uma mentira. Não podia olhar nos olhos dela. De jeito nenhum! Só conseguia ficar mais em pânico! – Er... É q-que...
- Coitadinho... – Jyuushirou cochichou com a esposa suavemente. – Parece que ele é gago... Vamos dar uma forcinha pra ele! Deve ser bem difícil pra ele querer ser jornalista com esse probleminha...
- Humm... – a mulher observava o jovem. – É verdade... – balançou a cabeça com compaixão. – Coitadinho. Não custa ajudá-lo!
- E então, meu jovem! – a simpatia do Sr. Ukitake era inabalável. – Como está indo nossa bolinha de neve na faculdade? – os olhos brilhavam.
- Ela está feliz? – Unohana completava as perguntas do mesmo modo radiante e interessado.
- Fez amiguinhos? – Ukitake juntou as mãos.
- Tá comendo direitinho no almoço? – Unohana olhou para o marido. – Ela é tão magrinha, nossa bonequinha de cristal...
- Estou com tantas saudades... – Ukitake tirou um lenço do nada. – Parece que foi ontem que ela brincava de médico... E agora ela já quer ser uma de verdade... E longe dos olhos dos pais...
É. Agora Ichigo conseguiu relaxar um pouco. Estava ficando interessante aquele monte de apelidos. Talvez os usasse para as informações vergonhosas. Afinal, bolinha de neve e bonequinha de cristal para aquela metida à forte e independente... Com certeza arrasavam qualquer imagem! Isso sem falar que eles a tratavam como se fosse uma criancinha!

- Er... Vocês sabem... – Ichigo interrompeu com cautela. – Eu é que vim fazer as perguntas.
Os pais se olharam repentinamente sem jeito.
- Ah, é verdade! – o patriarca meneou a cabeça. – Haha, acho que me empolguei um pouco!
- Nos desculpe, querido! – Unohana pegou um dos doces da bandeja. – Pode fazer suas perguntas, pro seu trabalhinho! – sorriu. Parecia agora bem menos interessada.
- “Pelo visto eles acham que todo mundo é criança.” – Ichigo pensava com uma careta entediada. – “Tá aí o motivo de a Rukia ser boa com os pirralhos...” – Quero que falem dela pra eu escrever nessa porcaria de relatório. – finalmente conseguiu falar. Mas mais diretamente do que deveria.
Os dois ficaram piscando para Ichigo incrédulos.
- Q-quero dizer... – pigarreou. – Eu... Gostaria... – deu ênfase na palavra. – Que me falassem mais sobre a Ru... Sobre a Ukitake-san para meu trabalho. – ia tentar sorrir, mas desistiu na última hora. Podia acabar de estragar tudo.
- Ah, claro! – Jyuushirou voltou a sorrir. – Por onde começar? – ficou pensativo por um instante. – Ela é tão linda, não é? – seu rosto começou a luzir. – E doce... E meiga... E gentil... E cuidadosa... E inteligente... E esforçada... E forte... E independente... Ah! – suspirou. – E madura!
- Se deixar, ele fica babando a menina o resto do dia! – Unohana conspirou com Ichigo. E sorriu. – Eu diria que a minha filha é... – diminuiu os olhos pensativa. – Brilhante. É. Assim como o nome diz. – balançou a cabeça. – Em tudo que ela faz ela é brilhante! É uma filha brilhante, uma amiga brilhante, uma aluna brilhante, uma professora brilhante, uma enfermeira brilhante, uma...
- “Certamente não é só o pai que ficaria babando a filha pro resto do dia.” – Ichigo pensava em suas anotações. – “Pelo visto a baixinha encrenqueira não tem mesmo defeitos. Hunf! Maldita perfeitinha!”.
- Era só isso que queria? – Ukitake perguntou.
- Eu preciso de cinco depoimentos. – disse olhando para o caderninho. – E mais algumas outras informações...

