Something Like Love escrita por Boca de Netuno


Capítulo 9
capítulo nove.




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   Segunda-feira. Sentei no meu lugar de sempre, lamentando a semana que chegara. Olhei para o lado, e a imagem que ficou gravada em minha mente foi dispensável. Seth estava sentado de costas para o quadro-negro, na cadeira em frente ao Patrick, e eles estavam realmente conversando. Seth falava entusiasmadamente, gesticulando bastante. Patrick não estava nem perto de estar tão animado quanto o outro, mas sua boca estava se movendo, e sons realmente saíam, o que era um grande avanço para ele.


   Fiquei com medo do que poderiam estar falando, porque Seth falava mais que sua boca o permitia, e algo importante poderia escapar dali. Sem chance de fugir, Seth parou de falar e olhou para mim. Patrick fez o mesmo. O primeiro acenou freneticamente, para que eu me juntasse a eles. Hesitante, levantei-me e sentei na cadeira à direita de Patrick, me apoiando em sua mesa.


   "Bom dia!" disse Seth, no seu bom humor de todo dia. Isso me irritava profundamente quando eu estava de mau humor. Eu resmunguei qualquer coisa em resposta. "Que foi?" ele perguntou, aparentemente preocupado.


   "A Katie não parou de me mandar mensagens a cada dez minutos, me pedindo pra falar com o Liam hoje. Quando ela parou, o sono sumiu. Tudo isso porque eu falei que tinha encontrado ele ontem, depois do shopping." eu disse, afundando o rosto em meus braços, cruzados em cima da mesa de Patrick. "E hoje é segunda." eu lembrei com uma voz abafada.


   "Por que ela quer tanto falar com ele?" Patrick perguntou em seu tom bem baixo que costumava usar na escola.


   "Ela está quase obcecada pelo garoto," eu reclamei, encarando-o. "E eu viro cupido." continuei, apoiando o queixo na palma de uma das mãos.


   "Fale pra ela ir a um ensaio da banda." ele se apoiou do mesmo jeito que eu tinha feito, pendendo mais para meu lado. "Fica mais fácil pra ela conhecer o Liam." disse ele, como se fosse óbvio.


   "Tudo bem levar mais gente, assim, do nada?" Seth perguntou.


   "Com certeza. Eu sou o único que não gosta de muita platéia, mas os caras não se importam. Eles adoram, na verdade." ele suspirou. "Eu preferia que fosse só a banda, me desconcentro quando tem muita gente." Seth me lançou um sorriso que Patrick não viu.


   "Então eu posso ir também?" meu amigo animou-se, completamente ignorando completamente o que o outro falara. O ruivo assentiu com seu sorriso tímido, meio hesitante. 


   Não tinha idéia do que Seth fizera para Patrick falar tão calma e normalmente com ele. Ele não era assim com ninguém no colégio. Mas eu estava feliz por que ele havia perdido um pouco de seu medo.


   Ainda tinha tempo para bater o sinal, então Patrick saiu da sala, dizendo que ia ao banheiro. Seth olhou pra mim como quem tem algo interessante a contar, mas eu realmente não estava interessada, e ele pareceu desapontado com isso.


   Logo o sinal soou, e todos entraram na sala. Voltei ao meu lugar e dormi durante as duas primeiras aulas, sendo chamada a atenção diversas vezes. Mas valeu a pena, acordei com um humor bem melhor do que estava às sete da manhã.


   O professor de gramática terminou a matéria mais cedo, então tivemos alguns minutos livres antes do primeiro intervalo. Era difícil sair do meu lugar, principalmente porque o vão entre as fileiras de carteiras era muito estreito, então fiquei sentada, me fingindo de morta. Faltando menos de dois minutos para sairmos, Seth sentou-se na cadeira vaga à minha frente.


   "O Patrick é legal." ele disse, esperando pela minha reação.


   "Já o chama de Patrick, é?" perguntei, tentando esconder minha oposição à aproximação deles. "Nunca ouvi ele falar tão normalmente com alguém que não fosse da banda, ou ligados a ela. Nem tão alto."


   "Pra falar a verdade, ele estava falando super baixo, e as palavras eram monossilábicas. Ele só parou de gaguejar e falar estranho quando você se sentou ao lado dele." tendo dito aquilo, o sinal tocou e ele saiu da sala, acompanhado por alguma garota da sala.


   Eu saí rápido, indo direto à cantina, comprar o mesmo de sempre. Fazia quase um mês que eu andava praticamente o tempo todo com Patrick na escola e, finalmente, as pessoas pararam de achar tão estranho. Ele estava sentado no banco encostado no muro e, como de costume, isolado de todos os outros. Sentei ao lado dele e abri o pacote que levava na mão.


