Céu escrita por Liminne


Capítulo 10
Capítulo 10 – Quem pertence a quem




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/20957/chapter/10

- Rukia-chan... Será que hoje você pode ir conhecer o Aizen-sensei? – a menina fez a primeira pergunta do dia, em seguida ocupando rapidamente a boca com o chá.
- Hmm... Acho que posso sim. – respondeu levando os olhos ao relógio de parede da cozinha. – Hoje minha aula começa um pouco mais tarde.
- Ótimo! – a menina sorriu toda radiante e começou a comer com mais apetite.
- Rangiku... Por que é que você está tão calada? Aconteceu alguma coisa? – perguntou a mais baixinha da casa, levando os olhos à loira que desde que sentara não prolongara nenhum assunto como costumava fazer. E já estava meio que de alerta a qualquer sinal negativo dela... Não queria que tivesse uma recaída novamente!
- Estou deprimida... – ela deitou a cabeça na mesa com a voz toda manhosa.
As outras duas entreolharam-se arregaladas, superpreocupadas.
- O que aconteceu, prima? – Momo perguntou devagar, temendo o pior.
- A Rukia-chan não quer me contar mais nada sobre os encontros dela com a alma gêmeaaa... – choramingou.
Momo não agüentou. Teve que rir.
Rukia limitou-se a suspirar aliviada e deixar que um sorrisinho puxasse delicadamente seus lábios.
- Que besteira... – foi dizendo agora com o rosto ficando levemente rosado. – Não tem nada de interessante para contar, caso contrário, certamente contaria. – disse fechando os olhos e erguendo o rosto, tentando ser o mais implacável possível com as lembranças que começavam a pipocar em sua mente e alterar seu ritmo cardíaco.
- Ahh, eu vi a carta! – ela continuou choramingando. – Vocês foram brincar de verdade ou desafio... – fez beicinho.
- Ohh! – Momo se meteu dessa vez. – Que máximo!
- Não teve nada de máximo nisso, ta? – agora a capricorniana respondia com uma breve irritação no tom de voz. – A gente só fez um monte de perguntas estúpidas, respondemos com respostas mais estúpidas ainda, discutimos e... – o coração ia ficando mais rápido. – E... – o sangue subia para as bochechas. – E... – de repente quase podia ver aqueles olhos castanhos de novo, quase invadindo os seus... – E só. – decretou por fim com mais força do que pretendia. – Foi só aborrecimento. – bebeu um longo gole do chá sem pensar em encarar aquelas criaturinhas curiosas.
- Nossa... – Rangiku murchou de novo. – Mas não descobriu nadinha dele? Uma possível ex-namorada? Se ele é virgem? Se ele a acha sexy?
- Não! – quase gritou exasperada. – Quer dizer... Descobri que ele me acha bonita... – acabou soltando bem baixinho, mas ainda bem audível para aqueles ouvidos mega atentos.
- Ahh, que lindo! – Momo fez escândalo toda maravilhada. – Rukia-chan já ganhou um elogio, é um começo ótimo!
Rangiku sorria de orelha a orelha.
- E o que você deixou ele descobrir sobre você? – perguntou se debruçando sobre a mesa de tão interessada.
- Hmm... Nada, acho. – respondeu pensativa.
- Ótimo. Admiro sua capacidade de se manter tão misteriosa... – fez o último comentário mais como uma ressalva para si mesma.
- Bom, melhor pararmos por aqui com esse assunto nada agradável e irmos à luta. – Rukia levantou-se. – Vamos, Momo?
- Vamos! – a menina sorria toda animada, o coração cheio de pontadas enérgicas em seu peito.
- Eu estou indo logo, logo também. – informou a peituda. – Só vou terminar de ler um livro pra aula de hoje.
As duas assentiram e saíram porta afora contentes. Rukia por estar concluindo a primeira semana inteira de idas à universidade. Momo por sentir que seus encontros com o professor após as aulas estavam cada vez mais perto de serem oficializados.