- Pode contar conosco! – o homem de cabelos brancos apoiou. – Queremos que o seu trabalho seja o melhor de todos! Não que não vá ser de qualquer jeito, afinal, é sobre a nossa luazinha de prata!
Luazinha de prata!!!
- Ah... – prendeu o riso. – Obrigado.
- Então nos diga o que quer saber agora? – Unohana perguntou amável.
- Eu quero... – alarmou-se. Pigarreou. – Será que poderiam... – enrubesceu. Mas era melhor ir riscando da lista os mais difíceis primeiro... Enquanto eles ainda não estavam desconfiados, nem nada! – Me mostrar o... O... Q-quarto dela? – falou muito baixinho, olhando pro chão. Temeu profundamente que tivesse que repetir o que já tivera sido tão difícil de falar.
Mas na mesma hora, antes que pudessem dizer sim, não, ou repita, por favor, a campainha da casa tão clara tocou. E o ruivo amaldiçoou o destino e o Infernal-sama, claro.
- Um instantinho, Kurosaki-kun. – Ukitake levantou o dedo indicador e foi andando até a porta.
Unohana também não dava mais atenção ao ‘jornalista’, estava de pescoço espichado espiando a porta.
- Boa tarde! – Ukitake cumprimentou quem estava na porta.
- Boa tarde, Ukitake-san! Unohana-san! – uma vozinha irritante veio da porta e logo sua dona estava inclinada para dentro da casa sorridente.
Ichigo espantou-se. Seu coração deu um salto. Era a tal da ruiva peituda de culinária duvidosa! Como era o nome mesmo??
- Oi, pessoal! – agora era uma voz rouca masculina.
Não! Era o amigo grosseiro de Rukia. Deus... Pra que tantas tatuagens?
- Entrem, crianças! – Ukitake abriu caminho para os dois.
Unohana olhou para a expressão arregalada de Ichigo. Sorriu afavelmente e tratou de explicar.
- Eles sempre vêm para o chá da tarde. Uma forma de não nos sentirmos tão sozinhos sem nossa pequena.
- Olá! – a ruiva apareceu na sala toda alegre carregando uma bonita cestinha com toalhinha xadrez. – Ah... – ficou vermelha. – O-olá... – ficou sem graça com Ichigo. E recuou diante de sua cara azeda. – Q-quem é esse, Unohana-san? – sussurrou.

- É. – o tatuado também apareceu. E estava emburrado. – Quem é esse aí que chegou antes da gente?
- Pelo visto já descobriram que teremos mais um parceiro essa tarde! – Ukitake chegou apaziguando. – Conheçam Kurosaki Ichigo. Um estudante de jornalismo que está fazendo uma pesquisa sobre a Rukia! – sorria.
- Ah... Prazer... Kurosaki-kun. – Orihime sorriu ainda sem jeito.
- Oi... – Renji não tinha ido com a cara do canceriano.

****

Quando já estava tudo arrumado na mesa de chá...

- Então você a conhece de vista? Já conversou com ela? – Orihime estava animada.
- Por que a escolheu afinal, pro seu trabalho? – Ukitake perguntou pela milésima vez, só pra ouvir a resposta.
- Ela sabe sobre esse trabalho? – Unohana quis saber.
- Quais são suas intenções com ela, cabeça de bagaço? – Renji era o mais gentil.
- Ei, ei! – Ichigo elevou a voz a fim de superar as perguntas sufocantes. – Eu acho que vou ter que relembrar que eu sou o jornalista aqui! – estava de cara feia. Mas que inferno! Será que Rukia estava passando pelo mesmo suplício?
- É verdade, é verdade. – Unohana interveio. – Vocês se empolgam demais, gente!
- Acho que o Kurosaki-kun quer saber o que vocês dois têm a dizer sobre a nossa pudinzinha. – Ukitake dirigiu-se aos amigos virginianos de Rukia.
Enquanto pensava que raio de apelido era aquele, Ichigo olhava para os pequenos bolinhos e sanduíches que a ruiva tinha arrumado sobre a toalha xadrez. Receoso, preferiu só tomar um pouco do chá. Que parecia normal... Parecia...
- Então eu posso começar! – Orihime estava corada de emoção. – A Rukia-chan é linda... Forte... Gentil... – nada que o ruivo não tivesse ouvido. – Ela é a melhor amiga do mundo! Sempre me consola e dá os melhores conselhos. Desenha superbem, é educada e sempre tem um monte de caras legais gostando dela! Mas também, pudera... Um dia eu quero ser como ela!
- Que gracinha... – Ukitake sorriu para a jovem de seios grandes. – Ela e a Rukia se conhecem desde pequenininhas! – disse a Ichigo.

