Jovens. O que os jovens sabem da vida mal daria para completar um bloquinho de anotações, mas o que se aprende com eles, ou quando se é um deles é suficiente para montar uma vasta biblioteca.

A noite estava muito fria, e apesar do céu estrelado, era possível observar algumas nuvens carregadas se formando. Mas o salão de festas do ICANY era uma área completamente fechada. Estava muito bem iluminado, em um tom lilás, com um palco montado e uma banda ao fundo se preparando. Os alunos começavam a chegar, aos poucos e os garçons começavam a servir. Havia uma pista de dança alta de piso iluminado em tom roxo montada no centro, e envolta dela, mesas e cadeiras extremamente elegantes. Haviam também dois camarotes de honra para os diretore e funcionários de autos cargos.

Carly estava no banheiro tirando a roupa de garçom e vestindo desajeitadamente seu vestido de festas, quando ouviu Melanie gritar do outro lado:

–Ta pronta?

–Agora sim. –Ela saiu e quase caiu pra trás com a imagem que viu. –Uou o que foi isso?

Melanie estava usando uma peruca preta comprida e uma maquiagem um pouco pesada.

–Com a Sam circulando por ai achei melhor da uma disfarçada no visual. –Disse ela se ajeitando e se olhando no espelho. –Como estou?

–Ta bonita, mas prefiro você loira.

–Eu também, mas vamos curtir a festa? Tem uns gatinhos lindos aqui, e...

–E a Sam? –Interrompeu Carly confusa, afinal era isso que haviam ido fazer ali, procurar a amiga.

–Deixa que o Freddie procure, não foi ele que inventou isso? –Respondeu ajeitando a peruca, demonstrando certo aborrecimento. - Bastava eu ligar pra Sam que ela já podia ter aparecido, por tanto não vou ficar gastando salto atrás dela. Vamos nos divertir!

–Tudo bem... –Carly não sabia se estava animada ou assustada com a súbita mudança de planos de Melanie. –Mas se ele precisar, vamos ajudar certo?

–Se ele inventar mais alguma bizarrice ligo pra Sam e acabo essa palhaçada. Que saco eles se gostam, pra que isso, Carly?

–A relação deles é difícil, Melanie. Quando eles dizem que se odeiam não estão brincando, não é fácil pra eles admitir que se amam. Eu também não entendo bem, mas esses anos todos eu sempre me senti meio que excluída, há uma ligação muito forte entre eles, as vezes eles falam em códigos,sabe? –lembrou rindo. -mas parece que eles têm medo disso. Parece que eles fogem disso. Eu não entendo.

Carly tinha um olhar perdido quando falava, e ainda quando parou continuou olhando pro nada. Melanie estalou os dedos na frente do seu rosto e disse:

–Hei! E será que eles devem mesmo ficar juntos? Se é tão complicado assim?

–Não sei. Mas é minha obrigação de amiga ajudar, eles sempre estiveram comigo quando eu precisei os dois já colocaram suas vidas em risco pra salvar a minha, é o mínimo que eu posso fazer. –Ela disse olhando fundo nos olhos de Melanie. “E nossa, não é que são ligeiramente mais escuros mesmo?” Pensou.

Melanie pôs a mão no ombro de Carly, e sorriu gentilmente dizendo:

–Sei que você gosta muito deles Carly, mas se não tiverem que ficar juntos, não há nada que possamos fazer. Só eles. Vem vamos pra festa e se ele precisar nós o ajudamos, certo?

–Tudo bem. –Carly sorriu e a seguiu mais confiante.

–Agora, vamos. A solenidade já deve ter acabado há muito tempo. –Ela sorriu mordendo os lábios. Não contei antes, mas como aluna posso convidar uma pessoa pra festa com minha carteirinha Vip, e convidei.

–Não me diga que... –Carly arregalou os olhos sorrindo.

–É!!

As duas deram um grito fino ensurdecedor e saíram do banheiro rindo como loucas.

