To Your Heart escrita por cuzineedya


Capítulo 6
Y.O.U.


Notas iniciais do capítulo

Oi de novo!!
Eeeh! Provas acabaram, agora estou livre como um pássaro! Mais ou menos... :p
Escrevi esse capítulo grande para compensar o tempo sem postar. Acho que vocês vão gostar desse. É um capítulo bem diferente, carregado de emoção.
Ele é especial. Por favor, leiam ele com carinho, veio do meu coração.
Fiz uma pequena playlist opcional para esse capítulo, se vocês quiserem procurar as músicas no youtube acho que ia ser legal! Se forem escutar, escutem nessa ordem:
- SHINee - Up and Down
- SHINee - Obsession
- Linkin Park - Leave Ou All The Rest
- Lykke Li - Let it Fall
- Muse - The Resistance
- Gorillaz - Feel Good
- Death Cab For Cutie - A Lack Of Color
- One Night Only - Say You don't Want It
Espero que gostem!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/209138/chapter/6

-Ana OPV-

Arrumei-me rápido antes de as garotas saíssem para o cinema. Peguei meu celular e guardei-o no bolso da calça.

Despedi-me e saí da casa. Amber tinha me emprestado as chaves dela para quando eu voltasse.

Saí da casa e encontrei uma viatura estacionada na frente da casa, abaixei-me para ver quem era e lá estava Eun Hee e o outro policial dormindo profundamente. Achei fofo ela ter vindo fazer uma ronda. Ela precisava descansar, já que não ia ter ninguém na casa por um período, não me preocupei em acordá-la.

Andei até o ponto de ônibus mais próximo e fiquei esperando. Com uns trocados que eu tinha, entrei em um dos ônibus que me levaria ao meu bairro.

Desci no ponto e respirei fundo. Meu bairro. Passaram cerca de cinco meses desde que eu saíra de lá. Depois de ter saído fui morar com Luka. Mas minha casa sempre esteve lá. Eu morava com Sam, éramos melhores amigas desde o Brasil.

Entrei no prédio e subi as escadas até o segundo andar. Bati uma vez na porta e ela se escancarou e logo em seguida fui abraçada por minha melhor amiga que pulava em cima de mim me abraçando e me beijando nas bochechas. Achei que ela fosse me esmagar.

-MEUDEUSGIOVANAONDEVOCÊESTAVATAVAPREOCUPADAQUESAUDADESAAAAAAAAAAH! – saiu tudo de uma vez num berro enquanto eu sentia minhas costas estralarem.

-Também estava morrendo de saudades, se foi isso que você falou. – eu disse abraçando-a de volta.

Afastamo-nos e olhei bem para ela. Pele leite-com-café, olhos e rosto redondos, cabelos compridos e com uma franja comprida, a ponta dos fios estava rosa. Ela usava uma calça vermelha e um moletom roxo de caveirinhas. Típico! Era difícil acreditar que ela era só dois meses mais nova que eu.

Ela me olhava com um sorriso de cortar a cara.

-Entra! Temos tanta coisa para conversar! Ah! E tem o presente dos seus avós... – ela entrou e correu para a sala pegar alguma coisa.

Parede azul claro, fotos nossas fazendo careta e uma outra de nós vestidas de girafas (bons tempos...) penduradas nelas, móveis coloridos e tapete laranja berrante. Era bom estar de volta em casa.

-Aqui! Seus avós me mandaram entregar isso para você. – ela voltou à sala, abriu uma bolsa e me entregou uma caixa pequena de papelão lacrada.

Arranquei os adesivos e fitas e havia um envelope gordo dentro. Abri-o e estava cheio de dinheiro. CHEIO DE DINHEIRO! Havia também uma carta, mas eu a leria depois.

-Wow! Que presente mais generoso! – ela disse arregalando os olhos para o bolo de dinheiro em minhas mãos. – Quanto será que tem ai?

-Sei lá! Eles sempre mandam dinheiro, mas dessa vez deve ter o dobro do normal!

-Eles devem querer que você volte. Já faz mais de seis meses que você não vai visita-los! Até eu acho que é muito tempo... – ela disse.

-Eu não vou voltar por causa da quantia de dinheiro que eles mandam. Apesar de que tem bastante coisa aqui... Sinto falta da vovó. Como ela está? – perguntei preocupada.

-Ela me pareceu bem deprimida. Disse que sente sua falta. E seu avô está do mesmo jeito de sempre. Você sabe, né?! – ela deu de ombros.

Bufei de raiva.

-É, sei. Não sei por que ela continua com ele. Maldito! – separei o dinheiro no meio, mais ou menos e estendi a metade para Sam.

-Tá louca?! Essa grana é sua! – ela disse empurrando o dinheiro para mim.