- “Mesmo se elas tivessem se conhecido ano passado, ele ia continuar mantendo essa afirmação, então...” – Ichigo pensava. Mas não estava tão carrancudo como seus pensamentos faziam parecer. Estar ali naquela roda... Ouvindo aquelas mesmices... E vendo o brilho nos olhos de cada um ao falar dela... Era como se ele pudesse sentir, quase tocar, aquele sentimento. Ela era mesmo muito especial. Uma vez que encantava alguém, era para sempre. Sabia bem disso.
Ficava imaginando se ela estivesse ali... O tamanho do sorriso dela...
- Para essa sua pesquisa aí... – Renji falou com desprezo, cortando os devaneios do caranguejo. – A Rukia é minha melhor amiga. E eu sou o melhor amigo dela. – aproximou-se mais do ruivo. – Desde quando nem sabíamos falar.
- Na verdade, com seis anos vocês já sabiam até ler. – Unohana disse, deixando o tatuado vermelho.
- Que seja. – deu de ombros. – Nós nos conhecemos há muito tempo. Sabemos tudo um do outro. Imagino que ela só deve falar de mim o tempo todo! – bebeu um gole de chá todo inflado.
- Na verdade, nunca falou. – de repente, Ichigo sentiu-se provocado. – Como é seu nome mesmo? Kenji?
- É Renji... – disse entre dentes, irritado.
- Ah. Renji? Não... Ela fala mais de um tal de Kenji do que Renji... – fez-se de pensativo.
- O Kenji-kun da padaria? – Orihime se meteu na ‘conversa’.
- Seu... – Renji cerrou um punho para o ruivo.
- Você conversa com ela, Kurosaki? – Unohana ficou intrigada.
- Ah... Bem... – Ichigo agitou-se. Coçou a nuca e sentiu o sangue bombear mais rápido. – Só... Bem pouco... Er... Mas você não disse nada sobre ela, Renji... – virou-se para o esquentadinho antes que explodisse. – Só ficou falando de você. E eu não estou particularmente interessado.
- A Rukia é alguém que está no topo. No topo de tudo. E ninguém nunca vai alcançá-la e nem merecê-la! – olhou chamejantemente para Ichigo. – Ela é única. – cada sílaba era uma ameaça.

- A-Abarai-kun... – Orihime tocou o braço do amigo tentando acalmá-lo. – O Kurosaki-kun não está querendo nada com a Rukia-chan... Só está fazendo uma pesquisa!
- Hahaha! – Ukitake se divertia. – Não esquente, Kurosaki-kun. – piscou. – Ele age como se fosse irmão mais velho dela!
O comentário fez Renji soltar fumaça pelos ouvidos.
E Ichigo riu mudo da cara do virginiano.
- E agora? No que mais podemos ser úteis? – Ukitake quis saber.
- Fotos. – Ichigo foi direto como sempre. – Preciso de fotos da infância da Ukitake-san.
- É pra já. – sorriu.

