Sam estava sentado no saguão principal do colégio interno, completamente vazio, a não ser por ela e por uma vigia que lia uma bíblia do outro lado da sala. Ela ouvia “you belong to me” no ipod quando uma voz retirou de seus pensamentos:

–Melanie?

Ela se virou e viu Rick sentando a seu lado na mesa.

–Oi, Rick. –Cumprimentou forçando simpatia. –O que faz aqui tão tarde?

–O que nós fazemos, não? –Ele riu. –E como assim tão tarde são 20:30...

–É verdade. –Ela deu um sorriso e voltou a olha-lo esperando uma resposta.

–Eu sai do treino agora e... Vim te procurar. –Ele dava seu melhor sorriso sedutor.

Ela levantou a sobrancelha surpresa, e riu sem jeito. “Como assim o cara mais paquerado do colégio estava dando em cima dela?” Ela bem que queria corresponder àquela investida, mais a imagem do nerd martelava em sua mente sempre que ela olhava outro garoto. Não era de hoje que isso acontecia. Era melhor desempatar logo o pobre Rick.

–Rick, você seria capaz de guardar um segredo? –Ela perguntou com um sorriso triste e decidido.

–Acho que sim... –Disse ele intrigado fazendo beicinho. –Ou melhor, tenho certeza que sim!

–Eu não sou a Melanie sou irmã dela. Sam Puckette de Seattle. -Ela o encarou com firmeza e ansiedade esperando sua reação.

–Como é? –Ele agora parecia assustado “A garota é maluca” Pensou.

Diante do sorriso confuso de Rcik, Sam disse:

–Vou provar. Te venço no quebra-braço. –Ela apoiou o cotovelo na mesa e estendeu a mão para ele.

Rick ainda tinha um ar confuso mas assentiu e segurou sua mão.

–Pronto? –Perguntou ela. Ele balançou positivamente a cabeça, completamente atordoado.

Assim que sentiu ele fazer força, ela também o fez, Rick não acreditava que estava sendo derrotado por uma garota que tinha metade do seu peso. Aumentou a força, voltando a si, mas foi inútil, em poucos segundos, ela o tinha derrotado.

–Uau. –Disse ele com um sorriso surpreso e frustrado ao mesmo tempo. –Com certeza não nos conhecemos.

Eles riram

–Então você é Sam, de... Ah mas é claro! Já tinha ouvido falar que a Melanie é irmã gêmea de uma apresentadora de um Web Show.

–Nunca assistiu o Icarly? –Perguntou curiosa.

–Uma vez, mas só vi uma morena muito gata e o irmão. Achei sem graça. Desculpe.

–Hum, deve ter sido no dia em que eu fui presa... –Ela falou distraída disfarçando o aborrecimento pelo desprezo dele com o programa.

Rick arregalou os olhos diante do comentário dela.

–C...Como é?

–Minha mãe me prendeu no quarto de castigo. –Ela riu sem jeito. -O que pensou que fosse?

–Claro. –Ele se sentiu mais aliviado. –Mas o que faz aqui?

–Digamos que passando férias, mas volto em algumas semanas. Não vai contar a ninguém não é?

–Não. Será nosso segredo.

Os dois ficaram conversando sobre assuntos diversos durante algumas horas. Como era sexta feira, podiam permanecer ali até meia noite.

Sam contou tudo a Rick e ele ainda não entendia como uma garota podia pensar em outro cara com ele bem na frente(o rapaz realmente se achava). Rick era filho de um renomado advogado em Washington e sua mãe era diretora executiva de uma multinacional. Ele levava uma vida solitária, pois devido a exaustiva jornada de trabalho, seus pais mal tinham tempo para ele. Estudava em internatos desde os dez anos de idade.

Na medida em que conversavam, Sam percebia que eles dois tinham muita coisa em comum. Pais ausentes e uma máscara para esconder os traumas causados por isso. Ele usava a beleza e o esnobismo, ela o bom humor e a agressividade. Felizmente para eles o saldo tinha sido positivo, sabe-se que muitos adolescentes não têm essa sorte, isso varia conforme as personalidades e as circunstancias.

Mas Sam não conseguia sentir atração alguma por ele, mesmo ele sendo bonito e se mostrando tão agradável, ela não conseguia sentir absolutamente nada alem de uma grande amizade nascendo. Se perguntava se uma dia conseguiria esquecer Freddie e amar outro, mas a lembrança do primeiro beijo veio forte em sua mente lhe dando a resposta.