-Pega logo. – ela rejeitou então eu deixei as notas em cima da mesinha de centro e coloquei um livro em cima. Ela revirou os olhos.

-Ana, agora que eu estou aqui você pode voltar a morar comigo, não acha?

Ela tinha razão. Eu não precisava mais atrapalhar a vida das meninas do f(x) – e principalmente Sulli, vai saber lá por qual motivo! – e poderia morar com minha melhor amiga de novo.

-Verdade... Acho, que vou ter que sair de lá então. – eu fiquei um pouquinho triste, pois não veria mais SHINee, f(x) e EXO.

O telefone tocou alto.

-Ah! De novo? Esse telefone tocou a manhã inteirinha e quando eu atendo ninguém responde! Apenas ignore... – ela resmungou.

Depois de um tempo o telefone parou de tocar. Estranho.

-Enfim, você pode voltar lá e pegar suas coisas, mas não antes de você me apresentar a todo mundo, certo? – ela insistiu sorrindo.

-Acho que sim.

-Sabia que podia contar contigo! Imagina, eu e o Key. É amor a primeira vista! Vai ser perfeito!

-É, mas não se esquece de que tem os outros membros também, né! Imagina você lá babando no Key enquanto os outros tentando te cumprimentar. Coitados... – eu ri. Key sempre fora, desde a primeira vez que ela pôs os olhos nele, seu primeiríssimo bias. Pensando bem agora, bem que eles combinam. As personalidades combinam. Contra todas as leis da natureza e o ditado de que os opostos se atraem, mas no caso deles acho que o oposto era mais aceitável. Vai entender...

Ela interrompeu meus pensamentos sobre os dois enquanto tagarelava.

-Acabei de lembrar! Trouxe uma coisa do Brasil que você ama! Fecha os olhos e abre a boca! –ela bateu palmas.

Suspeitei do que ela faria, mas a obedeci. Ouvi um barulhinho de embrulho e senti um sabor mais do que amado por mim. Acho que depois da minha avó, a coisa que eu mais sentia saudades do Brasil era paçoca!

Abri os olhos e Sam estava com uma caixa inteira cheia de paçoquinhas. Eu a abracei enquanto tentava falar alguma coisa sem cuspir farofa de paçoca no cabelo dela. Ela sabia como me deixar feliz.

-Toma, é toda sua! Você sabe que eu não gosto muito disso, né?!

-Valeu mesmo, Sam! Já faz uns seis meses desde que eu não como isso! – eu disse enquanto abriu outro e colocava na boca.

O telefone tocou de novo.

Eu o atendi mesmo com os protestos de Sam.

-Annyeong? – eu disse de boca cheia, tentando não rir.

-Ana. – disse a voz de Luka. Não era uma pergunta.

Deixei a caixa de paçoca cair e engoli a massa de uma vez.

Não ousei falar nada. Apenas tinha congelado. Mesmo que eu quisesse desligar o telefone imediatamente eu não conseguia.

-Como é bom ouvir sua voz de novo. Volte para mim, princesa. Volte ou eu vou ai te pegar. Como você prefere? – ele disse com uma voz assustadoramente calma e serena. Fez uma pausa. - Pelo jeito vou ter que te pegar, não é?! Você sabe que eu não gosto de brincadeirinhas. Acho bom me esperar ai quietinha, ok. Um beijo, minha linda. – ele desligou.

Atirei o telefone na parede. Sam me olhou assustada.

-O que houve? Quem era?

-Luka... – eu mal pude pronunciar seu nome.

-O QUÊ? COMO ASSIM? O QUE ELE DISSE?

-Ele está vindo me pegar...

Ela ficou sem palavras, assim como eu.

Eu não poderia ficar sem fazer nada e esperar ser arrastada para uma prisão novamente. Peguei meu celular no bolso e procurei pelo celular da oficial Eun Hee.

-Atende, ATENDE! – eu andava de um lado para o outro da sala.

-Annyeong... – disse uma voz sonolenta depois de quatro toques.

-Unnie! Vem nos buscar agora! Ele está atrás de mim! Rápido, por favor! – ela entendeu a mensagem e passei o endereço para ela.

Desliguei.

Sam estava pálida.

-Sam, querida? Tente se acalmar, a oficial vai vir nos buscar. Ele não pode nos pegar, ok?! Se você puder, pegue suas coisas mais importantes agora antes que ela chegue. Coisa fácil de pegar. Faça uma mochila, certo? – ela assentiu.

Fui para o meu quarto e aproveitei para pegar uma mochila preta minha e joguei meu notebook dentro, junto com uns livros e outras coisas de valor sentimental. Saindo do quarto, peguei a caixa de papelão com a carta. Sam já estava pronta com uma mochila grande verde cheia de roupas amassadas.