****

- Olha que bonitinha aprendendo a andar! – Unohana piscava os olhos brilhantes. – Lembro que quando caía, fazia questão de levantar sozinha!
- É verdade! – Ukitake assentiu.
- Olha, olha! – Orihime apontou. – Nós duas juntas! – mostrou várias fotos das duas abraçadas, brincando, dormindo, enfim... Pareciam irmãs.
- Olha Renji! Uma sua! – Ukitake pegou a foto. Era Rukia batendo em Renji com um chinelo.
- O que é isso?! – Ichigo achou graça.
- Sempre autoritária... – Ukitake suspirou.
- Hahaha! Eu lembro desse dia! Eu e o Abarai-kun íamos tirar uma foto juntos, era meu aniversário. – a peituda explicava. – Aí apareceu a Rukia-chan e bateu nele porque descobriu que foi ele que tinha aberto meus presentes! Bem na hora da foto!
- Histórica! – Unohana assentiu.
Precisa dizer o estado da cara de Renji?
- Posso ficar com essa foto? – Ichigo perguntou. – Eu devolvo depois...
- Claro. – Ukitake sorriu e entregou a foto. – Mas devolve mesmo, hein? É preciosa!
- Obrigado.
- Olha essa, olha! – Unohana chamou atenção de todos. – O primeiro dia da Rukia na escola!
E ficaram umas boas horas olhando todas as fotos da preciosa bolinha de neve que atendia agora por Rukia.

****

- Ah, acho que acabou. – Ukitake pegou as fotos do chão. Dava pra ver que a caixa, lá no fundo, ainda tinha algumas coisas. Uns papéis amarrados... Ichigo ficou curioso, mas o homem de cabelos brancos recolocou as fotos por cima dos tais papéis.

- Nossa, ficamos um bom tempo aqui! – Orihime se espantou. – Veja! O sol já está se pondo! – apontou pra janela que reluzia com as cores vibrantes e nostálgicas do fim da tarde.
- O sol já está se pondo! – Ichigo alarmou-se. – Deus! Eu tenho que voltar pra Tóquio! Mas ainda tenho mil coisas pra fazer! – nervoso. Nem tinha reparado que o tempo passara assim. Até tinha comido uns daqueles bolinhos de recheios duvidosos... Onde estava sua cabeça?
Não admitiria para ninguém, mas... Distraiu-se mesmo com as fotos da pequena de olhos azuis... Aquela perturbaçãozinha encantadora.
- O que mais você tem pra fazer, Kurosaki-kun? – Orihime assustou-se com o desespero dele.
- Tenho que visitar uma escola antiga da Ruk... Da Ukitake-san e descobrir o lugar preferido dela na cidade...
- Que pesquisa interessante! – Unohana sorriu alheia ao nervosismo do jovem.
- Não se estresse com isso. – a ruivinha sorriu. – Eu e o Abarai-kun podemos levar você até esses lugares. Não é, Abarai-kun? – cutucou o amigo.
- É. – ele respondeu ainda não muito convencido do ruivo. – Quanto mais rápido for embora, melhor. – disse bem baixinho. A sorte é que ninguém tinha ouvido. Seus instintos realmente não o deixavam confiar naquele cara...

****

- Então esse é o lugar preferido dela? – Ichigo perguntou ofegante.
- É. – Orihime sorriu. – Ela gosta de lugares altos.
Já tinha anoitecido. Os três estavam em uma alta colina de onde dava para ver boa parte da cidade.
- Dá pra ver melhor o monte Fuji. – Renji explicou apontando.
Era mesmo uma visão espetacular.
Sem perceber, ele desejou que ela estivesse ali...
- Vai tirar uma foto? – Orihime perguntou.
- N-não! – Ichigo voltou a si. – Prefiro guardar na memória mesmo... – ainda estava observando.
- Rukia-chan dizia que um dia ia escalar o monte Fuji! – Orihime riu. – Não sei se ela já abandonou essa idéia... Mas pra ela, quanto mais alto se está, melhor.
- É. Deve ser complexo de ser baixinha. – Renji provocou.