–Hei, Freddie. –Chamou Gibby, as meninas me chamaram pra dançar um pouco, e se não se importa...

–Claro, Gibby, pode ir eu assumo daqui. –Disse ele correndo os olhos pelo salão antes de se virar para o amigo.

–Cara, por que não liga pra ela? Pode levar horas pra acha-la aqui nesse tumulto.

–Vou procurar por meia hora, se eu não achar, vou subir naquele palco e me anunciar. Posso não vê-la, mas ela vai me ver, não é? –Freddie não sabia se teria coragem pra tanto, porém tinha que fingir que sabia o que estava fazendo.

–Ok. vou nessa. Mas vou continuar de olho ta? –Gibby falou se afastando. Era sábado a noite estava em um salão cheio de gatas e mesmo querendo ajudar Freddie, ele também queria muito cair na festa.

Sam estava sentada no pequeno camarim, ao fundo do palco olhando pro espelho sem ver nada. Sua mente estava longe.Ela tinha duas escolhas: Ou se apresentava na festa, ou levava suspensão. O diretor gostava de mostrar o quanto seus alunos eram talentosos, mas a verdade é que pouquíssimos tinham habilidades vocais no instituto. Quando soube do incidente com Rick, a mandou para um teste com a professora de teatro que ficou impressionada ao vê-la cantar e disse que se ela cantasse no baile não seria suspensa.

Teriam muitos rostos olhando para ela, mas isso não a amedrontava, o que a deixava preocupado era o medo de começar a chorar no meio da música. Ela até gostava da música só que alem de achá-la meio ultrapassada, naquele momento era difícil pra ela não chorar cantando uma letra daquela. Seria melhor cantar um rock, mas a música foi escolha da professora de teatro, ela não teve opção.

Ela usava um lindo vestido roxo com pedrinhas brancas no decote e tinha os cabelos soltos com uma tiara de pedrinhas brancas roxas. Calçava um sapato de salto em um tom lilás, e usava uma maquiagem discreta que realçava o azul dos seus olhos. A roupa também não fora escolha dela, mas da professora de teatro que achou que ela devia combinar com a decoração (imagine).

–Ei, Sam- Ela se sobressaltou. Era Rick vindo desejar boa sorte. –E ai, nervosa?

–Um pouco. –Ela tentou sorrir. -Mas podia ser pior qualquer coisa é melhor que levar suspensão e prejudicar a Mel!

–Sei, olha só quando você tiver liberada to aqui atrás te esperando pra gente curtir o baile, ta?

–Ta, mas depende do estado psicológico no qual eu sair daqui.

–Você vai arrasar, fica tranquila! –Ele sorriu simpático.

–Deus te ouça. –Ela olhou pra cima com as mãos fechadas como que pedindo ajuda. -Tenho que ir agora, vou ser a primeira!

–Tudo bem. Boa sorte, até mais.

–Obrigada. –Disse se afastando. -Até.

Freddie já estava ficando louco, suas pernas e seus olhos já estavam doendo devido ao esforço que faziam para achar Sam. Foi quando ele encontrou Melanie, Carly e Gibby sentados tomando ponche, eles também pareciam exaustos, mas por terem dançado muito!

–E então, se divertindo? –Perguntou Freddie sentando.

–Muito! –Disse Melanie –E ai já desistiu de achar a Sam no meio de centenas de pessoas num colégio imenso?

–Já. –Disse ele tranquilo ignorando o deboche dela. -Já até liguei, mas ta desligado. Agora vim pedir sua ajuda pra subir no palco e chamá-la.

Melanie tomou um gole de suco e revirou os olhos, e já ia respondendo, mas Gibby se adiantou:

–Eu perguntei da Melanie a umas pessoas. –Ele tinha um ar sério. –E uma menina me disse que ela, no caso a Sam estava de castigo por ter batido num cara e teria que prestar um serviço durante o baile pra não ser suspensa!

Freddie e Carly riram.