Peguei o dinheiro na mesinha e coloquei dentro da mochila aberta dela. Escutamos uma buzina do lado de fora. Trancamos a porta e corremos para fora do prédio de mãos dadas. Pulamos para dentro do carro e o oficial Choi Young Hun pisou fundo e saímos o mais rápido possível dali.

Sem perceber, lágrimas escorriam de meus olhos. Sam me abraçava e chorava também. Estávamos com medo, estávamos apavoradas. Só tínhamos uma à outra agora. Permiti-me chorar desconsoladamente daquela vez.

Quando nos acalmamos, Eun Hee nos encarava com pena nos olhos no banco da frente.

-Eu sinto muito, meninas. Já mandamos uma viatura ir lá para prendê-lo se ele aparecer por perto. – ela fez uma pausa. – Onde sua amiga vai ficar?

-Sam, seus pais estão na cidade? – eu disse enquanto tirava os fios de cabelo grudados em seu rosto.

-Estão, voltaram da França semana passada. – ela soluçou.

-Não vou ficar contigo. Seria doloroso demais se ele te ferisse também. Se ele me quer, é só a mim que ele vai ter.

-Não! Ele não vai ter nem a você nem a ninguém. Ele vai preso e vai pegar uma bela de uma pena, viu garotas! E nada de bancar a valente e se arriscar assim! Nada de maluquices, tenham bom senso! – disse Choi Young Hun determinado.

Fiquei agradecida por ele ter dito aquilo, em certo ponto.

Sam ligou para os pais e explicou a situação, ela até teve que passar para a oficial para confirmar a história. Os pais dela eram muito legais comigo e com Sam, mas estavam sempre viajando. Eles ficaram apavorados. Não era se se assustar. Tratavam-na como uma princesa. Sua família era muito rica.

Paramos na frente de uma casa grande com portões altos que já estavam abertos. Entramos com a viatura e quando saímos do carro, fomos recebidas pela mãe de Sam que gritava.

-Quem é esse insano que está atrás das minhas meninas? – Nena (mãe da Sam, não me perguntem por que ela gostava de ser chamada assim, mas o nome verdadeiro dela era Simone) nos examinava, vendo se não tinha nenhuma parte nos faltando.

Seu Capri apareceu logo atrás dela, preocupado.

-Está tudo bem com vocês, meninas? Annyeonghaseyo, oficiais. Muito obrigado por trazer nossas garotas em segurança. Querem entrar para tomar um café?

-Não, obrigado senhor. Só viemos trazer elas. Vamos ficar rondando o quarteirão para a segurança de Samantha.

-Como assim? Você não vai ficar conosco, querida? – perguntou Nena.

-Não posso, Nena. Já estou em um lugar. E esse lugar é totalmente desconhecido por ele, netão acho melhor ficarmos separadas por um tempo até tudo se acalmar.

-É esse maluco do Luka? Eu sabia que esse rapaz tinha problemas! Sabia, sabia! Se ele aparecer na minha frente, juro que vou... – Nena cerrou os pulsos e fechou os olhos.

-Calma, Nena. Ele não pode fazer nada com elas, certo?! O que podemos fazer agora é ser extremamente cautelosos. Ana, tem certeza que não quer ficar? – perguntou Capri, bondoso.

-Prefiro ficar em outro lugar. – eu estava apenas pensando na segurança de Samantha. Se ele, de algum modo me achasse, eu morreria se ele fizesse algum mal a ela ou a seus pais. Não poderia correr esse risco.

-Tudo bem. – ele se virou para os policiais. – Vocês tem que me prometer que vão reforçar a segurança para essa mocinha aqui, ok?! Vai saber o que esse psicopata pode fazer com ela se ele a encontrar...

-Com certeza, senhor. Pode contar conosco. – disse Young Hun.

-Acho melhor irmos agora, não acha? – perguntou Eun Hee.

Assenti.

Abracei Sam fortemente, assim como Nena e Capri. Eles eram minha família.

-Não se preocupem comigo, vou ficar bem. – tentei sorrir, acenei.

Voltei a entrar na viatura e agarrei minha mochila. A viagem até a casa foi silenciosa. Quando chegamos Eun Hee me informou que os dois e mais uma viatura iriam rondar o quarteirão. Agradeci aos dois várias vezes e ela me acompanhou até a porta com a mão na arma, presa na cintura.

Abri a casa e me despedi dela.

Fechei a porta.

Encostei-me a ela e cedi. Joguei-me no chão e simplesmente desabei. Meu mundo desabara junto comigo. Não cheguei exatamente a chorar, mas berrei e esperneei, praguejei, xinguei, me bati, soquei o chão.

