Cross Of Mercy escrita por Ike Hojo


Capítulo 8
Ato 7




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Ato 7: Ensaio da vida, Peça da morte

 

 

Ok, agora vocês me perguntam:” O que é pior que ver sua melhor amiga caída no chão e decapitada?’’ Bem, há várias coisas, mas nem uma como esta, havia somente uma coisa que eu amava mais que tudo: Minha mãe. Era um modelo a ser seguido, uma mulher que viveu ensaiando e morreu atuando, com certeza, uma grande mulher. Meu pai é muito ocupado com trabalho, mas é muito rico, e desde que minha mãe morreu cada dia estou mais afastada dele, é como se estivessem construindo uma parede entre nós, e cada hora um tijolo se erguia, enquanto eu caía, é claro.

Viver em harmonia com meu pai era difícil, até que Wina apareceu em minha vida, há um ano ela entrou na escola, e viramos amigas desde então. O pai dela era produtor, e às vezes viajava, até mesmo pelo mundo, e Wina ia com ele, mas, decidiu-se que iria deixá-la viver somente em um único lugar, isto a fez feliz, ter amigos que não precisaria abandonar.

Duas facadas no peito. Foi isto que senti quando o cenário a minha frente se desenhava em meus olhos.

 

- Elina! Hey, você ta bem? – Viridia gritava, meus pensamentos estavam longe.

 

Um santuário em homenagem à minha mãe, minha querida mãe. Fotos, manchetes de jornais, vídeos, muitas coisas, não foi exatamente por isto que fiquei chocada...No chão do salão havia um símbolo de bruxaria, e bem grande uma foto dela, no momento em que a cruz caiu sobre ela, ao lado, escrito com sangue: “ Ensaie para viver, Atue para morrer”. Ajoelhei-me no chão e fiquei chorando, era difícil ver aquilo, mas, eram apenas memórias, pensei já ter deixado de ser a antiga garotinha fraca, mas não. Esta garotinha fraca, medrosa, chorona, sempre estará dentro de mim.

Mesmo caída de joelhos decidi me levantar, fiquei de pé com dificuldades, as lágrimas paravam de cair, aquela era a pior noite de minha vida, mas, não deixaria simbolizar o final de meus dias. Quando me levantei meus olhos captaram algo na parede, alguma imagem que...Estava tudo programado!

 

- Viridia, seja lá quem fez isto queria nós. – Disse seriamente – A pessoa vai matar até o último de nós, quer seguir o teatro.

 

- Aquele painel...Realmente, não é algo bom! – Viridia olhava meio espantada.

 

- E também...A caçada começou, não é mesmo? Temos mais um morto.

 

- É, ou é isto, ou, o assassino foi atrás dele agora, é melhor corrermos para verificar a situação.

 

- Sim, vamos!

 

- O...o que? – Hei dizia timidamente.

 

- Viridia. Fique com Hei e a proteja, eu encontrarei os...

 

- Cala a boca! É burrice irmos sozinhas, vamos, é só darmos a mão para Hei que ela correrá.

 

- Hei pode correr! – Ela dizia levantando os bracinhos chamando nossa atenção.

 

- Ok, vocês venceram... – Disse derrotada.

 

Segurei a mão de Hei e comecei a correr, apontava a lanterna para frente sendo seguida pela luz de Viridia, saímos pela única porta que havia, parecia que havíamos acabado no porão ou algo assim.

No painel havia fotos de todos nós com alguns comentários em baixo: Como nome, idade, etc...Eram as fotos da carteirinha escolar, os rostos de Caius, Wina, Tânia e Mick estavam riscados, o pior, o rosto de Victor também estava, ou ele estava morto, ou estavam para matá-lo, teríamos que correr para salvá-lo, e o pior, achá-lo neste imenso teatro.

Após subir um lance de escadas e atravessarmos uma porta, acabamos na sala dos figurinos, era de arrepiar somente estar sendo iluminada pelas lanternas, pelo menos no santuário havia velas. Havia várias fileiras de roupas que se estendiam até o final da sala, era um lugar muito bonito de um teatro bem rico, principalmente antigamente.

 

- Mamãe, que roupa bonita. – Disse, minha mãe era a coisa mais bonita naquela sala.

 

- Obrigada filha. Um dia você será como eu, você é...Especial. – Ela sorria de forma amigável. – Hey, quer me ver ensaiar? – Ela piscava de modo misterioso.

 

- Claro mamãe! Adoro te ver cantar. – Meus olhos brilhavam para ela, ela encantava quando ela soltava sua voz.