–Eu vou matar a Sam- Sobressaltou-se Melanie. –Ela vai sujar meu histórico!

–Devia saber que a Sam não ia aguentar agir como você por muito tempo. Nem você como ela. –Disse Carly reprovando a troca. -Que castigo? Sabe dizer, Gibby?

–Parece que uma apresentação pra animar o baile ou algo do tipo.

–Ela deve dançar. Ela dança bem. –Lembrou Carly.

–Ah, Melanie, -Chamou Gibby com um ar misterioso- tinha um garoto no jardim, na saída do salão procurando por você, e...

Foi quando a música cessou e as atenções se voltaram para o palco.

–Boa noite professores, funcionários e estudantes do Instituto de Conhecimentos Aprimorados de Nova York! –Gritou um homem no microfone, que pelo físico e vivacidade parecia ser professor de educação física.

Houve uma resposta em coro e o homem seguiu.

–Eu sou Ricardo Froelich e estamos aqui hoje para celebrar o Centenário da nossa querida Instituição. –Mais aplausos. - E iniciaremos agora, as apresentações artísticas dos alunos. Nessa noite, contamos com a participação do grupo de dança Bit...

–Meu grupo- Gritou Melanie!- A Sam deve dançar com elas, -Ela pois o dedo no queixo confusa. -mas se é castigo ela teria que fazer só...

–Xiiiiii-Fez Carly pedindo silencio.

–...A banda de rock Amateurs e alguns estudantes cantando individualmente para animar nossa festa! –Mais gritos. - E chega de papo, vamos começar a diversão. Tenho o prazer de chamar, agora, iniciando as apresentações desta noite, uma de nossas melhores alunas cantando Crazy for you. Com vocês, Melanie Puckett.

Aplausos e gritos tomaram o salão, e Sam entrou no palco, sorrindo apreensiva.

–Boa noite - disse ela.

Novamente o coro alucinado em resposta.

–Então... Espero não causar danos irreversíveis aos tímpanos de ninguém esta noite.

Risos explodiram no salão.

–Ok. Vamos la! -Disse tentando demonstrar entusiasmo.

Ouve outra explosão de gritos, e risos e ela olhou pra trás dando sinal pra começar a música, e a banda logo iniciou.

A voz de Sam ecoou docemente pelo salão, os casais começaram a se formar, um garoto chamou Carly para dançar, mas ela estava estática, aceitou mecanicamente o convite oscilando o olhar entre a amiga no palco e o amigo que parecia ter sido transformado em pedra.

Ele não conseguia acreditar no que estava vendo. Não era só o fato de ela estar cantando, era o modo como ela cantava, que além de ser extraordinário, estava carregado de emoção. Parecia que ela tentava dizer aquilo pra alguém que não estava ali, alguém que estava dentro da cabeça dela. Ela se balançava graciosamente com a música e cantava a maior parte do tempo de olhos fechados, e quando os abria, corria rapidamente o olhar pela plateia, e levantava a cabeça para reter as lágrimas. E como ela estava linda! Freddie não sabia se ficava feliz ou destroçado diante daquela cena.

A música estava no final e quando ela cantava as últimas estrofes, ela olhou pra baixo e deu de cara com um par de olhos castanhos vidrados nela. Por pouco a voz não lhe faltou, mas até por não conseguir pensar, continuou cantando olhando fixo para eles e sua voz pareceu ficar ainda mais encantadora:

It's all brand new

I'm crazy for you

And you know it's true

Yeah I'm crazy for you

Crazy for you baby

I'm crazy for you

I'm crazy for you...

A música finalmente havia acabado, e as notas cederam lugar a uma explosão de gritos, aplausos, assobios, e um coro de meninas gritando o nome de Melanie, quando Rick invade o palco e toma Sam nos braços dando um beijo nela fazendo a plateia ir ao delírio total.

Sam ficou completamente sem ação, segurou os braços do garoto tentando inutilmente afasta-lo, mas a visão de Freddie havia lhe roubado todas as forças.