Quando lentamente me recompus reparei que não havia ninguém em casa – ainda bem! Um bilhetinho estava preso com um imã de coração na geladeira. Ele dizia: Sulli, Amber e eu fomos ao cinema com Jessica e Taeyon e depois vamos ter outro compromisso. Vic e Luna foram filmar um programa de TV e depois vão ser MC em outro programa. Então não se preocupe de ficar sozinha em casa, ok?! Vamos voltar bem tarde, - provavelmente de madrugada, sorry :/ - pode comer o que quiser da geladeira, a casa é sua! Tente se divertir! Mil beijinhos. ;*

Passei a mão nos beijinhos que Krystal desenhara. Que criatura mais adorável!

Sozinha...

Respirei fundo. O que eu faria para tirar meus pensamentos dos últimos momentos?

Abri minha mochila e peguei a caixa de papelão. Peguei a carta e a estiquei, sentei-me no pufe, levando um susto, pois lembrava perfeitamente de ter visto um gato lá da primeira vez, mas agora eu reparara que ela apenas um bichinho de pelúcia. Limpei a garganta e li a cartinha.

Querida Giovana,

Sinto tanto sua falta, minha neta! Você não faz ideia do quanto. Já se passaram seis meses desde sua ultima visita e você não respondeu minhas cartas mais recentes, fiquei preocupada. Como estão as coisas aí? Tem se comportado? E como vai seu namorado? Bem?

Seu avô tem perguntado com certa frequência sobre você, até eu achei estranho. Isso é um bom sinal! Ele até ofereceu mais dinheiro para eu mandar para você! Também achei estranho. Sua mãe te mandou um beijo, infelizmente ela voltou para a reabilitação duas semanas atrás. Se não fosse por mim ela estaria naquele beco outra vez. Espero que ela se recupere logo para quando você voltar...

Como vai a faculdade? Muito difícil? Imagina, no final do ano, você, uma designer gráfica formada! Estou tão orgulhosa. Queria muito poder ir a sua formatura no dia, talvez eu dê um jeito de ir ai! Quem sabe?

Ah, minha querida! Você sabe o quanto eu te amo, então por favor, volte logo!

Estarei esperando por uma resposta!

Beijos da sua avó que sente sua falta.

Essa curta carta tocou minh’alma. Uma enorme saudade me atingiu. Saudades de minha amada avó, Sueli. Senti-me culpada por não responder suas cartas, mas eu estava sem condições para isso. Ela ainda não sabia que eu saí da faculdade mês passado. Eu era um lixo por fazer isso com ela. Culpa!

Pensei em escrever uma resposta a ela, mas me impedi. Eu precisava de um tempo.

Fui para o “meu” quarto e peguei uma toalha limpa. Entrei no maior banheiro da casa – detalhe, ele tinha uma banheira muito convidativa -, que era o da Luna. Ela não se importaria de eu usá-los, contando que eu deixasse tudo seco no final.

Abri as torneiras, calculando a temperatura perfeita. Deixei a banheira encher.

Despi-me e toquei a ponta dos dedos na água. Perfeito.

Entrei na água e deixei-a cobrir minha cabeça por uns instantes. Quando voltei à superfície senti-me renovada. A única coisa que podia levar todas as minhas mágoas era um belo banho quente. Encostei a cabeça na parede e apoiei os pés na borda da banheira.

Apenas relaxei e esvaziei minha cabeça. Relaxei tanto que acho que dei uma cochilada. Olhei o meu relógio do celular, eu tinha dormido por uns quarenta minutos. Era o suficiente. Levantei-me e me embrulhei na grossa e felpuda toalha. Destampei a banheira e dei uma secada no chão.

Quando estava saindo do banheiro, a campainha tocou.

 Levei um susto. Eu estava de toalha!

Fui até o aparelho de segurança com câmera ao lado da porta. Taemin estava lá, inocentemente encarando a câmera, enquanto esperava por uma resposta.

Apertei o botão para falar com ele.

-Annyeong, Taemin! Você pode esperar um pouquinho para eu colocar uma roupa? – perguntei.

-Posso sim. – senti que ele ficou meio desconfortável com eu estar pelada do outro lado da câmera.

Corri para o quarto e me sequei apressada. Vesti um jeans e uma blusa de mangas longas e capuz cinza e azul. Calcei um All Star e penteei o cabelo, ajeitei-o e voltei à porta. Abri o portão e a porta da casa. Ele me olhou tímido e deu um sorriso, que como sempre me arrancou do chão.

Ele estava indo como sempre. Usava uma camisa de botão azul xadrez, uma calça jeans rasgada e um par de Adidas. Maravilhoso...

-Annyeong, Ana! – ele se curvou ligeiramente.

-Annyeong. – eu retribuí com um sorriso.