Ichigo teve que se conter pra não rir. Mas ele tinha razão. Ou era complexo de ser baixinha, ou de ser ambiciosa mesmo. Hunf! Capricorniana! Balançou a cabeça com um sorrisinho.
Quantas vezes ela já devia ter estado ali?
De repente, seus olhos castanhos foram puxados para algo lá embaixo da colina. Uma casa. Não. Uma mansão. Era enorme. A maior casa que já tinha visto... E aquela cerejeira gigante...
- De quem é aquela casa? – Ichigo apontou. Não sabia por que, mas tinha que perguntar.
- Hun? – Orihime tentou seguir o dedo de Ichigo. – Que casa?
- A maior... Com a cerejeira. – não tirava os olhos dela. Talvez pudesse descobrir algo...
- Ah. É de algum riquinho exibido. – Renji cruzou os braços e deu de ombros.
- É... Se eu não me engano é de uma família nobre... Mas mesmo assim o mais novo é professor na faculdade. Não é isso? – dirigiu o olhar para Renji.
- É uma parada assim. – olhou para Ichigo. – Mas por que quer tanto saber?
Então era aquilo mesmo. Era ele. Naquela casa. Aquela árvore.
Sentiu ímpetos de sair correndo até lá. Os punhos e os dentes estavam cerrados.
- Ahn... Kurosaki-kun! – Orihime chamou-lhe a atenção. – Está um pouco frio aqui. Acho que agora podemos voltar, não é?
- Ah... – ele voltou os olhos para a dupla. – É. Podemos.
E desceram a colina devagar. Aquela casa puxando como um ímã os olhos do ruivo, impelindo-os a olhar para trás.

****

- E então, crianças? – Ukitake sorria como sempre. – Encontraram a Minako-sensei?
- Sim! – a ruivinha disse alegre. – E ela nos recebeu muito bem! Mostrou até alguns desenhos da Rukia-chan quando tinha sete anos!
- Que não mudaram nada até agora... – Ichigo murmurou para si mesmo num quase risinho.
- Que bom, fico feliz! – o homem sorriu. – O jantar vai ser servido daqui a pouco. Vai comer conosco, não vai, meu jovem? – era para Ichigo a pergunta.
- V-vou? – corou.
- Claro! A não ser que prefira pagar um restaurante!
Se Rukia tivesse puxado um pouquinho mais o pai... Ela poderia ser mais doce.

É. Bem pensado... De onde saiu aquele gênio terrível?
- Obrigado. – abaixou a cabeça. – Fico imaginando como a sua filha pode ser tão... – todos ficaram olhando para ele cheios de expectativa. – Er... Rude, com uma família dessas. – disse enfim. E ficou com medo de ser apedrejado pelos babadores de Rukia.
- Ah, minha filhinha não é rude! – Ukitake ficou meio chateado.
- É. A Rukia-chan não é rude! – Orihime defendeu.
- Ei, gente, espera aí! – Renji interveio com as mãos espalmadas. – Convenhamos. Ela é muito amável quando quer. Mas muitas vezes ela também fala igual um homem. E bate como um.
Todos riram.
- Tá certo. Ela é um pouquinho agressiva. – Jyuushirou admitiu. – E autoritária... Mas essa parte ela definitivamente não puxou de mim.
- O jantar está servido! – Unohana apareceu com seu sorrisinho que combinava com o do marido.
Jyuushirou então olhou conspiratoriamente para os três jovens.
- Isso ela puxou da mãe! – cochichou.
Renji e Orihime riram baixinho.
E Ichigo ficou estupefato. Da mãe? Como assim?
Os olhos e a cor do cabelo até que pareciam um pouco... Mas a agressividade?
- Também fiz uma sobremesa especial! – ia dizendo a mulher. – Venham logo, pessoal!
Todos foram seguindo-a contentes. Mas Ichigo agora estava com medo. É. Com muito medo.
Não se deve confiar em carinhas de anjo. Por trás delas, sabe Deus o que há! Mas ninguém demora muito a descobrir...