Quando ele finalmente se afastou, Sam constatou que Freddie não estava mais la e correu o olhar pela sala desesperada, ignorando os gritos e fazendo um esforço para se livrar do abraço de Rick.

Quando finalmente conseguiu, lançou a Rick um olhar de ira e só não lhe arrancou os dentes, por que sabia que isso faria Melanie perder a bolsa. Deixou ele sozinho no palco, mas Rick sabia sair de qualquer situação por cima, e levantou os braços pra no ar, sorrindo, em sinal de comemoração, que fez os alunos gritarem e aplaudirem novamente, achando que tudo fazia parte da apresentação. Logo em seguida o pfº Ricardo apareceu retomando animadamente a festa.

Sam chegou na saída de palco e deu de cara com a irmã de peruca (teve fortes ímpetos de rir) e Carly.

–O que estão fazendo aqui? –Perguntou atônita. -Cadê o Freddie?

–Amigaaa. –Carly lhe deu um abraço apertado. –Você é uma louca, como pode achar que tem algo entre seu nerd e eu? Temos muito que conversar.

Sam a olhava perplexa. Estava confusa, mas feliz, sim a felicidade explodia em seu coração, mas logo a angustia começou a disputar o espaço com essa alegria a ela pediu se pondo a andar:

–Pode ser enquanto andamos? –Foi uma pergunta retórica, pois ela já se dirigia a saída.

A chuva começava a cair fininha, mas o céu denunciava que ela ficaria mais forte.

–Freddie! –Gritava Gibby tentando fazê-lo voltar.

–Me deixa Gibby. –Respondia ele rispidamente andando a paços largos pelo jardim em direção a saída de funcionários. Ainda estava com o crachá falso.

–Cara esta fazendo a mesma coisa que ela, volta aqui!

Ele se voltou de súbito e disse:

–Não. Eu e a Carly não estávamos atracados como ela e aquele loirinho la! –E continuou andando.

–Freddie...

–Deixa ele, Gibby... –Disse uma calma voz masculina muito familiar.

Freddie se voltou na direção, e sem pensar, partiu decidido e deu um soco na cara de Brad, que se salvou de um segundo por causa de Gibby.

–Ok, eu mereci. - disse ele levantando sem esboçar reação.

–O que você esta fazendo aqui? –Gritou Freddie.

–Oi pra você também Freddie.

–Brad, para de provocar, - Pediu Gibby ainda segurando o amigo que se contorcia. -a Melanie ta la dentro, mas é melhor você falar com ela outro dia, vai embora.

–Já ouviu uma música chamada Running away, Freddie? –Perguntou ignorando a tensão do momento. Ele ainda tinha a expressão fria do aeroporto. –Eu tava ouvindo aqui enquanto esperava... Uma pessoa e ai você passou correndo. O Gibby falou que a Sam fez a mesma coisa... e me lembrei de umas coisas que a Melanie me disse sobre vocês, e eu me pergunto: Por que fogem? É mais fácil viver nesse jogo do que enfrentar os sentimentos, não é? Entendo.

Ele se virou indiferente e deixou Freddie sendo segurado por Gibby. Freddie sentiu os músculos fraquejarem. As palavras de Brad sempre causavam um choque de realidade nele, talvez por já terem sido tão amigos. E ele se lembrou da música, aquela música. Aquela música. A letra veio em sua mente

“I don't know if I'm gonna change

Wasting time and another day

I keep running away

Even from the good things”

–Me solta Gibby.-Disse se livrando dos braços do amigo. - Eu vim aqui dizer a Puckett algumas coisas, e eu vou dizer.-Seus olhos estavam serenos, se recuperando do recente ataque de fúria.-Ainda que sejam as últimas palavras que agente troque.

Ele deu meia volta e já estava na metade do jardim quando a loira de roxo aparece seguida da gêmea de peruca e da amiga.

A chuva se intensificou.

Esse é o momento. Tudo ou nada. Os dois sabiam disso.

Continua...