Um Fio De Esperança. escrita por Pequena Garota


Capítulo 41
Capitulo 41


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, e espero que gostem.



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A vida é algo engraçado. Numa hora não temos nada, e na outra temos tudo. Buscamos a felicidade a todo instante, mas ela parece nunca aparecer e ser na maioria das vezes bem superficial. Descobri de uma forma bem estranha que felicidade está no momento em que você acorda e sente aquela saudade e sabe que vai poder ver aquele rosto mais uma vez. Isso com certeza é felicidade, esperar horas para poder ver alguém e quando o momento está chegando dá até aquele frio na barriga. A sensação da certeza de que vai poder demonstrar seu amor mais uma vez. Descobri minha felicidade ao acordar toda manhã e não querer ver outro rosto a não ser o de Sarah, da minha pequenina Sarah. Mal podia esperar para sentir seu cheirinho amadeirado pela manhã e sua mãozinha delicada segurando meu dedo.

Aquela manhã era a primeira vez que daria banho nela sozinha. Fiquei morrendo de medo só de pensar que poderia derrubar Sarah na banheira e afoga-la sem querer, por isso não deixei que a enfermeira saísse do meu lado um só segundo quando ela passou Sarah para os meus braços. Ela era tão pequena e tão frágil que tinha medo até de segura-la errado.

–– Você está se saindo muito bem. – disse a enfermeira para mim quando troquei minha primeira frauda.

Não foi nojento como achei que seria, foi fácil do que esperei também.

Os dias foram passando e eu amamentava Sarah em meu quarto sempre que as enfermeiras me levavam ela. Era gostoso ouvir seu chorinho, e mais gostoso ainda sentir seu calor em meu peito quando ela adormecia. A única parte triste era a hora em que ela tinha que voltar para a incubadora.

Fazia uma semana que estava no hospital e as únicas visitas que recebia eram de meus pais. Meu pai ficou todo abobalhado quando viu a neta pela primeira vez, e não conseguiu conter as lagrimas depois de ter perguntado o nome dela. Minha mãe segurou Sarah no colo com aquele olhar de avó apaixonada.

Estava extremamente feliz com minha família ali ao meu lado, mas chorava durante a noite pensando em mil motivos pelos quais Claudia não ia me ver. Nem mesmo Dona Ana tinha aparecido para me dar um Oi.

Mas eu não ia perguntar á minha mãe, ela não ia me dizer. Nem ao meu pai, sempre que tocava no assunto ele dizia ter um compromisso.

Era quinta-feira quando o médico me deu alta. Sarah ainda não podia ir para a casa comigo por causa de seu baixo peso e tamanho. Ela estava com um pouco mais de 1kg o que era bom, e se continuasse assim logo poderia leva-la comigo.

–– Nós podemos passar na casa da Claudia? Pedi ao meu pai quando saiamos do meu quarto.

Ele parou no meio do corredor.

–– O que foi? Perguntei.

–– Olha filha... – ele começou a dizer.

–– Pai pelo amor de Deus me diz logo o que está acontecendo, eu não aguento mais ficar só esperando alguém me dizer alguma coisa. – comecei a dizer atropelando as palavras – Eu vim para esse hospital na companhia de Claudia e quando acordei não tive uma noticia dela, nem dos pais dela, e eu sei que ela não perderia por nada o nascimento da afilhada dela. Credo desse jeito vou começar a achar que ela morreu...

Parei imediatamente de falar, de repente tudo começou a fazer sentido. Senti o nó em minha garganta me impedindo de continuar.

Me apoiei na parede sentindo que ia cair.

–– Você está bem? Meu pai me segurou pelo braço. – Senta aqui. – ele me levou até uma cadeira.

–– Pai, me diz por favor o que aconteceu. – meu pedido não foi mais alto que um sussurro.

–– Fernanda eu...

–– Pai pelo amor de Deus, me diz onde a Claudia está. – gritei.

Ele me encarou assustado e então tirou o celular de seu bolso e me entregou.

–– Liga pra Ana. – disse. – Eu vou pegar um copo de agua para você.

Eu assenti e esperei estar sozinha para discar os números. Notei que estava tremendo quando apertei o botão ligar.

A chamada caiu direto na caixa de mensagens, nem ao menos deu tempo de chamar. Disquei o numero mais um vez e só então percebi que estava ligando para o celular de Claudia.

Meus pais eram as piores pessoas do mundo para dar uma noticia ruim, nem estavam ali ao meu lado para me amparar caso eu precisasse.

Não consegui me lembrar do telefone de Dona Ana, minha mente voltava sempre no mesmo numero.

Levantei cambaleando para ir atrás de meu pai. Eu não queria receber aquela noticia sozinha. Eu não estava pronta para isso. Não estava pronta para perder a pessoa que eu mais amava naquele mundo.