–E então mudou de ideia em relação a meu convite?

–Rick, como eu já te disse, eu to super pra baixo, eu vou estragar a sua noite... E também to de castigo por ter “acidentalmente” acertado uma bola em você.

–Já te perdoei, lamento que esteja de castigo por minha culpa. –Ele falou rindo. –Mas como assim? Não vai poder ir?

–Vou, mas terei que prestar um serviço durante o baile, realizar uma atividade. Só estarei liberada quando terminar, então é melhor...

–Eu espero. –Diante da relutância dela, acrescentou: - Não estou te pedindo em namoro, só queria passar um tempo com você amanhã. Você é diferente das outras garotas daqui, sabe?

–Tudo bem. –Ela falou vencida. Que mal havia em fazer amigos? -Só não reclama se as coisas não saírem como você planejou. Eu vou dormir. Boa noite.

Ela ia se levantando, quando ele segurou sua mão:

–Sentirei sua falta, quando você for... Embora. Boa noite.

–Thau. -Foi tudo o que ela disse e foi andando sem olhar pra trás. Finalmente compreendia por que nunca conseguira gostar de cara nenhum. “Te odeio Freddie” Murmurou.

O avião aterrissou. Freddie, Gibby e Carly estavam no portão de embarque e estranhavam a demora de Melanie, então resolveram espera-la no saguão. Não demorou muito ela apareceu sorridente, mas estava acompanhada de alguém...

–Oi pessoal! –Disse ela acenando!

Os três ficaram pasmos. Melanie vinha andando ao lado de Brad tão descontraída que parecia que já se conheciam a anos!

–O que esse imbecil esta fazendo aqui? –Esbravejou Freddie.

–Calma Freddie eu encontrei ele no avião e viemos conversando até aqui. Na paz, ok?

Freddie estava chocado.

–Garota, de que lado você esta? –Perguntou ele atônito.

Brad permaneceu calado. Tinha uma expressão séria, impenetrável.

–Eu to do lado da Sam. –Respondeu ela quase elevando a voz ao mesmo tom da de Freddie.

–Que é o nosso! –Falou Carly.

–Então por que a pergunta? Só por que eu estava conversando com ele não significa que virei inimiga mortal de vocês, ora!

–Me deixe refrescar sua memória. –Freddie tomou um ar sarcástico. –Esse ai ta tentando me separar da Sam.

–Achei que já estivessem separados. –Interrompeu finalmente Brad, fazendo Freddie avançar em cima dele.

As meninas o seguraram rapidamente com a ajuda de Gibby. Brad apenas se afastou com a mesma expressão fria.

–Já chega! –Gritou Carly chamando a atenção dos que passavam. –Vamos arrumar um hotel, deixar as bagagens la e ir atrás da Sam. Fim da história. Melanie, no caminho conversamos civilizadamente.

–Não vou sair daqui sem antes quebrar a cara dele. –Ameaçou Freddie que ainda estava sendo contido por Gibby.

–Deixa pra quando chegarmos em Seattle, Freddie, você é um adolescente fugido em uma cidade enorme com autorização falsa, definitivamente não precisamos da policia. –Lembrou Carly quase sussurrando.

–Esta certo. –Disse ele se livrando de Gibby. -Mas tenta chegar perto da Sam de novo pra ver o que eu faço.

Brad já ia se virando com sua mochila quando se voltou para Freddie e disse:

–Sabe Freddie, queria ver se você teria esse surto apaixonado se eu não tivesse tentado tirar a Sam de você a qualquer custo.

Freddie ia avançando novamente, mas antes de esboçar qualquer movimento, Melanie falou com firmeza:

–Agora já chega, Brad, deixe-nos em paz e siga seu caminho, sim?

Brad assentiu demonstrando um respeito por Melanie que fez os três se surpreenderem.

–Até. –Foi tudo o que ele disse antes de se virar demorando o seu olhar em Melanie. Um olhar no mínimo suspeito.

–Ok. –Carly agora ria discretamente. –qual parte da história você ainda não nos contou?

Elas riram e os meninos lançaram olhares confusos uns aos outros. Ao entrarem no taxi, as palavras de Brad ficaram martelando na cabeça de Freddie. “Não vou mais correr o risco de te perder pra te dar seu devido valor, Sam. Não mais.” Pensou.

Chegaram ao hotel, e alugaram um quarto. O quarto tinham duas camas, a divisão era óbvia (meninas em uma, meninos em outra), mas quem estava pensando em dormir?