-Taemin OPV-

Entrando pelo portão, vi Ana sorrindo para mim como uma criancinha. Ela estava muito linda e fofa com aquela blusa de mangas compridas que cobriam os dedos.  Seus cabelos úmidos molhavam a blusa.

Sorri de volta.

Entrei na casa depois de cumprimenta-la, esperando encontrar as outras meninas na sala. Mas não encontrei mais ninguém. A casa estava silenciosa. Estranhei.

-Só estou eu aqui. – ela disse envergonhada. – Aceita uma xicara cappuccino?

-Hum, pode ser, obrigado.

Ela andou até a cozinha e começou a abrir as portas dos armários, vendo se achava alguma coisa. Eu me sentei numa das cadeiras que cercavam a bancada.

-Onde está todo mundo? – perguntei.

-Ah, elas saíram. Veja. – ela tirou um bilhete da geladeira e colocou-o na minha frente.

Li o bilhetinho. Era bem a cara da Krys fazer isso.

Quando ela finalmente conseguiu achar uma xícara e um potinho escrito cappuccino, ela começou a preparar a mistura. Ela estava meio agitada, até um pouco trêmula.

-Está tudo bem, Ana? – perguntei.

-E... Está. É que aconteceu uma coisa hoje, e eu não esperava falar com alguém tão cedo. – ela sorriu torto.

-Aconteceu alguma coisa ruim? – me preocupei.

-Bem, sim... – ela tirou o cabelo úmido do rosto.

-Tem alguma coisa a ver com aquela viatura estacionada ai na frente? – antes de entrar senti que olhos me acompanhavam de dentro da viatura.

-Pode se dizer que sim. Tem a ver com meu namorado. Que para mim é ex, mas já que nunca chegamos a terminar... – ela foi diminuindo a voz.

Eu fiquei preocupado. Não sabia nada sobre esse cara, mas já o odiava profundamente.

As perguntas iam acabar aquele dia.

-O que ele fez com você, Ana? – perguntei com voz tranquila e direta.

Ela parou um momento e respirou fundo, como se estivesse se perguntando se deveria dizer algo ou não. Ela se virou e colocou a xícara fumegante na minha frente, deu a volta na bancada e se sentou na cadeira ao meu lado com sua própria xícara.

-Você quer que eu te conte o que aconteceu comigo? É isso? – ela me encarou com aqueles enormes olhos castanhos.

Assenti com a cabeça, não poderia mais aguentar. Se alguém fosse feri-la, eu tinha que saber! Pelo menos assim saberia como a proteger e de quem eu deveria.

Ela respirou mais fundo ainda e fechou os olhos por uns segundos. Quando os reabriu estava com olhar determinado. Virou-se para mim e limpou a garganta.

-Desde que eu cheguei a Coreia com minha amiga Sam, Luka, meu ex-namorado, vivia me pedindo para sair. Eu morava com Sam. Como eu era muito nova e ele era um coreano mais velho e bonito, aceitei. Começamos a namorar desde aquele primeiro encontro. Tudo corria perfeitamente. Ele achava demais ter uma namorada brasileira, mas às vezes fazia brincadeirinhas com os amigos deles sobre mim, como se eu fosse uma vadia que eles podiam passar a mão também. Aquilo me deixava muito perturbada, mas ele não fazia nada sobre isso. Ele dizia que eu deveria estar acostumada a isso já que eu era brasileira. – ela fez uma breve pausa e examinou minha expressão. Continuou. – Tudo foi piorando quando eu entrei na faculdade. Eu estava estudando havia meses para conseguir passar e não era minha primeira tentativa. Eu fiquei extremamente feliz por ter passado, mas ele não. Ele sentia que íamos acabar nos afastando com meus estudos, enquanto ele não fazia nada em casa.

Ela tomou um longo gole de cappuccino e limpou os lábios carnudos.

-Eu fiz um amigo na faculdade. Ele era um bom amigo, talvez o melhor! O nome dele é Erik. Ele é alemão. Estava tentando passar fazia um bom tempo, assim como eu. Luka não ficou nada feliz com nossa amizade. Até um dia em que ele foi me buscar e Erik e eu estávamos juntos.  Luka quebrou a cara e um braço dele naquele dia. Nós brigamos feio. Foi o primeiro dia em que ele me bateu. – ela passou a ponta dos dedos na bochecha.

Senti uma raiva, uma ira tremenda daquele cara, que se eu o encontrasse não me controlaria. Cerrei os punhos.

Ela voltou a si e piscou algumas vezes. Olhou-me.

-Continue. – eu a incentivei.

Ela assentiu.