****

Andava cega pelos corredores tentando não se sentir tão culpada por aquela decisão. Mas era um pouco difícil. Sabia como era complicado para crianças compreenderem as proibições de seus pais... Imagine só as proibições de alguém que nem ao menos tinha o direito a essa autoridade? Mas sabia que desse modo a estava protegendo... No fundo sabia que estava fazendo a coisa certa não deixando que Momo ficasse até mais tarde na escola com um professor por quem era perdidamente apaixonada...

Por mais que o homem parecesse sério e responsável, não dava pra colocar as mãos no fogo pelas suas intenções... Nunca se sabe o que se passa na cabeça de um homem. E Momo era apenas uma menina indefesa e vulnerável. Se acontecesse algo a ela, não se perdoaria jamais! Com certeza era melhor prevenir do que remediar. Mesmo que tivesse que lidar por algum tempo com aquele rostinho dócil agora de sobrancelhas apertadas e bochechas infladas. Mas se bem já a conhecia, sabia como era mutável... Como uma típica geminiana... Oops! No que estava pensando? Estava lendo demais aquelas porcarias de revistinhas de astrologia!
Avistava agora as escadas que a levariam ao comprido corredor onde se situava sua primeira aula do dia. Foi andando mais depressa, gostava de chegar um pouco antes da hora certa, por mais que aquilo fosse raro.
Começou a subir os degraus amaldiçoando sua péssima escolha de sapatos do dia. Aquelas sandalinhas de saltos baixos combinavam perfeitamente com a blusa amarela de botões brancos em forma de coelhinhos... Mas por serem novas demais também machucavam perfeitamente o cantinho de seus pés. Logo estaria com algumas bolhas nos dedos mindinhos.
- Eu pensei que você estivesse entendendo! Você disse que seria compreensiva! – de repente ouviu uma voz masculina familiar. Não tinha um tom rude, mas um tom cansado.
- Eu entendo droga! – a outra, também conhecida, respondeu um tanto feroz e ao mesmo tempo melosa. – Mas eu não posso evitar sentir sua falta!
Era Mai. E possivelmente Ashido. É. Era ele. Vinha de um pouco mais de cima nas escadas, do espaço que antecedia o próximo lance... Agora não sabia o que fazer: se avançava ou esperava que os dois terminassem para não interromper.
“Só eu mesmo pra me meter nessas situações!” – pensava.
- Mai... – a voz dele agora parecia cheia de remorso. – Me desculpe...
- Eu não sei... – agora a voz dela estava tremendo. – Não sei se dá pra perdoar você não sentir a minha falta também. Não é algo que seja culpa minha nem sua.

Mas não sei se consigo engolir...
Ambos ficaram
em silêncio. Conseguia quase imaginar aquela cena. Estava ficando incomodada... Talvez fosse melhor subir correndo, eles nem reparariam nela. Ou quem sabe, chamasse alguém ali embaixo para subir com ela, com mais pessoas seria mais fácil se camuflar...
- E a Rukia...? O que você tem com ela? – de repente aquela pergunta quebrou o silêncio e os pensamentos, espalhando caquinhos por todos os lados.
Um deles acertou Rukia
em cheio. Seu peito. Alarmou-se e arregalou os olhos. Ela tinha alguma coisa a ver com a crise dos dois?!
- Hã? – Ashido pareceu igualmente surpreso. – M-Mai... O que a Rukia...
- Não me responda com outra pergunta! Só me diga o que você tem com ela! – ordenou de um modo bem incisivo.
- Nada! – ele estava claramente na defensiva. – Eu só a encontrei duas vezes por acaso e a ajudei... Só.
- Por que a encobriu com o lance do caderno e ofereceu um tempo da sua preciosa agenda para consertar o estrago dela? E porque não usou esse tempo pra ficar comigo?
- Mai, não tome conclusões precipitadamente! Eu só não quis deixá-la mal... Você sabe, eu me daria melhor com você para lhe pedir desculpas do que ela.
Ficou muda.
- Mai, me desculpe. Eu estou sob muita pressão... Eu não tenho sido o namorado que você merece... Não acha melhor que nós...
- Não! – quase gritou. – Não, Ashido... Não é isso que você quer, é? – seu tom continha uma pontada de desespero que fez Rukia sentir uma pressão no peito.
- Só não quero que você sofra Mai... Não acredito num relacionamento em que haja mais sofrimento do que alegrias...
- E eu não acredito num relacionamento onde um quer se separar do outro! – ela retrucou, parecia já estar
em lágrimas.
- A
gente se distanciou demais nos últimos tempos... Eu acabei me concentrando demais em outras coisas...
- E percebeu que são mais importantes que eu. – afirmou ressentida.
- Não Mai! Eu não disse isso! Eu só acho que... Talvez seja melhor que a gente dê um tempo.

