Um Desconhecido escrita por Daijo


Capítulo 4
Capítulo 4




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O rancor consumia todo o meu ser.

Já fazia três meses que meu ‘suposto’ noivo voltara para a França. Henrique me prometera que seria uma viagem rápida; mentiu sobre isso.

Depois de um mês que viajara, ele teve a decência de mandar-me uma carta pedindo imensas desculpas pela demora e que iria demorar mais devido a alguns problemas na sua empresa. Eu simplesmente rasguei a carta; mais tarde no mesmo dia tentei colar seus pedaços.

Durante dois meses, toda a semana recebia uma carta dele, repleta de juras de amor. Ao mesmo tempo em que ficava feliz, ficava também triste com sua ausência. Já não era mais a garota extrovertida que fui um dia.

Mas no último mês, ele não mandara uma carta sequer. A última recebida foi no final dos dois meses. Nela dizia que quando ele voltasse, imediatamente casaríamos.

No primeiro instante fiquei feliz. Mas agora que relia aquela carta, depois de um mês sem notícia, sentia-me cheia de ódio. A amargura estava sempre presente em meu coração. Rasguei aquela carta também.

Eram oito horas quando Julia trouxe meu jantar no quarto. Ela entrou com um sorriso estampado no rosto. Fiquei curiosa.

- Viu um passarinho verde? – perguntei, enquanto ela fechava a porta a suas costas. Ela levou a bandeja com a refeição até a escrivaninha onde eu estava sentada.

- Adivinha o que eu fiquei sabendo? – cantarolou ela. Eu revirei os olhos.

- Você sabe que não tenho paciência para isso. – eu disse, e ela fez beicinho.

- Tudo bem, sua estraga prazer. – Eu ri. – Seu noivo vai chegar dentro de uma semana. - Meu sorriso se desfez. Julia olhou para mim com uma cara interrogativa.

- Pode levar a comida. Já não tenho fome. – Voltei para minha cama e meu livro, que agora já estava no último capítulo.

- Mas senhorita...

- Me deixe a sós Julia. – Ela saiu emburrada do quarto, segurando a bandeja intocada.

Novamente estaria frente a frente com aquele estranho. Sim, ele voltara a ser apenas um desconhecido para mim. Fiquei enjoada com a perspectiva de casar-me com aquele homem que me fizera tanto mal. O homem que me conquistara e depois me abandonara.

Larguei o livro ao lado e fechei meus olhos. Imagens daquele maldito homem passaram pela minha cabeça. As poucas imagens dele que foram gravadas em minha mente. Percebi então a falha que havia no meu destino.

Como eu poderia passar o resto da vida ao lado de uma pessoa que eu vi duas vezes.

Aquele sentimento que eu tinha antes de conhecê-lo voltou a se apoderar de mim. Mas eu não daria para trás. Casaria-me e me tornaria a senhora Moura. Tudo em prol da felicidade de meus pais. E por outro lado, não podia negar que, querendo ou não, minha alma já era daquele senhor.

 

Finalmente o dia do retorno do meu ‘querido’ noivo chegou.

Minha família havia preparado uma espécie de comemoração para recepcioná-lo. Convidaram alguns amigos em comum e prepararam um jantar mais que especial. Perda de tempo em minha opinião.

Subi mais cedo para meu quarto, para me arrumar. Desta vez eu escolhi o vestido, nem ao menos deixei que minha mãe o visse.

Tomei um banho demorado e relaxante. Queria estar perfeita para receber o visitante.

Sai do banheiro e percebi que Julia me esperava. Ela admirava o vestido em cima de minha cama.

- É realmente maravilhoso, senhorita. – disse, quando reparou que eu havia saído do banho.

- Ficará melhor em meu corpo. – comentei, fitando o traje.

Fiz um sinal para que Julia se virasse e ela o fez. Despi-me, então, da toalha enrolada em meu corpo. Coloquei o vestido.

- Pronto. – avisei, e Julia se virou. Seu queixo caiu.

- Ficou divino. – disse ela, puxando-me para frente do espelho.

O vestido denotava bem minhas curvas. A altura um pouco acima dos joelhos. O decote era um pouco maior, do que o do vermelho que usei quando conheci Henrique. Eu escolhi a cor preta. Achei uma cor que demonstrasse, tanto minha sensualidade, quanto minha amargura.

Julia arrumou o meu cabelo através de minhas ordens. Trançou-os, deixando alguns fios soltos na frente. Pedi que ousasse mais na maquiagem, e assim ela fez. Um pouco de sombra rosada e batom vinho. Borrifei um pouco de perfume em meu pescoço.

Julia desceu para ajudar no jantar. Eu fiquei ali esperando. Peguei meu livro que durante a semana eu abandonara, sem concentração para lê-lo.

Às oito e meia, terminei de ler o livro. Estava na hora também de terminar com aquela angústia. Peguei dentro da gaveta a aliança, que a um mês não usava. Depositei-a no dedo.

Sai de meu quarto. Andei pelo corredor até o topo da escada. Lá de cima analisei meus convidados. Todos conhecidos. A um canto, apenas um desconhecido. 

O homem enxergou-me. Sorriu gentilmente; eu sorri de lado. Seus olhos azuis me fitaram com ternura e cobiça.

Meus olhos demonstravam frieza.

 

 


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