-Depois daquele dia, ele me obrigou a morar com ele, para poder me controlar. Eu não saia a lugar algum sem ele. Sempre que eu reclamava de qualquer coisa, ele me batia. Isso ficava cada vez mais frequente e eu ficava cheia de hematomas pelo corpo. Quando saíamos, ele me obrigava a cobrir tudo com maquiagem. Minha amiga, Sam, suspeitava dele, mas eu não podia deixar ela saber, senão ele poderia machuca-la se ela protestasse ou argumentasse com ele. Morei por cinco eternos meses com ele. Já estávamos namorando a mais de dois anos. Ele tentava ser romântico e comprar coisas para mim, mas tudo o que eu queria era sair daquela prisão. E como eu era e sempre fui uma shawol, – ela sorriu para mim – e fiquei sabendo que vocês iam fazer um show aqui, decidi que aquela seria minha deixa. Fui à farmácia de madrugada e comprei uma caixa de calmantes. Preparei para ele um chá com o remédio dissolvido. Ele apagou, peguei meu ingresso e meu celular e saí daquela casa deixando tudo para trás. Prometi a mim mesma que nunca mais voltaria. Eu queria começar uma nova vida. Para apagar a memória, misturei-me na multidão e apenas curti o show. Quando eu estava saindo, fui aos fundos do local para ver se podia tirar umas fotos suas. Aquela área era restrita e as fãs os estavam esperando em outra porta. Quando eu fui para lá, Luka estava me esperando. É certo que se passaram várias horas desde que eu o drogara. Ele me descobrira, pois eu tinha falado com Sam, mais cedo aquele dia no telefone sobre o show.

Parou. Não acreditava que ela fosse conseguir continuar. Ela parecia tão frágil e inocente como um pingente de vidro, como se a qualquer sopro e fosse se estilhaçar em mil pedaços.

-Sabe, Taemin, você é a terceira pessoa para quem eu conto isso. Isso quer dizer que eu confio em você. Só... Só espero que você me entenda... – ela caiu no choro.

Eu não sabia o que fazer para consola-la. Desajeitadamente, abracei-a. Ela me abraçara de volta com força enquanto soluçava como uma criança. Ela disse alguma coisa em outra língua e eu passei a mão em seus cabelos úmidos e compridos. Tinham cheiro de morango.

Arrependi-me totalmente de tê-la feito responder àquela pergunta. Mas ela disse que confiava em mim, então ela ia dizer aquilo uma hora ou outra, não é?

Pensava que eu que tinha uma vida difícil, mas depois de escutar aquele testemunho, fiquei sensibilizado. E com ódio. Muito, muito ódio de Luka. Um ódio indescritível.

Esfreguei levemente suas costas e a separei de mim. Limpei seu rosto e a fiz olhar bem em meus olhos segurando seu queixo fino.

-Você é uma garota muito corajosa, sabia? Por tudo o que passou, por tudo o que fez... Nunca conheci ninguém como você. Qualquer um que tentar acabar com seu sorriso deve pagar caro. – ela me olhou com ternura e ficamos em um clima de transe.

Nossos olhos estavam grudados um no outro. Podia sentir o sabor de seus lábios rosados nos meus.

Eu nunca beijara ninguém além de Yoogeun, mas se fosse para tentar, aquele momento seria o melhor jeito de começar. Meu coração palpitou.

Ela se levantou abruptamente cortando o transe.

-Eu tinha ido visitar Sam quando ele ligou para lá. Eu atendi. Eu estava indo me pegar. Por isso a viatura está ai na frente. Estão prevenindo de que ele chegue perto de mim. Foi por pouco que isso não aconteceu. – ela disse de costas para mim.

Ele chegou perto dela? Agora pude entender o porquê de ela estar naquela situação, tão nervosa e assustada.

Ela retirou as xícaras e as colocou na pia.

-Naquela época eu não tinha mais esperança. Mas você sempre me ajudava. Eu conheci melhor você e descobri que existem homens bons nesse mundo. – quando ela disse isso meu coração apertou.

Como se um espírito deprimido tivesse saído de seu corpo, ela se virou alegremente e sorriu ternamente para mim.

-Não vamos mais falar sobre mim, tudo bem?

-Se é isso que você quer.

-Vamos falar de você. Eu quero saber mais sobre você. – ela voltou a se sentar enquanto me olhava fofa. – Sabia que você é meu dançarino favorito?

-Sério? Com relação a que?

-Com relação a todos os dançarinos do mundo inteiro! – ela gesticulou com os braços fazendo um grande círculo.

-Oh, muito obrigado. – inclinei-me levemente, sorrindo. Preferia que ela tivesse mudado de assunto, aquele outro estava me sufocando.

-Mas eu acho que você é muito mais talentoso do que aparenta. Sei que você pode fazer muito mais, mas parece que as pessoas tentam te segurar. Estou certa?