–Qual o plano? –Perguntou Gibby assim que sentaram na cama.

–Vamos para o ICANY agora, sim? –Falou Freddie se dirigindo a porta.

–E acha que vai entrar assim fácil só por causa de seus lindos olhos castanhos? –Debochou Melanie.- E ainda mais amanhã que vai ter um baile la. A segurança é dobrada, por que contratam funcionários pra limpeza e pro Buffet de outras empresas. Incrivel como quase toda semana eles inventam um pretexto pra darem uma festa, tudo desculpa pra torrar o dinheiro da galera! Essa de amanhã então...

–Perfeito! –Exclamou Freddie interrompendo-a com um sorriso sinistro.

–O que é perfeito? –Inquiriu Carly –Uma declaração apaixonada no mio do baile? –Ela tinha um sorriso de deboche.

Ele pensou que não seria tão má ideia, mas continuou:

–Melanie sabe qual empresa de Buffet serve ao colégio?

–Não. Eles variam, pra saber tem que entrar no sistema da escola e ter a senha que só a diretora e alguns funcionários tem.

–Resolvido. –Falou Freddie sustentado seu sorriso. –Rackeio o sistema do colégio, descubro qual empresa vai servir na festa, falsifico crachás pra gente e entramos misturados! Acho a Sam e a trago de volta nem que seja arrastada.

Os três ficaram pasmos. Para um garotinho certinho criado com a mãe, ele poderia seguir carreira em qualquer quadrilha tranquilamente.

–Parece bom- Disse Gibby. -Mas por que não vamos la e pedimos pra falar com ela?

–É da Sam que estamos falando, Gibby, sei o que estou fazendo.

Freddie estava certo de que tinha que a pegar completamente desprevenida pois sabia que se ela pudesse se preparar, por um minuto que fosse,fugiria de novo, mentindo sobre seus sentimentos.

–Não vou entrar num baile com roupa de garçom! –Retrucou Carly

–Então fica aqui. –Sugeriu Freddie indiferente aos chiliques dela.

–Não. Levo uma roupa por baixo e la me troco. –Disse ela lhe lançando um olhar mortal.

–Então ta combinado, o baile começa as 19:00 mas os garçons chegam as 16:00 então vamos dormir e acordar cedo amanhã para darmos inicio ao plano, ok? –Melanie parecia muito entusiasmada.

–Como faremos pra acha-la num dos maiores colégios de Nova York? –Perguntou Gibby.

Melanie fez cara de não sei.

–Damos um jeito. –Falou Freddie pegando seu computador para dar inicio a operação. –A Sam ta me transformando num criminoso de alta periculosidade.

Melanie saía do banho de pijama quando Carly a interpelou:

–Ah, Melanie-Ela ria insinuante. –Agora entendo por que não foi falar conosco o voo inteiro. –Estava bem ocupada, não foi?

–Por que diz isso? –Perguntou ela receosa.

–Achamos uns docinhos bem familiares na sua bolsa. –Respondeu Gibby.

–Devem estar envenenados. –Disse Freddie ríspido.

–Freddie, o Brad apenas ficou impressionado com a história que você mesmo inventou. Ele já desencanou agora,ta? –Disse ela deitando ao lado de Carly.

–Sorte a dele. –Disse ele sem tirar os olhos do lap top.

–O que você fez pra ele desencanar? –Carly deu uma cutucada nela com o pé.

–Nada. Apenas conversei.

–E pra onde ele foi? –Quis saber Gibby.

–Ele tem uma tia que mora aqui na cidade, disse que vai ficar uns dias aqui e depois vai embora.

–Gente, que tal se fossemos dar uma volta pela cidade? –Sugeriu Gibby. –Ainda são nove horas...

–Legal, estamos em Nova York, aproveito e compro meu vestido pra amanhã. –Disse Carly dando um pulo da cama pegando o cartão de credito.

–Tô nessa. –Disse Melanie levantando animada. –Vou levar vocês a meu Shopping favorito aqui!

–Vão vocês, eu fico aqui. –Disse Freddie. –Nada pode dar errado amanhã.

Eles saíram e Freddie ficou ali, sozinho. Notou que Melanie esquecera o celular na cama e discou a última chamada.

–Oi, Mel o que foi?

Freddie estremeceu ao ouvir a voz de Sam.

Ele desligou. Não podia mais aguentar a distancia.

Continua...