Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 5
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/20769/chapter/5

 

 

Comecei a descer as escadas lentamente. O senhor correu para me amparar; estendeu-me a mão. Eu a aceitei. Não posso negar que aquele toque, tão desejado, me abalou. Mas fui forte; mostrei-me indiferente ao beijo que ele depositou em minha mão.

- Que saudade. – disse ele, com seu sorriso encantador.

Eu apenas sorri amarelo. Desvencilhei-me de sua mão, e fui cumprimentar os outros convidados.

Durante o jantar, demonstrei toda a minha hospitalidade aos outros convidados. Sempre que Henrique puxava assunto comigo, eu respondia brevemente e voltava a conversar com outro convidado. Minha mãe e meu pai estavam tão radiantes com a comemoração, que nem notaram o comportamento que dispensava a meu noivo.

Quando o jantar terminou, todos os convidados se dirigiram novamente para a sala. Eu conversava animadamente com o novo advogado da empresa de meu pai. Ele viera de São Paulo. Era um pouco mais velho que eu; tinha vinte e seis anos. Era um moço muito bonito. Seus olhos eram verdes e os cabelos eram negros. Estava rindo um bocado com aquele jovem.

A pouco metros de distancia, Henrique olhava-nos com uma cara nada bonita. Eu podia ver os ciúmes que exalavam daqueles olhos. Ele parecia estar apertando com certa força o cálice de vinho.

Aquela cena preenchia tanto o meu ego.

Notei, então, que ele largou a taça de vinho e dirigiu-se para nosso lado.

- Com licença. – pediu ele, e Gustavo assentiu.

Henrique puxou-me pelo braço, com certa brutalidade, para o escritório da casa. Com mais um puxão brusco, ficamos um de frente para o outro.

- Está me machucando. – falei, enquanto olhava o rosto amargurado dele. Mas ele não cedeu a força.

- O que pensou que estava fazendo? – vociferou ele.

- Estava apenas conversando. – respondi, tentando desvencilhar-me de sua mão. – Tenho que ser gentil com minhas visitas.

- Você não percebeu o jeito que ele olhava para você? Tão lascivo.

- O mesmo jeito que você olha para mim? – indaguei astuciosamente. Ele afrouxou a mão em meu braço.

- Você é minha noiva. – disse ele, voltando à calma de sempre.

- Ah, agora você lembra que sou sua noiva. – reclamei friamente. – Três meses longe de mim. Um mês sem se lembrar que eu existia. Você não passa de um estranho! – exclamei alterada.

Ele me agarrou fortemente puxando-me para si. Encostou seus lábios aos meus. Tentei mostrar indiferença a aquele toque; mas por dentro meu coração palpitava como sempre. Só Deus sabe o quanto eu senti falta daqueles lábios, daquele toque.

Tentei pensar no sofrimento que ele me fez passar durante três meses; seria o bastante para me deixar impassível. Engano meu, não pude resistir aquele contato. As lembranças amarguradas se tornaram as saudosas.

Não pude mais agüentar. Enlacei seu pescoço com minhas mãos, e cedi aos prazeres daquele beijo ávido. Depois de alguns instantes, que me pareceram uma eternidade, nos separamos.

Henrique mantinha uma expressão vencedora. E eu me lamentei internamente com o fato. Como podia ter cedido? Foi mais forte que eu.

Ele pegou minha mão e puxou-me de volta para a sala. Já no cômodo, pediu a atenção de todos. Eu imaginei o que ele falaria.

- Primeiramente, boa noite a todos. -disse, formalmente. – Gostaria de expressar minha felicidade de estar de volta ao meu país, e voltar para perto de minha noiva.

Eu desdenhei internamente. Duvidava muito que ele sentira minha falta durante esses meses. Acho que um simples relatório satisfazia suas necessidades masculinas. Esbocei um sorriso com esse pensamento.

Ele ficou feliz ao ver o sorriso sincero que eu esboçava, mal ele imaginando que aquele sorriso não era porque ele estava ao meu lado.

- Gostaria de agradecer meus futuros sogros, o senhor e a senhora Simões, por esta maravilhosa recepção. – falou. Eu desfiz o sorriso ao escutar a palavra ‘sogros’. Ele continuou o discurso. – Bom, eu gostaria também de anunciar que dentro de um mês, eu e Ana nos casaremos.

Uma salva de palmas percorreu a sala. Minha mãe chorava emocionada. Meu pai sorria satisfeito. E eu?

Eu apenas fiquei neutra. Escutando as felicitações dos convidados, respondendo com um aceno de cabeça e um sorrisinho falso.

Não podia fazer nada para impedir meu destino.

Submeteria-me aos caprichos de um pai que pensava que sabia o que era melhor para sua filha. Realizaria o sonho de uma mãe, que não queria ver a filha para titia. Satisfaria o desejo de um homem que queria se casar e constituir uma família.

E por último, e acho que o menos importante, entregaria definitivamente a minha alma a um desconhecido, que infelizmente já tinha meu coração.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um Desconhecido" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.