 

- Ótimo, venha. – Ela estendia sua mão para mim.

 

Segurei sua mão com a minha, ela começou a me guiar até o palco onde a peça seria executada, os cenários estavam sendo montados e ela sorria para mim me levando junto até o centro do palco. Ela rodava uma vez e fechava seus olhos, respirava fundo e começava a cantar.

 

- Joleeene, Jooleeene, Jooolene, Joleeeene

I'm begging of you, please don't take my man

Jolene, Jolene, Jolene, Jolene

Please don't take him just because you can

 

Your beauty is beyond compare With flaming locks of auburn hair With ivory skin and eyes of emerald green Your smile is like a breath of spring Your voice is soft like summer rain And I cannot compete with you, Jolene Eu a olhava com admiração,conseguia sentir toda emoção que ela passava com sua voz.     Após terminar a música ela veio até mim, se agachou em minha frente e colocou a mão em minha cabeça fazendo uma leve carícia.     - O que achou? – Disse com o sorriso que sempre estava estampado em seu rosto.   - Eu amei, mamãe! – Avancei em seu pescoço a abraçando com força.   Ela se levantou e prendeu seus braços em minhas costas, me deixando no ar sendo segurada somente por seus braços; ela começava a girar enquanto sorria, isto me fazia rir, estava tão...Feliz.    

  - Elina, vamos! – Viridia me chamava, isto me despertava do meu flashback.    

- Desculpe.     Voltei a correr, passei por algumas fileiras de roupas até que a vi...A enfermeira! Estava parava com seu vestido branco, e seu véu com sua “coroa”. Olhei para Viridia, ela também havia notado que era o assassino. Nos separamos, sem fazer ruídos nos aproximamos pelo meio das roupas, passei por entre uma das fileiras do lado esquerdo e Viridia pelo lado direito, Hei estava comigo, quando estávamos próximas o suficiente avançamos sobre ela, quando o fizemos, ela se quebrou. Um braço, uma perna...Era uma manequim. Não era real.  

 

- Merda! – Viridia dizia sentada no chão.  

 

- Viridia...O que é isto no seu braço? – Apontei para um líquido vermelho que escorria, só o notei pelo fato da lanterna ter caído e estar apontada para ela.  

 

- É...é sangue! – Ela exclamava.  

 

Tinha certeza que Viridia não estava sangrando antes, mas, por que estaria sangrando agora? Seria uma ilusão para me pegar? Não podia pensar em outra coisa, o que mais poderia ter sido? Havia um corte em seu braço, não muito fundo, era possível ter sido imperceptível; ela poderia ter se cortado com a tesoura e nem notou.  

 

- O que você fez?  

 

- Não sei, simplesmente apareceu...Eu não senti nada. – Parecia tão surpresa quanto eu.

 

  - É estranho...Cadê a Hei?  

 

- Aqui! – Ela corria timidamente até mim, ela não tinha me seguido para atacar a manequim.  

 

- Ufa... – Suspirei aliviada.  

 

- Fiquei cum medo.  

 

- É melhor irmos. Se continuarmos aqui Hei só ficará com mais medo.– Viridia disse enquanto se levantava apontando a lanterna para a porta que estava em nossa frente.    

 

Fiz o mesmo e segurei novamente a mão de Hei, desta vez fomos andando, com mais cautela. Saímos da sala e andamos em direção as escadas, não sabíamos ao certo onde alguém poderia estar, imaginamos que alguém estaria na sala onde iniciei a interpretar. Subimos, era isto que teríamos de fazer para chegar no local onde estava, e...Bingo!

Quando entramos vimos Lary, estava sentado, e não estava com uma cara boa, parecia cansado. Quando vimos algo em seu lado, só aí me lembrei. Os Walk-Talks! Eu e Viridia não os pegamos quando entramos na passagem. Droga! Andamos até ele, Viridia se ajoelhou ao seu lado e começou a falar com ele, eu peguei o Walk-Talk e comecei a falar, alguém poderia me ouvir, Victor poderia ainda não estar morto.  

 

  - Não faria isto se fosse você? – Lary se dirigiu a mim, virando sua cabeça toda em minha direção.  

 

- Por quê? Podemos achar alguém, podemo...

 

  - Não faça! Eu ouvi Victor ser morto, ouvi a voz do assassino falando que eu seria o próximo, quer falar nesta merda? Vá em frente, é sua passagem para o inferno. Ele vai nos caçar, um por um, até todos estarmos mortos, não temos como viver! – Lary estava louco, fora de controle.    