Não pense que eu quero isso. Mas eu só acho que vai nos ajudar. Se eu ficar pensando que você está sofrendo por minha causa, não vou conseguir estudar e nem melhorar nada. Eu não quero que chore por causa de mim! Eu quero que você fique feliz, por favor! Quando eu puder me dedicar mais a você, eu volto... Por enquanto, faça outras coisas também... Estude, saia com suas amigas... Mas não sofra, por favor.
Por mais algum tempo não disse nada. Uma pessoa passou por Rukia correndo tão velozmente que nem pôde acompanhá-la e ficou imaginando se poderia ser capaz de algo assim também para fugir daquela péssima situação.
- Não. – a loira disse enfim. – Talvez eu que não tenha sido boa, sabe? Não tenho sido compreensiva... Não tenho sido solidária ao seu momento... E sei que está precisando de paz e só tenho te cobrado... Desculpe-me. Vou esperar você. Mas ainda quero que estejamos juntos. De um jeito ou de outro.
- Certo. – a voz dele soou mais afável. – Obrigado Mai. Vamos nos esforçar... Vou tentar passar mais tempo com você também, qualquer tempo que eu puder. Eu te amo.
- Eu também.
Ouviu um sonzinho estalado. Graças a Deus tudo tinha voltado ao normal.
- Ei, vai logo pra sua aula, está atrasada! – ele disse a ela fingindo um tom severo.
- Ih, é mesmo! – ela riu. – Estou indo.
- Na hora do intervalo quero falar com você, ta? Até!
Ouviu os saltos dela estalarem degraus acima. Só então se pôs a subir. Realmente era raro chegar cedo às aulas.
- Bom dia Rukia. – Ashido cumprimentou quando ela passou por ele na escada.
- Bom dia. – ela respondeu educadamente e tratou de apertar o passo mesmo que as sandálias a maltratassem.

****

Durante a aula Rukia sentou-se perto de Mai a convite da mesma. Não mencionou nada sobre ter ouvido sua conversa com Ashido, óbvio. Fora bem observada. Dos cabelos negros e soltos que faziam voltinhas graciosas até as pequenas bolhas nos pés – enquanto a aula – descalços. Mas principalmente fora estudada em seu comportamento.