-Hum, está. Às vezes eu acho alguns passos bem ridículos, ou quando vou fazer uma dance battle contra outro dançarino, sinto que eu podia fazer muito mais, mas já está tudo programado e coreografado. Não tenho muitas chances de praticar estilo livre. – dei de ombros.

-Você gosta de dançar estilo livre? Você já fez uma coreografia só sua?

-Nunca cheguei a fazer uma coreografia, mas já inventei alguns passos.

-Eu quero ver. – ela fez aegyo.

Pensei um pouco.

-Tudo bem, então. Vou precisar de música.

Ela se levantou e correu para o sofá, pegou uma mochila e tirou um notebook moderno de lá. Ela o abriu e ligou.

-Que música você quer, senhor? – ela perguntou sorrindo.

-Gorillaz, Feel Good. – eu disse meio envergonhado. Era uma das minhas músicas preferidas e era ótima para dançar.

-Wow! Não sabia que você gostava desse tipo de música... – ela entrou no YouTube e colocou a música. – Preparado? – e deu play.

A música começou com uma gargalhada maligna e insana, eu me movi. Uma corrente elétrica percorreu meu corpo, apenas deixei meu corpo fazer o trabalho. Dancei com agilidade e flexibilidade, meus braços e pernas se movia em sincronia, deixei o ritmo tomar conta de meu corpo.

Ana me olhava com admiração com a boca ligeiramente aberta. Não tinha nada melhor do que ela me olhar daquele jeito. Dei o melhor de mim para deixa-la impressionada.

Quando a música acabou, uma gota de suor escorreu pela testa. Ela bateu palmas e pulou feliz.

-Isso... Isso foi... MARAVILHOSO! Estou tão orgulhosa de você! Você é tão talentoso! OMO! Perfeito, perfeito! – ela ainda estava com a boca meio aberta.

Não consegui conter o riso. Cobri a boca. Ela me deixou feliz, pois todo o meu esforço valera a pena.

-Sabe de uma coisa? Podem falar o que for, mas para mim você é muito macho. Não consigo ver você como os outros pensam sobre você. – ela disse rindo.

Primeira vez! Sério, primeiríssima vez que alguém falava uma coisa daquelas! Eu sempre escutava, desde que eu debutara com SHINee, que  eu parecia uma garota e tal, – o que eu realmente odeio! – mas quando ela disse isso eu realmente acreditei e fiquei muito grato.

-O... Obrigado! – eu disse engrossando a voz.

Ela riu da minha voz exageradamente grossa e ficou me imitando parecendo um cavalo.

-Já mostrei meu talento especial. Sua vez. Cante para mim. – eu pedi.

-Cantar? Mas você já me ouviu cantando. Uma vez na vida já é suficiente, não acha? – ela disse fazendo biquinho.

-Sem desculpa. Escolhe uma música, esto0ou esperando.

-Aish! Isso é sério? – eu assenti. – Tudo bem... – ela disse de cara feia.

Ela parou para pensar em que música cantaria. Correu para um dos quartos e voltou com o violão de Amber.

-Acho que ela não se importa se eu pegar emprestado um pouco, não é? – ela disse enquanto afinava as cordas.

-Que música você vai cantar para mim? – perguntei ansioso. Sua voz era tudo em que eu pensara desde a primeira vez que a ouvi cantar.

-A Lack of Color do Death Cab For Cutie. Uma das minhas bandas favoritas. Por favor, escute com atenção, essa música é especial para mim. – ela disse enquanto esperava por uma reação positiva minha.

-Com certeza. Pode começar.

Ela começou com umas notas lentas nas cordas. Sua voz era como água, como o sangue que corria em minhas veias.  Transportava-me para outro lugar. Era doce e aguda, mas firme e grave ao mesmo tempo. Era marcante e suave. Um jeito tão incomum de expelir as notas ela tinha. Sua voz era carregada dor, alegria, mágoa, paixão, tensão e tranquilidade.

A coisa mais linda de se ouvir.

Era como se estivéssemos em um campo aberto, sobre uma grande árvore. O vento batia em seus cabelos, ela sorria. A grama se entrelaçava em meus dedos, o pôr-do-sol aquecia meu rosto. Eu poderia apenas deitar e descansar, pois sabia que tudo estaria bem enquanto ela cantasse.

A música tomou seu rumo final e sumiu do ar.

Seus olhos inspirados me secavam.  Olhos de sabedoria e de inocência. Ela suspirou, como se tivesse tido uma conexão com seu coração.

-Gostou?

-Se eu gostei? Você não existe mesmo! –eu realmente não sabia como explicar o que sentia no momento.

Ela me olhou com um sorriso tímido.

-Você deveria fazer uma audição. – eu disse sério.

-Uma o quê?