 

Um som fez com que Lary se calasse, um barulho de um tapa. Viridia havia batido fortemente contra seu rosto, isto o fez ficar cabisbaixo, uma lágrima escorria de seus olhos.  

 

- Olha aqui! Nós achamos o corpo de Wina decapitado, formos obrigadas a passar por momentos terríveis em um santuário e na sala dos figurinos, eu fui acusada injustamente de ser a assassina só porque meu pai era ilusionista! Agora, não venha com papinhos de coitado, Lary, você é forte, você consegue se defender, e outra, nós estamos com você agora, então, cale sua boca e pare de se lamentar, vamos sair daqui vivos!  

 

  Lary levantou sua cabeça ao ouvir o que Viridia havia pronunciado, ela se levantava e ficava a olhar pela janela, ignorando o corpo de Mick. Uma forte luz invadiu toda a sala, iria chover...Após a luz, um imenso som ensurdecedor invadia nossos ouvidos. Gotas molhavam os vidros, somente marcando ainda mais aquela noite de terror. Passos eram ouvidos de fora da sala, estava com pressa, logo parava na porta da sala ofegante, era Arthur, parecia cansado.  

 

- Victor...Está morto. Eu e Simon o achamos...Ele está no banheiro todo cortado.  

Nem uma expressão de real surpresa foi colocada em nossas faces, somente começamos a andar em direção ao banheiro para reunir o grupo novamente, uma boa notícia. Quando chegamos ao banheiro, a imagem de Victor morto seguia os mesmos padrões do desenho. Um silêncio tomou conta do local, e mais uma vez uma luz iluminou tudo, agora todos se entreolhavam, como se aquela luz estivesse gerando desconfiança.    

 

- Foi você, não foi... – Lary começava. – Arthur? A voz do assassino era idêntica a sua.  

 

- Lary, para! – Tentei controlar.  

 

- Acha mesmo que fui eu? Se esta sua teoria idiota estivesse certa Victor estaria morto há muito mais tempo! Eu andei com ele quase toda hora! – Arthur contra atacava.  

 

- Idaí? Assim ninguém suspeitaria, não é mesmo? – Lary prosseguia.  

 

- Todos sabemos que é a Viridia! Só ela poderia fazer tantas coisas pela ilusão! – Simon entrava no jogo.  

 

- Gente, parem! – Continuava a falar, mas era ignorada.

 

  - Eu?!? Meu pai era ilusionista, eu sou a assassina? Isto porque pensei que fossemos amigos, confiança, é algo que há, Simon querido. – Viridia entrava na briga.  

 

- Não há acusações contra mim e contra o Lary. – Simon dizia confiante.  

 

- Claro, os mais quietos sempre são os culpados, Simon. – Viridia não parava.

 

- Parem...Por favor... – Tentava pela última vez.

- Lary, você é o mais forte, seria o mais forte para arrastar Wina daquela maneira! – Simon atacava Lary.

 

- Agora suspeita de outro! Você quer se esconder, Simon! Admita, você matou todos! – Viridia tinha razão naquilo.

 

- Elina também não está livre, ela poderia ter ficado louca após ver a morte de sua mãe. – Lary me atacava.

 

Viridia tinha muita razão naquilo, todos estavam loucos, cegos, não conseguiam ver que todos estávamos nos incriminando, somente abrindo mais portas para o assassino.

 

- Não vou ficar com vocês, não to afim de morrer! – Lary dizia indo em direção a porta.

 

- É, é melhor ninguém ficar junto, afinal... – Arthur começava.

 

- Todos podem ser o assassino. – Todos completavam juntos.

 

- PAREM! CALEM SUAS MALDITAS BOCAS SEUS ANIMAIS IRRACIONAIS! – Ok, me irritei um pouco. – Parem e pensem! Toda hora estamos um contra o outro, como um jogo de acusações ridículos! Estamos jogando como o assassino quer, quer que fiquemos separados, assim estaremos vulneráveis! Se tem tanto medo de morrer, então, façamos o seguinte, todos nós ficaremos na sala em que eu acordei, ficaremos lá sentados, olhando um para a cara do outro sem dizer uma palavra, assim veremos que é o assassino! – Finalmente tirei isto do peito, medo, era o modo perfeito para retratar os olhos dos meus “inimigos”.

 

- Alguma objeção?  - Indaguei confiante, o silêncio foi a resposta que eu precisava. – Como imaginei...

 

 

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Notas finais do capítulo

Como tenho prova esta semana toda tive que postar hoje, não queria atrasar demais, então, ta aí. @_@/