Len pov's

Se passaram nove anos desde o ocorrido, desde que a minha irmã foi separada de mim por causa da dívida da minha mãe. Okaa nunca me contou, também não é algo que me interesse realmente agora. Não é estranho? Minha irmã foi o que minha mãe usou para pagar sua dívida, mesmo não querendo. E minha onee-san acabou se tornar a princesa deste país amarelo.

Eu não devia sequer ter me tornado seu servo, mas não queria simplesmente me separar de algo tão importante na minha vida. Minha mãe morreu pouco tempo depois de minha irmã ser "roubada" de nós, deixou de comer após o sucedido. Sempre tentei preencher o vazio no coração dela mas, na verdade, ela nunca me amou tanto quanto à minha irmã, acho que ela nem sequer notaría a minha falta se tivesse sido eu o escolhido naquele dia.

Me levantei da minha cama e abanei minha cabeça tentando me esqueçer do pesadelo. Não queria me lembrar daquele dia, já que agora a minha realidade era diferente. Eu trabalhava no palácio da minha própria irmã. Era apenas um servo no meio dos outros tantos que ela tem ao seu serviço, mas claro que ocupo um posto mais importante que todos esses que trabalham também aqui no palácio. Sou eu que tenho que executar os melhores trabalhos, mas também os piores e mais dolorosos. É um preço a pagar para continuar ao lado da minha onee-san, ou melhor, é o único preço que eu posso pagar para continuar junto dela e protegendo-a.

– Len-kun? Já acordou? - ouvi uma voz feminina vinda da porta do meu quarto. A segunda vez que ela me vinha visitar, mesmo sabendo que estava pruibida de entrar nos aposentos dos criados do palácio. Digo, claro que era premitido ela entrar nestas habitações, afinal ela era a princesa, mas normalmente não era bem aceite o facto de ela frequentar lugares tão "abaixo do seu calibre", como os outros membros da corte dizem.

– Sim, ojou-sama. Quer que lhe prepare o seu pequeno almoço? - ainda bem que eu me tinha apressado a me vestir antes que a minha irmã chegasse. Sorri-lhe e em seguida fiz a cama. Ela continuava ali, me observando, continuando em silêncio.

– Não precisa, oni-san. A cozinheira já está preparando o pequeno-almoço para mim. Quer comer comigo, Len-kun? - ela me sorriu inocentemente. Acenei afirmativamente e o sorriso rasgou-se ainda mais no rosto dela. Eu sabia que ambos seríamos repreendidos (em especial eu) por estarmos interajindo, algo extremamente proibido, mas nunca nenhum de nós se importou realmente com isso. Se isso a deixava feliz, eu aceitava de imediato. Era quase como uma dívida que eu tinha para com ela, ela estava tomando o rumo que eu devia, ou podería, ter tomado se tudo tivesse sido diferente naquele dia.

Demos as mãos e caminhámos até chegar ao jardim, onde iríamos tomar o café da manhã. Olhámos o sol, sorrindo. Pelo menos tínhamos essa benção, podíamos estar juntos mesmo que ela seja a princesa e eu o servo, mas no fundo continuamos sendo dois gémeos separados pelo destino. Agora ela era tudo o que me restava, já que nossa mãe morreu e meu pai nos abandonou ainda antes de nascermos. Tudo o que me restava era aquela garota de cabelos dourados e olhos azuis iguais aos meus, com o seu sorriso frágil e seu rosto angelical. Ela era tudo o que eu tinha neste momento.