Em qualquer comentário que fizesse. No jeito como prestava atenção às aulas, daquele jeito sempre profundamente sério, motivado e interessado. Daquele jeito que a enchia de ódio. De inveja. Por não conseguir fazer igual. Em menos de dez minutos de atenção sentia um tédio tão grande, quase capaz de fazê-la renunciar aquele curso que nunca tivera mesmo vontade de fazer. Sorria para ela, era gentil. Não podia deixar que descobrisse nada. Observaria a jovem através de óculos escuros. Sem deixar que ela visse seus olhos de volta. Naquele tempinho descobriu que Rukia era muito inteligente (mas não devia se preocupar muito, pois tinha consciência de que era tão inteligente quanto... talvez.), descobriu que era fanática por coelhos, gostava de desenhar nos cantinhos das folhas (desenhos horríveis, parecendo da autoria de uma criança por sinal), e que talvez gostasse de astrologia... Afinal, aquele símbolo em seu bracelete era o de capricórnio, não era?
Mas ainda eram coisas superficiais.
- Oh, você mora com a Rangiku? – iam conversando enquanto desciam as escadas para o almoço. – Nós somos meio que colegas de trabalho. – sorriu reluzente.
- Jura? – Rukia estava surpresa. – Você é modelo?
- Bem, mais ou menos... – franziu o nariz. – Eu faço algumas fotos... Assim como ela. Mas ainda não consegui grandes coisas... Mas também não procuro muito, é algo para passar o tempo. – mentiu.
- Ohh... Interessante. Você tem mesmo porte de modelo.
- Pois é. – chegaram ao fim dos degraus. Não acrescentaria que também havia sido colega de quarto de Rangiku. Rezava para que quando a baixinha de olhos azuis chegasse em casa, esquecesse de comentar sobre ela com sua amiga peituda. – E você, Rukia? Trabalha em alguma coisa?
- Humm... Não. – olhava para baixo, andava devagar, os pés doíam, podia perceber. – Eu quero arrumar algo em breve, mas ainda estou me adaptando. Lá em Kofu eu trabalhava com meu pai, ajudando na escola dele. Ele dava aula para crianças. – sorriu. – E às vezes ajudava minha mãe que é enfermeira.

Fiz um curso de enfermagem e tudo no hospital que ela trabalha.
- Que bonito Rukia! – Mai juntou as mãos num gesto admirado. – Você parece ser uma pessoa de ótimo coração, perfeita para trabalhar com doentes e crianças.
- Obrigada. – corou levemente, sentindo-se sem jeito com tantos elogios. – E você, Mai? O que pretende fazer em medicina?
Ficou confusa. Devia dizer algo com certeza que a impressionasse. Mas não devia gastar tempo demais pensando, senão soaria falso.
- Eu quero ser oncologista. – ouviu-se falando. – O câncer é uma doença assustadora, não é? Sei que desse jeito não posso salvar o mundo, mas me esforçarei para salvar muitas vidas.
Deus iria perdoar-lhe por tamanha mentira.
- Impressionante Mai! – os olhos azuis da pequena brilhavam. – É preciso muita coragem e determinação. Sei que pode conseguir. – sorriu.
Porque Ichigo não gostava dela? Não entendia... Ah! Mas logo quem ela queria entender? Aquele ranzinza não gostava de nada nem ninguém mesmo. Vivia reclamando de tudo!
Quando já estavam sentadas e acomodadas, agora com a presença de Chiharu, perguntando-se o motivo da falta de Fuu, ele apareceu.
- Olá! – sorriu para as meninas. Foi até Mai e deu-lhe um selinho. – Temos uma nova integrante na mesa, hein? – dirigiu o olhar à Rukia, mas ela só sorriu meio forçadamente e fingiu ter deixado algumas gotas de suco respingarem na saia branca, olhando para a mesma com muito interesse.
Ela o estava claramente evitando.
- É. – Mai respondeu alegre. – A Rukia-chan é um doce, não merece almoçar sozinha nesse mar de gente!
Acomodou-se ao lado de Mai. Ainda encarou um pouco Rukia que estava sentada à frente, mas ela continuou fingindo muito interesse em qualquer ponto que não fosse seu rosto.
- Amor, você disse que queria falar algo comigo, o que era? – Mai perguntou quebrando aquele silêncio incômodo.
- Ah sim. – ele iluminou-se. – Eu tenho uma proposta de trabalho a lhe fazer. – sorria.
- Mesmo? – os olhos muito pretos da loira brilharam.

