Andava sem pressa até o dormitório, pensando no que Afrodite me dissera: Isso é o que você pensa! Nós pertencemos um ao outro, você sabe disso, não tente negar. Cedo ou tarde você irá ceder, você sempre cede.

Eu odiava quando ela fazia isso. Jogando na minha cara todos os sentimentos bons que um dia tivéramos, rindo e debochando como se eles não tivessem importância para ela, apenas distração. O que, na verdade, realmente o era. Todos meio que sabíamos quais as verdadeiras razões de integrarmos os Filhos das Trevas: sermos bonitos e divertir Afrodite.

Agora eu percebia isso tudo com muito mais clareza, o quão horrível e odiosa ela era. Senti-me tão estúpido por não ter percebido antes, causaria menos estrago em mim, com certeza. Mas eu me considerava muito importante para prestar atenção em qualquer coisa. Imagine: um terceiro-formando saindo com a garota mais gostosa da House of Night? O cara é um máximo!

Se bem que, no início, ela costumava ser gentil e amorosa. Inclusive achei que estava realmente apaixonado... Tudo bem, pode esquecer isso agora, Erik.

Não sabia ao certo quais suas verdadeiras intenções para comigo até então. Afinal de contas, ela poderia ter quem quisesse somente com um estralar de seus dedos, vários caras morreriam para estar em meu lugar. Além disso, nunca ouvi falar que levara um pé na bunda de alguém, muito menos de um garoto. Seu ego não sofrera com esse tipo de situação até então, e, como consequência, acabou se tornando grande demais para ela se importar com algo além de si mesma.

Foi o que me levou à novata.

Todo o tempo em que estive com Afrodite não se comparou à conexão instantânea que tive com ela. A caloura deixou-me completamente confuso, intrigado e curioso para saber mais sobre ela. Afinal, quando se é recém Marcado por um Vampiro Rastreador, nossas Marcas são apenas o contorno de uma meia lua em tom azul safira. Elas são preenchidas e se expandem apenas quando passamos pelos quatro anos de transformação e nos tornamos de fato vampiros adultos.

Isso se nossos corpos não rejeitarem a mudança e morremos cruelmente por hemorragia. Pois é, ninguém nunca disse que a vida seria fácil.

No meio do caminho, acabei encontrando com TJ, Cole e alguns outros amigos meus. Eles estavam sentados ao redor de um banco, aparentemente no meio de uma fervorosa discussão. Praguejei em voz baixa, eu não queria me encontrar com eles agora, não sem antes cobrir a ferida que sangrava em minha perna. Porém, não tive outra escolha quando todos viram eu me aproximar, e precisei me juntar a eles quando acenaram as mãos para mim.

– E aí pessoal, quais as novidades? – Perguntei, tentando em vão cobrir meu jeans rasgado.

– Ei, o que há com a sua perna? – Inquiriu Drew, que olhava para a minha mão com curiosidade.

– Nada. – Respondi. – Eu passei pela cerca do estábulo e acabei me arranhando.

– Cerca do estábulo? E que diabos você foi fazer lá? – Disse TJ com um risinho.

– Eu tinha que encontrar Afrodite, lembram? – Eles acenaram. Pelo visto Cole e TJ espalharam a fofoca. – Mas não estou com paciência para falar sobre isso. E vocês não me responderam, têm alguma novidade ou não?

– Nenhuma... – Respondeu TJ, mal segurando o sorriso. – Só, você sabe, apreciando a paisagem.

– E que paisagem! – Cantarolou Cole, completando com um longo assovio.

Pelo visto, a tal paisagem não era nada ruim...

– Hum. Estou sentindo certas energias positivas aqui. – Disse enquanto esfregava uma palma na outra.

– Que nada, – Resmungou Drew. – Eles é que estão sonhando acordados com aquela novata.

– Que novata? Aquela de quem vocês falaram mais cedo? – Optei por fingir que não sabia do que eles falavam.

– Sim. A novata super-gostosinha-Zoey que roubou nossos coraçõezinhos frágeis. – Disse TJ, enquanto colocava a mão exageradamente sobre o coração e imitava um suspiro apaixonado.

– O que você disse? Qual o nome dela, Zoey? – Perguntei. Essa era uma excelente novidade. Mas será que era a mesma do corredor? Não é como se eu pudesse perguntar a algum deles, também.

– É. Zoey é o nome dela. Zoey Rodbed, ou alguma coisa assim. – Disse TJ.

– É Redbird. – Corrigiu Cole. – E ela é colega de quarto daquela Okie esquisita: Stevie Rae.

– Ei, ela não é esquisita! Ela até que é meio fofa. – Resmungou Drew, ficando com a cara vermelha quando todos começaram a rir. Dando-se o fato da sua estúpida queda por ela.

– Oh, e temos mais um apaixonado entre nós, galera! – Murmurou Keith, o que nos fez rir ainda mais.

– Olha Erik, eu sei que você disse que não queria falar sobre isso, mas estou curioso demais para me conter... Você conseguiu chutar a Afrodite? – Perguntou Thor, mudando de assunto drasticamente.

Dei um suspiro exasperado. Cedo ou tarde eles teriam de saber, afinal.

– Nem me fale em Afrodite. Parece que ela não se toca de que a gente terminou, sabe? Fica insistindo em algo que nunca dará certo e dizendo que somos um do outro, que vamos voltar e umas merdas assim. – Decidi não mencionar o pequeno incidente com a novata para evitar comentários constrangedores.

– Cara, ela está mesmo louca por você. Ainda bem que terminou com ela à tempo. Eu já tive uma namorada que era grudenta assim, e acredite em mim quando digo: elas ficam cada vez piores. – Disse Keith.

– E eu é que sei. – Falei por fim, lembrando-me de Afrodite e o que nós quase fizemos naquele corredor. Se não fosse por Zoey, não sei se teria conseguido resistir. Ela sabia exatamente como me deixar louco, e eu me chutava internamente por isso.

O silêncio já estava ficando constrangedor. Afinal, falar de Afrodite nunca era agradável, principalmente para meus amigos, que sabiam, e muito bem, como ela poderia ser complicada. Por sorte, Cole, com seu jeito de sempre sair de situações embaraçosas, disse:

– Galera, alguém está a fim de dar mais uma espiadinha na garota nova?

Rindo como idiotas, nos encaminhamos para o salão de jantar. E com a confusão de Afrodite provisoriamente esquecida, pude me concentrar em Zoey Redbird.