   "O Kevin não pára de perguntar quando que você vai lá jogar com ele. Desculpa trazer o assunto do nada, mas ele ficou falando até que eu prometesse que ia falar com você." ele disse, meio aborrecido, meio sem graça.


   "As provas só são semana que vem, então eu tenho a semana inteira. Quando ele quiser que eu vá, é só dizer."


   "Se você for hoje, ele não vai ficar me enchendo por alguns dias." ele sorriu.


   "Ah, ok. Só preciso avisar a Tiffany." eu disse, levemente distraída. "A propósito, sobre o que você estava falando com o Seth antes da aula?"


   "Algumas coisas." falou ele, sem me encarar. "Nada relevante." Interrompeu tomando um gole da lata que ele sempre trazia.


   "Claro" retruquei com um olhar torto, e ele desviou os olhos de mim novamente.


   O sinal avisou que era para voltarmos para a sala. Não consegui prestar atenção em nenhuma das aulas seguintes, pensando no que Seth poderia ter dito ao Patrick para ele não querer falar.


   Pela primeira vez, vi o garoto de boné por quem eu era apaixonada parar de prestar atenção na aula e virar para o lado. Ainda mais para me perguntar se eu iria embora com ele. Confirmei e mandei virar para a frente de uma vez, mas não deu tempo. O professor virou-se e começou a reclamar incansavelmente, generalizando o sermão para a sala inteira. Patrick ficou extremamente envergonhado e abaixou a cabeça. Perdemos o resto da sexta aula ouvindo o professor de Física tagarelar sobre conversas paralelas durante as explicações. Isso acontecia freqüentemente, mas ele parecia ter caprichado por ser a última semana de aula.


   Todos saíram correndo, dando graças aos céus por aquele dia já estar na metade. Para mim, que fiquei dormindo acordada a manhã inteira, o dia estava apenas começando. Ainda mais porque eu passaria a tarde inteira junto de Patrick. Ok, risque essa frase, ficou muito 'coisa de menininha apaixonada'.


   "Acho que eu nunca fiquei com tanta vergonha na vida. Não gosto de chamar atenção." ele resmungou, a face ficando ligeiramente vermelha.


   "Como você espera participar de uma banda, então? De qualquer jeito, teve aquele dia, na oitava série, que você tropeçou na frente da cantina e quase foi de cara no chão. Ninguém realmente percebeu, mas você ficou muito vermelho." eu ri, sem me dar conta do que estava dizendo.


   "Como você sabe disso? Não, melhor! Como você LEMBRA disso?" ele indagou, surpreso. A primeira coisa que me veio a mente foi: 'Na verdade, eu ficava te seguindo por todo lugar porque eu te amo desde a sétima série', mas era meio óbvio demais que eu não iria falar isso.


   "Eu estava na fila." mentira. Eu estava bem longe, escondida dele e da Ash e Katie. "Só preciso ligar pra Tiff e a gente já vai, ok?"


   "Por que você chama sua mãe de Tiffany?" ele me perguntou. "Não é muito normal."


   "Sei lá, eu sempre a considerei muito nova pra ser minha mãe. Em mente, mais ainda. Claro que eu a chamo de mãe, mas só com ela." respondi enquanto procurava meu celular no meio de minha bagunçada mochila.


   Tiff disse que eu podia ir à casa de Patrick, mas isso era provavelmente porque ela não sabia que eu o amava. E eu não estava preparada para contar isso para ela ainda. A última vez que eu disse a ela que estava apaixonada, ele era filho de uma amiga dela, e ela ficou animada demais, e contou para Deus e o mundo, e eu fiquei trancada no meu quarto, morrendo de vergonha.


   Eu nunca tinha ido à casa de Patrick antes. A cada passo que dávamos além da rua da minha casa, meu coração parecia bater mais devagar e mais alto.   A casa era simples, mas grande. Pintada inteira em um tom de creme, tinha as portas brancas, com desenhos entalhados nos cantos. Tinha só um andar, mas as paredes eram bem altas. Ele me disse para entrar, e então o fiz. A sala não era muito grande, mas era bem distribuída. Havia um sofá de um lado do cômodo, e uma grande televisão à frente, posta em cima de um balcão de madeira escura. A mesa era do mesmo tipo de madeira do balcão, e tinha lugar para seis pessoas. Espelhos estavam espalhados pelas duas paredes restantes, dando a leve impressão de que a sala era maior. 