Talvez, quem sabe não fosse algo que pudessem fazer juntos?
- Sim. – ele assentiu. – Uma prima minha começou a dar aulas numa escola de crianças até seis anos e eles estão precisando de enfermeiras... Mas não precisa ser formada, pode ter só um curso técnico... Você já deve ter feito algum ou pelo menos tido alguma experiência, né?
Instintivamente, a escorpiana lançou um olhar meio desacreditado para Rukia. A baixinha por sua vez, mesmo sentindo aqueles olhos queimando sobre si, continuava concentradíssima na comida, fingindo que não sabia o que estava se passando, com o coração levemente acelerado.
Voltou então os olhos para o amado e juntou um sorrisinho com o máximo de dignidade que conseguiu.
- Eu... Na verdade eu já fiz sim um curso... Mas... Mas acho que vou recusar. Nós estudamos muito, amor. Saímos daqui de tarde, como podemos fazer esse tipo de trabalho?
- Ah, tem dias que vocês saem mais cedo! E a escola funciona até a noite, para os pais que trabalham e não têm com quem deixar as crianças... É um trabalho bem simples, na maioria das vezes somente para cuidar de ferimentos, dar repouso a alguma criança febril, ajudar as professoras... Você podia sair daqui e ir direto para lá. Devia aproveitar enquanto ainda tem vagas para a parte da noite.
Ficou
em silêncio. O que poderia dizer, que desculpa dar? Se uma criança caísse e se machucasse toda não ia ter o mínimo tato para lidar com ela, e desconfiava seriamente de que não seria capaz de nem mesmo fazer um curativo.
- Acho que eu não sou a pessoa mais indicada para cuidar de crianças... – disse baixinho como uma última esperança e escapou os olhos para algum ponto na barra de seu vestido verde escuro. Controlava-se mentalmente. O destino parecia estar indo contra ela. Já podia prever o que aconteceria a seguir.
- Hmm... Então talvez você queira esse emprego, Rukia? – perguntou com cautela. Tanto pela namorada quanto pela baixinha que parecia o estar evitando.
Ela levantou os olhos devagar.

A verdade é que estava muito interessada naquele tipo de trabalho. Era perfeito. Meio período, algo que sabia muito bem como fazer. Desde pequena ajudava seu pai com os alunos dele e tinha aprendido tanta coisa com a mãe sobre enfermagem além de ter feito um curso no hospital... E estava mesmo precisando de um emprego, qualquer que fosse. E logo aquele... Era o ideal. Pena que não tinha escolhido também a hora ideal, a situação ideal...
Olhou para Mai. Mas ela continuava fixa em seu vestido. Olhou para Chiharu... Seu olhar era implacável, não fazia a mínima idéia do que queria dizer. Olhou enfim para Ashido, puramente na expectativa.
Não ia estar aceitando nada com ele , ia? Era um emprego que ele apenas tinha recomendado. Só isso. E ela não estava interessada afinal.
- Eu... Eu quero sim. – respondeu enfim, ainda temendo um pouco aquela resposta. Não queria atrapalhar de jeito nenhum a vida de alguém que esteve sendo tão legal com ela o tempo todo. – Obrigada. – respondeu no seu tom mais profissional.
Buscou os olhos de Mai de novo. Percebeu que agora eles a observavam. Mas não pôde captar qualquer expressão anterior, porque assim que vira seus olhos azuis voltados para ela, em milésimos de segundos, abriu um sorriso incentivador.
- Ótimo. – ele ficou contente. – Semana que vem podemos ver isso... Você pode vir junto Mai, quem sabe não decide mudar de idéia e as duas trabalham juntas? – sorriu para a namorada.
- É. – a loira respondeu também sorridente. – Vamos ver.
Só podia culpar a si mesma por não ser corajosa o suficiente para determinar quem realmente era e o que realmente gostaria de fazer.

****

Como se o dia não tivesse sido suficientemente ruim e incômodo, assim que chegou da faculdade em casa, foi buscar as cartas na esperança de uma resposta da que escreveu para os pais, mas ao invés de encontrá-la, deu de cara com um envelope todo decorado de estrelinhas prateadas com o nome Céu estampado como remetente. Bufou.