–– Nanda, por que não ficou sentada? Eu disse que já voltava.

Eu o abracei com força chorando compulsivamente.

–– Eu não consigo ligar. – disse soluçando.

–– Toma aqui. – ele me entregou o copo de agua e pegou o celular de minha mão.

Me sentei em uma das cadeiras de espera na recepção enquanto meu pai ligava para Dona Ana.

–– Oi Ana, como você está? Ele fez uma pausa. – Sim, ela está aqui. Acabou de receber alta.

–– Posso falar com ela? Pedi ainda chorando.

Ele pediu para eu esperar com uma das mãos.

–– Tudo bem, nós esperamos então. – ele desligou.

–– Esperamos o que? Perguntei enxugando os olhos.

Meu pai se sentou ao meu lado em silencio.

–– Esperamos o que? Perguntei mais uma vez.

Me levantei e fui em direção a saída. Eu não queria mais ficar dentro daquele hospital. Meu pai não foi atrás de mim, ele sabia que eu não iria longe, ainda mais porque estava andando feito uma pata choca por causa dos pontos.

Respirei o ar quente do lado de fora do hospital, estava um sol de rachar do lado de fora. Pelo menos eu estava usando um vestido que minha mãe levou para mim.

Voltei para dentro do hospital e me sentei ao lado de meu pai.

–– Está mais calma? Perguntou.

Não respondi pelo simples fato de ainda estar brava com ele por ter me ignorado. Eu estava morrendo de preocupação, aos prantos, querendo noticias de Claudia e ele agia como uma criança de 3 anos de idade e me ignorava?

Ficamos sentados por uns 15 minutos até Dona Ana entrar com Rubens ao seu lado no hospital.

Dei um pulo da cadeira e corri meio desengonçada em direção a eles.

–– Oi meu bem, como você está? Dona Ana me abraçou. – Desculpa não ter vindo te visitar.

Ela parecei muito abatida.

–– Oi Nanda. – Rubens me cumprimentou com um aceno de cabeça.

–– Senti tanto a falta de vocês. – eu retribui o abraço. – É uma menina. – disse dando uma risadinha histérica em meio a lagrimas.

Sequei os olhos quando meu pai colocou a mão em meus ombros.

–– E como ela está? Perguntou abrindo um sorriso de orelha a orelha.

–– Ela está bem, tem só que ganhar mais alguns quilos e já vai poder ir para casa comigo.

A boca dela se retraiu em uma mascare de dor e ela começou a chorar de repente.

–– Dona Ana o que aconteceu? Perguntei .

Olhei por cima de seus ombros esperando ver Claudia entrando pela porta da frente, mas me surpreendi ao ver o rosto de Lucas.

Meu estomago começou a dar voltas.

–– Calma Dona Ana. – disse sem tirar os olhos de Lucas.

Rubens a abraçou apertado.

–– Dê-me um minuto. – disse se afastando de mim.

Eu assenti e fiquei ali parada feito uma abobalhada olhando para Lucas. Ele ainda estava parado na entrada me encarando.

Meu pai pigarreou uma vez e deu dois tapinhas nas minhas costas. O que foi bastante estranho para mim.

–– Oi Nanda. – disse ao se aproximar. – Você está linda.

–– Obrigada. – disse sem jeito. Senti minhas bochechas queimarem.

Ele abriu aquele sorriso que senti tanta falta durante os dias.

–– O que você faz aqui? Perguntei.

Ele coçou a cabeça.

–– Você não sabe?

Por um segundo pensei em perguntar se ele estava ali para me ver, mas lembrei da cara de meu pai e de todo aquele suspense maldito de todas as vezes que mencionei o nome de Claudia.

–– Ela está aqui? Perguntei. – Claudia está internada aqui?

Ele assentiu devagar.

–– O que aconteceu? Perguntei engolindo em seco.

–– Encontraram ela no banheiro de uma lanchonete quase inconsciente. Ela passou muito mal por causa de alguma coisa que ela tomou para vomitar, ou algo assim. A moça da lanchonete disse que ela estava delirando, que estava gritando com alguém. – ele balançou a cabeça fechando os olhos.

Afastei as imagens de Claudia caída em um banheiro publico de minha mente. Era difícil pensar que ela tenha passado por algo assim sozinha.

Me virei para ir até onde Rubens estava, mas Lucas segurou minha mão.

–– Como você está? Como está o nosso bebe?

A palavra nosso veio como um soco em meu estomago.

–– Ela está bem. – gaguejei. – É uma menina forte.

–– Estou ansioso para conhece-la – disse me dando um beijo na bochecha.