   "Mãe, chegamos!" Patrick disse alto, adentrando a cozinha. Eu o segui e vi uma bonita mulher de cabelos escuros fatiando algo numa tábua de madeira. Ele deu-lhe um beijo na face e ela virou-se para mim. "Essa é a Lilly." ele me apresentou.


   O rosto pálido dela ficou radiante, e ela veio prontamente me beijar as duas bochechas. Patricia parecia relativamente nova para ter dois filhos, mas ela já não era tão magra quanto um dia devia ter sido, e parecia cansada.


   "Lilly! Que bom que você veio, querida! Ricky sempre fala sobre você." Patrick resmungou algo, mas ela o ignorou. "Eu sou Patricia." disse em meio a um caloroso sorriso. "Se Ricky tivesse me avisado que você vinha, eu teria feito algo especial."


   "Imagine. Eu quem não deveria ter vindo sem no mínimo avisar." eu disse, começando a me sentir culpada.


   "Ok, a gente vai pra lá. Avise se precisar de ajuda." ele disse, me arrastando para fora da cozinha pela mão. Me levou pelo corredor e depois soltou minha mão. Gostaria que não o tivesse feito.


   O garoto entrou em um cômodo que não parecia pertencer a casa. Fora daquele quarto, tudo era claro, com quadros, espelhos e apetrechos. Ali dentro era outra coisa: as paredes eram azuis escuras, e ele não tinha cortinas, só um blecaute. A cama de solteiro estava arrumada somente com um cobre-leito azul e havia pôsteres de artistas como David Bowie, Prince e Freddie Mercury pelas paredes. A televisão era mais ou menos do mesmo tamanho da que eu tinha na minha sala, e havia uma pequena estante ao lado, onde se podia ver alguns livros e vários DVDs.


   "Desculpe pela bagunça, eu não sou muito de arrumar o quarto" ele disse, referindo-se às coisas caídas no chão. Uma pequena figura, que eu reconheci ser Kevin, entrou direto no quarto sem ao menos bater na porta. Deixei minha mochila em cima da cama de Patrick para cumprimentar seu irmão. Ele me deu um beijo estalado na bochecha, e um lindo sorriso, e disse que ficou feliz por eu ter ido.


   "Vou buscar o videogame pra gente jogar aqui." Kevin disse.


   "Por que aqui?" Patrick perguntou, nada feliz com o fato. "Seu quarto tem uma televisão."


   "Mas Pat," ele choramingou "sua tv é maior e dá pra jogar sentado na cama. Lá fica muito longe."


   "Tá, mas vai ser a primeira e última vez." ele disse, ainda com o mesmo tom e a mesma expressão. Kevin saiu correndo para seu quarto.


   "Pat, Ricky. Só a família tem apelidos pra você?"


   "E a banda. Rickster, Lunchbox, Patty Boy..." ele admitiu, desgostoso.


   "Lunchbox?" eu ri.


   "Nem pergunte. Nigel foi quem começou com isso." ele disse, também rindo.


   "E o meu apelido pra você?" perguntei. Ele estudou meu rosto por um momento, chegando mais perto, bem devagar, fixando seu olhar no meu. Senti meu coração pular uma batida.


   "Você é quem escolhe." ele sorriu, sem quebrar contato visual. Ele não se afastou, então eu resolvi testá-lo, andando mais para frente.


   "E se eu te chamasse de Pat?" um sorriso bobo brincava em meus lábios; eu já havia ficado nervosa com essa aproximação. Ele não hesitou e continuou vindo para mais perto, o suficiente para eu sentir sua respiração. E se ele também estivesse me testando?


   "Eu não me importo muito do que você vai me chamar. Só quero estar perto de você." ele falou baixo, tão perto que eu não me importava mais se era um teste ou não. Eu só queria encostar meus lábios nos dele, e saber qual era a sensação. Ele estava tão envolvido e confuso quanto eu, sua respiração curta e rápida.


   Puxei bem de leve a camiseta dele para fazê-lo chegar mais perto, como se isso fosse necessário. Sem cismar, ele veio, e nisso, nossos corpos estavam quase colados. Ele pôs as mãos em minha cintura e abaixou a cabeça para que ficasse da mesma altura que a minha. Nossos lábios roçaram, mas eu mal pude sentir, porque a porta entreaberta do quarto fez um estrondo quando Kevin a chutou para passar com o console e os jogos. Nos separamos rápido demais, ambas as faces ficando mais vermelhas do que nunca. Kevin não pareceu perceber.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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