Devia ser aquela que se esqueceu de ver sobre o jogo de verdade ou desafio. Mas qual não foi sua surpresa ao ver que havia outra cartinha daquelas?
Pegou-a apressada e nervosa. Estava curiosa e a adrenalina já banhava sua espinha. Tinha medo do que viria por aí. Ao mesmo tempo não queria saber nem o que estava escrito ali. Não era possível que já tivesse outra missão para eles! Não percebia que os estava sufocando?
Enquanto tirava a carta de dentro do envelope indagava-se se não estava atrasada de novo... Não. Só tinha dois dias... Será que Ichigo viria buscá-la de novo daquele jeito tão repentino? E por falar em Ichigo, não o tinha visto na faculdade!

Prezada Ukitake Rukia,

É com prazer a que venho convidá-la para a terceira missão de nosso plano celeste-estrelado. Dessa vez, querida capricorniana, a tarefa está em suas mãos!
Sim, para realizar a tarefa você deve ligar para sua muito provável alma gêmea e convidá-la para uma sessão de cinema. Simples, não é?
Então não perca tempo, pegue o telefone agora mesmo e disque os números que se seguem logo abaixo.
Tenham um encontro iluminado!

Celeste-sama e a equipe de Céu.




Ficou ali, diante da própria porta, boquiaberta. Como assim “plano celeste-estrelado”? Que diabos ele queria que ela fizesse? Ligar para um cara que mal conhecia e convidá-lo para uma sessão de cinema como se fossem um casal meloso de namorados? E ainda dizia que era simples?!
- Fala sério... – bufou abrindo a porta enfim. – O que uma peça dessas ainda está fazendo escondida por aqui? Por que não vai trabalhar num programa de TV bem medíocre? Aposto como ganharia mais... entrou em casa e foi tomar um banho. Percebeu antes que Momo cochilava na cama ainda com o uniforme da escola e que Rangiku ainda não havia chegado.
Melhor assim.

****

- É sério, Ichigooo! – Keigo choramingava. – Você não devia ter faltado logo hoje!

O Sado também faltou e eu fiquei abandonado! – secava as lágrimas todo dramático.
- Dá um tempo. – Ichigo resmungou sem tirar os olhos do livro que lia, deitado na cama sem nem oferecer um lugar para o amigo sentar. – Eu já disse que tive que ajudar minha irmã que torceu o pé na escada. Como eu ia deixar ela sozinha, seu idiota? – virou uma página. – E você não faz amigos nas suas aulas não? Vai ficar dependente dos seus amigos de colegial pra vida toda? – provocou. Já estava de saco cheio das lágrimas do moreno que parecia não crescer nunca.
- Ahh, coitadinha da sua irmã, né? – abaixou as sobrancelhas numa expressão sentida. – Vou lá ver como ela está então. – saiu andando.
- EI! NÃO VAI A LUGAR NENHUM! – Ichigo berrou e em seguida arremessou o livro na cabeça do amigo. – Já cansei de te falar que minhas irmãs não são pro seu bico, seu imundo!
- Ai, Ichigo! – massageava a cabeça, as lágrimas voltando, mas agora de dor. – Que crueldade, eu não ia fazer nadaaa! Não posso nem mais me preocupar com uma garota que eu vi crescer... – posava de ofendido, mas sabia que não era um santo. – Seu demônio!
- Hunf! – o ruivo o fulminava com um olhar assustador. – Como se eu não te conhecesse, seu tarado.
- Ahn... Mudando de assunto... – Keigo ficou com medo, ainda massageava a cabeça procurando sangue, se insistisse naquele assunto era capaz de ficar sem ela inteira. – A Mai agora tem uma nova amiguinha, ta sabendo?
- É? – agora pareceu interessado, ajeitou-se no respaldo da cama. – Que amiguinha?
- É uma garota que mora lá na república. – já voltara a sorrir, com um duvidoso brilhinho nos olhos. – Ela é toda pequenininha, parece uma garotinha de colégio ou menos... Acho que o nome dela é Ruky...
- Rukia. – corrigiu automaticamente.
E os olhos de Keigo quase pularam das órbitas.
- Ahn? Você a conhece? – perguntou confuso.
- Ah-ah, e-eu? – ficou instantaneamente vermelho, sentiu uma quentura atordoante, o coração começou a dar sinais de alerta. – C-claro que não... Eu só disse... Rukia... É Rukia?

