Capítulo VI

Quinn Fabray

Quando Rachel começou a cantar “On My Own”, foi mágico. Seus olhos castanhos ganharam um brilho intenso, e foi como se cada palavra ganhasse um novo significado.

And when I lose my way, I close my eyes and he has found me.

Eu senti os pelos da minha nuca se arrepiarem quando ela cantou essa parte, e por alguns segundos, desejei que ela estivesse cantando para mim. Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos da minha mente.

In the darkness, the trees are full of starlight

And all I see is him and me forever and forever

Ela me olhou. Seus olhos encontraram os meus, e por algum motivo eu simplesmente não consegui desviar. Deus, como alguém podia ser tão talentosa e tão linda ao mesmo tempo? Não era possível, era? Rachel devia ser algum tipo de aberração, algum tipo de anomalia. Porque pessoas como ela não existiam no meu mundo. Pessoas como ela não existiam em mundo algum. Mas ainda assim, lá estava ela, parada bem na minha frente, cantando uma música linda numa voz que soava perfeita aos meus ouvidos, lançando-me um sorriso quase sedutor.

And I know it's only in my mind

Não, não estava apenas na minha cabeça. Eu sabia disso –– eu sentia isso. Era como se Rachel e eu tivéssemos uma ligação, e eu não precisava ler sua mente para saber o que ela estava pensando, porque aquilo estava claro demais em seus olhos.

I love him

But every day I'm learning

All my life I've only been pretending

Without me, his world will go on turning

A world that's full of happiness that I have never known.

Por um breve momento, lembrei-me da velha Quinn. A Quinn que era capitã das líderes de torcida, a Quinn fútil, a Quinn que só ligava para a própria reputação. Será que algum dia essa Quinn faria alguma coisa além de menosprezar alguém como Rachel? Provavelmente não.

I love him

I love him

I love him

But only on my own

E pela primeira vez desde que aquilo aconteceu comigo, eu vi minha leitura de mentes como um dom, e não uma maldição. Tudo graças a Rachel Berry. Tudo graças à dona dos olhos mais lindos que eu já vira em toda a minha vida. Tudo graças a ela.

Um mês depois.

Quinn Fabray não queria admitir, mas se aproximar de Rachel Berry fora a melhor coisa que ela fizera em toda a sua vida. Sim, Rachel a irritava terrivelmente com suas inúmeras perguntas e sim, Quinn detestava quando a garota não parava de falar, mas a verdade é que Rachel a fazia se sentir normal e aceita. Porque Rachel a aceitava do jeito que ela era, e nunca ninguém havia feito isso antes. E embora Quinn Fabray não quisesse admitir, ela se sentia terrivelmente atraída por Rachel Berry. E nem ela mesma conseguia entender o motivo. Quinn tentava inutilmente se convencer que se interessava por Rach só porque não conseguia ler a mente dela, mas lá no fundo ela sabia que isso não passava de conversa fiada. Rachel Berry era completamente diferente de todas as pessoas que já conhecera –– e talvez isso fosse o suficiente. Então Quinn tomou uma decisão: iria consquistar Rachel, mesmo que para isso tivesse que jogar sua dignidade no lixo.

Sam Evans

–– Vocês estão me fazendo pirar – disse, balançando a cabeça. – Pensei que já tínhamos esquecido esse assunto.

–– Você esqueceu – disse Mercedes, revirando os olhos. – Nós temos estado de olho desde então.

–– E não cansa espionar as duas? – perguntei.

–– Na verdade, é bem divertido – disse Kurt, dando de ombros. – Elas simplesmente não assumem.

–– Eu sou o único que acha que vocês estão perdendo a cabeça? – perguntei, franzindo o cenho.

–– Sam, Sam, Sam – disse Kurt, balançando a cabeça. – Querido e inocente Sam, será que você ainda não percebeu?

–– Percebi o que?

–– Os olhares da Fabray na Rach – disse Mercedes maliciosa. – Lembra quando ela cantou I Kissed I Girl? Eu pensei que a Ice Queen ia arrancar as roupas dela, e passar a mão na...

–– Ok Mercedes, informação demais – interrompi abismado.

–– Mercedes está certa – concordou Kurt. – Além do que, meu gaydar apita horrores perto dela. Mas se você não está convencido, que tal testá-la?

–– Testá-la? – indaguei. – Como assim?