Fiquei imóvel sem conseguir decifrar o que estava sentindo.

–– Fernanda. – meu pai me chamou.

Andei de vagar até onde ele estava junto com Dona Ana e Rubens.

–– A Ana quer saber se você quer ser a primeira a entrar na sala de visita.

–– Se estiver tudo bem por ela. – comecei a dizer.

–– Pode ir meu anjo, ela está morrendo de saudade. – ela me entregou o cartãozinho de visita.

Agradeci e então peguei o elevador para o segundo andar. Aquele mesmo segundo andar onde ela esteve meses atrás. Caminhei em silencio mordendo a ponta da língua para não entrar no quarto já chorando.

Ela parecia estar dormindo quando entrei. O cabelo cobria boa parte de seu rosto, mas podia ver um corte em seu lábio inferior. O soro em sua veia pingava ritmicamente. Dei uma boa olhada nela antes de encostar em sua mão, ela estava horrível. Parecia mais fraca do que quando a vi pela ultima vez. Suas olheiras estavam ainda mais fundas.

Segurei sua mão fria e apertei de leve.

–– Nanda. – sua voz soou rouca e baixa. Ela olhou para cima parecendo mais cansada do que há poucos minutos. – Me assustou. – disse.

–– Me desculpe. – sussurrei.

–– Onde está meu afilhado? Perguntou sorrindo um pouco.

–– Shh, não fala. – pedi.

Ela parecia fraca de mais até mesmo para falar.

–– Eu estou bem. – ela soltou minha mão e tentou se sentar.

–– Você não parece nada bem. – eu a mantive deitada. – Parece estar morrendo. – disse tentando engolir o nó em minha garganta.

–– Não seja ridícula. – disse tentando se sentar mais uma vez.

–– Não seja ridícula? Claudia em um ano essa é a segunda vez que sua vida está em risco. – disse deixando escapar algumas lagrimas. – Eu te amo. E eu não suportaria viver sem você. Fiquei angustiada sem ter noticias suas, cheguei a achar que tinha morrido e isso acabou comigo. Me destruiu só de pensar que nunca mais te veria. Eu te amo, o que mais eu preciso te dizer para fazer você entender que eu preciso de você.

–– Não chora. – pediu fazendo bico. – Por favor, me desculpa. – ela começou a chorar também.

–– Não peça desculpas, mude. Desculpas você já me pediu milhares de vezes, e olha onde nós estamos. – disse. Segurei seu rosto com as duas mãos aproximando-o do meu. – Eu te amo Claudia, e você tem uma afilhada linda que tenho certeza que vai te amar muito.

–– Então era menina? Ela sorriu. – Qual nome deu para ela?

–– Sarah. – disse.

–– Acho que não teria outro nome melhor que esse. – disse dando um risinho baixo. – Eu te amo Nanda.

–– Eu também te amo Claudia.

Nós nos entreolhamos por alguns segundos e então nos beijamos. E aquele era definitivamente nosso primeiro beijo. Pelo menos o primeiro beijo que eu lhe dava, o primeiro beijo que eu concedia. Nosso primeiro beijo.

Me afastei quando os bipes começaram a ficar mais rápidos.

Claudia deu um riso baixo meio sem jeito, segurando minha mão.

–– Eu vou fazer o tratamento. – falou baixinho meio cabisbaixa. – Eu quero ver minha afilhada crescer. – disse olhando em meus olhos agora. – Quero ficar ao seu lado por muito, muito tempo.

Soltei uma gargalhada de felicidade e a apertei em um abraço apertado.

–– Nanda, - ela arfou. – Assim você está me machucando. – disse.

–– Me desculpa, me desculpa. – eu afrouxei os braços e a beijei.

Ouvi uma batida leve na porta.

–– Desculpa, não queria interromper. – Lucas disse entrando.

–– Não interrompeu. – disse meio sem jeito.

–– Lucas. – os olhos de Claudia brilharam ao encontrarem os dele.

–– Oi pirralha. – ele a abraçou com cuidado.

–– Idiota. – ela empurrou seu braço sem sucesso algum de fazer com que ele saísse do lugar.

–– Meu Deus, você está horrível.

Claudia sorriu.

–– Já me disseram isso. – ela me olhou de canto.

–– Eu vou deixar vocês dois a sós. – disse.

–– Não, fica. – Pediram em uníssonos.

–– Preciso mesmo ir. – disse me despedindo de Claudia. Dei um beijo em seu rosto e sussurrei um eu te amo em seu ouvido.

Lucas me abraçou e beijou minha bochecha.

Deixei o quarto e voltei até o térreo onde meu pai me esperava. Me despedi de Dona Ana e de Rubens e então fui para casa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, até o próximo capitulo.



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