****

O jantar foi bem divertido. Eram todos muito entrosados, como se fossem família de verdade. Até o ruivo entrou um pouco no ritmo da família. Não era difícil já que eram tão alegres e gentis. A não ser por aquele gorila tatuado. Ele não inspirava muita simpatia. Hunf! E como se quisesse mesmo a simpatia dele!
Depois da sobremesa, ainda conversaram bastante sobre a cidade. E mais uma vez tentaram arrancar de Ichigo alguma coisa da pequena que tinha ido para Tóquio. Mas ele continuava fingindo não saber de nada.
Quando Renji e Orihime já tinham ido embora, Ichigo começou a se sentir meio desapontado.

Não conseguira entrar no quarto de Rukia e nem tinha conseguido o item interessante.
Tá. E nem as informações vergonhosas. Mas talvez pudesse usar os apelidos ainda.
Ah! E faltava um depoimento!
- Então... Poderia me indicar um bom hotel? Preciso mesmo ir embora...
- Já acabou a pesquisa, meu jovem? – Jyuushirou fez uma cara triste. – É uma pena...
- Na verdade... Ainda precisava de mais um depoimento.
- Ah. Acho que posso arrumar isso pra você. – o homem piscou.
- Querido... – Unohana interveio. – Já está bem tarde, porque você não fica?
- Ah, claro. Eu vou ficar. – Ichigo disse. – Mas preciso de um hotel, não conheço bem o lugar e...
- Ah, que hotel que nada! – ela abanou a mão. – Dorme aqui em casa mesmo. Temos um quarto de hóspedes.
- M-m-m-m-mas... – o rosto do ruivo era uma pimenta. E suas pernas não paravam de tremer. – Vo-vocês nem ao me-menos me conhecem!
- Que isso! Passamos o dia juntos! – ela disse como se fosse realmente relevante. – E pode ter certeza que eu tenho um detector para más pessoas. – piscou.
- E tem mesmo. – Ukitake confirmou. Em seguida aproximou-se de Ichigo sutilmente num cochicho. – E ela sabe ser pior que a Rukia.
Os olhos de Ichigo arregalaram-se.
- C-certo... – abaixou a cabeça. O coração não parava de espancar as costelas. – O-obrigado por tudo.
- Que isso! Venha comigo, vamos arrumar seu quarto!

****

E lá estava o ruivo. Deitado em sua cama improvisada daquele quarto branco como a casa, com detalhes azuis. Por que é que tudo, mas tudo, o lembrava de Rukia?
Não tinha sono. Sentou-se na cama e ficou olhando o desenho que Ukitake lhe dera. De uma de suas alunas de seis anos. Um desenho um pouquinho melhor que o de Rukia, retratando a mesma, com uma coroa.
Sorriu. Então Rukia era uma princesa?
Não duvidava que até os passarinhos naquela cidade fossem apaixonados por ela.
Ela era mesmo uma armadilha infalível...
Suspirou. Quando deu por si, já estava de pé, andando pela casa com aquele cheirinho doce. Aquele cheiro revigorante e acolhedor.

Como a primavera e seu céu azul. Aquele cheiro que só sentia nela. E que não sabia explicar.
Andou até que pudesse sentir mais forte o aroma. E era ali, naquela porta. Tocou-a trêmulo. Ouviu a tosse de Ukitake no outro quarto e deu um pulo para trás, culpado. Mas logo o silêncio veio encorajar-lhe novamente. Abriu a porta.
É. Como imaginou, só ficou o cheiro dela. E a cama e os móveis. E flores.
Caminhou até a janela. Abriu-a devagar. O restinho da primavera entrou pelo quarto perfumando-o ainda mais. E a visão das estrelas era ainda melhor que a que tinha em seu quarto.
Olhou para a cama dela e sentiu um arrepio enorme. Não ousaria tocá-la. Era ali que ela dormira por tanto tempo... Até deixar o calor da família. Era realmente corajosa.
Percebeu então no pé da cama que havia uma caixa. Ah! Aquela caixa! A das fotos!
Rapidamente retirou todas as fotos e álbuns e encontrou no fundo, os papéis amarrados. Já estavam velhos.
Desamarrou-os e revelou seu conteúdo. Eram mesmo cartas. De uma criança. A letra não muito boa. E desenhos piores ainda. Inconfundível. E eram cartinhas para o Papai Noel!
Riu. Dessa vez não pôde se conter. Manteve o sorriso no rosto enquanto abria as cartas. Quem diria. Ela já tinha sido criança algum dia. E não só na aparência.
Mas quando leu as poucas cartas, mudou de idéia novamente.
Pegou-as sorrateiramente. Levaria como item interessante. Não tinha mesmo como levar outra coisa.
Tocou aquelas paredes que mantiveram Rukia por tanto tempo pela última vez e respirou fundo. Não esqueceria nenhum detalhe.