-Uma audição. Você deveria tentar entrar para alguma companhia. Porque não tenta na SM? Como cantora solo, dá até para imaginar...

-Você não está falando sério, né? – ela ficou confusa.

-Muito sério. Você tem muito potencial! Muito mais do que muita gente na área da música. Tenta, pelo menos.

-Não levo jeito com muita atenção. Não ia dar certo. – ela riu. – E eu sou brasileira, creio que eles devem considerar a nacionalidade da pessoa. Não, sem condições... – ela sacudiu a cabeça.

-Que pena, você tem tudo para ser uma estrela.

-Não penso dessa forma. Qualquer um pode ser uma estrela, todos são especiais. Todos podem ser alguém. Ser diferente.

-Palavras bonitas...

-Obrigada. Minha avó que dizia isso para mim desde que eu era pequena. Ela é muito sábia. – ela disse enquanto guardava o violão na capa.

Passamos horas conversando. As melhores horas que eu já passara em muito tempo. Preferi tomar um rumo de conversa mais alegre, algo que a fizesse esquecer-se de Luka e do passado. Conversamos sobre nossas comidas preferidas, – e ela me prometeu que faria um prato brasileiro chamado “feijoada”, não faço ideia do que seja, mas me parece bom – sobre bandas favoritas, filmes, sobre o Brasil e a Coreia do Sul, sobre cultura, dança, – eu a desafiara a dançar e, bem, foi meio que um desastre e quase nos custou um abajur e meu pescoço, nem pergunte... -  moda, sentimentos, infância, escola, amigos, família, – ela tinha uma família bem infeliz coitada – religião, tecnologia e tantas outras coisas! Acho que nunca conheci uma garota tão bem assim! Sério, fizemos um verdadeiro questionário um ao outro. Foi divertido! Brincamos de Kai Bai Bo e ela sempre ganhava – podia jurar que ela roubou umas três vezes! Quando foi ficando tarde ela nos preparou um lamen e ela não queria me falar o que tinha nele. Até que estava maravilhoso! Mas ainda suspeito daquela coisa verde gosmenta no fundo da panela. Espero que eu seja veneno! Terminamos de comer e ela serviu um doce japonês de feijão que tinha no armário. Eu amava aqueles.

Estávamos sentados no sofá enquanto tentávamos adivinhar a data de nascimento de cada um. Quando um errava, o outro tinha que dar um peteleco na testa do que errara. Eu levara no mínimo uns seis petelecos muito doloridos por sinal. Os dois que eu dei nela não foram muito fortes de propósito.

Ela bocejou e se espreguiçou.

Olhei para o relógio. OMO! Eram quase onze horas! Como isso é possível? Eu cheguei aqui lá pelas... Duas? Três? Não me lembrava. O tempo passara tão rápido que nem reparei que estava escuro lá fora. Ela percebeu que eu olhara para o relógio.

-Você já quer ir embora? – ela perguntou preocupada.

-Está bem tarde, não acha? Você precisa dormir, está cansada. Eu já estou acostumado a dormir tarde, mesmo. Vou ter que ir. Você vai ficar bem sozinha? – perguntei.

Ela murchou.

-Tem que ser agora? Não quero ficar aqui sozinha... – ela parecia uma menininha assustada do monstro dentro do guarda-roupa – como se Luka fosse sair de lá e a sufocasse com o travesseiro na cara até que simplesmente parasse de se mexer. Quando isso passou por minha cabeça não pude aquentar deixa-la com esse medo tomando-a durante essa noite obscura e fria. O que eu faria? Não podia deixa-la assim, mas essa não era minha casa. Ah!

-Faz assim, vá para a cama e tente dormir. Eu vou ficar aqui na sala até você dormir. – era a melhor solução que eu achara.

-Você faria isso por mim? – ela sorriu, menos tensa.

-Faria.

-Muito obrigada, Taemin! Essa tarde que passamos juntos foi excepcional! Uma boa noite para você, então. – ela se moveu em minha direção e seus lábios quentes beijaram minha bochecha. Fiquei completamente surpreso com aquela atitude dela e foi a minha vez de derreter. Toquei a bochecha beijada levemente enquanto ela se levantava e corria para o corredor.

Fiquei sentado no mesmo lugar imaginando se eu tivesse virado um pouco mais o rosto, nossos lábios se encontrariam.

Depois de uma meia hora, abri a porta do quarto devagar. Ela estava dormindo como um anjo. Fechei a porta e fui embora.

Feliz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram?
Acho que exagerei um pouco nesse capítulo, mas eu gostei muito de escrevê-lo!Espero que tenham curtido.
Já sabem, né?
Comentem, aceito críticas negativas e positivas!
Amo vocês!
Um grandeeee beijo shawols!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "To Your Heart" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.