Era uma pergunta, era só...
- Tá bom... – ficou observando o espetadinho com uma sobrancelha arqueada. – Sei...
- É sério... – desviou os olhos e começou a bagunçar os cabelos, ato que sempre repetia inconscientemente quando estava nervoso. – Mas e daí, também? Que é que eu tenho com as amiguinhas da Mai? Elas que se explodam! – mudou de assunto e desejou profundamente que não tivesse jogado tão longe o livro, pelo menos ia ter onde enfiar a cara.
- Ah, eu sei que você não tem nada com elas... Não mais, né? – não pôde deixar de acrescentar com um pinguinho de maldade. – Mas enfim... Ela é tão bonitinha. Nunca vi uma garota tão doce em toda a minha vida! Parece um anjinho! – aquele brilho duvidoso voltara aos seus olhos castanhos.
“Anjinho?! Doce?! – o ruivo não pôde deixar de pensar – “Tanto quanto um vidro de veneno”
- Hum... – mas foi o que fez tentando manter a expressão o mais implacável possível.
- E estava pensando em conhecê-la melhor... Já que a gente mora praticamente juntos e tudo mais. O que você acha, Ichigo? Será que ela cai na minha rede?
Não sabia explicar o porquê, mas estava com vontade de arrancar um pedaço da sua cama, quem sabe um pé, e arremessar agora no meio do nariz daquele infeliz a quem chamava de amigo.
- Eu não acho que você vá conseguir alguma coisa. – antes que pudesse impedir-se, já estava falando, atirando o pé da cama nele, mas não literalmente. – Se ela é tão bonita assim, ela não vai querer sair com alguém como você. Principalmente se é amiguinha da Mai.
- Ichigooo! – gemeu fazendo um beicinho. – Não me desanime desse jeito! Só porque a Mai te deu um fora não quer dizer que a Ruky vai me dar um também. Até porque nos somos bastante diferentes, não acha? – acrescentou a última pergunta com os olhos diminuídos e uma irritante expressão pensativa.
- O que você quer dizer com isso, seu merda?! – perguntou com o rosto novamente vermelho, mas de raiva. Tinha até erguido o corpo um pouco, quase como se fosse avançar. – “Pelo menos fale o nome dela certo, porra!” – pensou.

De repente o telefone começou a tocar.
- Aff, era só o que faltava! – reclamou afundando novamente no colchão, murchando devagar. Keigo fora salvo por pouco!
- Onii-chan, atende o telefone! – Yuzu gritou do quarto.
- Já vou! – respondeu sem hesitar, pronto para ajudar a irmãzinha machucada.
Levantou-se da cama e foi pisando duro nos degraus até o andar de baixo, ainda praguejando baixinho contra Keigo, e com raiva de ter sido interrompido.
Chegou até o telefone, tirou-o do gancho e colou-o ao ouvido.
- Alô. – naquele seu tom todo contente para não dizer o contrário.
- Alô. – conhecia aquela voz. – O Kurosaki Ichigo está, por favor?
Tremeu. Não podia ser... Tinha que ser...? Como...?
- S-sou eu. – respondeu segurando o fone com mais força.
- Oi. É a Rukia. Tá a fim de ir ao cinema hoje à noite?


Continua...



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Céu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.