–– Ora, ver se ela sente ciúmes da baixinha – disse Kurt maliciosamente. – Comigo não funciona, eu sou assumidamente gay. E Mercedes tem namorado, não ia rolar.

–– Então quem vocês sugerem?

–– Não é óbvio, Sam? Você – disse Mercedes rindo. – Dê em cima da Berry, e vamos ver como a Fabray vai reagir.

–– Vocês piraram? Não vou dar em cima de uma garota para fazer ciúmes em outra.

–– Ué, mas você mesmo disse que não há nada entre elas – disse Kurt, fingindo inocência. – E cá entre nós, a Rach é gostosa. Você não daria uns pegas ela?

–– Bem... Pegaria – admiti.

–– Então? – disse Mercedes. – Vai com tudo, Sam. O pior que pode acontecer é ela dizer não.

–– Ou a Ice Queen tentar te castrar – disse Kurt, caindo na risada.

Ignorei o comentário de Kurt. Eles estavam certos. Qual a pior coisa que podia acontecer? Então, mesmo achando que eu ia me arrepender disso no futuro, eu concordei.

Noah Puckermann

–– Cara, como ela é linda – disse Finn, babando em cima da Berry. – E tão gostosa, e tão talentosa...

–– Chega Finn – cortei-o estressado. – Você está prestes a ter um orgasmo.

Finn revirou os olhos, e eu fiz o mesmo. Há um mês eu o ouvi falar “como Rachel era linda” e “como ele estava apaixonado por ela”. Por favor! A única conversa que eles tinham tido em um mês tinha sido “Você sabe que horas são?” da parte da Rachel, e um Finn abobalhado tentando saber qual ponteiro era para hora, e qual era para os minutos. A verdade é que eu achava que alguma coisa estava errada em relação a Rachel Berry. Finn é estúpido demais para perceber alguma coisa, mas eu não sou. Ela e a Ice Queen andavam sempre tão juntas... E a Fabray fora idiota o suficiente para recusar o meu beijo. Era óbvio que ela jogava para o outro time, não era? E o jeito que ela olhava para a Berry... Suspeito, no mínimo. Mas se Finn estava mesmo apaixonado por ela como dizia, eu precisava fazer alguma coisa. Meu melhor amigo não ia se iludir com uma lésbica, porque eu não iria deixar. Eu ia descobrir a verdade sobre a anã, custasse o que custasse.

Finn Hudson

Puck acha que sou idiota, mas o idiota aqui é ele. Eu sei que o que está acontecendo –– Quinn Fabray está afim da minha garota. Certo, talvez Rach não seja minha, pelo menos ainda não, mas ela seria, e nenhuma vadia ia se meter no meu caminho, muito menos Ice Queen. Eu ia fazer Rach se apaixonar por mim, e eu a faria ver a razão. Rachel Berry seria minha, e aí da Fabray se tentasse se meter em meu caminho.

Rachel Berry

–– Atrasados? – perguntei para Kurt, Sam e Mercedes, que estavam parados na porta da sala do coral.

–– Sim – disse Sam, dando um sorriso culpado. – Mas pelo visto não somos os únicos.

–– Não mesmo – concordei corando. – Mas onde está o senhor Schue?

Kurt deu de ombros, puxou Mercedes e os dois foram se sentar no lugar de costume. Mas Sam ficou parado, olhando-me, como se quisesse dizer alguma coisa. Ele suspirou.

–– Posso sentar ao seu lado? Kurt e Mercedes estão insuportáveis hoje.

–– Pode sim – concordei sorrindo. – E eu te entendo perfeitamente. Eles estão tão estranhos recentemente.

Sam corou, e eu franzi o cenho. Foi aí que o senhor Schue apareceu. Sentei na cadeira da frente, e Sam sentou na cadeira que Quinn costumava ocupar. Mas onde diabos ela estava?

–– Ok pessoal, hoje o desafio é duetos.

–– Duetos? – perguntou Britt.

–– Sim Brittany, duetos. E não será com seus pares de costume.

–– Como assim, senhor Schue? – perguntou Finn.

–– Eu vou escolher com quem vocês vão fazer par.

Eu estava no Glee Club há um mês, e só fizera um dueto: Defying Gravity, ao lado de Kurt. Mas com quem será que o senhor Schue ia me colocar?

–– Muito bem, vamos começar... Mas, esperem aí, onde está a Quinn?

–– Estou aqui, senhor Schue.

E quando eu olhei na sua direção, meu queixo caiu.