****

“Relatório de Kurosaki Ichigo para Celeste-sama

Missão: Conhecer as bases

Itens adquiridos:

- Depoimentos de Jyuushirou, Unohana, Renji, Orihime e Sumomo
- Informações vergonhosas: apelidos como: luazinha de prata, bonequinha de cristal, bolinha de neve e pudinzinha.
- Informações sobre a escola: Primária, pela professora Minako Ami
- Lugar preferido: uma colina de onde se vê melhor o Monte Fuji
- Perspectiva do quarto: Essência de Rukia

- Foto de infância: Rukia batendo no amigo de infância
- Item interessante: Cartinhas para o Papai Noel onde Rukia pedia que o pai fosse curado

Comentários por Kurosaki Ichigo

Eu sempre fico com a pior parte. Tive que viajar pra longe e lidar com pessoas que nunca vi na vida, mentir pra elas, dormir na casa delas!!! Sendo que eu NÃO SOU BOM nisso! Gaguejei demais, quase levantei suspeitas, enfim... Ah!
Pelo menos conheci Kofu. E tudo ali tem o nome da Rukia. Pelo menos no bairro. Todos a amam demais e só têm coisas boas para falar dela. O que pode ser a saudade. Ou não... Não sei. Não vou me comprometer com isso.
Achei curioso que, os pais dela são tão amáveis e gentis, obviamente a mimaram muito, lhe dão apelidinhos muito bregas (queria ver a cara da Rukia sendo chamada por eles!) e mesmo assim ela é tão independente... Teve a coragem de deixar a família e a cidade que tanto a amam assim tão facilmente... Parece que certas coisas nascem com a pessoa. E Rukia nasceu com essa força.
Quando visitei sua escola primária, a professora disse que Rukia nunca pareceu uma criança. Sempre foi muito madura e sempre cuidou dos seus coleguinhas. Será que o signo influencia nisso?
Foi então que eu achei interessante ver que algum dia ela escreveu cartinhas para o Papai Noel. Coisa extremamente infantil, o que ela precisava. Achei que essa menina nunca tivesse sido criança. Então me aliviei. Mas quando abri as cartas, percebi que não eram tão infantis como pensei. Apesar da letra, dos desenhos e da fé. Em todas elas, Rukia só pedia uma coisa e não era para si: que o pai fosse curado de sua doença. E é o desejo dela até hoje. E mesmo que o Papai Noel não possa dá-la o que ela quer, ela mesma está fazendo de tudo para buscar. Tanto que abandonou o lar que, com certeza era tão precioso. Jogou-se num mundo hostil. E não está tremendo.
Com essa pesquisa só aprendi o quanto essa tal de Rukia pode ser uma antítese. Ou um paradoxo. Forte e ao mesmo tempo tão, tão querida e encantadora.

Mas uma coisa me deixou realmente com uma pulga atrás da orelha: a mãe dela é mesmo pior que ela? Tenho muito medo de descobrir!
Obrigado, Celeste-sama. Por fazer com que eu quase morresse de ataque cardíaco. Até agora ainda estou com essa sensação de nervosismo.
Só espero que isso valha realmente à pena.”



Continua...

 


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